“Marquee Moon é o marco-zero do pós-punk.”
A banda Television é um fenômeno ímpar no movimento punk que
se consolidou sobretudo em 1977, mesmo ano de lançamento do principal álbum da
banda, o Marquee Moon. O disco é tão emblemático como objetivo, em oito canções
que completavam cinquenta minutos o recado é dado com uma força e precisão
inauditas.
O Television era uma banda diferente, e de um preciosismo que
não se confundia exatamente com um virtuosismo no seu sentido gratuito, era uma
banda que amadureceu com bastante trabalho e esmero, numa produção de algo
ainda novo no cenário musical, ecoando jazz experimental, folk e rock clássico
que já antecipava o que viria a ser o pós-punk.
Marquee Moon antecipa com maestria os caminhos do rock
alternativo, sendo como o modelo do que veio a ser a típica banda de rock
nova-iorquina, tal veia que tinha predecessores como Velvet Underground, Modern
Lovers e New York Dolls, e aqui temos os contemporâneos do Television como
Patti Smith e os Talking Heads, e aí vindo sucessores como Sonic Youth e The
Strokes, e temos o seguimento desta linha virtuosista com bandas diversas como
R.E.M., Joy Division, Pixies, Echo & The Bunnymen, Wilco e Radiohead.
A banda Television começou numa obsessão de seus músicos em
tocar bem, no que isto fez com que o primeiro álbum, que viria a ser o Marquee
Moon demorasse a se concretizar. Por exemplo, a banda fazia ensaios de até seis
horas todos os dias, tirando domingos, e que levou Tom Verlaine ao CBGB`s, cuja
sigla era de country, bluegrass e blues, e ali a banda Television tocaria pela
primeira vez com o Patti Smith Group, local que passaria a receber bandas novas
como os Ramones, os Stilletos que virariam o Blondie e os Talking Heads. Aqui temos
configurado um cenário geral do punk nova-iorquino que começa em 1975 com o
disco Horses de Patti Smith, e em 1976 com o debut autointitulado dos Ramones.
Como dito, a gestação de Marquee Moon foi aos poucos, Verlaine
e Lloyd se alternavam entre guitarra base e solo, reinventando o instrumento na
história do rock. E temos então a produção de uma música que não era apenas
feitas de virtuosismo, mas de fontes do blues e do folk, mas num desenho que se
pode chamar de urbano, citadino.
Verlaine demorou a liberar o material da banda, desde 1974 a
banda foi contatada, teve até com a Island e a produção de algumas músicas com
Brian Eno, mas o guitarrista não se satisfez com o som da produção, até a gravadora
Arista tentou contratar a banda no ano seguinte, mas foi em 1976 que a banda
assinou com a Elektra e finalmente Marquee Moon seria realizado, com Verlaine e
Lloyd escolhendo Andy Johns para a engenharia de som, este que já havia
trabalhado com bandas como o Humble Pie, Free, Jethro Tull e Led Zeppelin, pois
o Television queria Andy sobretudo pelo fato do som que este havia tirado das
guitarras no disco Goat´s Head Soup dos Rolling Stones.
O álbum foi gravado em setembro de 1976, e mesmo com tempo e
liberdade, a banda já tinha tal domínio do material que tudo foi muito rápido,
e o disco foi lançado em 7 de fevereiro de 1977. Marquee Moon é o produto
nova-iorquino beat de um cenário urbano decadente entre solos de Verlaine e
seus vocais falados e gritados, com pouco vocal cantado, e então temos o
documento musical que é o testamento do nascimento do pós-punk e o fim da era
clássica do rock, com som melódico, jazzístico, já avançando num terreno
diferente do punk, este que ainda tinha um som agressivo e direto.
O Television influenciou o que viria a ser mais a frente o
indie rock, banda que inaugurou o caminho do pós-punk com uma formação poderosa
que tinha o letrista Tom Verlaine (vocal, guitarra e teclado), Richard Lloyd (guitarra
e vocais), Fred Smith (baixo) e Billy Ficca (bateria). Marquee Moon é o
marco-zero do pós-punk.
Marquee Moon junta influências do proto punk, indo até o art
rock e antecipando passos que seriam dados por bandas importantes do rock
alternativo como o Sonic Youth, por exemplo, e ainda ecoando ao mesmo tempo Lou
Reed, Velvet Underground, David Bowie, e a guitarra de Robbie Krieger do The
Doors na música-título do álbum.
O segundo álbum Adventure de 1978, por sua vez, não teve
muito impacto, pois a banda já se encontrava entre brigas e visões musicais
conflitantes entre os membros da banda, com a banda se separando logo após o
lançamento deste álbum. No que temos a volta da banda em 1992, com a gravação
de um terceiro álbum de nome Television e com a banda fazendo apresentações
intermitentes em Nova York e esporadicamente pelo mundo.
Link recomendado : https://www.youtube.com/watch?v=s4s5bj5fZO8
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
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