"Aéreo o plano aedo cintila, rumoreja ferve e briga”
I
Tantos casos estudados nesta cosmologia, e que são seres nus,
como poucos vermes que sobrevivem ao mundo, e que tentam abarcar os númenos com
galhardia de soberbos e alvissareiros, pois por pouca monta os severos e os
antoninos sucumbem ao senado pueril, eu de meu turno resvalo e reservo fortuna
para um cabedal brio de espuma no vento sacal dos hindus e seus vímanas, como
uma corrente literária manchada de lodo e vinho, este que é sabor estulto na
glória do sistema, este também estulto, capital armado e nauseabundo, contrito
o esquema de Aristóteles explode com o rigor de um kantiano crítico feroz do
sono metafísico, com um Hume sensitivo na campanha de um fundo vitral que arde
por entre os ventos mais modernos, um plano cartesiano que ribomba pétreo com
sarcasmo de poeta, e o riso enfermo que mora num castelo em Copacabana, na mais
miserável canção que está de frente à rua que grita somos os outsiders, os
mamulengos e vitrolinhas da paixão antiga, dos poemas rebuscados com notas de
absinto, das rimas ricas como idólatras que têm sede.
Dos poetas antiquados que não vivem no mundo, não neste
mundo, em mundo algum, moram em carne e osso como vapores de veneno na história
mundial, moram tal os animais ou bestas repletas de carbono em seus corpos e
polímeros cosmogônicos teodiceia da arte rupestre, um totem burilado com sílex
na caverna de paris, setenta ladrões como gangue, viralizados costumes que são
a rixa e o riot das galeras fumegantes, dos estertores do fracasso, dos
lenhadores e tremores que sorriem para alguns capatazes com seus enfermos
vitoriosos, guerra e paz na aura de um anjo fetichizado com bombas de esterco
na fome do boi, estes senhores do mundo que vivem morrem como indigentes da
fama, como desejo ruminado nas estrelas mais abscônditas, remadores dos sonhos
de pano por entre frestas que olham ao nada, rasputins negros com faces de
mago, monitoram os passos a cada dia, e sentam na torre de lume viscoso, eles
olham o pote de ouro que revela poesia na esbórnia, são telemas e budismos
ranqueados num campeonato de astúcia, num grimório de fardos e buchas de
canhão.
Sete pantokrators que vivem giro de escopeta, de fumo
revirado com espoleta, belicosos que querem a paz mundial, fervores de antros
pacificadores, de não-violência, dos hippies de ocasião, dos fashionistas que
definem o mundo de segunda mão, da realidade aumentada como manto e segredo
penhorados depois do escaldo e martírio. Venha, os ogros imantam servos com
náiades esbeltas como anacoretas, e bebem uísque com tambores na cabeça e
flautas nos braços, senhoras músicas que de guitarra e trompete repete o fusion
indefinidamente, pois cada retrato destes ossos têm a espessura de uma
densidade de átomo, indivisível como uma bola de gude, temerários como templos
e pagodes na sarça briosa que elenca vates e vedetas. Canção esmerada que
tilinta tal o metal de rigor que funda filosofia de poetastro depois da
bebedice, que define saudade como uma rima fugitiva.
II
Aéreo o plano aedo cintila, rumoreja ferve e briga, e ferve
tal o campo mestre que cintila, como cobra serpentina, e um estrelado
estribilho que cintila, bruma rebuscada que mesmeriza tal o sino que dobra, e o
banho em festonado vinho, odre pecaminoso que bebe e ventila, evento e
evidência de poema, a prova científica do terror, vertido como água benta na
pacífica amurada, um grafite terroso no sonho de poeira, levedura que nos dá a
boca de saída, pentecostes nos ombros de atlas com o mapa ao pé do geógrafo,
bolhas de mundo estouradas por revoluções, penedos que caem como mísseis no
apocalipse, espíritos imundos que brigam com pastores, brechas do sistema que
assomam no estudo corrupto dos punguistas, leves sintomas de hematomas que roem
a corda do enforcado, sete flechas de indigenistas que buscam o eldorado,
tânatos dorido que fervilha necromancia depois do ritual poético.
