Numa pintura rupestre tempestades corriam,
Eu via de um tear amarelo ouro
As fuligens dos torpores,
Era a guilhotina mais perto da ciência
Que eu pude ver,
No verde paraíso que secava
Ao sol de novembro,
Perto das cálidas feiticeiras
Dos salões de fumo,
Pasmos os céus da viga universal
Das cadeias alimentares,
Versos puros de almas puras
Nos horizontes de cobre,
Memória infinita
Sem perdão aos autores brutos
De poemas liquidados.
Corvo de fogo fóssil,
Abutre da fome canibal
Dos ossos de além para o vinho.
Bêbado e risonho
O frasco da uva alcoólica,
Peste berrando no ídolo de madeira
Dos antepassados.
Touro de fumaça no ódio da tela preta.
Pincéis de escárnio na virgem
Que olha o seu filho divino.
Três mil anos
Mais sangrentos
Que a guerra dos holofotes.
Três mil olhos
Mais sangrentos
Que a noite dos cantores.
Um alvo toda a noite
Espumando delirante
A própria noite
Do fim.
Córregos de agonia
Na paz duradoura
Dos homens pensantes
Com a coragem esquecida
Nos pórticos queimando.
Viagem das viagens
No ópio que tinha
A mão da névoa.
Loucura da terra quente
Corrida dos sentidos.
Serpente da memória
Que lembra
Dos bichos que nasceram
Como enforcados.
Desde o telescópio
Não se viu invenção dantesca
Para os olhos das galáxias.
Desde a invenção da alegria
Não se viu ninguém
Abraçar a tristeza.
Tenho um verme por dentro
Como a mansão dos deuses livres
De andar na dimensão do fogo.
Mais três mil anos sangrentos
Como uma barbárie do coração
E do vulto das coisas que se veem.
Mais um livro que se rói
Com os cupins do tempo.
E lá, de novo, a caverna escura
Dos mistérios eróticos
Do selvagem das cidades.
Mais tempo para os concertos
Dos tigres e dos leões
Que pulam na ferocidade
Da lama.
Um tempero cáustico
Para a fruta do pecado,
A maçã do átomo.
E lembraremos:
Mais um poeta
Que tem dor
Por saber
Que não pode morrer
Sem ter deixado
Seus livramentos celestes,
Como se é na dor
A todo tempo
Que não se quer,
E que no ódio ao tempo,
Faz sangue para o palco
De todo o tempo,
De todo o espaço sidéreo,
De toda planta carnívora
Da insanidade,
Para o altar saqueado
Do amor de sua musa,
Para levantar
Os náufragos estelares,
Para fugir dos dentes
Da morte,
Para que se diga à vida
O muito que ela contém
Em sua música
De cristais.
Quem sou eu?
Há 2 semanas
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