“A banca de jornal, hoje, é um mundo que tem tudo”
Eu sempre frequentei bancas de jornal, desde muito cedo. Comecei a minha
história com bancas de jornal recém-alfabetizado, ia atrás das revistas da
Turma da Mônica, era engraçado, pois era uma época complicada de hiperinflação,
você chegava para comprar o almanaque da Mônica por 15.000 cruzeiros numa
semana (sim, gibis já custaram isso um dia), e na outra semana já estava
custando 20.000 cruzeiros, acho que peguei ainda um período de cruzado e
cruzado novo, mas, vá lá.
A coisa começou a ficar boa quando descobri a Mad, fiquei louco por Mad,
fui aplicado em Geraldão e Chiclete com Banana também, mas colecionei mesmo,
numa primeira fase, e já com assinatura, a Turma da Mônica, que teve um fim
trágico. No apartamento novo, para o qual a minha família se mudou, achei que
iria manter o meu esquema clandestino de ler gibis da Turma da Mônica no escuro
do quarto, depois que tinha "ido dormir". Pois lia os gibis só com a
luz do corredor, o que me rendeu um ano de astigmatismo e hipermetropia de meio
grau, e tive que usar uns óculos por um ano, até que não precisei mais.
Pois então, mantive esta leitura clandestina por um bom tempo numa casa
em que morava com minha família, mas, na primeira noite no novo apartamento, eu
"rodei" com a minha mãe, e logo, na semana seguinte, ela suspendeu a
minha assinatura de gibis da Turma da Mônica, dizendo que eu já não tinha mais
idade para aquilo. Foi o fim trágico do meu esquema, da minha assinatura e de
minha história com os gibis do Maurício de Souza. (Como é bom lembrar das
leituras vorazes do Almanacão de Férias!).
E então comecei, já durante esse processo todo, a colecionar Mads,
curtia o Ota, o "Respostas cretinas para perguntas imbecis" era o meu
preferido, tinha lido Geraldão algum tempo também, nunca fui de Marvel e essa
pilha de heróis, o que sabia deste universo me era contado por um vizinho que tinha
tudo e sabia tudo da Marvel e da DC Comics, mas eu gostava do escracho, e isso
nunca faltou na Mad, ler a sessão de cartas da Mad também era uma diversão.
Também tive a minha febre com álbuns de figurinhas, passei por
figurinhas Calafrio, herdei umas figurinhas da Impacto de minha vizinha, e o
mais foda foi um álbum chamado Viagem ao Mundo, que era bem educativo, outro de
terror, com Jason e Freddy Krueger, a Gangue do Lixo, Vamp (a novela), Que Rei
Sou Eu (também novela), e vários álbuns incompletos sobre um pouco de tudo.
Tinha um de dinossauros, outro de cachorros, um de carros, outro de corrida de
carros, e a fase do futebol que todo moleque passa alguma vez na vida, o que me
fez saber nomes de jogadores aos montes. E, hoje, me lembro como nós, moleques,
sabíamos quais figurinhas não tínhamos, dentro de um bolo, sendo que o álbum
inteiro tinha umas 250 figurinhas para completar o álbum, era algo prodigioso.
Com uns 13 anos comprei a minha primeira Playboy, a da Paloma Duarte, e
aí comecei com onda de rock pesado, e conheci a Metal Head, e logo depois pirei
com a Rock Brigade, passei a assinar a Rock Brigade por uns anos, e com 11 e 12
anos, também tive uma onda boa com a Placar, de futebol, (na época em que ainda
me interessava por futebol, sabia tudo, até os resultados de toda a tabela da
Copa de 1994 em que o Brasil fora tetra).
Passou o tempo, deixei a Rock Brigade para lá. E essa história também
teve um fim trágico, pois a coleção que eu tinha, molhou toda, e isso, junto
com outras tralhas que, por fim, quando soube, a minha madastra tinha jogado
tudo fora. (Essa de jogarem minhas coisas fora, eu já estava vacinado, perdi
minha coleção de latinhas importadas que o meu padastro bebeu, e minha mãe
jogou tudo fora).
Bom, nos últimos tempos, tenho ido muito às bancas de jornal. Compro
revistas de política em geral, Carta Capital e Época, a Isto é, por sua vez,
larguei depois de uma matéria de capa que foi desmentida no dia seguinte de sua
chegada às bancas, e parece que a versão impressa da Época vai sair de
circulação em janeiro de 2018. Compro também a Le Monde Diplomatique, revistas
de Filosofia, a Cult, a Scientific American, descobri a Piauí, que é ótima, e
voltei a ler a UFO nos últimos tempos. Também comprei uns filmes clássicos.
Numa época, há uns quinze anos atrás, comprei uns pockets da Martin Claret, que
agora, estou me desfazendo.
A banca de jornal, hoje, é um mundo que tem tudo. Embora muitas bancas
tenham se tornado pequenas vendinhas, sem mais revistas e jornais. Mas, as
bancas completas, as coisas vão de CDs do Legião Urbana, comprei alguns, até os
filmes clássicos da Folha, também tenho uns. Sempre tem alguma novidade, já
comprei alguns itens da coleção de cédulas e moedas importadas da National Geographic,
tudo na banca de jornal, o difícil é segurar o dinheiro quando estou dentro
daquele mundo, é um mundo cada vez mais vasto, com várias enganações, também,
vide o número de revistas de Maçonaria e sociedades secretas que invadem alguns
tópicos por aí (sendo que para isso as fontes melhores são os livros).
Tem banca, também, até de Playboy velha, vai ver alguém acha as
raridades tipo Beth Faria por aí. Tem os livros da LM & Pocket, os da
Martin Claret deram uma sumida, tenho algumas relíquias comigo, que estou passando
para a frente. As Mads, já não tenho mais "idade" para isso, a Mônica
e o Cebolinha viraram jovens, e se transformaram em mangás, nunca li mangá,
nunca fui de Marvel, mas andei comprando umas Vertigo que ainda não li. Tô atrás
de uns Neil Gaiman, tipo Sandman, comprei a Orquídea Negra, tenho agora que
reentrar neste universo, e vou quando o tempo ficar melhor atrás das clássicas
edições da Heavy Metal, também fui a sebos quando criança, eu tinha Mads da
década de 1970, encontradas no centro do Rio de Janeiro. Minhas Mads, por sua
vez, eu não sei como sumiram, ah, foi na tragédia da Rock Brigade!
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : http://seculodiario.com.br/36663/14/bancas-de-jornal
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