“o debate musical ganhava sentido político”
Torquato Neto viveu a sua geração, e fazia parte de sua época
o desbunde, sua criatividade foi influenciada por este cenário que incluía,
para o bem e para o mal, uma experiência supostamente espiritual com as drogas.
O desbunde então tinha este sentido de experiência corporal e que tinha o
carro-chefe desta época, que era o LSD, a viagem lisérgica que foi o
tema-valise da geração do desbunde, e Torquato Neto viveu isto intensamente, e
de certo modo teve seu preço, não exatamente o suicídio, mas seu percalço na
loucura decerto esteve diretamente relacionado à desmedida de álcool e LSD.
A navilouca tinha um brilho, mas a escuridão do cenário
político era forte, tempos bicudos de ditadura, a experiência mesclada de
desbunde e perseguição política, drogas e tortura, e que tem como resultado um
cenário em que os que lutaram na arte e com as armas que tiveram, alguns, fim
trágico, ou seja, suicídios, prisões, exílio e tortura. Torquato, em meio a
este cenário, manteve no Jornal dos Sports a sua coluna “Música Popular”, que
saiu de março a setembro de 1967. O contexto cultural era intenso e
interessante, era a época dos festivais de música, o auge da MPB, e cenário do
surgimento do tropicalismo, que virou então fenômeno de massa sob o influxo dos
festivais.
A música popular, neste contexto histórico, aparecia em meio
ao debate político da esquerda contra a direita e no conflito dentro da própria
divisão em facções na esquerda. No debate musical, por sua vez, vemos fenômenos
que hoje podem ser vistos como anódinos, mas que no contexto da época foram
vigorosos, como a passeata contra a guitarra elétrica, de puristas da música
brasileira, que logo foram superados pelo amálgama do tropicalismo.
Por sua vez, o debate musical ganhava sentido político, pois
este se ligava diretamente ao movimento estudantil. A tragédia toda se deu, no
entanto, em dezembro de 1968, com o Ato Institucional n ° 5, a linha dura da
ditadura agora dá as caras, e a arte sofreria também, pois a censura seria
institucionalizada de vez, a mordaça colocaria um novo desafio criativo para os
artistas daquela época, e o paradoxo era o de que temos um momento brilhante da
música e da arte em geral, no Brasil, e isto tudo vai de encontro a uma reação
da ditadura que vai asfixiar a intelectualidade e os movimentos artísticos
nacionais.
Torquato, agora neste cenário de censura e tortura, acaba
passando quase um ano em Londres e Paris. Em 1969, por exemplo, chegou a ter
contato com Yoko Ono e John Lennon, e seu famoso encontro com Jimi Hendrix. E
temos, nestes chamados anos de chumbo, a sua coluna mais célebre, a “geleia
geral”, e é o tempo em que Torquato, assíduo, frequenta diariamente o show Gal
Fa-tal. “Geleia Geral” é uma coluna que será bem mais ampla em temática do que
a coluna “Música Popular”.
Torquato, na sua versão geleia geral, já está afastado e
rompido com o tropicalismo, seu envolvimento com a música, contudo, continua
intenso, ele descobre Luiz Melodia, e seu foco terá, porém, agora uma
prioridade pelo cinema e pela literatura, e aqui surge a literatura marginal
que é traduzida pela experiência da Navilouca, e temos também o cinema
marginal, e sobretudo a poesia marginal dos anos 1970. É neste cenário que
surgirá, por exemplo, o poeta Chacal, que preparava já o que viria a ser a
Nuvem Cigana.
Torquato, em fins de 1969, se volta à crítica acerba ao
Cinema Novo e a Glauber Rocha, neste cenário da Embrafilme e do circuito
comercial nacional financiado pelo Estado. O filme histórico, o carro-chefe
deste cenário provoca a crítica de Torquato, um adepto do cinema marginal, e
que entra em conflito com o mainstream, Torquato, por sua vez, se envolve
intensamente com o cinema marginal, se tornando uma de suas figuras
emblemáticas no Brasil, sobretudo no seu entusiasmo pelo superoito.
O cinema marginal vai já numa direção pós-tropicalista e
contracultural, com fontes em Godard e do underground nova-iorquino, e que na
versão nacional vira o udigrudi tupiniquim, e juntava este estética com a
valorização das tradições populares do cinema brasileiro, que eram a chanchada
e as criações de José Mojica Marins, que aparecia como o personagem Zé do
Caixão. O cinema marginal tem uma estética mais “suja”, contra as cores e o
glamour do cinema industrial. Aqui temos o cinema trash contra o cinema pop, e
mais além do trash, o terceiro mundo.
