Não irá a música olhar
para um eterno sem fim?
Mil vozes clamam augúrios
das trevas ocas da sombra.
Vejo a serpente rastejando
na areia ao tentar dar o bote
nas minhas veias poéticas.
Logo depois vem o carrasco
na praia dar o seu urro animal.
Eu vi a cachoeira e o mar
naquele instante brilhando
como um topázio transfigurado.
Olhei as naus estonteantes
de um naufrágio do pranto,
as mulheres calaram aquele
canto infeliz.
Desde já a nova roupagem
da poesia demandava
um pouco mais de
delicadeza,
um tanto de amor sóbrio,
sem mais as paixões
juvenis e violentas,
apenas uma visão
do horizonte, sem febre
e sem espanto.
As flores guardavam o pólen
do poeta-pássaro.
Emergia do lago do esquecimento
uma música sacra de almas profanas.
O poeta rabiscava no muro
um desenho perturbador
de suas visões
na madrugada.
Peças rotas de sândalo e anarquia
sopravam na alma do artista.
Ele voava extasiado na chama
queimando os seus pulmões.
A poesia se inebriava de cânticos
e sinfonias num céu aberto e claro
em que se dissipavam todas
as dores e todas as dúvidas.
Era o céu do paraíso edênico.
Era o nirvana em seu esplendor.
Tudo ressoava numa aurora
em que o anjo aparecia
sem medo.
A noite já não me oprimia.
O silêncio reinava
naquela paisagem.
Eu era vários
numa mesma
solidão.
Todas as coisas deste mundo
irão ao outro mundo,
a vida é infinita.
03/02/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)
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