Sei que todo anjo torto é transcendência maldita.
Sei que todo morto quer viver, quer viver como se não morresse.
Sei que não é tal ser de asas a salvação do mundo.
Sei de todo o resto que vai acontecer,
Quando tiver sol na frente da minha dor
E eu puder ver o alívio defronte ao nada mais,
Somente o sol e nada mais de percalços,
Somente o sol e nada mais do curso interminável
De ser como somos, somente o sol e nada mais.
Dias após as guerras e as torturas,
Sei que sou qualquer nuvem,
Sei que sou qualquer tempo,
Quando só tiver o sol, quando só tiver o sol,
E nada mais, nada além do sol.
É disso que falei nos anos todos de uma vida à margem
Dos acontecimentos importantes.
Mas, que é tão importante?
Não sei se dou importância aos acontecimentos importantes,
Por importarem tão pouco para o meu viver.
Ainda antes do fim das guerras e das torturas,
Estou enfurnado numa cova que não me quer,
Estou absorto numa memória que não me lembro.
Sei que é a transcendência maldita do anjo torto
Aquele que cai do céu das ideias imutáveis
E se torna mutante, escroto e mortal
Como nós.
Sei dos acontecimentos sem importância,
Esses que tanto importam aos poetas do incidente,
Na gelada noite nos fins da tempestade e da canção.
O anjo torto pode ser a miséria do paraíso perdido
Para sempre em meu coração.
A miserável decadência de ser consanguíneo
De toda a humanidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário