As chagas de cristo
por um momento quisto.
As ruelas do poeta enfadonho
vai ao cume do revólver,
vai ao lodo da manchete,
esmurra nos jornais
todos os dias.
Como um calafrio do passado,
como um pão ázimo,
como o dólar na cotação
da guerra cambial,
como eu e você
na saturnal
numa penumbra,
bois e vacas e pastos
e cantos de túmulos
no verdor
do campo
sem morte
dos ais
do poema.
Eu pensei que fosse
rei, eu pensei.
Eu pensei que era
e não fui.
Eu senti que é
e pode ser
para sempre.
Não, eu não enlouqueci,
não bati em santos,
não espanquei virgens,
não gritei sodoma,
não disse "morra!"
em gomorra.
Não, eu não sou poeta,
eu sou escritor?
Não, eu não escrevo nada!
Logo verei a poesia
nas trevas,
meus olhos
no inferno,
meu corpo aziago
entregue
em sacrifício
a uma estrela
decadente
de fotogramas
mofados
e corpos nus
zanzando
nos vermes
que banqueteiam
a minha carne
sangrando
no karma
de sol e de praia.
Eu disse que voaria
no plasmador modorra
do verso que morra,
do verso que morre,
do universo de cobre,
no meu estro nobre.
Não, eu não pequei
nas ruas bêbado
ou chapado de maconha.
Não, eu não escrevi
um poemamundo
sob efeito
de LSD.
Não, eu não escrevi
a carta suicida
das dores românticas
de um artista
desgraçado.
Não, eu não afundei
na lágrima de sal
das tortuosas
chamas do coração
violento.
Eu não vejo o espetáculo
descortinado da tragédia,
porque vejo a poesia
revelada da minha
janela.
16/10/2012 Libertação
(Gustavo Bastos)
Adélia Prado Lá em Casa: Gísila Couto
Há 4 semanas
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