AUGUSTO FREDERICO
SCHMIDT, O POETA SINGULAR DO MODERNISMO
“este poeta vai revitalizar o estro romântico, com um acento
mais grave”
O poeta nasceu em 1906, no Rio de Janeiro (RJ), onde faleceu
em 1965. O poeta integrou historicamente o período modernista, mas nunca
participou de nenhum movimento, tendo a sua obra sido uma influência para a
geração de poetas que surgiu na década de 1940. Augusto Frederico Schmidt
também foi editor e empresário, tendo ainda feito parte do governo de Juscelino
Kubitschek.
Augusto Frederico Schmidt realizou uma grande obra poética,
estreando na literatura brasileira, em 1928, com seu livro de poesia “Canto do
Brasileiro”, cujo tema principal era o da morte, e que trazia uma tendência
messiânica, contribuindo com a nova poesia brasileira, naquele tempo que era o
da afirmação do movimento do Modernismo.
No caso de Augusto Frederico Schmidt, este poeta vai
revitalizar o estro romântico, com um acento mais grave, tornando-se o poeta,
então, dentre os pares de seu tempo, uma figura singular, pois Schmidt tinha um
estilo ainda simbólico que nem sempre ecoava o cotidiano e o coloquialismo que
surgia de forma plena na corrente poética modernista.
No cenário posterior da poesia brasileira, e falando do
mercado editorial, o poeta se encontra numa espécie de limbo, sem grandes
edições, quando muito, o conhecimento que temos do poeta é pela via antológica,
e muito se perde de um poeta que atravessou com sua obra grande parte do século
XX, de 1928 a 1964, sendo sempre um poeta forte e original.
Augusto Frederico Schmidt, entre os pares de seu tempo, na
poesia, estabelece um corte, e que é ao mesmo tempo a sua marca, sua diferença,
e seu isolamento num estilo em geral diverso do que vinha sendo feito pelos
modernistas. Desde sua estreia em 1928 com o Canto do Brasileiro, seu estro
avançava para outro domínio de expressão e estilo que não era o do poema
modernista que era praticado naquelas década de 1920.
Os poetas do Modernismo eram mais coloquiais, com
poemas-piada, retratando um Brasil local e arcaico. E no caso de Schmidt
tínhamos um canto do brasileiro com estilo mais simbólico, o que então em sua
obra posterior também se revelará, como dito, nos pendores românticos,
colocando Schmidt num lugar próprio e sensível, na verdade instável, talvez
sendo um dos motivos de sua obra ter tido menos reedições do que os modernistas
mais standard.
Esta bifurcação do poema modernista, entre os mais modernos,
e poetas mais tradicionais como Augusto Frederico Schmidt, no entanto, refletia
o próprio projeto de pesquisa da poesia modernista, não era uma contradição,
pois a liberdade de cada poeta para realizar as suas próprias experiências
reforçava um dos legados principais do movimento modernista, que era o de uma
pesquisa estética permanente e infindável, como irá afirmar em conferência de
1942 o poeta Mário de Andrade.
Schmidt, então, será o poeta que vai inaugurar um poema
moderno com fundo simbolista, que tinha certos eixos coloquiais, mas que se
fundava mesmo era numa linguagem poética mais séria e formal, num tema que ia
para o fantástico e o lírico para escapar da angústia cotidiana. Mas, como
dito, Schmidt foi pouco lido, se o compararmos aos poetas mais conhecidos do
Modernismo, e outros tiveram até destino pior, pois ficaram num esquecimento
histórico, poetas como Emílio Moura, Dante Milano e Henriqueta Lisboa.
Os temas líricos, de um mundo invisível, da poesia de
Schmidt, se distanciava do que era concreto, sendo um caso único no Modernismo,
numa busca de universalidade para a linguagem poética moderna que se tornou, no
entanto, uma singularidade que hoje habita um lugar estranho no cenário geral
dos poetas que fizeram parte das gerações do Modernismo.
