PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 17 de setembro de 2011

APOLOGIA DA NATUREZA

Orvalho no espaço infinito
não são lágrimas de dor,
vejo a nuvem descer da montanha
e peço a Deus um pouco de frescor.

Minha dor não é miséria da alma,
é uma vida de noites desveladas
no patíbulo da santa virgem.

Nós, que da poesia herdamos
o gesto simples, a solicitude
das palavras, escrevemos amor
e depois saudamos o sol,
a noite do horror não nos mata,
as delícias do jardim são
canções epicúreas,
sonho de fogo e canhão.

Desastre a bombordo,
descobertas a estibordo,
o navegante da nau azulada
come lótus com prazer vulcânico.

Poemas variam das armas
e do morticínio,
mas nossos extermínios
são a fome e a sede,
nós estamos vivos
por causa da arte,
a arte que se funda
na plenitude.

Quase não lembramos da sombra
que o inferno insinua,
quase não somos mais
poetas ou marginais.

Pelas veredas passamos,
pelos desertos morremos,
e nada da natureza nos salva.

A poesia da fúria e do delírio
são descampados infindos
de luxúria.

O vinho da nobreza alimenta
todo o fogo desta vida,
somos apologistas da paisagem
que dorme no silêncio,
somos os lírios semeados
em chuva e versos.

17/09/2011 Delírios
(Gustavo Bastos)

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