Ah! Meus amigos mais queridos, venham ver! É o céu que salvamos na música. Concerto em desvario, criações, chuvas, pedras que flutuam. Já é demais a miséria, cretinos que bailam sem se afogar.
Venham! Tronos, belezas, coveiros. Venham ver este silêncio. As vozes louvadas em meus tímpanos, cantos nobres. É de cortar o coração, todo cheio de ilusões.
Imaginação pura, arte pura, alma pura. Que lembranças! Já naveguei em cavernas, em sombras hipócritas. E toda dança serviria ao caos. Dançarinos nos trovões.
Meus amigos perdidos ... Ah! Quanta dor! Devaneios e febres. Alucinações. Que o verão venha logo! Me mostrem as viúvas, todas as alegrias da bonança.
Me chamem de Judas, de suicida. Poemas foram queimados. Doces palavras que louvei no crepúsculo, no labirinto. Que o fogo testemunhou. Voavam os lamentos, as torturas. Bravos inquietos na minha alma, sobre a cama flutuam. Que desçam os infernos, que voem as máquinas, meus amigos!
E não esqueci da revolta, da cólera, dos vadios, dos ladrões. Danados que louvam a morte, cegos na noite, que se perdem nas quimeras. São os alvos, as guilhotinas. Que nem um maldito saberia narrar. Venham! Loucas misérias! Que o crucificado me xingue, agora como um santo. A Igreja me quer, como um relâmpago. Os espíritos me querem, comem a minha carcaça.
Eu não faltei na hora dos pedintes, que a razão dos professores ignoram. Seja a caridade! A liberdade nos dará o banquete, os delírios, os livres pensadores. Ah! Meus amigos! Eles têm febre, eles estão mortos. Que o cheiro da carniça apague os seus delírios. A música me toma agora, e sempre. As bocas dos ordinários ficam à deriva. As quermesses e as procissões me levam do inferno. A batalha dos fuzis foi posta de lado. As guerras dos homens foram abortadas. A tragédia é santificada pelos bêbados, vítimas do meu delírio, da insanidade e das armas. Levem-no daqui! O poeta que viu as magias, a força da natureza. Levem-no! A tarde escurece, as ondas naufragaram o pobre tolo.
Que será do futuro com o pouco que resta? Talvez os bárbaros ensinem como ser um divino cão, um prisioneiro. Os vermes não são tão inteligentes. O nojo está possuído, as casas não serão salvas pela glória do Senhor. Jesus Cristo se lamenta no céu, quer a dignidade suja, os vícios que enfurecem os brutos. Já hei de me conformar ao esquecimento, trabalhando nas terras dos ricos. Venham! Amigos de toda a vida! Amigos do além e da terra, do ócio e da vadiagem. Os rios passam. Cristo chora! Ó meus amigos, crianças tal como eu sou, correndo da luta. É certo o sofrimento da partida, devo ir, é a missão que o Mestre me infligiu. Nota-se o caráter, a moral do avesso. Logo a Revelação nos matará.
Quem sou eu?
Há 2 semanas
Nenhum comentário:
Postar um comentário