“Este local da internet reúne todo tipo de crime e absurdos”
A Dark Web é apenas uma pequena parte do que se chama Deep Web, mas tem um poder de estrago imenso, pois, por meios em que o usuário permanece anônimo, este é um lugar em que as transações e transgressões estão fora do controle da internet de superfície.
Como na Deep Web, esta Dark Web possui endereços de sites não indexados pelos mecanismos de busca. Temos nesta Dark Web uma coleção de domínios para sites que possuem sequências aleatórias e confusas, com strings de letras e números que não fazem sentido, e somente quem possui os domínios e credenciais completos são autorizados a entrar nestes sites.
Para acessar a Dark Web é necessário, portanto, fazer uso de ferramentas poderosas de criptografia e de proteção de dados, pois você pode se tornar alvo de hackers por lá, e certamente os ataques serão constantes.
Este local da internet reúne todo tipo de crime e absurdos como tráfico de drogas, exploração infantil, contratos para assassinos de aluguel, sites com vídeos reais de pessoas sendo torturadas até a morte, tráfico de pessoas, tráfico de armas, sites de sexo com práticas perturbadoras e abjetas, etc.
Por exemplo, o site de venda de drogas que ficou bem conhecido na Dark Web foi o Silk Road, lançado em 2011, e que era um mercado bem operante na Darknet, utilizando a rede Tor, e que se tornou um dos maiores domínios para venda de drogas.
Em 2013, contudo, o FBI fechou o Silk Road, e seu criador, Ross Ulbricht, foi condenado à prisão perpétua, sem direito a condicional. Depois da queda do Silk Road, surgiram outros domínios com variedades de itens como exploits para softwares, e ofertas mais especializadas, para dados roubados recentemente, e incluindo o famigerado tráfico de armas.
Também temos na Dark Web uma série de fóruns em que se discutem vários temas e que juntam grupos radicais, e que podem detonar atos criminosos. Aqui se opera na chamada dark internet que foi criada com o intuito de fornecer anonimato ao usuário, mantendo toda a comunicação privada, por meio de criptografia e roteamento de conteúdo através de diversos servidores.
A história da chamada Dark Web começou com o lançamento da Freenet, no ano 2000, que foi um projeto de tese de Ian Clarke, que era um estudante da Universidade de Edimburgo, na Escócia. Ian Clarke buscava um sistema distribuído de armazenamento e recuperação de informações descentralizadas, ou que pode ser traduzido por um meio de se comunicar e compartilhar informações ou trocar arquivos que mantivesse o usuário interagindo online de forma anônima.
No ano de 2002, a chamada Dark Web cresceu muito quando pesquisadores apoiados pelo Laboratório de Pesquisa Naval dos Estados Unidos lançaram a rede Tor. Ainda no início dos anos 2000 a internet era fácil de controlar e vigiar, qualquer usuário poderia ser rastreado com facilidade.
Esta facilidade de rastreamento do usuário mudou com o advento do Tor, rede que foi criada, inicialmente, para manter canais de comunicação seguros para dissidentes políticos que estivessem vivendo em países de regimes fechados e opressores, e também servia para agentes norte-americanos que estivessem ao redor do mundo.
Posteriormente, a rede Tor ganhou uma licença gratuita e uma organização sem fins lucrativos chamada de The Tor Project, o que foi feito em 2008, e que permitiu que pessoas leigas em programação ou informática pudessem navegar com facilidade na Dark Web.
A Dark Web opera de forma caótica e sem fronteiras. Contudo, apesar da grande repercussão, é um lugar de dimensões ínfimas frente ao grande território de dados de toda a internet.
Pesquisadores da Recorded Future fizeram uma estimativa de que o número de domínios na Dark Web se aproximava apenas de 55.000 domínios, todos na forma onion, na qual opera a rede Tor, com apenas 8.400 ou 15 % destes domínios ativos, o que, por fim, só contando estes domínios ativos, eles representam apenas 0,005% de toda a superfície da web.
Por sua vez, tais domínios na Dark Web são inconstantes, com domínios surgindo e desaparecendo o tempo todo. Por outro lado, existem ferramentas que podem ajudar na navegação na Dark Web.
Por exemplo, o The Hidden Wiki, que é uma espécie de diretório da Dark Web, e que fornece links para domínios onion e breves descrições do que se pode encontrar em tais domínios. Contudo, dada a inconstância de tais domínios, muitos já podem estar quebrados ou levar a lugares que oferecem serviços e produtos ilegais.
Dos mecanismos de busca que podem auxiliar na navegação da Dark Web, temos o DuckDuckGo, que existe na superfície da rede, mas, também possui uma versão onion para a Dark Web. Outros mecanismos de busca para a Dark Web, por sua vez, exigem pagamento para serem usados e ainda podem direcionar especificamente para sites relacionados a drogas.
O chamado Onionland, outro mecanismo de busca para Dark Web, por sua vez, permite uma pesquisa por meio de palavras-chave, o que leva a uma lista de URLs, sem qualquer outra sinalização ou informação para auxiliar nesta pesquisa, lembrando do padrão caótico destes domínios, sem possuir qualquer identificação do que se tratam.
Na Dark Web também se tem oferta por parte de hackers de serviços de aluguel, e que se pode acessar contas de e-mails, perfis de redes sociais e demais informações que podem ser usadas para roubo de identidade.
Os chamados Scams são também numerosos na Dark Web, com serviços de pistoleiros de aluguel, e que podem, muitas vezes, receber o dinheiro da encomenda sem, contudo, efetuar o serviço, e a pessoa enganada não pode denunciar para a polícia o golpe, por óbvio.
O FBI, no combate a estes sites ilegais da Dark Web, por sua vez, pode até mesmo utilizar-se de agentes duplos, em que o próprio agente executa sites e introduz malwares para descobrir identidades reais de outros usuários na Dark Web.
Estes truques de hackers, portanto, são usados por tais agentes duplos do FBI. Por sua vez, o acesso à Dark Web nos Estados Unidos é legalizado, mas, por outro lado, em alguns outros países, não.
No rol de atividades que não envolvem crimes, e que se faz uso dos recursos da Dark Web temos, por exemplo, o Facebook, que criou domínios onions para pessoas que quisessem permanecer anônimas, e que podem ser pessoas que vivem em países em que o acesso normal ao Facebook é proibido. Sendo, então, fundamental o uso da Dark Web por parte de ativistas políticos que vivem em países com regime fechado, o que foi o intuito inicial da criação desta darknet.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/dark-web
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