“A caixa-preta tem vários furos, mas ainda permanece fechada”
O caso Queiroz continua como a principal sombra sobre o
governo de Jair Bolsonaro, mesmo que haja a possibilidade de Fabrício Queiroz
não fazer a sua delação premiada, e diante de uma ameaça bombástica de Wassef,
que advogava o caso do senador Flávio, o filho mais velho de Jair.
No caso de Jair, Wassef advogou no caso do atentado a facadas
que Jair sofreu do esquizofrênico Adélio Bispo, e que agora temos como a pessoa
que representa Jair Bolsonaro na figura de Karina Kufa, que já desmentiu a
influência recente de Wassef na defesa de Jair.
Wassef promete explodir uma bomba na imprensa associando a
figura de Adriano da Nóbrega, ex-capitão do Bope, miliciano do Escritório do
Crime, organização suspeita do mando do assassinato da vereadora Marielle
Franco e do motorista Anderson Gomes, caso que Wassef coloca em suspeita
pessoas da Alerj como prováveis mandantes da morte de Nóbrega.
Fabrício Queiroz, por sua vez, foi encontrado em Atibaia, no
Estado de São Paulo, num imóvel que pertence a Wassef, este que negara ter
contato com Queiroz, sendo ironizado pela jornalista Andreia Sadi, numa
inspiração surrealista sobre o argumento de Wassef. Queiroz foi então preso, e sua mulher se
tornou uma foragida da Justiça, e os dois agora ganham prisão domiciliar pelo
STJ.
Jair Bolsonaro que tem na figura de seu filho mais velho o
maior vespeiro que envolve o nome do clã Bolsonaro, pois temos o escândalo das
rachadinhas, que tem na figura de Fabrício Queiroz como o operador financeiro
das intensas movimentações bancárias, com acusações sobre o ex-deputado
estadual e atual senador, que passa por peculato, lavagem de dinheiro e
organização criminosa.
Na investigação do Coaf, no influxo da Operação Furna da
Onça, na atuação do Ministério Público do Rio de Janeiro, temos o levantamento
de uma movimentação financeira, por parte de Fabrício Queiroz, de R$1,2 milhão,
de janeiro de 2016 a janeiro de 2017, num gabinete de Flávio que era um
verdadeiro cabide de empregos para apaniguados, colocando suspeitas de lavagem
de dinheiro numa franquia de chocolates de que Flávio era sócio.
Jair Bolsonaro, diante do perigo das investigações, tentou
uma ingerência sobre a direção-geral da Polícia Federal, e também na
superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro, teve que refazer a
nomeação da chefia da Polícia Federal depois de ter sido pressionado.
Jair Bolsonaro alegou que tinha direito de escolher quem ele
achasse melhor para tais cargos, mas o questionamento sobre impessoalidade,
moralidade e publicidade foram levantados imediatamente, depois da demissão de
Maurício Valeixo, e a nomeação de Ramagem que acabou malograda.
Todo o processo envolvendo Flávio está cheio de vícios, como
a mudança do Coaf do Ministério da Economia, para a esfera de influência do
Banco Central, as movimentações do STF, como de Dias Toffoli, que conseguiu
suspender por um período todas as investigações do Coaf e da Receita Federal
que não poderiam mais ser feitas sem autorização judicial.
Temos uma rede que tem um detonador na Operação Furna da
Onça, com suspeita de vazamento de informações para Flávio, por parte de um
delegado da Polícia Federal, denunciado por Paulo Marinho, atualmente no PSDB
do Rio de Janeiro, na suplência de Flávio no Senado, e agora pleiteando uma
candidatura a prefeito da cidade do Rio de Janeiro.
Tal vazamento que fez com que Flávio demitisse rapidamente
Fabrício Queiroz da assessoria de seu gabinete e possíveis provas fossem
destruídas, e com a suspeita do adiamento da Operação Furna da Onça, um
desdobramento da Lava Jato, para depois das eleições presidenciais de 2018,
para que não atrapalhasse a eleição de Jair Bolsonaro, por parte de policiais
federais favoráveis a Jair e sua candidatura.
As ligações então podem ir do gabinete das rachadinhas de
Flávio até a figura do miliciano Adriano da Nóbrega, a suspeita de organização
criminosa e do patrocínio do gabinete sobre Nóbrega, que pode ligar diretamente
este período em que Flávio Bolsonaro foi deputado estadual pelo Rio de Janeiro,
e o Escritório do Crime, que está sendo investigado no mando do assassinato de
Marielle Franco.
Os pontos que surgem da Operação Furna da Onça, que se
originou da investigação de cobrança de propinas sobre deputados estaduais no
governo de Sérgio Cabral no Estado do Rio de Janeiro, um ramo da Operação
Lava-Jato, chegaram às rachadinhas de Flávio Bolsonaro, e tiveram como
consequência as movimentações políticas e jurídicas na tentativa de proteger
Flávio de investigações, instâncias institucionais que Jair Bolsonaro tentou
forçar até a exaustão, sobretudo no caso do Coaf e da Polícia Federal.
O medo de Jair Bolsonaro está agora na delação de Fabrício
Queiroz, que, repito, pode não acontecer, e temos uma ameaça de Wassef no caso
Nóbrega, que pode envolver outros nomes da Alerj, abrindo o vespeiro da
política fluminense e os meandros que ligam figuras dentro da Alerj com as
milícias, suspeita levantada desde a CPI das Milícias encampada pelo ex-deputado
estadual Marcelo Freixo.
Ainda não há provas da ligação das milícias, mais
especificamente o Escritório do Crime, com o gabinete de Flávio Bolsonaro, mas
há uma ligação entre ele e Adriano da Nóbrega, e cabe às autoridades
competentes apurar este caso, para além da prática das rachadinhas, e
esclarecer o papel de Fabrício Queiroz, ou melhor, o que ele sabe, e se ele vai
falar.
A caixa-preta tem vários furos, mas ainda permanece fechada.
Jair Bolsonaro ainda não está diretamente ligado a estas suspeitas, mas o 01,
Flávio, pode ser o começo do abismo que se abre dentro do clã familiar que
chegou ao Poder Executivo na figura do pai Jair, o primeiro desta pretensa
dinastia que gosta do caos e pode se afogar nele antes de se perpetuar na
política nacional num futuro incerto.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
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