O vento se funde ao paraíso dos seres imortais. Quando a penumbra cai, ela se delicia com os sabores do cais. Tenho uma alma que dança no vinho, é o vinho fiel aos meus amores mentirosos e banais. Quando a guerra é declarada no poema, o dia se estende como um fogo terrível de aventuras e febres videntes.
Poesia é uma nau desferida qual golpe fatal no coração que se pinta com barro e cal. O tempo vai de fim em fim até o triste fim da arte. Desejos são impedidos de se realizar por criaturas dementes e cheias de rancor. Meus poemas são doenças em descampados e martirológios em peças de teatro, o sangue que corre na sina do século e a vida morta dos cadáveres e fantasmas subterrâneos. A noite tão amada está distante.
Venho de longa viagem pela loucura, e não quero karma tão terrível para os que me viram em escuridão espiritual, a queda do meu sacrifício é um tempo bruto de cadência juvenil, por tantas obras respaldadas por idiotas, o meu poema é ignorado pela noite desdenhada, não tenho escolha para o universo que coloquei em minha pena, sou um desvario desarmônico com a paisagem.
Não pensem que eu vou morrer por pouca monta, o capítulo dessa história não será feito por imbecis com armas em punho, a montanha da sabedoria é o caos do inverno em meu sedento campo de miséria, ritmo e transcendência, não há rima suficiente para as almas tolas do caminho, sou o desespero na vida escurecida pelo devaneio poético em fontes de paixão. O que carrego pelas ruas é uma vindima diabólica de ternura e picardia, não sou o desejo da morte realizada, mas a sombra em sepultura vazia e sem livramentos.
Posso entender de filosofias péssimas ao fraco intelecto, mas não tenho que elencar todas as maneiras e teorias de felicidade e virtudes, tudo é ilusão de sábios antigos que não viram a fome no grau extremo e nem a sede em suas entranhas insaciáveis, o desejo da morte é um passo adiante para o sinal do abismo, não tem retorno, a vida decadente é uma vinha sutil em suplícios de corpos e almas, o horror da vadiagem é o tempo deste boêmio passageiro que vos fala.
Um poema me cai da penumbra de meus dias:
O que cantar? Sou um fauno.
Nas emboscadas dos ardis
Venho de nuvens carregadas,
As trevas do demônio servil
Vão ressuscitar no delírio.
Quando sonhar com as musas?
A vida não está sonhando
Com uma noite de amor.
Sou um fauno,
E um anjo me disse
Que vou delirar
Numa paixão verdadeira.
Ora, se tenho que viver na paixão indômita não é o meu cadafalso o meu destino, mas uma dama adorável que tem um mar calmo de vinho e licor, não temerei a vida misteriosa que do caos se faz harmonia e amor eterno, sou o poeta que vem da batalha dos amores mortos, sou o poeta que é canto de guerra e paz. Desde sempre o fogo é o mestre da vida, e não há sonho que seja livre tal qual a vida mesma em sua matéria de fatos e conflitos, não sou refém dos derrotados, a vida que anelo no vinho das delícias é a vida do amor imaculado.
04/12/2010 Delírios
(Gustavo Bastos)
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