PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

conclusão e bibliografia

CONCLUSÃO CRÍTICA




A presente monografia tematizou todo o percurso ético-categorial dusseliano até chegar ao que interessa realmente para a sua Ética da Libertação, que é a práxis de libertação. Primeiro, discorri sobre o horizonte categorial da obra, partindo da concepção histórica inovadora de Dussel, e então, depois de feita esta incursão histórico-crítica, passei aos pressupostos da ética dusseliana, com os tipos de racionalidade e a relação desses tipos de racionalidade na fundamentação dos princípios éticos dusselianos, princípios que se resumem na tríade material, discursiva e de factibilidade, tendo como primeiro momento a ética fundamental ou acrítica e como segundo momento a ética crítica, ou seja, a primeira parte da obra dusseliana faz uma categorização dos horizontes éticos usuais da tradição do pensamento ético e moral, e a segunda parte faz uma desconstrução crítica de tais categorizações, fazendo uma transposição das mesmas para um horizonte crítico que anuncia, com isso, a emergência do novo.

Desta feita, cheguei ao último capítulo da obra Ética da Libertação de Dussel, para fazer uma análise e uma crítica da práxis de libertação. A análise apenas corroborou o que Dussel edificou em sua obra, expondo as temáticas do capítulo VI (último capítulo) de sua Ética da Libertação. Por fim, na parte de crítica da práxis de libertação, me dei uma liberdade maior para fazer um aprofundamento das conexões presentes na obra, com a liberdade crítica de uma hermenêutica da práxis de libertação dusseliana, tentando alcançar as entrelinhas de sua obra e procurando realizar uma reflexão original sobre o significado de todo o percurso dusseliano em sua obra.

Por fim, chego a tais conclusões: Dussel não chega exatamente num plano concreto de ação para a práxis de libertação, sua crítica ética em sua obra Ética da Libertação fornece os pressupostos para uma ética crítica do capitalismo global, mas não atinge o fim prático da transformação, nem chega ao modelo concreto do que seja uma utopia do possível, ele apenas traça categorialmente seus pressupostos éticos em nome de uma transformação radical do sistema vigente. Pode-se dizer que, no que tange ao horizonte conceitual, a ética dusseliana é bem estruturada e consegue penetrar todos os elementos da vida humana concreta e histórica, mas faltaram informações práticas, especificações de quais são exatamente os limites empíricos impostos à práxis de libertação, os quais foram expostos apenas em linhas gerais. Talvez se possa saber melhor do que uma práxis de libertação é realmente capaz, no mundo concreto e histórico, na próxima obra dusseliana, Frentes de Libertação, o que obriga a dizer que a obra estudada nesta presente monografia é forte quanto aos fundamentos éticos universais que a regem, o que deixa Dussel isento do relativismo ético em que caíram vários pensadores e teóricos, mas a obra é insuficiente quanto às situações específicas de uma práxis de libertação, o projeto de libertação dusseliano é a libertação das vítimas por uma práxis de libertação cotidiana, e o mundo cotidiano é imprevisível quanto ao êxito empírico da teoria ético-libertadora dusseliana.

Talvez tenhamos a real dimensão da práxis de libertação ao se estudar as frentes de libertação que estão espalhadas pelo planeta Terra, ou seja, os princípios éticos estão devidamente fixados teoricamente, mas falta uma visualização empírica de tal projeto de libertação dusseliano, o projeto de um mundo que obedeça aos princípios enunciados por Dussel, pois.

Dussel, em sua Ética da Libertação, faz uma extensa análise passando por diversas correntes filosóficas, é uma tarefa árdua a serviço dos seus princípios éticos, Dussel obedece à “tríade”: horizontes ético-material, moral-formal e de factibilidade. Dentro dos três fundamentos, Dussel compõe a sua ética crítica, as indicações teóricas já foram dadas à práxis de libertação, as causas da negação da vítima e suas possibilidades de libertação. É agora, portanto, no século XXI, que este novo sujeito sócio-histórico materializado pelas vítimas do sistema vigente vai emergir de uma zona de exclusão e opressão. O sistema-mundo não vai durar para sempre, a História nos dirá, então, quais são as possibilidades reais de transformação do sistema vigente para um sistema em que a vida humana tenha um desenvolvimento pleno, e que não seja, portanto, dominada por uma pura reprodução sistêmica fetichizada. O veredicto, por fim, do projeto de libertação fornecido pela Ética da Libertação dussseliana, quanto ao seu êxito ou não no mundo concreto, será dado pela História, assim como a História refutou o projeto de libertação comunista que, na visão dusseliana, não foi exatamente o projeto marxista de libertação do proletariado, mas uma rede de corrupção burocrática e de repressão ideológica que ia de encontro ao princípio-democracia enunciado por Dussel.

A História nos dirá, por fim, se o mundo democrático do estado de direito, o qual é o mundo em que se pode dar a utopia do possível para Dussel, superará ou não a sua fase de fetichismo do capital submetido ao horizonte economicista neoliberal. A ética dusseliana, pode-se dizer, enfim, que é uma ética democrática, mas não nos moldes de uma democracia liberal, mas de uma democracia a qual denomino de democracia ético-social, este seria o mundo da utopia do possível, para Dussel, em seu projeto de libertação das vítimas do sistema vigente, qual seja, a realização de sua ética da vida.























BIBLIOGRAFIA:

Dussel, Enrique, Ética da libertação, Petrópolis, Ed.Vozes, 2002.

Dussel, Enrique, Para uma ética da libertação latino-americana, 5 vol, SP, Ed.Loyola, 1980.

Dussel, Enrique, Filosofia da libertação, SP, Ed.Paulus, 1995.

Dussel, Enrique, 1492: o encobrimento do outro, Petrópolis, Ed.Vozes, 1992.

Dussel, Enrique, Método para uma filosofia da libertação latino-americana, SP, Ed.Loyola, 1986.

Lévinas, Emmanuel, Entre nós, Petrópolis, Ed.Vozes, 2005.

Lévinas, Emmanuel, Ética e infinito, Portugal, Edições 70, 2000.

Zea, Leopoldo, Discurso desde a marginalização e a barbárie, RJ, Ed.Garamond, 2005.

Foucalt, Michel, Microfísica do poder, SP, Ed.Graal, 2005.

Marx, Karl, O capital, RJ, Ed. Ediouro, 2002.

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