PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

O GOLPE BOLSONARISTA - PARTE 3

“o país sofreu uma série de assédios em sua História recente”

Walter Braga Netto foi preso no sábado dia 14/12 pela Polícia Federal (PF). O general da reserva, ex-Ministro da Casa Civil e da Defesa, e que foi candidato à vice-presidência na chapa derrotada com Jair Bolsonaro acabou preso por obstruir a Justiça. Braga Netto fazia parte da organização que planejou o golpe no final de 2022.

Tal organização se dividia em seis núcleos e teve, segundo a PF, participação efetiva de Braga Netto, sendo que no relatório de 884 páginas da Operação Contragolpe ele é citado 98 vezes. O chamado gabinete de crise, que seria instaurado após o golpe, por exemplo, com o fito de realizar novas eleições, seria chefiado por ele e pelo general Augusto Heleno. Braga Netto participou na elaboração dos planos golpistas, e em sua casa, no dia 12 de novembro de 2022, se realizou a reunião em que se aprovou o planejamento operacional do golpe.

O decreto golpista, por sua vez, seria implementado após a realização do golpe, por Jair Bolsonaro, com o apoio deste gabinete de crise chefiado por Braga Netto e por Augusto Heleno, ligado diretamente à Presidência da República. Uma das tarefas do gabinete, também, seria a de traçar estratégias de comunicação em busca de apoio nacional e internacional e a articulação de redes de inteligência. 

Tal intento era ambicioso, mas tanto, que não entrava no cálculo o risco de o Brasil virar um pária diplomático, tomado por um golpe à moda antiga, com o país virando mais uma versão de republiqueta bananeira do que qualquer outra coisa. Por sua vez, a rede de inteligência, quando muito, teria um apoio nacional bem relativo, repleto daqueles mesmos idiotas guiados por mentores da ação bandoleira e vândala nos Três Poderes, em Brasília, do dia 8 de janeiro de 2023, um capítulo de demência política inaudita na História do Brasil.

Braga Netto também participou da famigerada e mal sucedida ofensiva para pressionar os então comandantes da Aeronáutica e do Exército para que aderissem ao golpe, quando ocorre o fato determinante nesta história toda, pois eles foram voto vencido, tendo apenas a adesão do então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier. Os golpistas foram derrotados como num placar de futebol por dois a um. 

A prisão preventiva do general Braga Netto foi determinada por decisão do ministro Alexandre de Moraes do STF, pois o ex-ministro teria tentado obter dados sigilosos dos depoimentos prestados à Polícia Federal, na tentativa de obstruir as investigações.

A divisão em seis núcleos do grupo golpista, por sua vez, servia como forma de distribuição de tarefas, na individualização das condutas. O grupo foi indiciado por três crimes, que foram a abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. A divisão relatada é baseada na Operação Tempus Veritatis, realizada em fevereiro deste ano.

O primeiro núcleo é o de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral, cuja função era produzir, divulgar e amplificar notícias falsas relacionadas à lisura das eleições presidenciais de 2022, estimulando bolsonaristas a ficarem em frente a quartéis e instalações militares para criar uma atmosfera para o Golpe de Estado. Dentre os integrantes deste núcleo estavam o tenente-coronel do Exército, e então ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, além do então Ministro da Justiça Anderson Torres.

O Núcleo de Incitação Militar, por sua vez, tinha a função de eleger alvos para amplificação de ataques contra militares em posição de comando que estavam resistentes e contra os planos golpistas. Neste núcleo estavam, por exemplo, Braga Netto, o jornalista Paulo Figueiredo, neto do ex-presidente militar João Figueiredo, e Mauro Cid.

O Núcleo Jurídico, por sua vez, elaborava minutas de decretos com fundamentação pseudo-legal para atender os interesses do grupo golpista. Foi deste núcleo que saiu a famigerada “minuta do golpe”, documento cujo rascunho foi encontrado na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que previa a decretação de medidas de exceção como o Estado de Sítio, para evitar a transferência de poder para o então presidente eleito Lula. 

Anderson Torres, por sua vez, passou um breve período preso, em que se revelou um moleirão, com ideações suicidas na cela. Ao passo que Lula passou mais de um ano em regime fechado, no auge do lavajatismo, com galhardia. Dentre os integrantes deste núcleo temos o ex-assessor para assuntos internacionais de Jair Bolsonaro, o racista Filipe Martins, além do choramingão do Anderson Torres e de Mauro Cid. 

O Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas, por sua vez, realizava reuniões para planejamento e execução de ações para manter as manifestações bolsonaristas em frente aos quartéis engajadas e ativas, com mobilização, organização logística e financiamento de militares das forças especiais em Brasília.

O Núcleo de Inteligência Paralela, por sua vez, era responsável por auxiliar a tomada de decisões do então presidente Jair Bolsonaro em relação ao plano de golpe de Estado. Uma das tarefas deste núcleo era monitorar o ministro do STF Alexandre de Moraes, então presidente do TSE, em seus deslocamentos, itinerários e localização, além de outras autoridades.

Este núcleo do grupo visava a captura de Alexandre de Moraes e de outras figuras políticas contrárias à ruptura democrática, tudo a partir do momento em que Jair Bolsonaro assinasse um decreto viabilizando o golpe de Estado. Os integrantes deste núcleo eram Augusto Heleno, Marcelo Câmara e Mauro Cid. Este núcleo desenvolveu diversas ações clandestinas, se utilizando de forma ilegal da estrutura de órgãos do Estado brasileiro, tudo no fito tanto de consumação do golpe de Estado como de manutenção de Jair Bolsonaro no poder após o golpe. 

Por fim, o Núcleo de Oficiais de Alta Patente e Apoio teria o objetivo incitar apoio aos outros núcleos ao endossar as ações para a consumação do golpe de Estado. Dentre os integrantes deste núcleo temos Braga Netto, o ex-comandante adesista da Marinha Almir Garnier, o general da reserva Mário Fernandes, o general Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, além do general da reserva Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. Caberia a este núcleo o sequestro do ministro Alexandre de Moraes, tarefa que seria executada por militares das Forças Especiais do Exército, os chamados “kids pretos”, que estavam então subordinados ao general Theophilo.

Tanto na derrota aritmética nos Altos Comandos das três Forças Armadas como, mais uma vez, com um capítulo mambembe de execução canhestra em que sobrou ambição e faltou o mínimo de inteligência, como a dependência de itinerários de táxis com sinalização manual à moda antiga, e na falta deste, cria-se um cenário de comédia pastelão, com todo um desdobramento patético, o Brasil teve sorte no azar. Em toda esta saga bolsonarista, o país sofreu uma série de assédios em sua História recente, contudo, misturando a tragédia iminente das intenções e ambições com a comédia indelével dos resultados e da descrição de cenas risíveis e ridículas destes convescotes e conspiratas.


