I
Ontem era o dia anunciado do meu amor,
hoje é o toque da carícia o meu olor.
Não sobrou nada que me faça puro outra vez.
O tempo quando cai, é o mesmo tempo
que sobe ao cimo do universo.
E por detrás do vento não há nada.
II
Quem se veste, teme o nu do seu nascimento.
Nas noites passadas, eu estive em meu quarto,
único lugar vasto dos sonhos d`alma.
E qual penetrante luz,
o vastíssimo do universo
rangia em meu leito,
e eu estava nu
com as dores do meu peito.
III
De onde vens, e por onde vais?
De onde o tempo será o enigma,
e de onde os arcanos da Lua
serão meus?
IV
A sombra é a ausência.
O corpo dela está ao lado.
Ao lado do pecado está o corpo,
e a sombra é o seu pecado.
V
Quantos silêncios são sonoros?
Quais são as manchas do destino
em vento e ventania?
O vendaval, portanto, é o abismo
das edificações.
O silêncio depois da morte
é o sentido tumular do fim.
Pois toda vida finda ainda
no que é desmedida.
Toda vida, pois, do que se pensou
que fosse a vida,
o silêncio que vem com a morte
como o vento que passa.
VI
O libelo da inteligência
é a sua tumultuada ignorância.
Tudo que sei é que nada sei.
Sei que nada é preciso
para saber-se um vácuo
de não-saberes.
A inteligência pode ser uma virtude
ou uma arrogância,
depende de quem a tem.
VII
Adagas são como aves cortantes.
No meu coração elas são
o caminho para as feridas.
Na alma do trovador
podem elas transformar-se
em maviosas canções.
E apontadas ao condenado
uma exéquia dos mortais.
VIII
A razão é a grande deusa da filosofia.
O poeta não a quer nem em sonho,
pois a razão não ama o paradoxo.
IX
Eternidade é a chave da inspiração.
Toda a mística da palavra
se abre com a chave da inspiração.
Mas quando as palavras fogem,
dizem que as musas estão dormindo,
e o pobre poeta aniquilado.
X
É a última vez que faço um verso lacônico.
A poesia não tem tamanho determinado,
suas dimensões são as que a alma dá.
É a última vez que eu sonho vaguear
pelos pântanos da cegueira,
e depois a alma volta a enxergar
com o peito onde mora o coração.
25/04/2009 Gustavo Bastos
Quem sou eu?
Há 2 semanas
Nenhum comentário:
Postar um comentário