PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sábado, 25 de maio de 2024

A ERA DE NERO

Na Ilha de Betume, há cem quilômetros do istmo da Parneia, margeado pelo Mar Delta, ficava um império que surgira das ruínas da chamada República dos Justos, esta que sucedera a Era dos Reis. Ali, nestes anos de 15 antes da Segunda Centúria, de acordo com o calendário estelar do deus pagão Marduk, herdado da primeira civilização que habitou tanto Betume como parte do istmo da Parneia, os Caieiros, agora vigorava um governo tirânico, de Nero, que depois de envenenar o próprio tio, Cádmio, tomou o poder para si. 

O Senado, contraponto aos instintos primitivos do novo César, agora se debatia em votações que tentavam anular e vetar decretos e publicações de atos do Imperador. O deboche de algumas regras criadas era por vezes ridícula, como um regramento em que todos deviam ter um busto do imperador na entrada de suas casas, que durou três semanas, e coisas forçadas como proibição de festejos originários de Parneia, numa tentativa delirante de uma purificação cultural da Ilha de Betume, com deuses secundários, como a Córsega, uma águia, e um corvo batizado de Leteres, enquanto o culto das Marmeides, um grupo de mulheres aladas e do Mito de Kerr, um deus supremo e cosmogônico, herdado de mitos obnubilados do período dos Caieiros, passaram a ser proibidos. Isso sem contar um decreto em que Nero, além de imperador, depois da publicação de um decreto-lei, se tornou tutor da cultura cesareia, que substituía a herança caieira, algo em que se misturava afetação e excentricidade. 

Outra medida foi criar um índice de documentos censurados, o que atingiu diretamente os Anais da República dos Justos, ao passo que a Era dos Reis era idealizada como uma época de ouro, mas sem fundamento histórico. Obras de pensadores e retóricos do período republicano também foram apreendidas e censuradas, incluindo também as obras teatrais de Zâmbico, um conhecido republicano, que no terceiro dia de governo de Nero como imperador, acabou sendo preso, depois foi exilado para uma ilhota pouco povoada, de nome Ceres, e lá acabou sendo morto numa briga, em meio a uma bebedeira de vinho, sendo apunhalado diversas vezes, o que pode ter sido a mando do imperador, mas ninguém sabe. 

Pausânias, por sua vez, era o presidente do Senado, e comandava um grupo de 12 senadores encarregados de limitar os poderes de Nero. A Constituição do Horizonte, feita há quinze anos pelo tio de Nero, Cádmio, que concedia liberdades civis para os cidadãos da Ilha de Betume até então inauditas, estava ameaçada. Nero sonhava com a sua Constituição Polaca, assim como a do rei Fabrício, o último rei antes da proclamação da República dos Justos, que tinha o mesmo nome. O fato era que Nero comandava a Guarda Pretoriana com grande adesão de seus membros, o que poderia, numa insurreição, levar a um golpe contra o Senado, o que era cuidado e vigiado dia-a-dia por Pausânias e sua força-tarefa, ao passo que o grupo de 12 senadores elaboravam projetos de lei e resoluções que pudessem atar os poderes autocráticos naturais do imperador. As comissões entre os senadores, por sua vez, eram objeto de disputa, prevalecendo, por enquanto, a ascendência do grupo de Pausânias, que ainda dominava a comissão principal, de Assuntos Constituintes e de Jurisprudência, em amplo diálogo com o Tribunal de Recursos e audiências constantes com os fratres da Câmara Baixa, para tentar uma interlocução, ainda que difícil, com a aristocracia de sangue da Ilha de Betume e da cidade de Atlas, esperando que esta instância medíocre da administração da região não sucumbisse de vez aos apelos do imperador, sobretudo na questão da tal Constituição Polaca. 

A Guarda Pretoriana evoluía em conhecimento bélico, tático e estratégico, passando da formação espartana, para algo vindo do General e/ou Pretor Cláudio, que juntou a herança espartana com novas noções táticas e estratégicas que tinham sido testadas no Campo de Marte, um grande descampado na periferia da Ilha de Betume, e que servia como local de treinamento e também de batalhas. O Pretor estava confiante agora no plano de invasão e conquista do istmo da Parneia, que era o sonho dourado e imperialista de Nero, junto à esquadra do almirante Valério, que também ganhava investimentos públicos massivos do governo de Nero, o que era visto nas novas embarcações, velames e estruturas de portos, surgindo o porto de Remo, que era mais moderno que o antigo porto de Senra, que foi o ponto principal de idas e vindas da esquadra da Ilha de Betume, tanto na Era dos Reis como no período da República dos Justos.

Havia também o chamado Grupo dos Cinco, os cinco que eram Duílio, Marcos, Proclo, Ares, e o líder do grupo imperialista, o senador Tertuliano, que também era filósofo, assim como Proclo, e um pensador defensor dos ideais imperialistas da Ilha de Betume. Estes eram o núcleo duro de cinco senadores que apoiavam Nero e queriam editar e publicar a Constituição Polaca, para conceder plenos poderes a Nero, como uma ressurreição do reinado de Fabrício, de um ideal de poder perdido e degenerado desde que houve a República dos Justos. Este era o ideal, contudo, sem a queda que teve Fabrício, ao ser morto numa conspiração dos republicanos, em seus aposentos, com seu corpo retalhado por adagas e enforcado com uma corrente dentada, pressionada a seu pescoço pelos conspiradores até seu sufocamento, sangramento e óbito. Fabrício, por sua vez, foi o rei mais poderoso que existiu na Era dos Reis, em que a Ilha de Betume prosperou, mas o movimento republicano, e novas ondas pela democracia nos moldes atenienses, acabaram por provocar uma crise política, o que virou uma crise na economia e no comércio, o que por fim levou à queda de popularidade do rei Fabrício, pois grande parte dos comerciantes aderiu ao movimento republicano e de derrubada da monarquia, o que se precipitou como mudança de regime no assassinato do rei. 

Por sua vez, ainda havia o Areópago, o tribunal supremo, que guardava os princípios da Constituição do Horizonte, e como dito, a Câmara Baixa, com os representantes das fratrias, que eram as famílias tradicionais da origem agrária da Ilha de Betume, que compõem a atual aristocracia de sangue do Império, contudo, em franca decadência, mantendo apenas a pose de títulos de posse de terras e contratos com o poder imperial, conchavos e, claro, as votações viciadas de eleições para a Câmara Baixa, revisora de projetos de lei do Senado, emendas à constituição, etc, mas com capacidade legislativa bem limitada, aprovando no máximo portarias e leis ordinárias, a partir de audiências em que se discutem os memorandos e minutas, para torná-las em leis municipais, de alcance limitado. A Câmara Baixa era, em geral, intelectualmente e administrativamente medíocre, sendo nada mais que um puxadinho para a aristocracia de sangue, no desenho da administração agora do império, o último bastião de uma classe decadente, e que tinha parado no tempo, com herdeiros de terras alienados e ociosos.

Outra observação é que o auge do poder desta aristocracia de sangue foi na Era dos Reis, sendo que na República dos Justos é que eles foram isolados como membros da Câmara Baixa, agora como deputados de regiões demarcadas e com currais eleitorais, resultado de uma Lei de Terras completamente anacrônica feita na Era dos Reis, e que fabricou um grupo de herdeiros arrogantes e gabolas da chamada aristocracia de sangue, só não mais fajuta que a nobreza do império, que vivia bebendo, comendo e fazendo sexo nos palácios e mausoléus do Império, sem falar nas bacanais que eram patrocinadas por Nero, um louco varrido que tinha o poder supremo nas mãos. 

E, na divisão do poder administrativo do Império, ainda tínhamos a Bulé, uma espécie de tribunal mais popular, com representantes do comércio e das guildas, com figuras mais sóbrias e pragmáticas, fazendo contraponto às ideias estapafúrdias da aristocracia de sangue, cada vez mais alienada e acomodada. A Bulé também tinha grande influência política, sendo uma espécie de instância de referendos populares, criação da República dos Justos, e que não tinha sido extinta no império, pois, na elaboração da Constituição do Horizonte, no período de Cádmio, tal Bulé ficou com suas prerrogativas e influência intactas, o que incomodava Nero, que só não dissolvia a Bulé, por sua vez, pois sabia que aquilo seria a sua ruína, uma vez que as riquezas produzidas pelo império dependiam das classes que compunham a Bulé, uma vez que ali estavam as pessoas que tinham a capacidade tanto para a produção de riquezas como de exercer o controle das finanças por toda a Ilha de Betume e, sobretudo, em Atlas. 

Por fim, fazendo  frente ao tradicional Areópago, tribunal antigo, criado na Era dos Reis, e que, originalmente, cobria as demandas de toda a Ilha de Betume, e que agora se esvaziava cada vez mais de suas funções, processo que se iniciou desde a República dos Justos, se especializando em virar um tribunal de penas capitais, este tribunal antigo, ainda sendo o guardião constitucional, contudo, foi dando lugar ao Tribunal de Recursos, que agora tomava a frente nas questões importantes do império, resolvendo diversas querelas, e abrangendo todas as classes. 

Por sua vez, junto ao presidente do Senado, Pausânias, se destacavam Vespasiano, Ticiano e Vermeer, três senadores que já estavam legislando desde os princípios do império de Cádmio, e que contribuíram intensamente para a confecção e publicação da Constituição do Horizonte, e que foi um conjunto de leis que fortaleceu o papel do Senado e da Bulé, e que apagou funções do Areópago e a capacidade infinita de decretos do imperador, que passou a ter uma cota mensal de decretos e atos autocráticos, o que incomodava Nero, que desde o início de seu império, passava por cima do limite de decretos e atos e entrava em choque com a Bulé e o Areopagita, o supremo representante da lei no Areópago, Clóvis, este que estava neste cargo desde antes do império de Cádmio, na época de Deocleciano, penúltimo na sucessão republicana até o advento do império com Cádmio.

A queda da República dos Justos se deu depois de uma crise econômica no último período republicano, de um governo que durou um ano, em que governou Lísias, originalmente um bardo do interior da Ilha de Betume, que tinha ganhado popularidade, mas que caiu frente aos nobres da Era dos Reis, e que viraram a nova nobreza imperial, com apoio do Pretor Cláudio, e Lísias, que teve uma liderança tíbia, também fracassou diante do golpe militar da Guarda Pretoriana, monarquista, e que esperava o momento certo para a derrubada da República dos Justos.

A Guarda Pretoriana consumou o golpe em quinze dias de insurreição, também contando com o apoio da Esquadra, do almirante Valério, e agora se constituía o período imperial, sendo o imperador muito mais poderoso politicamente que os reis que governaram na Era dos Reis. A Guarda Pretoriana, além de seu monarquismo originário, se via tolhida nas suas reivindicações durante grande parte do período da República dos Justos, o que aprofundou a discórdia com os governantes deste período. 

Por sua vez, com a morte de Cádmio, e depois de adquirir mais poderes com atos e decretos, Nero então fez o chamado Édito Plenipotenciário, aprovado de ofício por ele mesmo, em que funções da Bulé passaram a ser mediadas pelo crivo de Nero e do chamado Conselho dos Plenos Poderes, que foi criado a partir da sanção do Édito Plenipotenciário pelo imperador Nero, o que se traduziu, na prática, na imobilização da Bulé e no fim dos referendos populares, com a contrapartida de deixar os comerciantes à vontade com a queda vertiginosa de impostos e as guildas livres das taxas e tarifas do Fisco Imperial, a medida colou e a Bulé foi praticamente cooptada por Nero, e esta foi a sua jogada de mestre. 

Com o Édito Plenipotenciário, por exemplo, as investigações do Areópago em relação à morte de Cádmio foram encerradas, com uma conclusão manipulada que dizia que o antigo imperador passava por acédia e acabou morrendo por falta de alimentação adequada, sofria de fraquezas diversas e que o humor bilioso de sua alma vegetativa tinha saído de seu corpo num sopro de seus pulmões, pois Cádmio fazia uso intenso de ópio, e teria se sufocado, dormindo, com bílis negra, depois de ter regurgitado várias vezes.

Era verdade o uso de ópio por Cádmio, da mandrágora e de outras ervas, mas o fato era que Cádmio fora envenenado por uma infusão servida por um lacaio que obedecia ordens de Nero, este que era usuário de beladona, mandrágora, láudano, ópio e vinho em quantidades industriais desde muito moço, e até então era ainda apenas o sobrinho do antigo imperador e nomeado na ocasião como cavaleiro centurião, com a condecoração do serviço pretoriano, que dava a Nero a virtude guerreira oficialmente, um título honorífico que concedia status moral na Ilha de Betume e na cidade que se expandia a partir da Via Altaica, a cidade de Atlas. Por fim, enquanto Cádmio delirava e agonizava, Nero o sufocou com um saco de pano, enfiado em sua cabeça, dando socos na cara de Cádmio, que acordou, se sacudiu, e depois apagou e morreu.

A cidade tinha como rua principal o chamado Passo dos Boeres, menor apenas que a Via Altaica, que atravessava toda a Ilha de Betume, Boeres que foram antepassados da Era dos Reis, um povo que antecedeu os Caieiros na Ilha de Betume. Por sua vez, o Édito Plenipotenciário também manietou várias instituições, atingiu o que restava de autonomia do Areópago, abrindo caminho para a reforma constitucional, e concedeu ao grupo dos Cinco, senadores que apoiavam Nero, uma condição especial de veto para qualquer projeto de lei que contrariasse os interesses do imperador no Senado, o que foi recebido sob protestos por senadores opostos aos poderes de Nero, mas que foram atropelados pelo novo Conselho dos Plenos Poderes, com poderes judiciais e também legislativos e de revisão das medidas do Senado, agindo em harmonia com o grupo dos cinco senadores imperialistas, o que enfurece as comissões ainda dominadas pelo grupo de Pausânias, temerosos dos arbítrios do império de Nero.

Também o Tribunal de Recursos foi manietado de forma vil, este que era outra instância judicial, e que se fez mais moderna que o Areópago, agora também sob influência do Conselho dos Plenos Poderes, grupo este que virou a última instância da Justiça na Ilha de Betume. O fato era que o caminho para a tal Constituição Polaca agora estava escancarado, e tudo poderia passar pelo arbítrio do recém-criado Conselho dos Plenos Poderes, um Deus Ex Machina que Nero tirou do bolso para subjugar sobretudo o Senado, com esta ideia de um Édito feito de ofício, sem mais. Por sua vez, as tentativas de anulação do Édito foram rechaçadas por mini-decretos, resoluções de araque, portarias de fancaria e investigações falsas do Areópago, em que começaram a perseguir os senadores da oposição, estes que passaram a enfrentar processos civis, administrativos e criminais.

A Câmara Baixa que, por sua vez, era ocupada pelas fratrias, que estavam em decadência financeira, vivendo apenas de antigos títulos de propriedade que mantinham tais famílias como uma aristocracia de sangue, era seguidamente dominada pelos interesses de Nero, pois vários destes fratres, os representantes das fratrias, estavam sendo subornados para votar e aprovar projetos de interesse do Império e da nobreza ociosa, originária da Era dos Reis, o que esvaziou parte do apoio que o grupo de Pausânias tinha nas comissões do Senado. E ainda tinha um tal de Mago Oscar, popular na plebe rude, que crescia como pessoa de carisma na cidade, e que já tinha sido cooptado pelo império para defender os interesses de Nero. 

A plebe rude, sem direitos civis, não tinha o direito de votar, por exemplo, mas era uma turba que podia ficar violenta e praticar roubos e vandalismo se o mínimo não fosse feito pelo poder público, e ter um demagogo no meio deles, representando os interesses do César, facilitava as coisas. Este Mago Oscar era conhecido pela retórica e oratória acima da média e um apetite sexual desenfreado, pois tinha várias mulheres e filhos espalhados pela plebe rude e alguns bastardos na aristocracia decadente. 

A origem deste Mago Oscar era ignorada, pois ele apareceu do nada na Ilha de Betume, como um forasteiro, mas dominando o romani falado na cidade e o dialeto caieiro, ainda conservado na área rural da ilha. Seu poder de persuasão lhe garantiu um trabalho no ofício de notas da cidade central da Ilha de Betume, sua capital, Atlas, um trabalho burocrático, e depois ele prosperou como comerciante de artigos importados e fundou uma guilda onde praticava a usura, ficando rico e exercendo agora plenamente as suas faculdades de mago e místico, vendendo a guilda para um financista local e virando uma espécie de conselheiro informal de Nero e a linha de mediação entre o Império e a plebe rude de Atlas. 

Com o estabelecimento de um novo panteão de deuses, as antigas estátuas do Mito de Kerr, e as mulheres aladas, as Marmeides, da antiga Atlas, foram demolidas a marretadas, logo no início do império de Nero. Por sua vez, junto com a Córsega, a águia, que agora ficava no topo do Palácio Imperial, sede governamental, e que ganhou o nome de Palácio da Córsega, e o corvo Letere, que virou objeto de culto entre os nobres ociosos de Atlas, com orgias de vinho e ervas alucinógenas, surgiu também o culto das vestais, na chamada festa das Saturnais, e ainda surgiu o novo Teatro Imperial, e toda uma cultura que agora se chamava de renascimento cultural, sob o nome de cultura cesareia, que dava lugar às heranças antigas de origem caieira e boere. Na verdade, tudo confluía para o culto da personalidade em torno da imagem de Nero, o imperador, o chefe das armas e o tutor da cultura cesareia.

Tito Lívio, o maior historiador que havia em Atlas e em toda a Ilha de Betume, por sua vez, completa os vinte volumes de pergaminhos com o título de Confederações, que contava com a documentação bem vasta e comentada da Era dos Reis, da República dos Justos e de grande parte do Império de Cádmio. Só que os oito volumes que contavam a História da República dos Justos foram confiscados por membros da Guarda Pretoriana, isso no Liceu em que ensinava as Artes Liberais o historiador Tito Lívio, e ele foi acusado de conspiração pelo Areópago e acabou sendo preso. Constava na acusação que oito dos vinte volumes da Confederações tinha como fonte os Anais censurados que estavam no Arquivo Público de Atlas, sendo que Tito Lívio teve acesso a eles provavelmente antes da proibição de divulgação de seu conteúdo por Nero, ainda no Império de Cádmio, e que este era um projeto original patrocinado pelo antigo imperador. 

Clóvis, o juiz de causas de instância superior, o grau máximo de graduação jurídica no Areópago, sentenciou Tito Lívio a uma multa de cem sestércios, esta que era uma nova moeda de bronze corrente que tinha dado lugar às patacas que haviam na República dos Justos e no Império de Cádmio, e ainda tinha a moeda de prata, o denário, que valia dez vezes mais que o sestércio, e a moeda de ouro, o áureo, que valia cem vezes mais que o sestércio, somente utilizada, provavelmente, por quem tinha muitas riquezas, o que poderia incluir a nobreza, a aristocracia de sangue, alguns membros do Areópago, alguns senadores e alguns soldados de alta patente da Guarda Pretoriana.

Cem sestércios, para termo de comparação, equivalia a seiscentos dobrões ou duzentas dracmas, de acordo com o câmbio praticado nas guildas de Atlas. Além desta multa, Tito Lívio foi sentenciado a uma pena de reclusão de seis anos, trabalhando em atividades burocráticas dentro da masmorra dos proscritos, e também em serviços domésticos e de limpeza da masmorra, esta que ficava numa ilhota isolada, impossível de fugir, e cercada por sentinelas da cidadela que ficava na ponta da ilhota, sendo constantemente vistoriada pela Guarda Pretoriana, que vinha de trirreme, junto a membros da Esquadra do almirante Valério,  vindo com frequência para ver tudo e dar as informações ao imperador Nero. O lugar era de difícil acesso, no meio do Mar Delta, cujas duas ilhas mais próximas não tinha gente. Somente a Esquadra do almirante Valério visitava estas ilhas, junto de alguns membros da Guarda Pretoriana, para registros e anotações para o Arquivo Público de Atlas, agora sob a égide do Império de Nero.

Com o avanço da nova concepção de cultura cesareia, o imperador Nero resgatou um mito sumério, vinculado a Abaddon, e também uma versão própria para o antigo deus grego Cronos, que passou a se chamar Saturno, e virou, junto com o pai fundador de Atlas, o boere Ramanus (não se sabe se figura histórica ou lenda boere), o guardião da cidade, assim como o Campo de Marte passou a ser guardado por Abaddon, já com uma versão de Atlas para o mito sumério. As Saturnais (festejos em homenagem à Saturno) logo foram instaurados no calendário da cidade de Atlas, e era o começo do que viria a ser chamada de “política do pão e circo”, o que iria distrair a plebe rude das questões políticas e popularizar a imagem do imperador Nero, debelando qualquer ameaça de opositores ao império. 

As Saturnais consistiam numa troca de papéis entre os atores sociais, com nobres se fingindo de pobres, como hippies, e a plebe rude com fantasias de nobres, com alguns fingindo serem aristocratas, das fratrias, e toda uma gama de personagens, em que também se realizava peças teatrais, da farsa à tragédia, agora com o chamado novo Teatro Imperial, que se consolidou com a conclusão da obra do novo anfiteatro de Atlas, com um proscênio aberto, amplo, e os lugares do público funcionando como uma espécie de panóptico, só semelhante à vigília de Argos sobre Io, contudo, com o subsolo funcionando de camarim, e um estrado atrás do proscênio em que operavam biombos e sistemas de roldanas, sobretudo para partes em que se dava o Deus Ex Machina teatral, além de partes laterais em que entravam e saíam os atores da cena. O anfiteatro ganhou o nome de Teatro Imperial, sendo dirigido pelo dramaturgo imperialista Porfírio, que também era filósofo.

Dentre os novos mitos, e alguns resgates reinventados pela cultura cesareia, havia também o culto das vestais, que vinha de uma prática mágica ancestral, dos boeres, e que também tinha origens distantes na Trácia e na Frígia, e que eram virgens musicistas que tomavam conta do fogo sagrado, uma das versões da sarça bíblica, cuja chama nunca poderia se extinguir, sob pena da Ilha de Betume sofrer uma nêmesis, cuja versão escatológica era narrada por poetas, numa versão nova de escatologias babilônicas e sumérias. Portanto, a missão das vestais era conservar a chama do fogo sagrado acesa e, então, não poderiam ser perturbadas ou incomodadas nesta missão. Embora nunca ninguém tenha visto tais guardiãs do fogo sagrado que, segundo o mito, sustentava toda a vida de Gaia e, consequentemente, da Ilha de Betume. No culto das vestais oficial, por sua vez, pessoas se fantasiavam de vestais, dentre outros personagens mitológicos, culto incluído nas festividades das Saturnais.

Dentre os mitos narrados, um sobrevivia, de origem babilônica, e que também ganhara uma versão pela cultura cesareia, que era a narração da guerra de Marduk contra Tiamat. Tudo começava no jogo do hexagrama, cuja ponta superior era Kether, e a inferior, Malkuth, as duas pontas laterais direitas, por sua vez, tinham a influência de Marduk, e as duas pontas laterais esquerdas tinham a influência de Tiamat. Kether representava os dons anímicos e as virtudes, formando a virtude cardeal máxima, representada no domínio das próprias faculdades. Quem nascia sob a influência de Kether teria dons e unção, o que já era uma versão pagã da ideia da graça divina. Malkuth, pelo contrário, mirava virtudes terrenas, ligadas às habilidades guerreiras, destreza corporal, força muscular, violência etc. Quem nascia sob a influência de Malkuth daria um bom guerreiro, membro da Guarda Pretoriana ou da Esquadra. 

Marduk e Tiamat, por sua vez, pulsavam no hexagrama em guerra, e seus ciclos puxavam o mapa do hexagrama, ora para a influência de Kether, ora para a influência de Malkuth, e isso definia as fases do calendário centuriano babilônico, agora com uma versão cesareia, em que o comando do calendário foi para Marduk, que tinha derrotado Tiamat na guerra dos deuses, uma conflagração, uma escatologia, e uma nova cosmogonia. Na versão astronômica, por sua vez, tal versão era de que Marduk e Tiamat eram dois planetas que se chocaram e deram origem à Gaia, aparecendo os mares, as ilhas e os continentes sob o sopro de vida vindo do choque entre os orbes. 

Na versão mitológica, Marduk ganhou de Tiamat com um ardil, uma taça de vinho envenenada, tomando em seguida de Kether o reinado existencial, dando origem a um novo mundo, uma nova cosmogonia, depois da escatologia narrada que foi a guerra entre Marduk e Tiamat, que mobilizou todas as deidades do universo e que realizou uma conflagração. Malkuth, por sua vez, foi precipitado no inferno do Hades após a vitória de Marduk. Kether, por conseguinte, depois de perder seu reinado existencial, teve uma ascese espiritual e foi parar no Hiperurânio, o mundo mais elevado da escala espiritual. Por fim, estudando a versão do hexagrama, junto com seus ciclos e influências, este se tratava de um caminho esotérico dos mitos citados, através de um jogo oracular, os chamados Penates, medidores jogados na mesa por um vidente, e que formavam o mapa pessoal de alguém no hexagrama de Penates, estes que, por sua vez, eram entendidos como Gênios que conduziam todos os ciclos e influências do hexagrama esotérico. Por sua vez, estes Penates apareciam como Gênios dos bosques e dos rios na versão mitológica corrente e exotérica, em que eram conhecedores dos ciclos naturais.

Na disputa política entre o grupo de 12 senadores, liderado por Pausânias, e os interesses imperialistas de Nero, a Bulé se encontrava cooptada por benefícios fiscais e tributários, pois além da queda de impostos, taxas e tarifas, agora o imperador baixava um decreto de incentivos fiscais para as atividades dos comerciantes e para o câmbio feito pelas guildas, ampliando agora o pacote de bondades para a conquista da Bulé. A Câmara Baixa migrava, cada vez mais, para um apoio massivo ao Império, abandonando as comissões do Senado, e dando força para o avanço do Grupo dos Cinco, com Proclo presidindo a segunda comissão mais poderosa do Senado, a de Demandas Populares, tomando aí grande influência sobre parte da plebe rude que morava em Atlas e nos arrabaldes da capital. 

Tertuliano agia, por sua vez, para tomar a Comissão de Assuntos Constituintes e de Jurisprudência, para viabilizar de vez a Constituição Polaca, e dissolver a Constituição do Horizonte. Por sua vez, a debandada das fratrias e dos fratres das audiências públicas feitas pelo grupo de Pausânias facilitou a pressão sobre a comissão para a mudança de sua composição e para uma nova eleição de membros, do presidente e do relator. O Conselho dos Plenos Poderes, por sua vez, era um triunvirato presidido por Tertuliano desde a sua criação, tendo como outros dois membros o Pretor Cláudio e o Ministro das Armas, Plínio, o venerável, que era visto como sucessor natural de Cláudio no Generalato para a Guarda Pretoriana, seu comando supremo, abaixo apenas do imperador.

Por fim, Nero baixou mais um decreto-lei em que as eleições para as comissões deveriam se dar a cada dois anos, e com decisão de maioria simples, mudando as regras do jogo para facilitar a ascensão do Grupo dos Cinco sobre a principal comissão do Senado, o que acabou acontecendo, pois foi derrubada a regra de eleições a cada quatro anos e a decisão por maioria qualificada para a aprovação dos presidentes e relatores de comissões e de seus respectivos membros, em número de oito, somando dez com a relatoria e a presidência. Destes oito membros, por sua vez, quatro eram titulares e os outros quatro eram suplentes nas comissões.

Tertuliano é eleito relator da Comissão de Assuntos Constituintes e de Jurisprudência, com Proclo ocupando a presidência, ao mesmo tempo que se reelegia para a presidência da Comissão de Demandas Populares, tendo como relator Ares. Duílio passa a ocupar a relatoria da Comissão das Festividades, responsável pela política de pão e circo do império de Nero, ao passo que foi eleito presidente desta comissão o senador imperialista Marcos. Portanto, Nero conseguiu fazer uma manobra com um decreto-lei, e numa tacada, conseguiu submeter as três principais comissões do Senado a seu talante. 

O Conselho dos Plenos Poderes, por sua vez, foi beneficiado por outro decreto-lei, que colocava o conselho como instância decisória superior do que era decidido pelas comissões e aprovado no Senado, o que se traduzir que todo o Senado e todas as suas comissões virariam uma fachada para decisões monocráticas do triunvirato plenipotenciário, cuja palavra final era de Tertuliano, presidente do Conselho, relator de uma comissão e presidente de outra, remetendo o que era decidido pelo Conselho para a sanção ou para o veto imperial. 

Por fim, agora o poder decisório de todo o governo, finalmente, estava nas mãos de Nero, além de poder publicar decretos e atos, que agora não obedeciam mais cláusulas da Constituição do Horizonte, sendo usadas ilimitadamente desde que Nero assumiu o império, depois da morte de Cádmio, que na verdade ele tinha assassinado. Por sua vez, o Grupo dos Cinco, junto ao Conselho dos Plenos Poderes, agora articulava o início do processo constituinte, para a confecção de uma nova Constituição, que daria lugar à Constituição do Horizonte, e um dos objetivos principais da que seria chamada de Constituição Polaca era a concentração total de poderes nas mãos do imperador Nero. 

Em meio disso, acontecia a política de pão e circo, que degenerava e degradava a plebe rude, moralmente, fenômeno de decadência moral e cultural que atingia também a chamada aristocracia de sangue e, sobretudo, a nobreza originária da Era dos Reis, que vivia de pensões imperiais, e a vida desta nobreza, sobretudo em Atlas e nos seus arrabaldes, era de luxúria, gula, preguiça e um desvario por ervas e ópio, além de muito vinho, festividades, e todo tipo de orgia, numa decadência moral e cultural ainda mais brutal que a da plebe rude que entrava de graça no Coliseu para se alienar na política imperialista de pão e circo. 

O Coliseu, por sua vez, foi construído e fundado durante o império de Nero, e Duílio, senador imperialista e agora relator da Comissão das Festividades, autorizou entradas gratuitas para o Coliseu e seus eventos de gladiadores, que lutavam contra leões e tigres na arena, com lugar cativo para Nero, sua irmã, alguns parentes, senadores imperialistas e o Pretor Cláudio. A arquibancada era ocupada por uma plebe rude cada vez mais delirante e ávida de cenários de sangue e morte de gladiadores devorados por feras. Outro evento era o das execuções de prisioneiros de guerra, que eram enterrados com a cabeça para fora, e uma máquina de ceifar movida por um capataz cortava as cabeças destes infelizes, e estas saíam rolando pela arena do Coliseu.

Além de viverem de pensões imperiais vitalícias, estes nobres do império tinham propriedades, como os palácios suntuosos de arquitetura clássica, com colunatas dóricas, frisos jônicos, e afrescos com influência de pintores trácios como Zêuxis e Planto. O ócio cada vez maior de tal nobreza levava a uma descarga de luxúria e gula que era uma vida gozosa, contudo, desenfreada, e fadada à decadência e morte prematura. Banhos também eram prática usual destes nobres nestes palácios. Eram banhos mornos, com ervas, volta e meia com lacaios que davam frutas, passavam panos secos, e faziam de um tudo, pois eram servos dos nobres. A prática sexual era cada vez mais coletiva e movida a orgias que varavam as noites nestes palácios. Os salões, também com colunatas, banhos, afrescos, esculturas etc, ficavam com diversos nobres em pleno desvario dos sentidos, usufruindo de uma rotina nababesca e folgazã.

Os banquetes feitos pela nobreza envolviam iguarias diversas, dentre elas, peru recheado, tortas e bolos. Havia muito presunto, misturas salgadas e doces, massas rústicas de grão-de-bico, bolo de mel, ricota fresca. Também tinha o garum, que era um molho de peixe fermentado, salgado e picante, para dar sabor a alguns pratos. Dentre as carnes, muita carne de caça, como javalis, coelhos, faisões e veados, além de frutos do mar, que envolviam ostras cruas, lagosta e mariscos. Dentre as excentricidades, ensopados de língua de papagaio e arganaz recheado.  O fricassé, por exemplo, demandava a morte de uma quantidade enorme de papagaios, para se ter línguas o suficiente para o seu preparo.

Se comia durante horas a fio. E os nobres tinham hábitos como comer deitados e vomitar entre os pratos. O vômito servia para abrir espaço no estômago para mais comida. Se deixava a mesa para vomitar numa sala perto do refeitório. Se usava uma pena para fazer cócegas no fundo da garganta para estimular a vontade de vomitar. Com um status social em que não precisavam fazer o trabalho manual, a gula era uma exibição bizarra desse status. Após vomitar, estes nobres regressavam aos salões de banquetes, enquanto isso, a bagunça toda era limpada pelos escravos e lacaios. Por fim, para completar a porcaria, os nobres usavam penicos trazidos pelos escravos para mijar e defecar, ao invés de usar banheiros. Nero, por sua vez, publicou um ato em que se autorizava a flatulência à mesa. 

Se reduzia o inchaço dos nobres comendo-se deitado numa espreguiçadeira almofadada, numa demonstração de status social e subjugação de seus lacaios e escravos. A posição deitada ajudava a relaxar, enquanto a mão esquerda levantava a cabeça, a mão direita pegava os petiscos da mesa e levava à boca, pois os nobres comiam com as mãos e a comida era cortada e preparada pelos escravos, com espinhas de peixe e de carne e restos de comida sendo jogados no chão para que os escravos limpassem. Ainda havia uma siesta ou soneca entre os pratos, pois muitos nobres dormiam entre as refeições. E também se usava um recipiente para beber, de nome rhyton, onde se podia beber vinho e sucos. Também, eventualmente, se sacrificavam galos para um Deus ctônico de nome Prites, e suas carnes eram consumidas e o sangue destes galos bebidos nestes rhytons, temperado com ervas aromáticas. Tais banquetes, por fim, terminavam com um ritual de beberagem de vinho, cultuando o carpe diem (aproveite o dia), que era um lema aqui utilizado em sentido hedonista. 

O vinho era servido misturado a outros ingredientes, dentre sal e alcatrão, por exemplo, para conservar os barris que viajavam até chegar a estes banquetes. Dentre as narrativas de consequências fatais destes excessos, tivemos o suicídio do epicurista Apício, que se matou por dívidas feitas ao promover banquetes luxuosos, e o caso do obeso Bólido, um nobre nababo e mimado, que morreu entalado com uma asa de frango. Outra refeição curiosa servida em tais banquetes, por fim, era uma iguaria feita por um cozinheiro da época, Tartes, que fazia uma mistura de peixe e de carne, com miúdos de aves e peito de porco, chamado tarte, e que atualmente não agradaria os paladares, mas nesse tempo de Nero era uma iguaria de alto quilate, feita para o consumo pelos nobres. 

Dentre outras mortes célebres, tivemos de Lotte, um nobre com grandes riquezas de seu bisavô Tolentino, da Era dos Reis, que foi ministro no reinado de Fabrício, que morreu de overdose de ópio, depois de encher a cara de vinho e comer iguarias de carne e aves. Tírio, outro glutão e gordo, morreu duro de cara num fricassé, estava comendo a iguaria quando caiu com a cabeça, já morto, metendo a cara no prato cheio de fricassé. Dentre nobres menos conhecidos, temos relatos de mortes com espinhas de peixe, asas de frango, mortes em banhos, pois alguns dormiam e morriam afogados, sufocamentos com vômito, overdoses de ópio e comas de vinho. Rufus, um nobre extremamente rico e ocioso, sucumbiu ao vinho durante anos, fumava ópio, consumia mandrágora e beladona, e acabou morrendo duro no chão, depois de vomitar roxo, um jato de vinho, em cima de dois lacaios que o acompanhavam, deixando os dois vomitados de vinho, e morreu. Por sua vez, as orgias de sexo eram de grupos que bebiam, fumavam, comiam, e antes dos banquetes que tais orgias eram feitas, em que se praticavam tanto o sexo hétero, como alguns que faziam sodomia, práticas orais e anais, dentre bizarrices com masoquismos e sadismos, e a liderança de Nero em muitas destas orgias e banquetes feitos em Atlas. 