(obs : Prezados (as) leitores (as), estarei de férias nos próximos dias, retornarei em fevereiro. Até a volta e boas festas!)


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/o-golpe-bolsonarista-parte-3/ 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

O GOLPE BOLSONARISTA - PARTE 2

“uma interpretação anômala do Artigo 142, para legitimar o golpe de Estado”


A organização golpista, segundo as investigações, foi separada por núcleos, e o indiciamento de Bolsonaro e de outras 36 pessoas por tentativa de golpe de Estado revelam um cenário no qual este golpe esteve muito próximo de se efetivar no final de 2022. Por fim, a Polícia Federal deu por encerrada as investigações do caso com a entrega do relatório à PGR (Procuradoria-Geral da República).

No relatório da Polícia Federal constam documentos à caneta que explicam como funcionaria a operação, incluindo um esboço intitulado Operação 142 encontrado na sede do Partido Liberal, na mesa do coronel Flávio Botelho Peregrino, que era o então assessor do general Braga Netto, candidato à vice-presidente da chapa de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.

O título deste documento se refere ao artigo 142 da Constituição Federal. E aqui cabe uma rápida recapitulação da polêmica que girou em torno deste artigo da Carta Magna da Nova República no governo anterior, que representou tanto um hiato no conceito de Nova República e redemocratização do país, como sobretudo um retrocesso nas conquistas democráticas e ameaça institucional que agora se confirmou com o que vem sendo devassado no que ocorria no fim de 2022.

A Constituição Federal de 1988 submeteu as Forças Armadas aos poderes constitucionais e construiu uma relação de neutralidade entre estas e a política. Por conseguinte, sob a nova ordem constitucional tivemos a incorporação dos três comandos das forças (Exército, Marinha e Aeronáutica) à estrutura do Ministério da Defesa, sob a direção de um Ministro civil.

O amadurecimento institucional da redemocratização passou, portanto, pela mudança das relações civis-militares, com o afastamento dos militares da política e de orientações de governo e obedecendo à ordem constitucional, isto é, com as Forças Armadas como um aparelho de Estado e não de governo. A democracia liberal criava, então, uma nova cultura de atuação estritamente profissional e constitucional por parte dos oficiais das três forças.

Com a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, logo que seu governo começou, tivemos um retrocesso nesta profissionalização das Forças Armadas, pois alguns dos órgãos ministeriais do novo governo passaram a ter a presença de militares, com o Ministério da Defesa deixando de ser ocupado por civis e voltando ao comando de generais, e com influência importante nos rumos do governo Bolsonaro, tanto em políticas públicas como na dinâmica institucional entre os Três Poderes, isto é, Executivo, Legislativo e Judiciário.

No ano de 2020, com a pandemia da Covid-19, tivemos o aumento da tensão institucional entre a Presidência da República, apoiada pelo Ministério da Defesa, e o Supremo Tribunal Federal (STF). Com o agravamento dos conflitos entre o governo e a Suprema Corte, por sua vez, foi quando o então presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores políticos, incluindo alguns militares, passaram a defender publicamente que as Forças Armadas poderiam exercer um poder moderador.

Tal ideia estapafúrdia, se não fosse, contudo, canalha e conspiratória, do poder moderador, tomava como base uma tese levantada pelo jurista Ives Gandra Martins, em que o Artigo 142 da Constituição Federal autorizaria qualquer dos poderes, ao se sentir violado por outro poder, de reivindicar a “garantia da lei e da ordem” pelas Forças Armadas. Segundo Ives Gandra, entretanto, se trataria de uma intervenção pontual, para repor a lei e a ordem, e não para abrir precedente para a ruptura e a ascensão de um poder moderador.

O lado estapafúrdio, para não dizer que faltaria uma comicidade quando se trata de bolsonarismo, é que esta ideia de poder moderador não é nem da ditadura dos anos 1970 e nem do Estado Novo Getulista, é algo que só foi usado no Império, em que este era um poder do monarca que visava harmonizar os outros poderes e garantir a estabilidade do Estado. Portanto, este Poder Moderador era um quarto poder do Estado, e que durou de 1824 até 1889, sendo exercido pelos imperadores Dom Pedro I e Dom Pedro II. 

Por sua vez, a reaparição da tese de Ives Gandra em um momento de crise institucional grave da redemocratização causou uma reação imediata da comunidade jurídica, e começou um trabalho por parte de juristas para a reafirmação da defesa da interpretação correta do Artigo 142 da Constituição Federal.

Foi então realizada a reafirmação de que as Forças Armadas, enquanto instituições de caráter permanente e com função essencial ao Estado Democrático de Direito, devem exercer suas atribuições constitucionais segundo uma conduta de neutralidade política, sob a distinção e separação civil-militar exigida pelo regime democrático. Portanto, não está previsto na Constituição Federal, por fim, a autorização de qualquer “poder moderador” para dirimir conflitos entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

A alusão ao Artigo 142 da Constituição Federal no título do documento indicava, portanto, o caráter golpista e de ruptura institucional da conspiração urdida após a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro. A Polícia Federal acredita que a elaboração deste documento se deu entre novembro e dezembro de 2022, se utilizando de uma interpretação anômala do Artigo 142, para legitimar o golpe de Estado. 

O documento Operação 142 traça um passo a passo da instauração do golpe, sendo os principais : Enquadramento jurídico do decreto 142 (Advocacia Geral da União e Ministério da Justiça), convocação do Conselho da República e da Defesa, discurso em cadeia nacional de TV e rádio, preparação da tropa para as ações diretas, anulação de atos arbitrários do STF, anulação das eleições, prorrogação dos mandatos, substituição de todo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), preparação de novas eleições. Tais fins se encerram no fatídico documento com resultados estratégicos como : “Estado final desejado político” e, por fim, “Lula não sobe a rampa”.

O plano de golpe só não foi efetivado pela falta de adesão dos comandantes do Exército e da Aeronáutica, uma vez que o almirante Almir Garnier, então comandante da Marinha, aderiu à conspiração golpista, colocando as tropas à disposição do então presidente Jair Bolsonaro.

Como dito, o inquérito do golpe foi enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR). Portanto, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, é quem vai decidir se o ex-presidente e os demais acusados serão denunciados ao STF pelos crimes imputados pela Polícia Federal.

No inquérito, além do atentado do dia 13 de novembro deste ano, do homem em sofrimento psíquico que morreu ao tentar explodir o STF, temos os atos de invasão e vandalismo dos Três Poderes de 8 de janeiro de 2023, a tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, ocorrida em Brasília, no dia 12 de dezembro de 2022, e ainda a tentativa de explosão de um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília no dia 24 de dezembro do mesmo ano. 

