O cristal rutilava na estalactite,
o umbral em que vivia o pistoleiro
obumbrava seu sangue de pista,
o poeta Villon, no degrau inferior
do inferno, caía ao Lete ao invés
de se enforcar, morada breve
da alma perdida,
vejo agora :
o escritor de nome inscrito
na forma da calçada sumiu
pelo mundo, virou viajante
sua rota era inaudita :
teatro bunraku de Osaka
e sutis levitações
em Lhasa,
de chofre, chovia aos cântaros
nas monções, eu vi o poeta
em Cingapura, no Sri Lanka,
em Papua Nova-Guiné,
ele andou como poesia seleta
em Brisbane, em Perth,
e caiu no sono bêbado
ao rimar em Madagascar,
venho destas fotografias
que tirei em Goa, a repetir
o tema em Kashmir,
Villon renascia em meu poema
como um canto parisiense,
Caronte enevoou a sua face
em minha visão, eu delirava
que poderia ser um mambembe,
um circense, vendo Poquelin
servir-se destes saltimbancos
nas noites das fogueiras,
sim, o proscênio embebido
em vinho, e os herdeiros
de Téspis na última badalada
da torre quando nasce
o sol.
11/10/2020 Gustavo Bastos
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