Palmas ao vigário, de outro
modo, um monge caolho
e desdentado soçobra
entre os livros,
o bibliófilo que ali passara
não sabia deste filósofo
que morava no porão,
ele lia e comia
sobras das refeições
dos monges,
na quaresma, as sementes
e os farelos, os grãos
e o pouco pão,
e um fundo albor
e os ossos lhe
escapando
da face,
o vigário compreendia
que aquele pensador
não poderia fazer
nada mais do que
ler e escrever,
numa vida pálida
e sofrida,
seu tratado
não finalizado,
seu ouro
imaginado
agora
falido,
sua discórdia
com o edito
papal em vão,
sua inanição
o matara,
e o monge
caolho,
destes
com cara
de bruxo,
passava
a língua
no céu da
boca,
de seus dentes
que faltavam,
e um outro podre
caiu,
o vigário
mandou
os monges
fazerem
uma faxina
no porão,
o filósofo
foi enterrado
no jardim debaixo
da estátua de
uma ninfa,
sem honras
e sem pompa.
15/07/2022 Gustavo Bastos
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