Por fim, uma das principais conclusões das investigações da Polícia Federal é a de que Jair Bolsonaro atuou de forma direta e efetiva nos atos executórios para a tentativa de golpe de Estado, após a sua derrota nas eleições, no final de 2022. Mas, no momento, judicialmente, o ex-presidente está na condição de indiciado, além de inelegível.

(continua)


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.


Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/o-golpe-bolsonarista-2/

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

O GOLPE BOLSONARISTA - PARTE 1

“tentativa de golpe que incluía um plano de assassinato do presidente Lula”


No dia 19 de novembro foi deflagrada a operação da Polícia Federal que cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão contra suspeitos de uma organização criminosa que planejava um golpe de Estado no Brasil em 2022, e que tinha como objetivo principal impedir a posse do presidente Lula. 

O plano golpista foi batizado de “Punhal Verde e Amarelo”, o que remete à “Noite dos Longos Punhais” ou “Nacht der Langen Messer”, na radicalização do Nazismo na Alemanha. A Polícia Federal, com a operação, investiga uma tentativa de golpe que incluía um plano de assassinato do presidente Lula, de seu vice Geraldo Alckmin e do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, no final de 2022, já com Lula vitorioso nas urnas.

Com a operação da Polícia Federal, por sua vez, cinco pessoas foram presas com autorização do STF, o que incluiu quatro militares do Exército, todos eles ligados às forças especiais e denominados como “kids pretos”, além de um policial federal. São eles o general de brigada da reserva Mário Fernandes, o tenente-coronel Helio Ferreira Lima, o major Rodrigo Bezerra Azevedo, o major Rafael Martins Oliveira e o policial federal Wladimir Matos Soares.

“Kids pretos” é uma gíria usada para denominar militares que atuam em missões especiais. Esta operação da PF foi batizada de “Contragolpe”, e faz parte de um inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado e as ações contra a democracia que envolvem o período eleitoral de 2022 e que teve como ápice a invasão dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023.

O plano “Punhal Verde e Amarelo”, por sua vez, de acordo com a Polícia Federal, previa um ataque no dia 15 de dezembro de 2022. Foi encontrado nos arquivos de Mário Fernandes, por conseguinte, um documento que tinha como plano instituir um “gabinete de gestão de crise”, que entraria em operação no dia 16 de dezembro de 2022, no dia seguinte ao ataque. Esse gabinete seria chefiado pelo general Augusto Heleno, tendo o general Braga Netto como coordenador-geral.

Mauro Cid prestou novo depoimento à PF, em consequência desta operação, e negou que soubesse do plano. A PF, por sua vez, apontou inconsistências no depoimento, cabendo agora ao ministro do STF Alexandre de Moraes avaliar se haverá a anulação dos benefícios concedidos a Mauro Cid após o acordo de delação.

De acordo com a petição enviada ao STF, a PF encetou uma investigação que juntou aspectos de um plano de tentativa de golpe de Estado, violação do Estado Democrático de Direito, incluindo ataques ao sistema eleitoral, aos opositores e às instituições. O objetivo era o de impedir a posse de Lula, além de restringir o livre exercício da Democracia e do Poder Judiciário no Brasil.  

A articulação golpista teve seu auge a partir de novembro de 2022, avançando até dezembro, e que era parte de um plano de consumação de golpe de Estado denominada “Copa 2022”, que reunía elementos típicos de uma ação militar, contudo, neste caso, de caráter clandestino, criminoso e antidemocrático.

No dia 15 de novembro de 2022, por sua vez, Mauro Cid recebeu do major Rafael Martins de Oliveira, pelo WhatsApp, um documento protegido por senha com o nome de “Copa 2022”. Tal documento se tratava de uma estimativa de gastos que iriam subsidiar as ações criminosas que deveriam ser executadas durante novembro e dezembro de 2022.

O nome “Copa 2022” também foi usado para denominar um grupo criado num aplicativo de mensagens de nome Signal, composto por seis usuários, cada um com um codinome, eram eles : Alemanha, Áustria, Brasil, Argentina, Japão e Gana. 

Tal documento revelava um plano terrorista, envolvendo a execução de uma operação de alto risco, pois considerava a possibilidade de ocorrência de diversas mortes, com um arsenal que incluía pistolas e armas usadas por policiais e militares, além de armamentos de guerra mais pesados, como lança-granadas e metralhadoras.

Lula, em tal documento, recebe o codinome de “Jeca”, e para a execução do presidente eleito, Lula, devido às suas condições de saúde, foi aventada a possibilidade de envenenamento ou de uso de produtos químicos para que provocasse nele um colapso orgânico. 


(continua)


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.


Link da Século Diário :

https://www.seculodiario.com.br/colunas/o-golpe-bolsonarista/

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

A HIPOCRISIA E A INVEJA

Tais fábricas de sonho, na alma do negócio,

vira a fantasia do capital, a arte, já rejeitada

de viés e como pressuposto, surpreende.


É massa ver a cara da mendacidade tomando tenência,

ocultando na voz o despeito que transborda no gesto

e no olhar, da súcia medíocre, que ao ver a obra

de um espírito livre, deu de costas, ofereceu esterco,

como se o incômodo se disfarçasse de afetação laboral.


Quais os eunucos existenciais que sempre foram,

repetindo a fórmula dos que se conformaram,

e no alvorecer de arte nova, ainda são os mesmos

de sempre, na cartilha anódina da vida plana

diante das escolhas da vida plena. 


Monster - 29/11/2024 

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

JANJISMO

“do tatibitate à falta de decoro, temos agora um caminho de ajustes de comportamento”


Janja conseguiu se superar neste último G20, realizado agora no Rio de Janeiro, mas tanto, que até o presidente Lula teve que dar uma reprimenda em defesa das negociações diplomáticas que estavam sendo acordadas entre as autoridades no encontro de chefes de Estado e/ou seus representantes. No linguajar popular, Lula teve que apagar um incêndio, um fogo amigo, provocado pela primeira dama.

O grau de deslumbramento com os holofotes, ao paroxismo da caricatura e da afetação, sobretudo em redes sociais, já conhecida de Janja desde que começou o governo, está diretamente ligada à sua irrelevância como quadro do PT (Partido dos Trabalhadores), isso antes de se tornar esposa de Lula. Janja até então era uma existência pálida e sem brilho, dentro da burocracia do partido, nunca teve tônus de ter criado uma biografia relevante antes de se associar ao nome de Lula.

Certo que ela está ao lado do presidente desde os tempos bicudos de sua prisão, em que muitos dos aliados abandonaram o barco, ficando apenas os mais leais, tais como Fernando Haddad e Gleisi Hoffmann. Este pode ser o ponto positivo, pois ninguém fazia uma aposta da volta de Lula à presidência naqueles anos. Contudo, o comportamento de Janja, repetidas vezes, desde que os holofotes se voltaram ao casal presidencial, tem sido o de uma jeca com um ego suscetível, até infantil, o que se viu na epítome de afetação que culminou no fatídico “fuck you Elon Musk”.

