Orvalho no espaço infinito
não são lágrimas de dor,
vejo a nuvem descer da montanha
e peço a Deus um pouco de frescor.
Minha dor não é miséria da alma,
é uma vida de noites desveladas
no patíbulo da santa virgem.
Nós, que da poesia herdamos
o gesto simples, a solicitude
das palavras, escrevemos amor
e depois saudamos o sol,
a noite do horror não nos mata,
as delícias do jardim são
canções epicúreas,
sonho de fogo e canhão.
Desastre a bombordo,
descobertas a estibordo,
o navegante da nau azulada
come lótus com prazer vulcânico.
Poemas variam das armas
e do morticínio,
mas nossos extermínios
são a fome e a sede,
nós estamos vivos
por causa da arte,
a arte que se funda
na plenitude.
Quase não lembramos da sombra
que o inferno insinua,
quase não somos mais
poetas ou marginais.
Pelas veredas passamos,
pelos desertos morremos,
e nada da natureza nos salva.
A poesia da fúria e do delírio
são descampados infindos
de luxúria.
O vinho da nobreza alimenta
todo o fogo desta vida,
somos apologistas da paisagem
que dorme no silêncio,
somos os lírios semeados
em chuva e versos.
17/09/2011 Delírios
(Gustavo Bastos)
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