As latitudes corroem
todas as direções
longitudinais.
Creio no salmo e no provérbio
vestidos de vermelho.
A cor-furta grita
embalsamada
de fera,
como as cartas de jogatina
entre fumadores de ópio.
Vasta a flora da poesia
muda úmida descida
aos porões da guerra,
ditaduras de febres
com arapongas
anotando tudo,
e vi, no ritmo denso da polca,
extravios de cartas
no magma da História.
O fauno irritado
numa nuvem de LSD
desceu ao inferno da Terra
com plantas carnívoras,
comi uma flauta em seus chifres
e um ódio animal
aflorou
nas luzes
de uma
bad trip.
O norte fica ao sul
da montanha,
o leste é conflagrado
no oeste desconhecido,
e o centro do mundo
é o fogo-círculo
que vigora e arde
nas sete estrelas
do pau-de-arara,
gritos são ouvidos
e as orelhas temem
o sangue de Van Gogh.
Na estrada de terra batida
ainda está bruta
a cova indigente.
Na beira do despenhadeiro
eu vejo bêbado
uma música
de sonho
como
uma "lullaby"
for today.
O palhaço monta a sua lona,
o teatro dos ossos
rumina pasto
e bestialidade,
como todos os atores
o palhaço sorri
como um bebê.
O prodígio encantatório
semeia à pauladas
um homem forte.
As marafonas se deliciam
com o ventre e o karma
de suas ancas
sem moderação.
Na cadeia estava um poeta
com suas ervas e fungos
no canto selvagem
das ocas canções
do coração vazio
do nada que atravessa
ausências
quando a morte
chega.
Jogando buraco
ou pôquer,
jogando damas
ou xadrez,
jogando gamão
ou jogando
tudo fora,
boêmios querem
viajar
para a lua
como um êxtase
de ventura,
não sei o que devo
fazer.
Tenho planos demais.
Tenho sonhos demais.
Não consigo organizar
os dias em que
caio.
Não tento pegar o tempo
e subjugar
todas as minhas
angústias.
Não vou me dar bem,
não vou ficar milionário,
não farei sucesso.
Vou deglutir a propaganda
enquanto meu passaporte
não sai.
Vou espezinhar os poetaços
enquanto os meus livros
não vendem.
Vou contar anedotas
como lendas
no frontispício
de lumes
contorcidos
pelas névoas.
Vou cantar o absurdo
na minha pele rota
como um anoréxico
que sofre de morbidades
e furúnculos.
A diagnose me condenou
à eternidade da doença,
os junguianos
sofrem de kardecismo
búdico,
e o mensageiro da doença
fincou sua espada
no coração das trevas.
Enquanto o sonho se dispersa,
a vigília desperta
na hora do caos,
e a serpente morde
a viúva do céu
retirado
de seus olhos,
uma nova dança mortal
se vestiria
de vermelho
como no Sabá,
e de branco
como no Candomblé.
O juramento pela vida eterna
em parábolas
era o amor divino
com tempestades diabólicas
de um Lúcifer
indignado,
e Jesus como caminho
é a morte do corpo e da finitude.
Sentiria na carne
as dores de um anátema.
Volveria da lama
os odores do inferno.
Recitaria uma trova
de harmonia provençal.
Declararia o meu amor
pelas fadas psicodélicas.
E tocaria "Crown of Creation"
e "White Rabbit"
enquanto escreveria
novas sensações
que defloram
o verbo
num ato sacrificial
de pães ázimos.
A tolerância da insanidade
cresceria como gigante
na terra dos corpos delgados,
e a vida tomaria de assalto
o fardo da arte
para novos talentos
eclodirem
de seus ovos
como vermes
que viram anjos
depois
do apocalipse.
04/08/2012 Libertação
(Gustavo Bastos)
Adélia Prado Lá em Casa: Gísila Couto
Há 4 semanas
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