A própria intromissão de Janja no governo, objeto de reclamação por parte de ministros, é algo mal visto dentro da gravidade dos assuntos políticos, sendo que agora, no G20, isso ocorreu diretamente. O mal estar dentro do governo com alguns comportamentos da primeira dama vem, portanto, desde o começo deste, pois Janja está dando o seu showzinho, registrando a sua “saga”, desde que Lula tomou posse como presidente em seu terceiro mandato.

A primeira dama, que já está há muito tempo neste modo de lidar com seu posto como se fosse uma celebridade de reality show, fazendo posts superficiais, com bobagens de penduricalhos de rede social, não interessa a ninguém que esteja se informando sobre política no Brasil, somente a uma claque tão deslumbrada quanto a primeira dama, que amam e odeiam ícones na internet, uma súcia parva afeita à perda de tempo algorítmica.

Da inconveniência da figura, do tatibitate à falta de decoro, temos agora um caminho de ajustes de comportamento para que o governo possa caminhar com maturidade nas questões complexas, como a geopolítica, a economia e o meio ambiente, por exemplo, sendo tocada por pessoas ponderadas e sérias, o que desde que o governo começou, faz este contraste com Janja e seu deslumbramento kitsch, mais para boba da corte do que para primeira dama.

A sala sendo ocupada por adultos nunca é demais, ainda mais depois de uma tentativa de golpe, e o que o governo Lula menos precisa, neste momento, é dar munição para a extrema direita, ainda mais por conta própria, com fogo amigo. Portanto, tem que se cortar este barato de colocações desnecessárias que não ornam e nem agregam já na raiz, no seu nascedouro.  

Não se pode vacilar, ainda mais por infantilismo ou desatenção, neste combate duro que tem sido a do Brasil democrático contra vivandeiras ressurretas através do bolsonarismo, o código atual de tradução do que foi o golpe de 1964, das conspirações, pós-república velha, que vinham desde o suicídio de Getúlio etc, e que têm como atual signo e catalisador o bolsonarismo.

O deslumbramento e a afetação têm a característica de serem postiças, isto é, anti-naturais. O que se percebe, mesmo sem ser psicólogo de comportamento, com a simples prática do bom senso, é que a primeira dama anda tão embriagada, encantada, que talvez a ficha caia com a palavra do presidente. Quando isso começa a interferir nas mesas de negociação, acabou o recreio, acabou a babilônia, o chamado à maturidade política se torna imperativo.

Pode ser que Janja até então não tenha atinado, pois dentro de sua bolha, de sua claque, ouvimos risos e aplausos, e Janja ouvindo aquilo como o eco de sua voz e um bálsamo em sua vaidade, que de suscetível que é, nos dá cenas caricatas, na fascinação jeca da fama barata, pega de carona.

Em essência, tal deslumbramento e afetação são reflexos diretos de uma velha inconsistência biográfica, de uma pequena e pálida burocrata, dentro do Partido dos Trabalhadores, sem brilho próprio, e que agora dá suas cambalhotas com os trejeitos de uma xucra empolgada. 

O fato é que tudo isso não é recreio, pois envolve assuntos de governo e de Estado. Portanto, precisamos de decoro, de contenção e de objetividade, para não cairmos na mesma grosseria que vivemos durante o governo Bolsonaro, em meio à uma carnificina pandêmica.


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário :

https://www.seculodiario.com.br/colunas/janjismo/

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

ELON MUSK E O TWITTER - PARTE 7

 “O lítio é fundamental na produção dos carros elétricos da Tesla”

Elon Musk, em relação ao X (antigo Twitter), não tem como prática usual ficar arrumando problemas diplomáticos, e muitas vezes para acomodar interesses, e alcançar o ingresso de suas empresas em outros países, deixa de lado seu ativismo de extrema direita, ao se adaptar a marcos regulatórios de diversos destes países. 

Na Índia, mesmo com Elon Musk se posicionando contra decisões judiciais do país, este que é comandado pelo primeiro-ministro Narendra Modi, que é do partido de extrema direita Bharatiya Janata Party, há mais de uma década, teve que acatar tudo, pois existem interesses, por exemplo, de investimentos da ordem de US$ 3 bilhões em fábricas da Tesla, na luta contra a concorrência da chinesa BYD na região, envolvendo o mercado de carros elétricos.

No Brasil, a escalada de Elon Musk sobre o STF e seu confronto com o ministro Alexandre de Moraes teve, por conseguinte, também interesses de ordem empresarial, muito para além de seu extremismo político ou intransigência quanto a uma noção peculiar de liberdade de expressão, cultivada por um libertarianismo disruptivo e que atua por mecanismos infantilizados de cizânia memética e instrumentos de manipulação e desinformação completamente desabridos. Por sua vez, o interesse de Musk também passava por uma estratégia comercial de seu conglomerado, que inclui a SpaceX, a Starlink e a Tesla.  

Elon Musk tem interesse em comprar a Sigma Lithium, uma das maiores mineradoras de lítio do mundo. O lítio é fundamental na produção dos carros elétricos da Tesla. No Brasil, por sua vez, a principal fornecedora de lítio e níquel para a Tesla, por sua vez, é a Vale. 2022 foi um dos momentos mais estratégicos na produção de lítio brasileiro, e foi quando Elon Musk veio ao Brasil para lançar, oficialmente, a sua internet por satélite, a Starlink.

O lítio é o metal mais leve que existe e passou a ser chamado de “petróleo branco”, se tornando essencial na produção de baterias, carros elétricos, e na estrutura para a produção de energia solar e eólica. A América do Sul, contando somente Argentina, Bolívia e Chile, concentra 68% das reservas mundiais do metal.

O Serviço Geológico brasileiro, nos últimos tempos, descobriu várias reservas de lítio, se concentrando principalmente no Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais, região esta que se tornou objeto de exploração de três empresas, que são a Companhia Brasileira de Lítio, AMG Mineração e a canadense Sigma. 

A Companhia Brasileira de Lítio era a única nacional, cuja empresa parceira, a Oxys Energy, faliu em 2021, e o governo de Minas Gerais vendeu parte da estatal à britânica Ore Investimentos. E agora, segundo o Observatório da Mineração, empresas como a Latin Resources, Lithium Ionic e Atlas Lithium, estão sondando a região na busca de novas reservas de lítio. 

A Sigma, que foi fundada em 2011, anunciou em 2023 que estava negociando com potenciais compradores e, logo a seguir, as negociações com Elon Musk não foram adiante, ao passo que a chinesa BYD começou a negociar a compra da Sigma, com preço avaliado em R$14,3 bilhões. O Brasil, na guerra comercial entre Tesla e BYD, virou um centro da estratégia global de investimentos da empresa chinesa, chegando a comprar, recentemente, a fábrica da Ford, em Camaçari, na Bahia.