Torquato se destaca no cinema marginal como o vampiro
Nosferato, sob a direção de Ivan Cardoso, e que será um dos filmes mais cult do
chamado udigrudi. No cenário de diretores, temos nomes como Rogério Sganzerla,
Júlio Bressane e Neville d `Almeida. Torquato também participou como ator no
inacabado A múmia volta a atacar, e no filme Helô e Dirce, de Luiz Otávio
Pimentel, filme este que envolve uma projeção metafórico-performática das
andanças imaginárias dos poetas Torquato Neto e Waly Salomão pelo dark side dos
dark rooms, e que é uma apropriação do cult underground nova-iorquino dos anos
1960, o filme Flaming Creatures do diretor Jack Smith.
O superoito seria a experiência do último ano de vida de
Torquato Neto, junto com a Navilouca, as últimas colunas do Última Hora, e
nesta época ele também passa alguns meses em Teresina, lá faz filme, jornal e
também se interna numa clínica para desintoxicação. Aqui sua performance
poética é de textos e imagens de uma arte em transe, já para além de suas
apropriações antropofágicas feitas em outro tempo.
POEMAS :
AI DE MIM, COPACABANA :
A música de Caetano Veloso e Torquato Neto vem como uma inspiração na crônica
clássica de Rubem Braga, no que segue : “Um dia depois do outro/Numa casa
abandonada, numa avenida/Pelas três da madrugada/Num barco sem vela aberta
nesse mar/Nesse mar sem rumo certo/Longe de ti ou bem perto é indiferente, meu
bem/Um ano depois do outro/Ao teu lado ou sem ninguém no mês que vem/Nesse país
que me engana/Ai de mim, Copacabana”. Aqui temos o letrista Torquato com a
alegoria do mar e a imagem de Copacabana nessa falta de rumo em que o poeta
está num país que lhe engana e que tem o estribilho do ai de mim Copacabana que
inverte a lógica que havia em Rubem Braga, no que segue : “Tomar o vento de
assalto numa viagem, num salto/Você olha nos meus olhos e não vê nada/Assim
mesmo é que eu quero ser olhado/Um dia depois do outro/Talvez no ano passado é
indiferente/Minha vida, tua vida/Meus sonhos desesperados”. Copacabana é que
olha o poeta-letrista, no que ele possui seus sonhos desesperados, no que segue
: “Minha mãe, teu pai, a rua/Nesse país que me engana/Ai de mim, Copacabana/Ai
de mim, Copacabana, ai de mim ...” (...) “Nesse país que me engana/Ai de mim,
Copacabana/Ai de mim, Copacabana, ai de mim ...”. O estribilho ao fim é nauseante,
o poeta-letrista se vê neste país que lhe engana, Copacabana que não lhe salva
e nem lhe consola, Torquato vira Rubem Braga do avesso e o estribilho-coda é
fatalista.
SEM TÍTULO : O poema vem com a estrofe-valise
torquatiana, que é : “Vir/Ver/Ou/Vir”. E o poema segue em estrutura livre, e
aqui vem a imagem da terra natal de Torquato, Piauí, no que segue : “a coroa do
rio poti em teresina lá no Piauí, areia palmeiras/de babaçu e/céu e água e
muito longe, depois, um caso de amor um casal uns e/outros.”. E segue, com a
novela o terror da vermelha, e que vem num fluxo, o poema aqui ganha corpo de
amálgama, o demônio e a águia, e a citação sousândrade, a loucura poética aqui
ganha força e solidez, no que segue : “a hora da novela o terror da vermelha/o
problema sem solução a quadratura do círculo o demônio a águia/o/número/do
mistério dos elementos os quintais da minha terra é a minha/vida;/o faroesteiro
da cidade verde/estás doido então? (sousândrade).”. O poema vem de conversa com
gil, e aqui temos a estrada teresina-são luís, no que a imagem culmina em
triste e teresina, que é tristeresina, no que vem : “conversa com/gilberto gil/e
recomeço a/vir ver ou/aqui onde herondina faz o show/na estação da estrada de
ferro teresina-são luís um dia de amanhã/ali/onde etim é sangrando/TRISTERESINA”.