Por sua vez, depois da porcalhada da nobreza ociosa, a falta de higiene que grassava em meio às moradias da plebe rude era cada vez maior. Não havia, por parte do império, qualquer preocupação sanitária, o que provocou, primeiro, uma peste de percevejos pelos bairros pobres de Atlas, em que ficava a plebe rude, assim como seus arrabaldes, que eram mais pobres ainda, com uma plebe rude sarnenta e piolhenta. Depois desta peste de percevejos, que só foi controlada depois de uma temporada de chuvas e com a canalização do rio Tétis, o maior rio da Ilha de Betume, para alguns destes bairros pobres, houve uma grande e intensa peste de ratos, que durou dois anos, e que foi debelada com gatos importados do Oriente. Por fim, com o consumo de peixes do Rio Tétis, parte das merdas, lixo e mijo indo para este rio e seus afluentes, começou uma peste de rãs que durou cerca de um ano, e que atingiu os arrabaldes, os bairros pobres de Atlas e o centro, sendo que os palácios dos nobres foram invadidos por rãs também, mas os lacaios foram à caça para matá-las, limpá-las e usar em banquetes, não todas, pois havia espécies insalubres, mas as rãs comestíveis começaram a entrar no cardápio dos nobres glutões de Atlas. 

Em meio ao avanço dos poderes de Nero sobre as instituições da Ilha de Betume, em pleno processo de subjugação do Senado, depois de uma cooptação da Bulé e da Câmara Baixa, Nero, que vivia cada vez mais viciado em ópio, parecia estar num estado onírico em que queria ver coisas incríveis, e mandou o Pretor Cláudio mandar uma força tarefa da Guarda Pretoriana para raptar as esposas dos senadores de oposição a seu poder e serem levadas para as orgias dos nobres e lá elas seriam violentadas nos palácios. Foi o que ocorreu, e que foi uma humilhação para senadores como Vespasiano, Pausânias, e sobretudo um senador de nome Tibério, este que se matou, com uma espada enfiada no próprio ventre, depois de receber a sua esposa de volta, destruída, abalada e sangrando pelo ânus e pela cona. 

Enquanto Nero começava a dar ordens delirantes para seus subalternos, a política do pão e circo ia de vento em popa, com Duílio, relator da Comissão das Festividades, que ganhava mais poder, se tornando novo membro do Conselho dos Plenos Poderes, uma vez que o Pretor Cláudio caiu doente, passava febre e náuseas numa infecção desconhecida, sua pele estava cinzenta e seu ânimo fraco, sendo afastado temporariamente da Guarda Pretoriana e do Conselho, no que Plínio, o venerável, assume como Vice-Pretor, depois de um ato publicado por Nero. O Mago Oscar, também, ganhava vulto na plebe rude, como vidente, benfeitor, milagreiro, mágico etc, e era o principal conselheiro de Nero, e vivia oculto da política oficial, pois não ocupava cargo institucional. Os gladiadores, guerreiros escravizados, continuavam morrendo no Coliseu. Cabeças continuavam sendo decapitadas no Coliseu. O Teatro Imperial (movimento) ganhava vulto com suas farsas medíocres no anfiteatro gigante fundado por Nero, o Teatro Imperial (anfiteatro), e o fastígio das riquezas acumuladas pelo imperador se ampliava, pois ele comprava mansões, palácios, museus, terras, tinha trirremes, além de adegas de vinhos de diversos lugares, e nutria a sua paixão bizarra pela própria irmã, que ficava cada vez mais ardente, na sua imaginação imersa em ópio e embebida em vinho. Por conseguinte, ele mandou fazer uma escultura gigantesca da irmã Dora no centro de Atlas, e ordenou que os súditos a chamasse de rainha, e quem descumprisse a ordem morreria enforcado em praça pública, tudo isso publicado por um decreto-lei.

Todo um cenário cultural decadente, que tinha a digital do imperialismo de Nero, mesmo com as instituições manietadas e subjugadas, não ficou sem resposta. E isto partiu do renascimento do movimento republicano, depois de longo sono, desde o império de Cádmio, e do desastre de Lísias, o último governante da chamada República dos Justos. Pompeu, que ainda era relativamente jovem, apareceu na classe dos comerciantes como uma nova liderança política, com dons de oratória acima da média e uma retórica convincente. Pompeu ganhou ascensão financeira no meio do comércio e montou também uma guilda para virar financista e com isso começou a investir dinheiro na montagem e reorganização do republicanismo em meio à perdição que tinha se tornado o império de Nero. 

Depois do suicídio do senador Tibério, que Nero tentou censurar, os republicanos colaram cartazes nos bairros pobres da plebe rude noticiando o fato e culpando Nero, e isso era uma campanha para combater, também, toda a alienação produzida pela política de pão e circo do senador Duílio e do imperador Nero. A bacanal patrocinada por Nero com as mulheres dos senadores também foi divulgada nos bairros pobres pelos republicanos liderados por Pompeu. E tais atos políticos chegaram aos ouvidos de Nero, depois que guardas da Guarda Pretoriana, que faziam as rondas diárias nestes bairros atentaram a estes cartazes “difamatórios” contra o imperador. A plebe rude que, até então, se via embriagada por sessões violentas no Coliseu e por peças idiotas no Teatro Imperial, começava a surgir desta massa amorfa e achatada mentalmente pela política do pão e circo, algumas hostes que buscavam mais informações, pois os novos republicanos começaram a colar cartazes e produzir panfletos e levavam informação para bairros que até então estavam abandonados, só visitados pela Guarda Pretoriana, para prender vadios para virar lacaios dos nobres nas orgias e nos banquetes.

Em meio ao republicanismo renascido, e diante da decadência cultural, dentre os filhos de comerciantes, estes em maioria republicana, surgia uma nova geração de poetas brilhantes, acima da média, e que logo formaram um movimento literário chamado de Plêiade, e o apoio deste movimento literário a Pompeu e seus asseclas fortaleceu o republicanismo que agora se expandia a partir de Atlas, nos bairros pobres da plebe rude e nos bairros médios dos comerciantes e dos cambistas donos de guildas, para os arrabaldes e para zonas rurais da Ilha de Betume. A Guarda Pretoriana já tinha recebido ordens de Nero para investigar e atuar sobre o que ocorria nos bairros da plebe rude. Alguns maltrapilhos começaram a ser presos e apanhavam com porretes até darem nomes, e logo o imperador Nero fica sabendo que se tratava de republicanos, liderados por um tal de Pompeu. Nero baixa uma ordem interna expressa para a Guarda Pretoriana prender Pompeu, que o imperador pretendia condenar este à pena capital por enforcamento em praça pública. 