No cenário global, por sua vez, a Tesla vem perdendo terreno para a BYD, que a partir de 2023 ultrapassou as vendas da empresa de Elon Musk, fazendo com que o CEO da Tesla cobrasse do governo norte-americano a implementação de medidas protecionistas, com medidas como a criação de barreiras tarifárias para a chinesa BYD.

Logo após as afrontas de Elon Musk contra o ministro Alexandre de Moraes, o CEO começou a seguir Nicolai Tangen, um poderoso investidor norueguês, sendo este CEO do Norges Bank Investment, que se trata de um fundo de investimentos que tem negócios em várias partes do planeta, dando prioridade à área de mineração. Elon Musk chegou a ter uma live no X com Nicolai Tangen. 

Para se ter uma ideia, o Norges Bank Investment, em 2023, tinha investimentos em mais de 8 mil empresas, abrangendo 72 países, sendo dono de pouco mais de 1 % da Petrobras, 3 % da Cosan e 5 % da construtora Tenda, dentre outras empresas brasileiras, com investimentos na canadense Sigma, na anglo-australiana Rio Tinto e na metalúrgica holandesa AMG. Foi quando os interesses de Elon Musk e do CEO do Norges Bank confluíram.

(continua)

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Blog : https://www.seculodiario.com.br/colunas/elon-musk-e-o-twitter-parte-7/ 


POEMA REVERENCIAL

Te dedico meus textículos, meu tesão e meu orgasmo.

Nestes versos maltrapilhos, em cartas esparsas,

vertida toda clitóris de vestal, no vendaval,

e o magma que expande seu enigma.


Pois, ao sol, no meio da praia,

sou o clímax que revira os olhos,

neste navio de carranca

que espanta o

mau olhado.


14/11/2024 Monster

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

ELON MUSK E O TWITTER - PARTE 6

“o Twitter Files se tratou de um relatório para manipular a opinião pública”


O Twitter Files representou uma forma midiática de divulgação de material enviesado, em que a justiça brasileira passou a ser colocada em dúvida, na pretensão de tais arquivos apresentá-la como uma instituição de poder autoritária do país. E o que tivemos foi um vale tudo em que se recorria até à defesa de grupos neonazistas, golpistas, tendo grupos organizados atuando, tal como o Era Fascista, que foi um dos canais no Telegram suspensos pelo ministro Alexandre de Moraes. 

Tomando como alvo decisões judiciais, o Twitter Files se tratou de um relatório para manipular a opinião pública. As primeiras oito páginas do relatório, por exemplo, funcionam como um panfleto confeccionado por um comitê de maioria republicana. É pretensamente revelado um cenário de censura no Brasil, em que este viés do Twitter Files teria como fito o de atacar Joe Biden, que ainda era concorrente à reeleição como presidente dos Estados Unidos, numa disputa contra Donald Trump, que tentava voltar ao poder.

O título do relatório, resultado da entrega de documentos pela rede social X, de Elon Musk, é o seguinte : “O ataque à liberdade de expressão no exterior e o silêncio da administração Biden: o caso do Brasil”. Um dos objetivos relatados, por sua vez, é o de retorno dos deputados trumpistas ao poder. “O Congresso deve levar a sério os alertas do Brasil e de outros países que buscam suprimir a liberdade de expressão online. Nunca devemos pensar que isso não pode acontecer aqui”. O comitê tem como presidente o republicano Jim Jordan, um dos maiores expoentes da extrema direita nos Estados Unidos.

O texto de Jim Jordan, contudo, é uma distorção dos documentos já enviesados vazados por Elon Musk. O que se lê não possui uma metodologia, e as conclusões, portanto, são forçadas. Existe uma total ignorância das bases legais e constitucionais que orientam as medidas adotadas tanto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no combate contra a desinformação e pela proteção do regime democrático, sobretudo no período de iminência da tentativa de golpe que se daria após as eleições de Lula no Brasil.

O Twitter Files é uma versão compilada e enviesada em que são tomadas 88 decisões da Justiça brasileira em forma compacta e simplista, criando um relatório que faz entender que todas estas medidas foram tomadas pelo ministro Alexandre de Moraes, e que todas, igualmente, foram medidas tomadas de modo autoritário, com o fito de censura injustificada, ignorando os contextos dos casos. 

É algo estarrecedor colocar todas estas medidas como censura, uma vez que muito do que foi debelado pela Justiça, nestes casos, envolvia o contexto de incitação a golpe de Estado, e que é crime penal na Constituição Federal. O relatório, além de acusar toda e qualquer medida como censura, mais uma vez sob a égide de uma versão alucinada de liberdade de expressão com paralelo, quando muito, somente nos Estados Unidos, tenta naturalizar as ações realizadas no dia 8 de janeiro, e minimiza a tentativa de golpe de Estado.

Além desta completa desconexão com a realidade política e jurídica do Brasil, o comitê republicano se alinha com o que há de pior na extrema direita aqui do país, e que resulta num relatório que ignora outras questões graves enfrentadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como o neonazismo, em que um dos bloqueios determinados pelo ministro Alexandre de Moraes incluiu o já citado acima Era Fascista, no Telegram.

No caso de grupos neonazistas e outros grupos extremistas que foram monitorados, tivemos planejamentos de ações de doxxing, por exemplo, contra o ministro Alexandre de Moraes, o que se traduz como uma ação coletiva coordenada de assédio online direcionada contra uma única pessoa ou perfil, o que é crime. As ordens sob sigilo, que são objeto de questionamento por parte de bolsonaristas, por sua vez, são medidas comuns no cotidiano da justiça criminal tanto no Brasil como em outros países de regime democrático, o que nos Estados Unidos é conhecido como “law enforcement”.

Isto revela, portanto, o aspecto grotesco deste relatório, que se trata de um documento enviesado, só que de modo mal ajambrado, sem fundamentação, um compilado grosseiro de teses pré-fabricadas, e que tem como fonte principal links do perfil no twitter de Jim Jordan, numa tentativa descarada, embora anódina, de manipulação política. 

Para resumir um pouco as ações em torno do Twitter Files, tal se tratou de uma ação coordenada em que o relatório divulgado mostra advogados da empresa reclamando de ordens judiciais de Alexandre de Moraes, em que se determinava o bloqueio de contas envolvidas nas manifestações golpistas de 8 de janeiro, o que foi seguido de um apito de cachorro de Elon Musk, em que um tuíte dele mobilizava bolsonaristas contra as tais medidas de censura.

Logo se armou um circo em que se reuniram lideranças bolsonaristas como Jair Bolsonaro, seu filho Eduardo Bolsonaro, o Bananinha, que fizeram uma live, ao passo que em outra live tivemos a presença de Nikolas Ferreira, o Chupetinha, além de Paulo Figueiredo e o famigerado Allan dos Santos, um dos confessores do Pateta em Orlando, e que se encontrava banido. 