O poema aqui ganha a concepção de filme, e a linguagem tem seu papel
ressaltado, alegoria que vira viagem, a língua que diz o mundo, no que segue : “saio,
uma vez ferido de morte e me salvei/o primeiro filme – todos cantam sua terra/também
vou cantar a minha/VIAGEM/LÍNGUA/VIALINGUAGEM/um documento secreto/enquanto a
feiticeira não me vê/e eu pareço um louco”. O poeta-louco volta à sua terra,
Teresina, e o poema ganha seu sol, sua zona tórrida, no que segue : “TERESINA/zona
tórrida musa advir/uma ponta de filme – calças amarelas/quarto número seis sete
cidades.”
LOUVAÇÃO : A música de Gilberto Gil e Torquato
Neto, que tem a versão conhecida pelas vozes maravilhosas de Elis Regina e Jair
Rodrigues, tem uma letra que celebra, ou melhor, louva, e tem uma certa verve
positiva, no que segue : “Vou fazer a louvação, louvação, louvação/Do que deve
ser louvado, ser louvado, ser louvado./Meu povo, preste atenção, atenção,
atenção./Repare se estou errado./Louvando o que bem merece,/Deixo o que é ruim
de lado.”. A mensagem é boa e evidente, louva o que é bom, deixa o ruim de
lado, e aqui a esperança ganha cores de fé e de medida de uma alma que bem sabe
o que quer, no que segue : “Quem espera sempre alcança,/Três vêis salve a
esperança!”. A letra de Torquato aqui tem graça e luz, seu estro tem uma fé que
aqui é louvação, amor e paz contra a guerra, a exaltação do homem e da mulher,
um banho de positividade que inunda toda a música e letra, e que nos enleva,
numa força irresistível, no que segue : “Louvo agora e louvo sempre/O que
grande sempre é :/Louvo a força do homem/E a beleza da mulher,/Louvo a paz pra
haver na terra,/Louvo o amor que espanta a guerra.”. A letra aqui tem um corpo
inteiro, potente, que registra a vida em toda a sua intensidade, no que segue :
“Louvo a vida merecida/De quem morre pra viver,/Louvo a luta repetida/Da vida,
pra não morrer.”. Aqui letra e canção, se louva a primavera, no que segue : “Louvo
a casa onde se mora/De junto da companheira,/Louvo o jardim que se planta/Pra
ver crescer a roseira,/Louvo a canção que se canta/Pra chamar a primavera.”. A
letra aqui volta ao seu estribilho, que louva a fé que tem esperança, junta o
bom e deixa o ruim, no que vem : “E assim fiz a louvação, louvação, louvação/Do
que vi pra ser louvado, ser louvado, ser louvado./Se me ouviram com atenção,
atenção, atenção,/Saberão se estive errado/Louvando o que bem merece,/Deixando
o ruim de lado.”.
DOMINGOU : A música de Gilberto Gil e Torquato
Neto vem das três horas da tarde, a imagem de domingo, no que vem : “São três
horas da tarde/É domingo/Da janela a cidade se ilumina/Como nunca jamais se
iluminou/São três horas da tarde/É domingo/Na cidade, no Cristo Redentor ê ê”.
A letra de Torquato vem toda cantante, feita para a canção, no que segue : “É
domingo ê ê/Domingou meu amor”. A letra aqui segue a forma-canção com mestria,
no que vem : “Em Ipanema e no meu coração ê ê/É domingo no Vietnã/Na Austrália
e em Itapuã/É domingo ê ê/Domingou meu amor/Quem tiver coração mais aflito/Quem
quiser encontrar seu amor/Dê uma volta na praça do Lido/Ô skindô, ô skindô, ô
skindô-lê-lê/Quem quiser procurar residência/Quem está noivo e já pensa em
casar/Pode olhar o jornal, paciência/Tra-lá-lá tra-lá-lá ê ê”. A letra tem aqui
a imagem do tempo passando, e o domingo que produz o verbo domingar, e o poeta
diz, sem nenhuma dúvida no coração, domingou meu amor : “Olha o tempo passando,/Olha
o tempo/É domingo, outra vez/Domingou meu amor ...” .