POEMAS :
CANTO DO BRASILEIRO
(1928)
CANTO DO BRASILEIRO : O poema que dá título ao livro de
Schmidt nos dá um panorama do
cenário do Brasil como um lugar evitado por uma
fuga ao mundo, sendo então aqui o poeta aquele que vai descrever muito mais as suas
próprias sensações do que um retrato cotidiano da paisagem que talvez evoque o
título do poema antes de nos debruçarmos sobre ele, no que temos : “Não quero
mais o amor,/Nem mais quero cantar a minha terra./Me perco neste mundo./Não
quero mais o Brasil”. O poeta meio que se rebela contra o Brasil, mas nem
tanto, como se vê no poema que exala uma contradição radical entre impulsos
fortes e opostos entre si, no que segue : “Quero é perder-me no mundo/Para
fugir do mundo.” (...) “Sou uma confissão fraca/Sou uma confissão triste/Quem
compreenderá meu coração?!/O silêncio noturno me embala./Nem grito. Nem sou./Não
quero me apegar nunca mais/Não quero nunca mais.”. As decisões dramáticas e
radicais revelam um temperamento poético já ultrapassado, mas que ganha nota
modernista, pois o poeta é um estranho no ninho, mas não é um ser
incompreensível, no que temos : “O mundo pesa em cima de mim/Não quero mais
carregar ele./Nem filosofias/Nem nada./Sou o homem que chora”. O peso do mundo,
com toda a sua carga que faz filosofar desesperadamente, faz o poeta chorar, e
segue : “Meu coração!/Nas vielas escuras – meu Deus que mistério!/Nos portos
tão longe/Tristezas tão grandes!/Me perco no mundo” (...) “Agora, a tristeza/Cidades
tão lindas/Agora, a saudade/Cidades tão grandes./Nas matas de casas me perco
meu Deus!”. E agora a angústia recorre a Deus, este ponto ou lugar oculto ou
salvação do tormento do mundo, no que temos : “Meu Deus que te ocultas em tudo
o que existe,/Tirai-me a tristeza que lenta sufoca/O meu coração.” (...) “Eu
tenho saudade de luares estranhos –“ (...) “_ Minha pátria é bem longe/Minha
pátria é mais longe/Fujamos daqui./E a onça é o mistério/Tem febre nos olhos –/Tem
sol concentrado no seu coração./_ Minha pátria é aqui mesmo!/Lembrai-vos dos
prantos/Que os rios levaram/De alguém que partiu.”. O poeta tem um exílio
perturbado, e o poema demonstra a confusão de uma alma errante.
NAVIO PERDIDO (1929)
A PARTIDA : O poema evoca a noite como o cenário
ideal da morte do poeta, no que temos :“QUERO morrer de noite –/As janelas
abertas,/Os olhos a fitar a noite infinda.”. E temos a descrição precisa do
desenlace de sua alma do corpo, e a cena geral de um velório, no que segue : “Irei
me separando aos poucos,/Me desligando devagar./A luz das velas envolverá meu
rosto lívido.” (...) “E os meus olhos beberão a luz triste dos teus olhos./Os
que virão, os que ainda não conheço,/Estarão em silêncio,/Os olhos postos em
mim.”. E seu destino após a morte também é descrito, a fuga para a distância,
no que segue : “Minha alma sairá para longe de tudo, para bem longe de tudo./E
quando todos souberem que já não estou mais/E que nunca mais volverei/Haverá um
segundo, nos que estão/E nos que virão, de compreensão absoluta.”. Uma alma que
nunca volverá, e aos que ficam se gera o milagre da compreensão absoluta.
LEMBRANÇA : O poema levanta a ideia da consciência da finitude,
um tipo de memento mori (pensar na morte) pessimista que invade o
entretenimento feliz de uma sessão de cinema, no que temos : “TODOS os que estão
neste cinema agora,/Neste cinema alegre,/Um dia hão de morrer também :/Nos
cabides as roupas dos mortos/penderão tristemente.”. E o poeta nos lembra ainda
que a morte é universal, no que segue : “E todos os homens medíocres/se
elevarão no mistério doloroso da morte./Todos um dia partirão –/mesmo os que
têm mais apego às coisas do mundo :”. E enfim o poeta continua a nos lembrar da
morte, esta que os frequentadores da sessão de cinema esqueceram, a ignorância
é feliz, e o poeta é um angustiado, no que termina o poema : “No entanto parece
que os frequentadores deste cinema/Estão perfeitamente deslembrados de que
terão de morrer/- Porque em toda a sala escura há um grande ritmo de/esquecimento
e equilíbrio.”.