E então se iniciou o conflito entre Elon Musk e Alexandre de Moraes, em que o CEO usou a sua rede para contrariar uma ordem judicial do Supremo Tribunal Federal (STF), o que é ilegal, pedindo o impeachment do ministro. Com isso, a extrema direita se mobilizou, e o ministro Alexandre de Moraes acabou incluindo Elon Musk no extenso inquérito das milícias digitais. 

(continua)


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário :

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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

ELON MUSK E O TWITTER - PARTE 5

“Elon Musk começou a exercer uma tensão do X/Twitter contra o STF e o TSE”


O embate de Elon Musk com as instituições brasileiras teve como principal motivador a história que ficou conhecida como a do “Twitter Files Brazil”. O fato se deu quando um grupo de deputados federais de extrema-direita nos Estados Unidos  publicou um relatório em que estavam descritas várias decisões judiciais sigilosas, e isto envolvendo o STF (Supremo Tribunal Federal) e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), tudo relacionado com plataformas digitais, englobando o período que ia de 2020 até 2024, e que se referiam a punições e suspensões de perfis.

Este relatório foi publicado pelo comitê da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, com a liderança de Jim Jordan, junto a maioria republicana, um extremista que apoiou o discurso trumpista de fraude eleitoral no país, e que nunca foi provado. Como era previsível, novamente se discutia a liberdade de expressão e supostas ações de censura jurídica contra o X/Twitter por autoridades do Brasil.

As penalidades contidas no relatório se referem, sobretudo, a contas que apoiaram ou estimularam  a insurreição de 8 de janeiro de 2023, em Brasília, responsável pelo vandalismo e depredação contra os Três Poderes, isto é, Congresso, Supremo e a sede da Presidência da República. 

Um dos alvos nesta divulgação é o ministro do STF Alexandre de Moraes, pois o relatório contém 51 decisões judiciais, muitas destas marcadas como sigilosas, que foram emitidas pelo ministro, e que citam X/Twitter, Meta (dona do Facebook e do Instagram), YouTube, TikTok, Telegram, Discord, LinkedIn, além das redes conservadoras Rumble e Gettr. E ainda temos, no mesmo relatório, mais 37 decisões do Tribunal Superior Eleitoral, que à época ainda tinha Alexandre de Moraes como presidente.

A partir da publicação dos chamados Twitter Files Brazil, Elon Musk começou a exercer uma tensão do X/Twitter contra o STF e o TSE. O jornalista ativista norte-americano Michael Shellenberger publicou tuítes com a versão brasileira do Twitter Files. 

O material recente, por exemplo, já mostra comunicações do ex-diretor jurídico do X/Twitter no Brasil, Rafael Batista, desde 2020, em que ele discutia a respeito de solicitações sobre dados pessoais de usuários vindas de autoridades do judiciário, do legislativo e do Ministério Público, enquadrando, entre estes, políticos bolsonaristas e apoiadores, com possíveis consequências em caso de descumprimento de ordens judiciais.

O elenco predominante de perfis notificados era de bolsonaristas que se engajaram nas campanhas de calúnias contra o sistema eleitoral brasileiro, culminando em atos como a tentativa de explodir o aeroporto de Brasília. 

Além disso, militantes se mobilizaram em torno de quartéis, em rodovias, com atos anti-democráticos, em que o clímax foi a invasão e vandalismo dos edifícios públicos dos Três Poderes. Por sua vez, o que se tentava questionar, partindo do Twitter Files, era o excesso de solicitações judiciais sem respaldo legal. 

O Twitter Files, por sua vez, mobilizou bolsonaristas e a extrema-direita, ainda com a mal digerida derrota de Jair Bolsonaro nas urnas. Em seguida, Elon Musk afirmou que removeria todas as restrições feitas sobre perfis que receberam ordem judicial, o que fez com que Elon Musk entrasse em choque com o ministro Alexandre de Moraes. 

Shellenberger, um agitador, mais ativista que jornalista, disse que Musk, ao retirar as restrições de perfis com ordens judiciais, poderia provocar a retirada do ar do X/Twitter no Brasil a qualquer momento. O ministro Alexandre de Moraes, por sua vez, incluiu Musk no inquérito das milícias digitais, alegando que o CEO fez campanhas de desinformação sobre as ações do STF e do TSE e instigou ações de desobediência e obstrução à Justiça.

A reação institucional brasileira, por sua vez, partiu do princípio de soberania, ou seja, de que o país jamais seria tutelado pelas plataformas digitais e por big techs, sendo um país democrático, com uma Constituição Federal e um sistema de Justiça independente, com imprensa livre, instituições autônomas e liberdade de expressão, demandou uma ação forte e efetiva em relação a intromissões de poderes financeiros irresponsáveis e prepotentes. Com isto, entrou na pauta a necessidade de uma nova regulamentação para as redes sociais, diferente do Marco Civil da Internet.

Por fim, o Estado de Direito não pode ser violado por redes sociais comandadas por bilionários com domicílio no exterior, com descumprimento de ordens judiciais e ameaças a autoridades. Portanto, houve reação, que começou com pedidos de informações à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) sobre qual procedimento adotar para retirar o X/Twitter do ar no país. A partir daí, a Anatel deixou as operadoras de telefonias de prontidão para a retirada do X do ar.

O ministro do STF Barroso, por sua vez, levantou o fato da instrumentalização das redes sociais durante os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, afirmando que todas as empresas que operam no Brasil  estão sujeitas à Constituição Federal. 

(continua)


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

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quarta-feira, 23 de outubro de 2024

ELON MUSK E O TWITTER - PARTE 4

“na questão da guerra da Ucrânia, Elon Musk se interpôs na discussão de modo histriônico e imaturo”


As polêmicas de Elon Musk, além desta recente no Brasil, tivemos o embate com a União Europeia, a qual anunciou, em 2023, uma investigação sobre disseminação de conteúdo terrorista e violento na rede X do CEO problemático, além de propagar discursos de ódio, sobretudo após o ataque do Hamas a Israel. 

Em dezembro de 2023, por fim, a União Europeia formaliza a sua suspeita de violação de suas regras pela rede X através de conteúdos ilegais e de desinformação que circularam sem serem derrubados ou combatidos.

Dentre as acusações estava a do comissário digital da União Europeia, Thierry Breton, em que o X era colocado como suspeito de violação de regras de transparência. A rede social X respondeu que estava cooperando com o processo regulatório. 

