PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

FILOSOFIAS LACÔNICAS

I

Ontem era o dia anunciado do meu amor,

hoje é o toque da carícia o meu olor.



Não sobrou nada que me faça puro outra vez.

O tempo quando cai, é o mesmo tempo

que sobe ao cimo do universo.

E por detrás do vento não há nada.



II

Quem se veste, teme o nu do seu nascimento.

Nas noites passadas, eu estive em meu quarto,

único lugar vasto dos sonhos d`alma.

E qual penetrante luz,

o vastíssimo do universo

rangia em meu leito,

e eu estava nu

com as dores do meu peito.



III

De onde vens, e por onde vais?

De onde o tempo será o enigma,

e de onde os arcanos da Lua

serão meus?



IV

A sombra é a ausência.

O corpo dela está ao lado.

Ao lado do pecado está o corpo,

e a sombra é o seu pecado.



V

Quantos silêncios são sonoros?

Quais são as manchas do destino

em vento e ventania?



O vendaval, portanto, é o abismo

das edificações.

O silêncio depois da morte

é o sentido tumular do fim.

Pois toda vida finda ainda

no que é desmedida.

Toda vida, pois, do que se pensou

que fosse a vida,

o silêncio que vem com a morte

como o vento que passa.



VI

O libelo da inteligência

é a sua tumultuada ignorância.



Tudo que sei é que nada sei.

Sei que nada é preciso

para saber-se um vácuo

de não-saberes.

A inteligência pode ser uma virtude

ou uma arrogância,

depende de quem a tem.



VII

Adagas são como aves cortantes.

No meu coração elas são

o caminho para as feridas.

Na alma do trovador

podem elas transformar-se

em maviosas canções.

E apontadas ao condenado

uma exéquia dos mortais.



VIII

A razão é a grande deusa da filosofia.

O poeta não a quer nem em sonho,

pois a razão não ama o paradoxo.



IX

Eternidade é a chave da inspiração.

Toda a mística da palavra

se abre com a chave da inspiração.

Mas quando as palavras fogem,

dizem que as musas estão dormindo,

e o pobre poeta aniquilado.



X

É a última vez que faço um verso lacônico.

A poesia não tem tamanho determinado,

suas dimensões são as que a alma dá.



É a última vez que eu sonho vaguear

pelos pântanos da cegueira,

e depois a alma volta a enxergar

com o peito onde mora o coração.

25/04/2009 Gustavo Bastos

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