NOTURNO I : O poeta aqui tem medo do trovão e da
chuva, ele lembra de sua infância, e seu refúgio é a memória, mas também está
nela a origem de seu medo, e nesta contradição vai o poema, que evoca a chuva e
o escuro da noite, e que tematiza o medo através da memória infantil, no que
temos : “EU tenho medo da chuva/E do raio, do trovão –/Fica menor, quando
chove,/Meu coração./Quando os raios riscam rápidos/O escuro do firmamento –/Que
saudade se apodera/De mim, do meu pensamento!/Me lembro de um tempo longe/Que
não volta nunca mais :/Eu era bem pequenino/E eram vivos os meus pais.” (...) “_
Minha mãe, que medo eu tenho/Do escuro da noite enorme!/Quanto menino pequeno/Anda
no mundo, sozinho,/Que tem medo e que não dorme!”.
CANTIGA : O poema traz um poeta que tem medo
da solidão e de perder o amor, e este parte e lhe deixa aos seus lamentos, no
que temos : “Ficarei sozinho,/Não partas assim!/É longo o caminho,/Longo e
tenebroso.”. Um caminho longo e grande se abre, o poeta o encara como um
abismo, que muitos chamam de vazio da alma, e este gera o medo, e o poeta aqui
é um refém exangue de seu próprio coração, no que temos : “Ficarei sozinho/Numa
angústia enorme,/Ficarei sozinho/Numa tal tristeza/Que – ai de mim! –/Jamais os
meus olhos sentirão beleza/Nas coisas mais belas deste mundo assim.”. Temos
neste poema um exemplo do estro romântico em pleno modernismo, aqui Schmidt é
intenso, como um bom romântico chorão, no que segue : “Nunca mais o mundo me
será risonho,/Nunca mais a vida sorrirá pra mim./Não partas assim!” (...) “Fica
mais um instante!/Não me deixes pobre/Neste isolamento,/Nesta casa escura/Ouvindo
o lamento/- Ai de mim! –/Deste meu tormento/Que não tem mais fim!”. Eis a ideia
de que o tormento não tem fim, quando na verdade tudo passa e finda sempre, mas
o poeta está com o coração transbordando, e sucumbe, no que segue o poema : “Ficarei
chorando de desesperança/Como em terra estranha chora uma criança/Sem amparo
algum./Ficarei sozinho .../Não partas assim!”.
IMAGEM : Um encontro se foi, o cruzamento dos
destinos se deu uma única vez, e o poema lembra atônito um fato radical, que é
o fato irrepetível do qual o destino é mestre, e pertence a quem o decifra, sem
mais. Mas, aqui o poeta é mais uma vez um refém, um ingênuo que sofre em vão,
no que temos : “AQUELA despedida para nunca mais./As mãos se apertaram num
gesto rápido./Os olhos se encheram de lágrimas –/Nunca mais, como um soluço,
nunca mais./Destinos que se cruzam rapidamente./Quem sabe se de novo, um dia
...?/Havia um pressentimento, uma certeza quase, porém,/De que nunca mais,
nunca mais ...”. É o poema que deseja o nunca mais, que é o vazio da alma que
se apega e que tem o coração oprimido do poeta, com um peso que lhe apunhala o
peito, e o poema finda, então : “No coração opresso, os apitos eram punhaladas longas./E
aquele olhar, e aquele olhar triste e molhado./E aquelas mãos morenas a dizer
adeus ...”.
POEMAS :
CANTO DO BRASILEIRO
(1928)
CANTO DO BRASILEIRO
Não quero mais o amor,
Nem mais quero cantar a minha terra.
Me perco neste mundo.
Não quero mais o Brasil
Não quero mais geografia
Nem pitoresco.
Quero é perder-me no mundo
Para fugir do mundo.
As estradas são largas
As estradas se estendem
Me falta é coragem de caminhar.
Sou uma confissão fraca
Sou uma confissão triste
Quem compreenderá meu coração?!