Plínio, o venerável, como Vice-Pretor, tinha pensamento próprio em relação ao imperador Nero, bem diferente à obediência cega de Cláudio, que era como se fosse um cão de guarda para as intenções e qualquer loucura de Nero. Contudo, o ritmo batia diferente em se tratando de Plínio, que obedeceu à ordem expressa, em todo o seu conteúdo, mas tinha reservas quanto a medidas extravagantes como, por exemplo, o que ocorrera com as mulheres dos senadores entre os nobres desocupados, o que ele considerava gratuito e desvairado, e disse isso ao próprio imperador, numa das reuniões do Conselho dos Plenos Poderes, no que o imperador considerou a opinião de Plínio, mas divergiu, falando que tais senadores estavam à vontade e já fazia muito tempo, e que precisavam tomar um susto através da humilhação e da desonra. E como tal ato se deu ex officio, por uma ordem verbal dada para se fazer uma força tarefa na Guarda Pretoriana para tal fim, na visão de Plínio aquilo manchava a imagem da Guarda Pretoriana, os transformando num bando de horda. Nero finalizou, por fim, que se aquilo fosse votado no Conselho, Plínio seria voto vencido, de qualquer forma, uma vez que Cláudio não pensaria em divergir do imperador, e sem ele, Tertuliano e o notável Basílio da Guarda Pretoriana, membro suplente de Cláudio, acompanharia a vontade do mesmo. 

Nero baixa a ordem expressa. Guardas invadem os bairros pobres de Atlas e entram nas casas, o mesmo se repete nos arrabaldes. A esta altura a medida imperial já tinha chegado aos ouvidos dos republicanos e de Pompeu. Por sua vez, Pompeu sai disfarçado, de madrugada, de um bairro médio de comerciantes em que ele morava, e sai sendo levado por uma carroça de cavalos, debaixo de cobertas, frutas e um bezerro, chega pela manhã nos arrabaldes, caminha longamente com três acólitos até a primeira margem de praia, lá esperava um trirreme que o leva a uma ilha remota de setenta e três habitantes, a ilha de Leeto.

Lá, na ilha de Leeto, Pompeu é recebido por um velho simpatizante do movimento de Pompeu, um velho de nome Furer, e que tinha sido senador durante da República dos Justos e que tinha deixado Atlas desde a  morte do imperador Cádmio, pois muitos sabiam do caráter duvidoso daquele seu sobrinho Nero. Furer lhe dá moradia e um quarto, e ali Pompeu ajudaria o velho e sua família no trabalho da terra, enquanto a poeira não baixasse. O comércio e a guilda de Pompeu ficaram com parentes seus, entre tios, irmãos e primos. A Guarda Pretoriana, por fim, encerra as buscas sem capturar Pompeu, o que enlouquece Nero, que manda então capturar uns dez acólitos que deveriam ser degolados na frente do imperador, para pressionar a entrega de Pompeu. A Guarda Pretoriana, desta vez, é bem sucedida, e dez republicanos são degolados na frente de Nero, que ficou admirando os jatos de sangue daqueles homens que caíram mortos na frente do Palácio da Córsega, residência oficial do imperador Nero.

No cenário político, por sua vez, oficial, Nero faz o movimento de instaurar a Assembleia Constituinte, que foi aprovada em regime de urgência pela Comissão de Assuntos Constituintes e de Jurisprudência, e que vai para o plenário do Senado, sendo aprovado por maioria absoluta, o mesmo se repetindo na Câmara Baixa. A Bulé, por sua vez, não tinha voto no caso de processo constituinte, e ficou de fora. A Assembleia Constituinte então é montada pelo imperador Nero, que baixa um decreto-lei em que excluía como membros do processo os juristas tanto do Areópago como do Tribunal de Recursos, que seriam os revisores do que seria aprovado pelo colegiado da Assembleia Constituinte, no sentido de dizer se tal lei estaria de acordo com a ciência do direito caieiro, que era a doutrina oficial de leis para a Ilha de Betume desde os tempos da Era dos Reis. 

Ou seja, o que fosse aprovado pelo tal colegiado não passaria por revisão, já teria poder de lei. Assim Nero afastava questionamentos de ordem formal e de exegese, e vai mais fundo, baixando outro decreto em que tanto a Câmara Baixa como o Senado estariam de fora do colegiado, pois o decreto nomeava como relator do colegiado o senador Tertuliano, como presidente do colegiado o senador Duílio, e os outros membros do colegiado eram Proclo, Marcos e Ares, ou seja, era o próprio Grupo dos Cinco que montaria a tal Constituição Polaca. Contudo, ex officio, a influência de Nero sobre o colegiado foi permanente e eles lhe deviam obediência, ao passo que quem influenciava Nero era o tal Mago Oscar, que tinha intenções de criar um estatuto místico de poder para Nero com a publicação da Constituição Polaca.

A Constituição Polaca vai sendo elencada com suas cláusulas, dispositivos, emendas, e todo um regramento que concedia poderes absolutos e inauditos para o então imperador Nero. O caos institucional se deu, por sua vez, na publicação dos chamados “atos do imperador”, que iria compor todo o elenco de cláusulas pétreas e que dissolvia, numa canetada, o Senado, a Câmara Baixa, a Bulé, que a esta altura saíra da órbita de Nero e se bandeava para o republicanismo de Pompeu, o Areópago virava um fantoche do Conselho dos Plenos Poderes, assim como o Tribunal de Recursos seria extinto, e entraria em seu lugar o Tribunal do Império, cuja chefia seria exercida pelo próprio Nero, com poderes ex officio e a qualquer tempo, intempestivamente, de tomar as medidas que quiser. 

A reação é gigantesca, sobretudo em Atlas, com senadores da oposição protestando, juízes e juristas também, a aristocracia de sangue, que se via traída pelo imperador, e eles se juntavam a republicanos da Bulé, e mais membros da plebe rude que já estavam melhor informados e longe da anestesia da política de pão e circo. Contudo, tanto a Constituição Polaca é sancionada e publicada, sendo promulgada, e extinguindo a Constituição do Horizonte, como a Guarda Pretoriana recebe uma ordem expressa, na forma de Ato Imperial, pelo Tribunal do Império, de prender e exilar todos os opositores nas masmorras das ilhas que cercavam Betume. Batalhas urbanas são travadas em Atlas e nos arrabaldes, com uma reação sanguinária da Guarda Pretoriana, com a volta de Cláudio, que convalesceu de sua febre cinzenta, como Pretor.

O Mago Oscar, como conselheiro do imperador, se saiu bem perverso, e estava cada vez mais rico. Nero, por sua vez, ordena a morte de seu sobrinho, que é degolado de madrugada, em seu quarto, um possível herdeiro do império. Nero também envenena a própria irmã, com vinho e ervas tóxicas, que morre, também temendo que ela poderia herdar seu trono, e por fim, mata com facadas seu tio idiota e tíbio, que tinha sido tolhido na sucessão de Cádmio e agora enfim morria nas mãos de Nero. O imperador Nero continua a sua sanha e também manda matar o senador Pausânias, que é pego numa emboscada e jogado com correntes no fundo do mar. Os senadores Vespasiano e Ticiano são presos e encaminhados para uma masmorra da ilha de Ceres. O senador Vermeer consegue fugir para uma ilhota com um pequeno barco, apoiado por pescadores amigos seus, e vai com dois mercenários contratados se isolar das garras de Nero. Clóvis, desesperado, empreende, junto com seis mercenários contratados, uma tentativa de roubo do Tesouro do Império, uma medida de bandoleiro, frente à sua exoneração como Areopagita, por Nero e seu Ato Imperial pela Constituição Polaca, e acaba sendo capturado pela plebe rude, depois de um boato urdido por Nero nos bairros pobres através de guardas da Guarda Pretoriana, de que Clóvis estava fugindo pois fazia magia negra, e morre linchado, por espancamento e apedrejamento. O Tesouro, por sua vez, é recuperado pela Guarda Pretoriana, que mata os seis mercenários degolados.