Linho que costura cada gesto artaudiano com gags
beckettianas. Olhos mesmerizados que ensinam a palavra morte aos neófitos que
ainda sonham acordados, pleito burlado por campanhas sujas de pós-verdade,
brotos de floresta que povoam um mundo perdido, paraíso silvestre que nos dá
selvagens novos de literatura da mata, poetas novos que caem como cometas no
frio do sistema falido das artes comerciais que deliram anátemas proscritos.
Banho de lua nas noites que eu servia ao mártir, estes barcos que navegam mar
azul de diamante, frio de mar turquesa caribenho, milhares de remadores que vão
à galáxia dos aviadores, reis setentrionais contra centuriões que formam o
exército brancaleone dos românticos suicidados.
Eis que vive um novo brio bíblico que sonhava holocaustos na
hégira e no êxodo, benta a água de poder de tais sacerdotes em seus levitas
pasmados com o Deus-homem. Eis que venho de sonhos tempestuosos e kafkianos e
pesadelos de Godot depois do milagre indômito que delirava o paraíso de permuta
entre cantores de fancaria. Ai! Ai de mim! Tenho cada visão que caio em
deslumbramento como um ósculo olvidado depois do porre. Mas, no meio da canção,
com dotes de artista, reverbero samples e synths mais que anacrônicos, são
vinhas de monastério com ritmo de jazz na fusão dos elétrons que batem entre
neutrinos invisíveis da bala perdida, eis que numa viagem astral venho contar-lhes
a dor profunda da miséria dos poetas, mas ainda tenho fogo que queimar na sarça
mais potente do sol.
III
O fog londrino me apetece, o beberrão morde os tímpanos com
rock de estrada, fervilha um berro kerouakiano, um velho mestre que se chamava Ferlinghetti,
Neal Cassady que morria na linha do trem, os Estados Unidos e toda a gama de
capitalistas de Wall Street e seu touro valente que faz tentações de
estelionato, os espiões da Big Apple que reviram seus bens com fome ventral de
cartas na manga, pois que eu tenho por mim que prefiro Louvre e seus melismas
potentes como mantras sinfônicos, já que vejo as litanias repetirem Fausto e
Mefistófeles depois do urro brutal que Goethe não evitara nem na sua invenção
de Werther epistolar, ah que nem mesmo a lenda medieval nos salva do capital,
mas é seu cristal mais atraente, e o dinheiro gasto em tais deambulações serve
ao historiador para contar uma biografia acidentada como pinguelas de rua de
terra, de rios de cobre depois do caos mimético dos plantonistas que encontram
a morte com dentes de fogo na noite violenta, pois que sumido está o zen na
hora enferma, e nem tenho mais tibetanos que lembrem de maoístas sem lhes
ferver as pestanas, e o desastre sonha em se proteger da mediocridade, pois ela
mata e delira cabeças ocas como hollow men que não servem para nada.
Ah! Ai de mim! Estou no inferno de Caronte, nas uvas de
Dioniso, na febre inaugural de Téspis, nos trágicos que de Ésquilo e seu
Prometeu Acorrentado apenas faz loas ao abutre, e leis cósmicas são fado nestas
peças antigas, o que hoje temos como puro acaso, e que nos idos putrefatos de
Março estavam como novos ventos de um novo mundo cristão, que tem o reverso da
moeda como Inquisição, o que também hoje tem o nome de manicômio, e que custa a
verba pública para os bolsos de seus torturadores, nova platitude medieva, oh
como cada burgo sonhava revolução, e como cada soviete sonhava revolução, e
como cada hollow man sonhava status quo.
IV
A caça às bruxas está aberta:
Grimório do capa preta,
Eis que rumina maçons
Na sete emblema de arquiteto
Que campeia marmóreo
Como capiteis em Parthenon
Oh Crowley e seus cantos heroicos
Oh bruxos como celtas em Stonehenge
Ah fada musicada que burila soma
Na mente mística do Absoluto
Ah como cada magia tem altas paragens
O paraíso perdido e seus sapientes embriagados
O êxtase de Santa Teresa D`Ávila
No fim da aurora que rutilava salvação.
Poema em prosa
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : http://seculodiario.com.br/39074/14/hollow
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