O silêncio noturno me embala.
Nem grito. Nem sou.
Não quero me apegar nunca mais
Não quero nunca mais.
Vem calma fresca do vento bom
Abanar minha febre!
Vem beija minha ferida
lua tão branca!
Vem matar minha sede
água tão pura!
O mundo pesa em cima de mim
Não quero mais carregar ele.
Nem filosofias
Nem nada.
Sou o homem que chora
O silêncio chora também
Tudo chora
A noite chora
Os bois choram perdidos no alto do morro.
Meu coração!
Nas vielas escuras – meu Deus que mistério!
Nos portos tão longe
Tristezas tão grandes!
Me perco no mundo
Me perco nas vidas
Me rasgo de raivas inermes e enormes.
E a terra era pura
E puros os homens
E tudo tão puro!
Nos galhos as frutas maduras pendiam
E os rios corriam tão puros cantando
E a vida corria no leito dos rios
Nas noites – tão trêmulas – mulheres erguiam
Mulheres erguiam os olhos pra lua
Pra lua tão branca, tão pura no céu.
E a lua chorava seu choro macio
E a lua deitava seu óleo oloroso
Na pele tostada das lindas mulheres.
E as cobras se erguiam nas matas escuras
Sagradas e lindas – bandeiras estranhas
Mil cores sombrias corriam no chão.
Depois no silêncio da noite serena
Os homens pensavam nas lutas e guerras
Nas pescas e caças – que vida meu Deus!
Mas se as tempestades tombavam medonhas
E raios riscavam o céu sempre azul
Que medos sombrios! Castigos medonhos!
Que medos tamanhos sentiam então!
Agora, a tristeza
Cidades tão lindas
Agora, a saudade
Cidades tão grandes.
Nas matas de casas me perco meu Deus!
Me sinto sozinho
E vieram cantando cantigas tristonhas
Morcegos escuros olharam para eles –
Se encolhem os ombros nos suores tragédias.
De noite as esquinas das ruas dos bairros –
Dos bairros longínquos –
A luz é mortiça.
Ah, são os primários!
Ficaram grudados no povo bem fundo.
E a voz chama ele
De dia é moleque
Escuro e safado
De noite o mistério da voz chama ele
E muda-se em trágico anseio o seu grito
Macumba!
E ele é o mistério também.
Está tudo minado
Ah são os primários!
Meu Deus!
(nem precisão de mundo ...)
Meu Deus que te ocultas em tudo o que existe,
Tirai-me a tristeza que lenta sufoca
O meu coração.
Meu Deus a inocência primeira trazei-me,
São Jorge na lua!
Meu Deus explicai-me que eu vivo tremendo!
Meu Deus aclarai-me!
Eu tenho saudade de luares estranhos –
Eu tenho nos olhos paisagens estranhas –
Paisagem estranhas de frios intensos
Cegonhas tremendo no alto das torres
Visões de distâncias tão raras – tão raras –
Nos mundos estranhos, que voz se ergue então?
_ Minha pátria é bem longe
Minha pátria é mais longe
Fujamos daqui.
E a onça é o mistério
Tem febre nos olhos –
Tem sol concentrado no seu coração.
_ Minha pátria é aqui mesmo!
Lembrai-vos dos prantos
Que os rios levaram
De alguém que partiu.
(Obs : o poema continua, aqui está a sua primeira parte).
NAVIO PERDIDO (1929)
A PARTIDA
QUERO morrer de noite –
As janelas abertas,
Os olhos a fitar a noite infinda.
Quero morrer de noite.
Irei me separando aos poucos,
Me desligando devagar.
A luz das velas envolverá meu rosto lívido.
Quero morrer de noite –
As janelas abertas.
Tuas mãos chegarão aos meus lábios
Um pouco de água.
E os meus olhos beberão a luz triste dos teus olhos.
Os que virão, os que ainda não conheço,
Estarão em silêncio,
Os olhos postos em mim.
Quero morrer de noite –
As janelas abertas,
Os olhos a fitar a noite infinda.
Aos poucos me verei pequenino de novo, muito pequenino.