GO BACK : A música de Sérgio Britto e Torquato
Neto tem um frescor, é jovial, tem até uma versão dos Titãs que enuncia este
caráter mais descolado da letra, no que segue : “Você me chama/eu quero ir pro
cinema/você reclama/meu coração não contenta/você me ama/mas de repente a
madrugada mudou”. A letra então é certeira, objetiva, e não poupa seu
interlocutor, e logo anuncia que é tarde, que tudo mudou, só importa o que dá
certo, por certo, e melhor que seja assim, no que vem : “Só quero saber/do que
pode dar certo/não tenho tempo a perder” (...) “agora é tarde/tempo perdido/mas
se você não mora, não morou/é porque não tem ouvido/que agora é tarde/- eu
tenho dito –/o nosso amor mixou/(que pena) o nosso amor, amor/e eu não estou a
fim de ver cinema/(que pena).”. O letrista faz a sua transição, e diz que está
indo, e vai atrás do que vai dar certo.
POEMAS :
AI DE MIM, COPACABANA
Um dia depois do outro
Numa casa abandonada, numa avenida
Pelas três da madrugada
Num barco sem vela aberta nesse mar
Nesse mar sem rumo certo
Longe de ti ou bem perto é indiferente, meu bem
Um ano depois do outro
Ao teu lado ou sem ninguém no mês que vem
Nesse país que me engana
Ai de mim, Copacabana
Ai de mim, Copacabana, ai de mim
Quero voar no Concorde
Tomar o vento de assalto numa viagem, num salto
Você olha nos meus olhos e não vê nada
Assim mesmo é que eu quero ser olhado
Um dia depois do outro
Talvez no ano passado é indiferente
Minha vida, tua vida
Meus sonhos desesperados
Nossos filhos, nosso fusca
Nossa boutique na Augusta
O Ford Galaxie e o medo de não ter um Ford Galaxie
O taxi, o bonde, a lua, meu amor é indiferente
Minha mãe, teu pai, a rua
Nesse país que me engana
Ai de mim, Copacabana
Ai de mim, Copacabana, ai de mim ...
Você olha nos meus olhos e não vê nada
É assim mesmo que eu quero ser olhado
Um ano depois do outro
Ao teu lado ou sem ninguém no mês que vem
Nesse país que me engana
Ai de mim, Copacabana
Ai de mim, Copacabana, ai de mim ...
(música de Caetano Veloso e Torquato Neto)
SEM TÍTULO
Vir
Ver
Ou
Vir
a coroa do rio poti em teresina lá no Piauí, areia palmeiras
de babaçu e
céu e água e muito longe, depois, um caso de amor um casal
uns e
outros.
procuro para todos os lados – localizo e reconheço, meu
chicote na
mão
e os outros :
a hora da novela o terror
da vermelha
o problema sem solução a quadratura do círculo o demônio a
águia
o
número
do mistério dos elementos os quintais da minha terra é a
minha
vida;
o faroesteiro da cidade
verde
estás doido então? (sousândrade).
ela me vê e corre, praça joão luís ferreira.
esfaqueada num jardim
estudante encontrado morto
ando pelas ruas tudo de repente é novo para mim, a grama, o
meu
caso de
amor, que persigo, esses meninos me matam na praça do liceu.
conversa com
gilberto gil
e recomeço a
vir ver ou
aqui onde herondina faz o show
na estação da estrada de ferro teresina-são luís um dia de
amanhã
ali
onde etim é sangrando
TRISTERESINA
uma porta aberta semiaberta penumbra retratos e retoques
eis tudo, observei longamente, entrei e saí e novamente eu
volto
enquanto
saio, uma vez ferido de morte e me salvei
o primeiro filme – todos cantam sua terra
também vou cantar a minha
VIAGEM/LÍNGUA/VIALINGUAGEM
um documento secreto
enquanto a feiticeira não me vê
e eu pareço um louco pela rua e um dia eu encontrei um cara
muito
legal que eu me amarrei e nós ficamos muito amigos eu o via
o dia inteiro e a poucos conhecia tão bem.
VER
e deu-se que um dia o matei, por merecimento.
sou um homem desesperado andando à margem do rio parnaíba.
BOIJARDIM DA NOITE
este jardim é guardado pelo barão. um comercial da pitu,
hommage,
à saúde de luiz otávio.
o médico e o monstro. hospital getúlio vargas. morte no
jardim.
paulo josé, meu primo, estudante de comunicação em brasília,
morre
segurando bravamente seu rolling stone da semana
sol a pino e conceição
correndo sol a pino pela avenida
TERESINA
zona tórrida musa advir
uma ponta de filme – calças amarelas
quarto número seis sete cidades.
LOUVAÇÃO
Vou fazer a louvação, louvação, louvação
Do que deve ser louvado, ser louvado, ser louvado.
Meu povo, preste atenção, atenção, atenção.
Repare se estou errado.
