Fiquem com o gosto amargo e azedo
da tortura à luz do dia, depois dos
porões da ditadura, depois da escravidão.
A Lei Afonso Arinos, diante das noites loucas,
nada pôde fazer, prendia-se para averiguação,
assim como se já prendeu por vadiagem.
Antigamente, malandro dançava capoeira
para enganar o meganha,
pois tinha luta no meio.
Samba era coisa de vadio,
tinha cerveja e pango.
Hoje a lei contra o racismo,
que é crime, também enfrenta
o absurdo do racismo estrutural.
Negro sempre teve que ouvir racismo
fingindo que era injúria racial.
Negro favelado, negra que tinha
uma alegoria sobre saúde mental etc.
Tudo insuportável, chato de doer,
doloroso para o coração.
Contudo, eu não sei o que é racismo!
Eu sou branco, minha empatia
é só imaginação, mas meu pai
foi no pau-de-arara sim,
na ditadura militar,
e apanhou como
um negro apanha
hoje na rua se é
confundido com
ladrão, ou se é
ladrão, podendo ser
torturado.
Um ladrão
de chocolate, aquele
que eu, menino branco,
menor de idade,
já roubei e comi,
sem estar com fome.
O pau-de-arara
é da fome do negro
que roubou chocolate.
O pau-de-arara
atávico da tortura
nunca mais!
O pau-de-arara
que é um soco
no estômago,
e nos pinta
a white face
da morte
da polícia parda
que ainda mata.
07/06/2023 Gustavo Bastos
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