“Em 1953, Chico realizaria a sua última sessão de
materialização”
Depois da descrição esperançosa de Camille Flamarion temos um
arrefecimento do fenômeno espírita, sobretudo das sessões de materialização, e
há um movimento sistemático de desmascaramento de charlatães, uma série
estranha de jogos anódinos de espelho e de truques baratos toma o cenário e
desmoraliza as pesquisas que tiveram o aval de cientistas renomados para depois
cair neste ridículo. Resultado : a comunidade científica das gerações seguintes
se volta contra o fenômeno espírita e a parte de pesquisa empírica do mesmo cai
num limbo.
O ostracismo da pesquisa espírita só é diminuído e um certo
status restaurado quando temos novos médiuns brasileiros, sobretudo Chico
Xavier, que buscam dar provas da continuidade da existência após a morte. Além
de Chico, o médium mais ilustre do Brasil, temos também grandes médiuns como
Francisco Peixoto Lins, o Peixotinho.
Em Uberaba, que seria o novo centro de irradiação do
Espiritismo, temos um episódio que irá envolver tanto Chico Xavier como
Peixotinho, este reconhecidamente um médium intenso de materialização. E tal
sessão de materialização irá incluir a participação do delegado de polícia
paulista R. A. Ranieri. O relato está presente no livro As Vidas de Chico
Xavier, num relato feito por Marcel Souto Maior.
No relato temos a descrição de Peixotinho materializando a
filha pequena do delegado, esta que se chamava Heleninha, que havia morrido
três anos antes. Usualmente, a sessão foi introduzida com uma lâmpada vermelha
iluminando a plateia, e foi seguido o regulamento espírita, com leitura de
trechos evangélicos, com comentários, atraindo a presença de espíritos
superiores, com o concurso de música clássica, o que inclui, obviamente, a Ave
Maria de Gounod, que era uma das formas de aglutinação fluídica, e que teria o
fito de gerar um ambiente de vibração positiva.
Peixotinho foi colocado numa cabine, e desta começaram a sair
clarões coloridos, o corredor então é tomado por clarões verdes, roxos e azuis.
Aparece então um visitante fluorescente e começa o desfile de assombrações. Heleninha
sai então do corpo de Peixotinho, o que deixa o delegado perplexo. Uma presença
meio em neon, com mesma fisionomia e voz da original. Ela cumprimenta o pai e
lhe dá uma flor brilhante. E o delegado Ranieri não teve dúvidas de que havia
estado com sua filha falecida com apenas dois anos de idade. Sua convicção após
esta sessão resultou no seu livro “Materializações Luminosas”.
No município de Pedro Leopoldo, temos uma outra sessão de
materialização, também com Peixotinho, e este é flagrado pelo fotógrafo
Henrique Ferraz Filho, o médium em sua cabine, em que ele fazia seu trabalho
mediúnico de doação de ectoplasma, quando Henrique dispara flashes com a sua
Rolleyflex, e lá o fotógrafo vê Peixotinho expelindo ectoplasma pela boca e
pelos ouvidos, numa presença que assumia a forma humana e adquiria voz.
Quando Henrique disparou os flashes, o mesmo não via ninguém
ali diante dele, mas ao revelar o filme, o fotógrafo vê então a aparição
registrada. Era a estranha forma corpórea de um senhor envolto por um manto
vaporoso. Chico Xavier diz que a aparição era de Camerino, desencarnado na
cidade de Macaé. Não houve, por conseguinte, provas de truques ou de montagens
nas fotos desta sessão de materialização em Pedro Leopoldo.
Chico Xavier, uma vez participando assiduamente das sessões
de materialização de Peixotinho, resolve também, em torno de 1952 e 1953, fazer
as suas próprias sessões. As formas produzidas por Chico eram mais evanescentes
e menos sólidas que as aparições de Peixotinho. Tais aparições produzidas por
Chico podem ser exemplificadas pela visita de Maria José de São Domingos, mãe
de um dos visitantes da sessão, Arnaldo Rocha, aparição esta que repete os
mesmos hábitos e idiossincrasias da pessoa quando esta era viva.
Temos também uma senhora fulgurante, coberta por véus, que
trouxe uma joia fosforescente, era Cidália, mãe de André Xavier, segunda mulher
de João Cândido, madrasta de Chico Xavier, esta que ali deixava um rastro de
perfume no ar. Nesta mesma sessão temos também a presença de Meimei, mulher de
Arnaldo, aparição esta que atende um jovem tuberculoso presente na sessão, e
aparição de Meimei envolve o peito do tuberculoso com cordões fosforescentes, e
temos a radioatividade que, livre dos efeitos negativos do rádio, poderia
curar.
E, por fim, aparece um dos guias espirituais de Chico Xavier,
o espírito Emmanuel, este que estava numa toga romana, com uma tocha acesa numa
das mãos, depois que ele some, novamente temos uma onda de perfumes. Era
Sheilla, loira e jovial, com sotaque alemão, uma enfermeira morta na Segunda
Guerra. Sheilla atende um dos espectadores, examina o estômago do mesmo, este
levanta a camisa, era uma radiografia espiritual, e a enfermeira, com os dedos
semi-abertos, apalpa a região do estômago, e a barriga do paciente que, de
súbito, fica transparente, podendo ser vista suas vísceras em funcionamento. E
Sheilla diz então ao paciente que iria levar a radiografia ao plano espiritual
para que esta fosse estudada e lhe dessem o remédio certo.
Em 1953, Chico realizaria a sua última sessão de
materialização, pois nesta sessão aparece seu guia, Emmanuel, o ex-senador
romano, no que a entidade então dá o veredito aos médiuns que ali estavam, no
que diz :
- Amigos, a materialização é fenômeno que pode deslumbrar
alguns companheiros e até beneficiá-los com a cura física. Mas o livro é chuva
que fertiliza lavouras imensas, alcançando milhões de almas. Rogo aos amigos a
suspensão destas reuniões a partir desse momento.
Dito isto, Chico prontamente interrompe seu trabalho
mediúnico via materialização, pois tais sessões eram inicialmente um meio de
aproximar o público da doutrina espírita, mas a exibição como produto de
curiosidade não era o objetivo, o espetáculo deveria ser interrompido, tais
materializações só seriam úteis como um convite ao estudo e progresso, e a
recomendação de Emmanuel para Chico teve, evidentemente, o resultado que
conhecemos hoje, Chico se volta à psicografia. E sua produção seria intensa e
vasta.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://seculodiario.com.br/public/jornal/artigo/gurus-e-curandeiros-parte-vi
Nenhum comentário:
Postar um comentário