Contudo, em outro episódio, a rede X realiza o banimento de contas de jornalistas, fazendo com que Elon Musk receba uma saraivada de críticas vindas de governos, das Nações Unidas e, por fim, da União Europeia, quando a comissária Vera Jourova, baseada na nova Lei Europeia de Serviços Digitais, ameaçou a rede X com sanções, pois esta nova lei foi elaborada para afirmação de direitos fundamentais e pelo respeito à liberdade de imprensa.

Por sua vez, na questão da guerra da Ucrânia, Elon Musk se interpôs na discussão de modo histriônico e imaturo, chegando ao ponto de, em outubro de 2022, usar o ainda Twitter para sugerir um “plano de paz”, sob a forma de enquete, deixando as autoridades ucranianas indignadas. Os detalhes da enquete exalam pretensão e prepotência, parecendo a proposta de um chefe de Estado, sendo este apoiado por uma coalizão.

Mas, na verdade, se tratava de um pastiche modorrento e de mau gosto, com opções como “refazer eleições de regiões anexadas sob supervisão da ONU; a Rússia sai se essa for a vontade do povo”, ou ainda esta outra pérola de auto paródia involuntária do CEO infantilizado como “Crimeia formalmente parte da Rússia, como tendo sido desde 1783 (até o erro de Khrushchev)”, além de outras baboseiras onipotentes. 

Por sua vez, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, criou uma enquete no Twitter, na qual se perguntava qual Elon Musk os seguidores do presidente gostavam mais. E as opções eram uma ironia em que uma era “Aquele que apoia a Ucrânia” e outra era “Aquele que apoia a Rússia”. 

Outro conflito se deu entre Elon Musk e o Estado americano de Delaware, quando no dia 30 de janeiro Musk escreveu no X : “Nunca registre sua empresa no Estado de Delaware”. Foi quando duas empresas de Musk, a Neuralink e a SpaceX anunciaram que não teriam mais sede fiscal em Delaware. Por sua vez, em fevereiro veio a notícia de que a Neuralink registraria seu endereço legal em Nevada, mesmo Estado em que a X tem sede, ao passo que a SpaceX se registraria no Texas.

A Tesla, por sua vez, ainda está em situação indefinida, enquanto Musk empreende uma campanha para que outras empresas não estabeleçam domicílio legal em Delaware, ao mesmo tempo em que o CEO tenta se livrar de qualquer vínculo com este Estado. Toda esta batalha é bem dura, pois Delaware é considerada atraente pelo setor empresarial há décadas.

Uma das causas do embate de Musk com o Estado de Delaware partiu da anulação de um pacote salarial de US$56 bilhões, que era o maior pagamento concedido a um CEO de uma empresa de capital aberto na História, e que foi barrada por uma juíza de Delaware, no fim de janeiro, decisão advinda de ação judicial movida por acionistas, julgando o pagamento excessivo, e que teve concordância da juíza.

O Estado de Delaware não é qualquer região do empreendedorismo norte-americano e mundial, longe disso, pois a coisa vai muito mais longe, uma vez que estamos lidando com um Estado que concentra mais de 60% das empresas que compõem o índice Fortune 500, este que inclui as 500 maiores empresas norte-americanas. 

Ou seja, todas estas empresas que estão dentro desses mais de 60% têm seu registro legal de sede em Delaware. Tais empresas incluem, dentre várias, gigantes como Facebook, Amazon, Google, Walmart, MasterCard, Visa, LinkedIn etc. Contando as empresas do mundo, por fim, Delaware possui mais de 1,6 milhões destas empresas com sede legal por lá.

Em relação à Bolívia, por fim, em 2020, a confusão se deu através de postagens, que começaram com uma crítica de Elon Musk a uma iniciativa do governo dos Estados Unidos que visava um pacote de estímulo, e isso durante a pandemia da Covid-19. Na postagem de Elon  Musk se dizia que tal pacote “não atendia aos melhores interesses do povo”.

Esta postagem gerou uma resposta que afirmava não se tratar dos melhores interesses do povo o fato do governo dos Estados Unidos terem organizado um golpe contra Evo Morales para que Elon Musk tivesse acesso ao lítio da Bolívia. O lítio que, por sua vez, é um mineral usado para a fabricação de baterias na Tesla, por exemplo.

O fato era que em 2019 o então presidente da Bolívia, Evo Morales, havia renunciado, depois de uma mobilização popular e de um motim da maioria dos policiais bolivianos, mais o pedido de renúncia feito pelas Forças Armadas. A resposta de Elon Musk, em pleno ano eleitoral na Bolívia, foi categórica, para não dizer irresponsável : “Nós daremos golpe em quem quisermos. Lide com isso”.  


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

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sexta-feira, 18 de outubro de 2024

ABRACADABRA

Eu bebo o vinho do fastígio, em verso nacarado,

ao aroma de almíscar, nas flores do campo

que sorriem aos girassois, e na mestra alma

do mundo, sonhadora, que em sândalo repete

o seu mantra AUM, no ruído de fundo

da escala maior, um rosa em chama violeta,

bruxuleando diante da sarça, no oráculo

de absinto das glórias da carne e do espírito,

através de um congraçamento após a conflagração,

e os poemas anarquistas, com os ases ctônicos

da nova terra desta promessa granítica

dos dias das alvíssaras, aos loas

desta sempiterna paralaxe

no horizonte de uma cornucópia

labiríntica, do aleph ou Mefisto,

do diabo azul ou de um Deus Totêmico.


18/10/2024 Monster  

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

ELON MUSK E O TWITTER - PARTE 3

 “Elon Musk veste uma persona histriônica de agitador e influencer”


Elon Musk faz parte de uma concepção de Estado privado que se utiliza de um viés libertário para testar os limites da soberania dos Estados modernos constituídos. Portanto, o que ocorreu aqui no Brasil, nas últimas semanas, com a suspensão do X (ex-Twitter) não configura uma novidade no histórico conturbado de Musk na sua relação com a soberania dos países pelo mundo. 

Elon Musk veste uma persona histriônica de agitador e influencer, misturando neofascismo com um libertarianismo de cepa anarcocapitalista e que se confronta com valores da Modernidade histórica como os do Iluminismo e do Humanismo, bases axiais do que se conhece do que temos como produções de laicidade, liberdade religiosa e política, evoluindo para as democracias liberais.

Tivemos também reações, ainda dentro dos limites da modernidade, como o pensamento socialista, e também presenciamos distorções surgidas de dentro do liberalismo em crise, como um ovo da serpente, que foi o fascismo corporativista italiano e depois o nazismo alemão. Tais concepções totalitaristas surgiram já com valorações nostálgicas que se confrontavam com valores consagrados da Modernidade iluminista.

Com uma concepção política feita de oratória radiofônica e estética, estas ideias totalitaristas  seduziram corações naqueles anos que duraram até o fim da Segunda Guerra Mundial, e que desde o pós-guerra até hoje ganham versões celulares em diversos países e/ou partidos que rezam a cartilha, mas tentam dissimular o discurso, compondo o cenário atual da extrema direita.