O berço se embalará na sombra de uma sala
E na noite, medrosa, uma velha coserá um enorme boneco.
Uma luz vermelha iluminará um grande dormitório
E passos ressoarão quebrando o silêncio.
Depois na tarde fria um chapéu rolará numa estrada ...
Quero morrer de noite –
As janelas abertas.
Minha alma sairá para longe de tudo, para bem longe de tudo.
E quando todos souberem que já não estou mais
E que nunca mais volverei
Haverá um segundo, nos que estão
E nos que virão, de compreensão absoluta.
LEMBRANÇA
TODOS os que estão neste cinema agora,
Neste cinema alegre,
Um dia hão de morrer também :
Nos cabides as roupas dos mortos
penderão tristemente.
Os olhos de todos os que assistem
às fitas agora,
Se fecharão um dia trágica e dolorosamente.
E todos os homens medíocres
se elevarão no mistério doloroso da morte.
Todos um dia partirão –
mesmo os que têm mais apego às coisas do mundo :
Os abastados e risonhos
Os estáveis na vida
Os namorados felizes
As crianças que procuram compreender –
Todos hão de derramar a última lágrima.
No entanto parece que os frequentadores deste cinema
Estão perfeitamente deslembrados de que terão de morrer
- Porque em toda a sala escura há um grande ritmo de
esquecimento e equilíbrio.
NOTURNO
I
EU tenho medo da chuva
E do raio, do trovão –
Fica menor, quando chove,
Meu coração.
Quando os raios riscam rápidos
O escuro do firmamento –
Que saudade se apodera
De mim, do meu pensamento!
Me lembro de um tempo longe
Que não volta nunca mais :
Eu era bem pequenino
E eram vivos os meus pais.
Alguém, num canto, cosia
À luz de um bico de gás –
Forte trovão sucedia
A um relâmpago fugaz.
Alguém, num canto, cosia.
E a chuva chorava forte
Na rua escura e vazia,
Num tal silêncio de morte.
_ Minha mãe, que medo eu tenho
Do escuro da noite enorme!
Quanto menino pequeno
Anda no mundo, sozinho,
Que tem medo e que não dorme!
CANTIGA
FICAREI sozinho.
Ficarei sozinho,
Não partas assim!
É longo o caminho,
Longo e tenebroso.
Ficarei sozinho.
Ficarei sozinho
Numa angústia enorme,
Ficarei sozinho
Numa tal tristeza
Que – ai de mim! –
Jamais os meus olhos sentirão beleza
Nas coisas mais belas deste mundo assim.
Ficarei sozinho,
Ficarei tristonho
E – ai de mim! –
Nunca mais o mundo me será risonho,
Nunca mais a vida sorrirá pra mim.
Não partas assim!
Ficarei sozinho
Num silêncio grave,
Num silêncio tal
Que – ai de mim! –
Todos pensarão cheios de piedade,
Cheios de piedade,
Que chegou meu fim.
Ficarei sozinho,
Não partas assim!
É feio o caminho
Cheio de mistérios –
Tem pena de mim!
Fica mais um instante!
Não me deixes pobre
Neste isolamento,
Nesta casa escura
Ouvindo o lamento
- Ai de mim! –
Deste meu tormento
Que não tem mais fim!
Ficarei sozinho.
Ficarei perdido,
Minha Mãe de Deus!
Ficarei chorando de desesperança
Como em terra estranha chora uma criança
Sem amparo algum.
Ficarei sozinho ...
Não partas assim!
IMAGEM
AQUELA despedida para nunca mais.
As mãos se apertaram num gesto rápido.
Os olhos se encheram de lágrimas –
Nunca mais, como um soluço, nunca mais.
Destinos que se cruzam rapidamente.
Quem sabe se de novo, um dia ...?
Havia um pressentimento, uma certeza quase, porém,
De que nunca mais, nunca mais ...
Fazia frio. Homens de sobretudo, as golas levantadas.
Um chalé de madeira, perdido, muito longe.
E a montanha espetando o céu cinzento.
No coração opresso, os apitos eram punhaladas longas.
E aquele olhar, e aquele olhar triste e molhado.
E aquelas mãos morenas a dizer adeus ...
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
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