O CASO OTÍLIA
Chico Xavier, mesmo depois da proibição de seu guia Emmanuel
de realizar sessões de materialização, foi assistir em 1963 as conhecidas
aparições que eram produzidas pela médium Otília Diogo. Por sua vez, uma das
aparições que eram mais frequentes se tratava de uma freira chamada Irmã
Josefa.
O chamado caso Otília, um dos mais polêmicos do Espiritismo
brasileiro, teve a participação ardilosa da revista O Cruzeiro, que primou pelo
sensacionalismo e pela intenção de desmascarar o fenômeno espírita e colocá-lo
no ridículo. O escândalo produzido pela revista na época ganhou dimensão
nacional e, de certa forma, colocou o Espiritismo no debate público.
O livro de Jorge Rizzini, chamado Materializações de Uberaba,
é o documento principal do chamado Caso Otília, e descreve a má fé da revista O
Cruzeiro em detalhes. Os repórteres enredaram Chico Xavier e toda a equipe que
participou da materialização pela médium Otília em um escândalo que abalou todo
o movimento espírita mundial.
Num sessão de controle rigoroso, com equipamentos de filmagem
e fotografia, realizada dentro do consultório do médico Waldo Vieira, foram
instaladas nove câmeras fotográficas, tal medida tinha como objetivo capturar
as imagens materializadas dos espíritos em nove ângulos diferentes para exame e
confronto. Além destas câmeras, também havia barômetros, balanças, dentre
outros equipamentos para controle rigoroso do fenômeno que se daria ali, para
evitar qualquer forma de fraude, incluindo nisto uma jaula de aço para que os
médiuns realmente comprovassem a veracidade do fenômeno de materialização, mais
uma forma de evitar qualquer forma de prestidigitação.
Na abertura da sessão temos Waldo Vieira lendo um trecho do
Evangelho, e logo se apaga a luz do consultório, com a sala ficando na
escuridão total. Logo começam a se ouvir, no lado esquerdo da jaula, ruídos
guturais. Era a médium Otília em transe e já em seguida liberando ectoplasma,
tanto pela boca, como pelos ouvidos e nariz. Logo se ouvem palavras gritadas e
ininteligíveis, era a garganta recém-formada do espírito manifestado ali pelo
ectoplasma liberado pela médium Otília.
Temos então a materialização de Irmã Josefa, com roupa de
freira, toda branca, trazendo uma luz na fronte e no tórax. Ela diz um “Viva
Jesus!”, e logo esparziu gotas de perfume. E então a freira manifestada diz : _
Sabem porque estou aqui entre vocês, meus filhos? Para dar provas de que a
morte não existe. Provas verdadeiras de que todos vocês são imortais.
O espírito materializado da freira se deixou fotografar sem
grandes problemas, e temos também nesta mesma noite a materialização do
espírito de Alberto Veloso, ex-médico da marinha, este sendo uma materialização
integral que se anunciou no recinto esparzindo gotas de éter. Vendo a médium
Otília Diogo, por sua vez, podemos nos lembrar de médiuns pioneiros como
Eusápia Paladino, também analfabeta, e também da médium Mme. D `Esperance.
O ESCÂNDALO DA REVISTA
“O CRUZEIRO”
E agora teremos a descrição da intervenção desastrosa,
adrede, da revista O Cruzeiro, nas sessões de materialização envolvendo a
médium Otília Diogo. E isto depois de uma primeira reportagem amigável do
fenômeno, baseado num programa de TV, sem qualquer embasamento de local e
contexto.
Em seguida, já na sessão com Otília Diogo, o circo seria
armado pela revista O Cruzeiro, eram sete repórteres e fotógrafos com intenções
sensacionalistas. Dentro de um controle rigoroso, a médium Otília entra em
transe, libera ectoplasma, e temos a materialização da freira Irmã Josefa,
aparição esta que permaneceu materializada durante trinta minutos,
permitindo-se ser tocada e fotografada. Depois temos a materialização do
espírito de Alberto Veloso, este ficando por quarenta minutos, e também se
deixando fotografar. Depois de impressões estupefatas dos repórteres da revista
O Cruzeiro, no entanto, viria a armação do escândalo.
A revista O Cruzeiro passa a divulgar uma série de
reportagens intitulada “A Farsa da Materialização”, série esta que atacou a
médium Otília e os médicos presentes na sessão, todos acusados de mistificação
e charlatanismo. Se tratou de uma campanha de O Cruzeiro contra o Espiritismo
que durou quase três meses consecutivos, ocupando onze números seguidos da
revista, somando setenta páginas compactas e oitenta e sete fotografias. Tal
bateria contra o Espiritismo não poderia poupar, evidentemente, e também, o
médium Chico Xavier. Se tratou de uma soma de acusações estapafúrdias, com tons
sensacionalistas.
Dentre as acusações, temos que o ectoplasma que saía de
Otília era um chumaço de pano branco. Se viam sinais de dobragens e costuras
nas roupas dos espíritos materializados. As materializações, sob a luz, projetavam
sombras nas paredes. As fotografias das materializações são truques grosseiros.
Documentos "oficiais" provam que a materialização de Uberaba é uma farsa.
A espiritualidade já sabia do escândalo que estava sendo
tramado pela revista O Cruzeiro, e deste modo, por outro lado, Irmã Josefa
atingiu seu objetivo, pois após a publicação da série de reportagens
sensacionalistas, temos um fenômeno editorial para o Espiritismo, nesta época,
no Brasil, e que leva o Departamento Editorial da Federação Espírita Brasileira
a afirmar categoricamente que o caso de Otília Diogo não ficou devendo nada ao
caso Arigó. E logo em seguida, Luciano do Anjos e Jorge Rizzini, em programas
televisivos, desmascaram a fraude dos repórteres da revista O Cruzeiro.
Contudo, seis anos depois deste escândalo, a médium Otília
Diogo é presa com uma maleta cheia de roupas utilizadas nas chamadas
“materializações”, sendo, inclusive, encontrado o hábito que era usado pelo
espírito de Irmã Josefa. A médium, já presa, explicou que perdera a mediunidade
em 1965, e que não se conformou e passou a apelar para truques.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://seculodiario.com.br/public/jornal/artigo/gurus-e-curandeiros-parte-vii
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