Por sua vez, com o advento da internet, hoje lidamos com um tipo de histrionismo que reproduz valores distorcidos originados desta extrema direita, com uma nova lógica de memes, trollagem, piadas de gosto duvidoso, e que com Elon Musk ganharam um representante com poder financeiro e midiático que atua, exatamente, através deste modelo de provocações histriônicas contra seus adversários, que podem ser governos, justiça, figuras públicas etc. 

A performance monetizante é o uso do algoritmo que só reconhece engajamento cego, e o pior que tem na praça é o que ganha destaque na internet, pois este algoritmo mostra o que engaja e viraliza. Elon Musk sabe que a lógica de algoritmo é viciada em memes e trollagens, e isto favorece a inconsequência do discurso dominante desta extrema direita atualizada em negacionismo científico, noções reacionárias diversas, somada a uma série de inversões de valores que erguem um verdadeiro guia anti-iluminista e de demolição dos valores humanistas.

Elon Musk representa este Estado privado que se confronta em poder com o Estado Moderno, o que, em lógica, pode ser entendido como um embate entre estes “estados-fluxo” das big techs, com uma dinâmica onívora capitalista, e os regramentos e estatutos de países, criando um desnível de interesses e modos de operação, sistemas e organizações que, quando chega ao ápice, os Estados constituídos reagem e, sim, ainda detêm mais poder e contundência que as big techs, por incrível que pareça.

Embora o sonho dourado de CEOs como Elon Musk fosse passar como um rolo compressor sobre as normas de poder do Estado de Direito, num novo estado total privado, seu histórico de embates pode se resumir a tentativas histriônicas de sabotagem e, depois, a adaptação às regras de cada Estado, sem grande sucesso em retorcer os limites institucionais, levando a respostas duras, no espírito da lei e segundo a defesa de soberania, conceitos tão consagrados, que uma persona histriônica, por mais poder financeiro que tenha, acaba sendo coagido a ceder e obedecer, pateticamente.

Além do caso recente de Elon Musk contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, aqui no Brasil, que irei tematizar em breve, o CEO gracioso também se meteu com a soberania de outros países, tais como Austrália e Ucrânia, além do estado de Delaware, nos Estados Unidos, e um conjunto de países, com confrontos com a UE (União Europeia), por exemplo. Como dono do X, antigo Twitter, Elon Musk arranjou diversos problemas, sempre tentando se escudar numa concepção distorcida de liberdade de expressão.

Na Austrália, o primeiro-ministro do país, Anthony Albanese, chamou Elon Musk de bilionário arrogante diante da relutância do X de retirar do ar as imagens de esfaqueamento dentro de uma igreja em Sydney, e o X dizendo que cumpriria a decisão ordenada por um tribunal, Musk, no entanto, faz um meme acusando o governo australiano de censura. Albanese chegou a dizer à emissora ABC News que Musk pensa que está acima da lei, “mas também acima da decência comum”.

A ofensiva de Elon Musk com o governo australiano, por sua vez, foi retomada recentemente com a apresentação de um projeto de lei que visa coibir a disseminação de desinformação por parte das redes sociais. Elon Musk chama o governo australiano de fascista e autoridades australianas se manifestam diante de uma concepção distorcida, ou melhor, enviesada, sobre liberdade de expressão, do CEO problemático. 

Ou seja, temos o exemplo da colocação do ministro das Finanças da Austrália, Stephen Jones, como uma forma de sintetizar o confronto deles com Musk por lá. Quando o ministro disse à emissora ABC o seguinte : "Não consigo entender como Elon Musk ou qualquer outra pessoa, em nome da liberdade de expressão, achar que está tudo bem ter plataformas de mídia social publicando conteúdo fraudulento, que está roubando bilhões de dólares dos australianos todos os anos. Publicação de material deepfake, publicação de pornografia infantil. Transmissão ao vivo de cenas de assassinato. É para isso que ele acha que serve a liberdade de expressão?", disse o ministro.

(continua)


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário :

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sexta-feira, 11 de outubro de 2024

ESPERANÇA SOLAR

Se atento, dentro do reflexo preciso, estou sensato,

fazendo o certo, com a sensibilidade acesa, sem chapar,

o afeto aberto, as razões bem estabelecidas, e todo um

manancial de projetos bem direcionados, cabe à loucura

dos dias da queda e do terremoto, todo o cataclismo que

me trouxe até aqui, depois da deriva, ser este esteio, 

a base, o núcleo duro de minha lucidez,

pois a vida sempre tem passado por um fio,

se abriam abismos, se achava que era o fim, 

tudo acabado, a derrota já declarada, sempre

que se sabe de histórias de vitória, no entanto,

descobre-se isto, que em outros momentos

tudo estava perdido, devastado, e a poesia

murmurava castelos de areia, se espatifando

no grande mar contra as rochas,

o corpo sendo aniquilado,

a alma sendo espancada,

os versos desaguando em

desespero, sim, exatamente

o que, depois da via tortuosa,

calmamente, levando o café à boca,

se olha, contempla, fita, e se diz com

serenidade que se está vivo e pleno,

com suas glórias, vitórias, 

diante do horizonte que nunca

lhe escapou, nem naqueles

dias do fracasso.


11/10/2024 Vibe

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

POEMA DE VENTO

 Feriado à forra da bebida ardente,

com as facas e os dentes, a mais 

forte luta na ira e na armada.


Pois poeta cai e levanta,

dá porrada e toma,

bebe fogo e canta a floresta,

seu hausto é o estro,

mais potente e tonitruante.


Eis o bel canto, em matizes

ferozes, a fazer da boêmia

a astúcia da noite, a que 

é vadia, a que dança no

meretrício, a noite bruta

dos poetas de vento.


10/10/2024 Monster

A PLENITUDE DOS BARDOS

Eu mantenho a vida acesa, pois a trama

se abre na floração, sem o fastio,

sem o lamento, longe do lodo,

assim o poema vive e vence.


As musas olhavam a melodia,

e a água transparente mostrava

do sol a clara luz, pois este tempo

em verso requer estrela,

e a estrela requer coragem,

no sol que brilha, e na noite

dos bêbados.


10/10/2024 Vibe 


CANTO DE BRISA - II

Suave este vento, face ao espelho d`água,

reza o tempo e reza a vela, faz paz no coração

das almas contemplativas, o mesmo fogo que

emerge e morre, de um fundo eterno,

na luz que habita a poesia.


Fecha este tempo da colheita, sem revés,

como galardão, ao vinho probo e vivaz.

Como eis poeta, voilá, seu canto é a vitória.


Em prece, nesta bruma e o orvalho,

e a maresia, pois assim o horizonte

vem do mar, e a visão assim anela

sua miragem mais bela.


10/10/2024 Sublime