"Brecht foi sempre um artista que tentou mostrar o que estava errado e propôs uma transformação do mundo"
Bertolt Brecht, dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX, foi um exemplo de artista engajado em causas políticas, adotando as bandeiras comunistas e, sobretudo, do bolchevismo soviético. Nas suas criações teatrais, determinou os rumos do que passou a ser chamado de teatro épico, um modelo de teatro que tinha no aspecto narrativo e didático a fundamentação da ideologia brechtiana da esquerda revolucionária.
Brecht, com seu teatro épico, rompia com algumas vanguardas anteriores do teatro, por exemplo, com a tese de Stanislávski, de que na cena teria que ter no ator uma relação de identificação deste com o personagem. Brecht não pensava que o ator deveria ter esta identificação, e sim deixar claro ao público, que o trabalho do ator é, sim, uma interpretação política e, principalmente, de uma definição clara da condição social do personagem, tudo isso apoiado em outros recursos auxiliares como a narração e o gestus, num método chamado de distanciamento, que seria a ruptura com a tese da identidade por Stanislávski.
Brecht realizou diversas peças importantes, desenvolvendo um estilo político de uma arte e teatro compromissados com as causas sociais. Muitos de seus personagens eram como modelos de uma condição social, e toda a cena era montada para refletir uma realidade socio-política, muitas vezes com críticas acerbas contra o Nazismo, por exemplo, período negro da História da Alemanha do qual Brecht foi contemporâneo, e que acabou por obrigá-lo a ficar um tempo no exílio, deixando um pouco as atividades intensas que realizava no Berliner Ensemble, voltando mais tarde para a RDA (Alemanha Oriental), um tempo depois do fim da Segunda Guerra Mundial e da queda dos nazistas.
Brecht queria, com seu teatro, questionar a tradição de todo o teatro até então realizado, numa atitude não-aristotélica, rompia com muitos dos cânones de modelos trágicos ou de vanguardas experimentalistas que estavam muito em voga na primeira metade do século XX. O elemento da crítica social e política, de um teatro não-alienado, de uma arte sintonizada com os acontecimentos históricos, com adaptações até de ideias antigas em propostas novas, seja com uma peça nova ou uma apropriação de cópia e modificação, todo o teatro de Brecht era um grande ato político, sempre na intenção de divulgar as ideias marxistas e do bolchevismo russo, num ato de propor na cena o ator com o gesto socio-político no próprio exercício de intepretação de seus personagens.
Brecht criou peças importantes, tais como: O Homem é um Homem, o seu maior sucesso A Ópera dos Três Vinténs, uma de suas maiores realizações Galileo Galilei, Mãe Coragem e Seus Filhos, A Boa Alma de Setsuan, a crítica ao Nazismo chamada A Resistível Ascensão de Arturo Ui, O Círculo de Giz Caucasiano, dentre muitas outras peças politicamente engajadas. Mas, além de trabalhar a ideologia comunista em seus trabalhos para encenação de peças, também foi um prolífico teórico do próprio teatro, construindo, em muitos artigos, várias ideias importantes para fazer entender os significados do que ele fazia na sua arte teatral, fundamentando suas ideias sobre o Teatro Épico e revelando o conceito do que fazia quando escrevia uma peça.
Nos artigos e escritos teóricos de Brecht, ele deixa claro sua proposta de um novo realismo para o teatro, transformando seu conceito épico em dialético, e fundando, com o novo realismo, um tanto político e menos descritivo e objetivante, um teatro realista nos moldes ideológicos comunistas, o que ficará muito claro na sua fase didática, em que o papel da narrativa de esclarecimento das situações das peças montadas, ganham uma importância muito maior e se tornam o modelo do teatro brechtiano de proposta de ideias transformadoras. O teatro de Brecht era em função de um mundo novo, não a novidade das vanguardas e dos experimentalistas, mas uma renovação política de conscientização da arte como ato político e não somente estético.
Rompendo com a quarta parede, Brecht coloca seus personagens para dialogarem com seu público, fazendo, com isso, tornar o público consciente de que está num teatro, pois o distanciamento propõe que toda cena deve se comportar como tal, ou seja, como teatro realista, mas não com identificação do personagem com o trabalho do ator. O ator, em Brecht, é um retrato de uma condição específica, sobretudo socio-política, e não um ser individualizado, o coletivo tem muito mais importância para Brecht, e a peça se realiza como ato definidor de uma situação mais do que dos próprios personagens. O teatro épico e dialético é um ato político de demonstração de situações e não do drama individualizado, o gestus do ator serve para definir que o que se quer propor é um contexto mais do que uma personalidade dos personagens.
Trabalhando também como poeta, Brecht nos deixou poemas extremamente politizados, sempre demonstrando as situações de injustiça e miséria das contradições da sociedade e da exploração capitalista e também como o efeito de destruição de facínoras históricos, como Hitler e seu regime nazista na Alemanha dos anos 30 e 40 do século XX. Brecht foi sempre um artista que tentou mostrar o que estava errado e propôs uma transformação do mundo, tudo isso, claro, na sua adoção de uma ideologia comunista e de negação da ascensão nazista. Brecht lutou muito com o seu teatro contra injustiças sociais e atrocidades políticas, e será sempre lembrado como um homem de teatro que reuniu a estética teatral e a transformou em ato político e numa proposta revolucionária.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário: http://www.seculodiario.com.br/exibir.php?id=8952&secao=14
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