PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 20 de novembro de 2021

A PRATA E A LUZ

As cordas revelam a tensão da nota, com o corpo retesado o som é mais puro, toda a canção precisa de um metro maduro, tinindo de prata, e a cor púrpura no céu. Se tem no sol do dia meu caos de aurora, o fim da História ainda não vira assunto, sua anti-filosofia não me interessa. Penso : O que posso é o que sou. 

Ainda, tinha um tal de pássaro no horizonte de meu arcano, toda estrela virada em raio tem também o seu próprio arcano, não sei exatamente se sua decifração tem da astúcia o seu método, pode ser. Abre todo o caminho, toda ponte vertida e o clássico mais forte da linha mestra. Ferve a pena e o dia vigora potente. Dá-me sol, disse a praia, e o mar queria água. O sal, neste brio todo de luz, fazia toda a marmórea surra de suas ondas. As espumas de esmeralda e o silêncio quando olho e um albatroz mergulha.

Hoje, como se carregasse a minha pistola, andei na rua ressecada, todo o vinho tinto estava roubado da adega, dentre os convivas não havia daquela sede embrutecida qualquer esperança, só o consolo da vadiagem. O caos quando se instala não tem paradeiro, toda sorte de argúcia e manha toma a noite como numa festa escura.

Preciso de meu relógio articulado com o meu plano, e a bomba para explodir na hora certa. Pois o nome, deste brio montanhoso, é um riso e um soco, é a força e sua explosão. Não há nada que detenha, impassível canto não tem medo e sopra violento.

Canto de seus ardores, e sua natureza retilínea que corta e mata. O baile e toda a pompa furiosa, teu poema mesmerizado na vitória plena, sua praia revirada de santidade apátrida, o caos cosmológico e seus deuses perdidos, e um tal desassombro meio febril, como é comum à loucura.

O poema serve a este mestre náutico como seu dom, sua linha traça sem hora de morte, a fortuna dos bravos é esta, não há o que temer, quando a sorte se lança quem atira primeiro mata o inimigo. O corte é profundo nesta carne aprendiz, o caminho é um rito acidentado que depois abre seu horizonte, tudo amplo e a vivificação da plenitude, que não é um platô, mas um novo estudo de si.

Nada o detém, nada o conserva. Funda a tua seita brutal, da vinha e toda a canção de mármore dos poetas afetados e alambicados, e depois a mofa dos poetas sujos e malditos. Abre este campo preciso e teu verso meio absurdo, abre toda esta estrada estupefata em sua fumaça, em seu vinho e embriaguez, e seu canto que fuma e bebe tem toda a memória de seus dias.

Fortuna está no campo aberto de seu sangue, o canto escarlate e o fogo alaranjado, a fúria toda de sangue como seu vigor que brota e borbulha, vai e teu fogo queima o morto, vai e teu fogo avança impassível por toda a alameda. Nenhum absurdo maior que este : a morte exangue dos hipócritas.

Tem este brio que se irrita com a frouxidão e a languidez moral de embusteiros. O nojo no canto e na História, e todo o tédio que lhes domina a face mesmerizada. O poema passa através com sua fúria, seu sangue vai ao verão como um tiro. Como sempre foi aos poetas o preço do naufrágio ou de se chegar ao porto, o risco é todo o poema, abrir o peito contra o choque das ondas. 

20/11/21 - Poema em prosa - Gustavo Bastos

Nenhum comentário:

Postar um comentário