Louvando o que bem merece,
Deixo o que é ruim de lado.
E louvo, pra começar,
Da vida o que é bem maior :
Louvo a esperança da gente
Na vida, pra ser melhor.
Quem espera sempre alcança,
Três vêis salve a esperança!
Louvo quem espera sabendo
Que pra melhor esperar,
Procede bem quem não para
De sempre e mais trabalhar.
Que só espera sentado
Quem se acha conformado.
Vou fazendo a louvação, louvação, louvação
Do que devo ser louvado, ser louvado, ser louvado.
Quem estiver me escutando, atenção, atenção.
Que me escute com cuidado.
Louvando o que bem merece,
Deixo o que é ruim de lado.
Louvo agora e louvo sempre
O que grande sempre é :
Louvo a força do homem
E a beleza da mulher,
Louvo a paz pra haver na terra,
Louvo o amor que espanta a guerra.
Louvo a amizade do amigo
Que comigo há de morrer,
Louvo a vida merecida
De quem morre pra viver,
Louvo a luta repetida
Da vida, pra não morrer.
Vou fazendo a louvação, louvação, louvação
Do que deve ser louvado, ser louvado, ser louvado.
De todos peço atenção, atenção, atenção.
Falo de peito lavado
Louvando o que bem merece,
Deixo o que é ruim de lado.
Louvo a casa onde se mora
De junto da companheira,
Louvo o jardim que se planta
Pra ver crescer a roseira,
Louvo a canção que se canta
Pra chamar a primavera.
Louvo quem canta e não canta
Porque não sabe cantar
Mas que cantará na certa
Quando, enfim, se apresentar
O dia certo e preciso
De toda a gente cantar.
E assim fiz a louvação, louvação, louvação
Do que vi pra ser louvado, ser louvado, ser louvado.
Se me ouviram com atenção, atenção, atenção,
Saberão se estive errado
Louvando o que bem merece,
Deixando o ruim de lado.
(Música de Gilberto Gil e Torquato Neto)
DOMINGOU
São três horas da tarde
É domingo
Da janela a cidade se ilumina
Como nunca jamais se iluminou
São três horas da tarde
É domingo
Na cidade, no Cristo Redentor ê ê
É domingo no trólei que passa
É domingo na moça e na praça
É domingo ê ê
Domingou meu amor
Hoje é dia de feira
É domingo
Quanto custa hoje em dia o feijão
São três horas da tarde
É domingo
Em Ipanema e no meu coração ê ê
É domingo no Vietnã
Na Austrália e em Itapuã
É domingo ê ê
Domingou meu amor
Quem tiver coração mais aflito
Quem quiser encontrar seu amor
Dê uma volta na praça do Lido
Ô skindô, ô skindô, ô skindô-lê-lê
Quem quiser procurar residência
Quem está noivo e já pensa em casar
Pode olhar o jornal, paciência
Tra-lá-lá tra-lá-lá ê ê
O jornal de manhã chega cedo
Mas não traz o que eu quero saber
As notícias que leio conheço
Já sabia antes mesmo de ler
Ê ê qual o filme que você quer ver?
Que saudade, preciso esquecer
É domingo
Ê ê domingou meu amor
Olha a rua meu bem, meu benzinho
Tanta gente que vai e que vem
São três horas da tarde
É domingo
Vamos dar um passeio também
Ê ê o bondinho viaja tão lento
Olha o tempo passando,
Olha o tempo
É domingo, outra vez
Domingou meu amor ... .
(Música de Gilberto Gil e Torquato Neto)
GO BACK
Você me chama
eu quero ir pro cinema
você reclama
meu coração não contenta
você me ama
mas de repente a madrugada mudou
e certamente
aquele trem já passou
e se passou
passou daqui pra melhor,
foi!
Só quero saber
do que pode dar certo
não tenho tempo a perder
você me pede
quer ir por cinema
agora é tarde
se nenhuma espécie
de pedido
eu escutar agora
agora é tarde
tempo perdido
mas se você não mora, não morou
é porque não tem ouvido
que agora é tarde
- eu tenho dito –
o nosso amor mixou
(que pena) o nosso amor, amor
e eu não estou a fim de ver cinema
(que pena).
(Música de Sérgio Britto e Torquato Neto)
Link da música “Louvação” (Elis Regina e Jair Rodrigues) : https://www.youtube.com/watch?
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://seculodiario.com.br/public/jornal/materia/torquato-o-desbunde-e-o-cinema-marginal
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