Por fim, o Pretor Cláudio cai doente novamente, e dessa vez morre em duas semanas. Plínio, o venerável, é nomeado Pretor. Mesmo com reservas de Nero, ele não via ninguém à altura de Cláudio senão Plínio, com uma inteligência tática tão intensa quanto foi a de Cláudio e suas criações no Campo de Marte, indo muito à frente do que se tinha até então, que se submetia aos conhecimentos vindos de Esparta. Em meio disso, Nero se reúne com o Conselho dos Plenos Poderes, que agora eram Duílio, Plínio e o próprio Nero, submetido ao Tribunal do Império, que era o próprio Nero, com atos intempestivos, ou seja, já não havia nem a necessidade de consenso com Plínio para qualquer ato, o que ocorre, com a declaração de guerra da Ilha de Betume contra a Parneia, pois a invasão e conquista e colonização desta outra banda continental era um  sonho que vinha desde a Era dos Reis, uma rivalidade cultural que sempre flertava com uma guerra, e Nero então, já sem filtro nenhum, manda às favas os escrúpulos que ainda vigoravam dentre os notáveis da Guarda Pretoriana, e ordena que tanto a Guarda como a Esquadra do almirante Valério rumassem na direção de Parneia para as batalhas contra esta banda continental.

Na sua chamada guerra interna, por sua vez, os senadores de oposição, que estavam presos nas masmorras, morrem em série, e a notícia que corria era pneumonia, peste bubônica e demais invenções, pois, na verdade, sentinelas receberam ordens do imperador para matar todos os senadores presos e também membros antigos da Bulé, da Câmara Baixa, do Areópago, do extinto Tribunal de Recursos, de súbito um monte deles estava caindo duro de peste bubônica, febre delirante, coceiras, pneumonias, sarnas, etc. Contudo, o autoritarismo de Nero resvala na própria plebe rude, e ocorre uma revolta desta e também uma revolta de escravos, liderada por um gladiador de nome Svenka, que luta dois anos contra o Império até que seu séquito é exterminado e Svenka enforcado em praça pública. A revolta da plebe rude é exterminada pela Guarda Pretoriana. Plínio, o venerável, embora obedecesse Nero, já sentia engulhos diante dos arbítrios do imperador, e tramava um golpe contra o imperador, juntando muitos dos notáveis insatisfeitos com as loucuras de Nero. 

A ruína de Nero começa com um sinal, que é quando Mago Oscar é encontrado morto pendurado de cabeça para baixo numa árvore de uma praça nos arrabaldes de Atlas. Valério, almirante chefe da Esquadra morre afogado no mar, e as baixas dos trirremes no Mar Delta, que separava a Ilha de Betume e Parneia, são inúmeras, pois se multiplicam os relatos de naufrágios e mortes dentro da Esquadra. A Guarda Pretoriana também começa a ter dificuldades nas entradas e estradas de Parneia, nas praias, nas enseadas, pois a guarda tinha que dar conta tanto de Parneia como das convulsões sociais cada vez maiores em Atlas e nos arrabaldes da Ilha de Betume. Plínio, o venerável, tenta convencer Nero de que teriam que recuar e deixar Parneia, em vão, a loucura de Nero era cada vez maior, e ele vivia cada vez mais em meio às orgias e banquetes dos nobres, que continuavam de vento em popa, com festas completamente alheias a tudo que acontecia no Império, assim como os eventos no Coliseu revelavam um alheamento também escandaloso de parte da plebe rude que ainda não tinha acordado. 

No Coliseu, por sua vez, a bola da vez era um grupo do que seria chamado de mártires, que estavam vivendo em catacumbas e sendo capturados pela Guarda Pretoriana, e estas pessoas vinham do Oriente crendo num tal messias, que o Império entendia como feitiçaria de beduínos, maluquice estrangeira e, portanto, deveria ser exterminada. Estes mártires morriam com altivez diante de leões e tigres ou sendo decapitados, o que espantava até mesmo a plebe rude idiotizada que frequentava os eventos do Coliseu. Sob influência destes mártires, alguns membros da plebe rude fundam movimentos políticos libertários e iconoclastas, contra o imperador Nero, e lutas de revolução e de liberdade eclodem nos bairros pobres de Atlas e nos arrabaldes. 

Nero fica sabendo da conspiração da Guarda Pretoriana contra ele, e se vê isolado, sem poder recorrer a ninguém. No meio de sua loucura, Nero contrata um exército de mercenários que ele paga com suas economias e manda incendiar os bairros pobres da plebe rude e os bairros médios dos comerciantes e donos de guildas em Atlas, e também ordena incêndios nos arrabaldes de Atlas e também nas áreas rurais, nas plantações, na lavoura e na pecuária dos aristocratas de sangue. O caos é instaurado, e Plínio, o venerável, dá ordem aos notáveis e à toda Guarda Pretoriana e à Esquadra, agora comandada pelo almirante Estevão, que era hora de dar um golpe militar e matar Nero. Plínio, o venerável, também ordena, ex officio, em regime extraordinário, que a Guarda Pretoriana invadisse os palácios dos nobres e os exterminassem, que deveria ser um massacre, para eliminar os parasitas do sistema. O que é feito, pois no meio dos banquetes os tais nobres são expropriados e mortos a espadadas. Os poucos que sobram são enviados para as masmorras, com prisão perpétua. 

Por fim, Nero é capturado, quase na praia, em fuga numa carroça de vacas, em meio ao esterco, com cobertas e panos por cima, pois estava fugindo sendo conduzido por mercenários, ele queria ir para uma ilhota de nome Esdra, tarde demais, ele é pego e levado até Plínio, o venerável, que se autonomeou interventor do Império e que em breve teriam eleições e a restituição da ordem, e que estava dialogando com Pompeu, para a transição para a Nova República, depois da falência completa dos valores do imperialismo. 

Nero morre enforcado em praça pública, na Via Altaica, em meio a uma plebe rude agitada e que gostava de eventos sangrentos, e a morte de um imperador era um evento incrível para uns alienados de plantão, e um ajuste de contas, para quem sabia o que acontecia. Silas, um dos notáveis, num convescote de bar, no centro de Atlas, resolve, com seu grupelho, tomar o Palácio da Córsega, e Silas se intitula tirano de Atlas e da Ilha de Betume. 

Isto dura dez meses, com o interventor Plínio, o venerável, lutando contra outro pretenso governo, o do tirano Silas, o que se conclui com a derrota de Silas e de seu putsch lacônico, sendo enforcado na mesma praça da Via Altaica em que foi enforcado Nero, mais uma vez com o julgamento extra-oficial de um Tribunal Popular. Pompeu volta à Atlas em segurança, e era o favorito para as eleições, é então restaurado o Tribunal de Recursos, o mesmo não ocorrendo com o Areópago, considerado ultrapassado, a Câmara Baixa seria ocupada por civis e não mais pela cambaleante aristocracia de sangue, o Senado, obviamente, é restaurado, a Bulé, por sua vez, ganha relevância inaudita para as futuras decisões da Nova República que, por fim, elege Pompeu como novo governante da Ilha de Betume, e Plínio, o venerável, deixa seu cargo de interventor e volta ao cargo exclusivo de Pretor da Guarda Pretoriana. 


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.



  


 

 




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