Agora, que giro este estilete,
arranho com a ponta
da faca a parede mofada,
e vejo as sombras
mentirem para si mesmas
diante do espelho.
Tem este rachado na porta,
esta aranha perto
do tapete,
que piso em cima
com o chinelo.
A sensação de matar
mais um inseto
se mistura à
fumaça opiácea
de uma pandemia
sem fim.
O opróbrio vicejava
na tela da televisão.
E os sonhos diletantes
eram preparados
sistematicamente.
Vozes na minha cabeça
começavam a falar
abertamente
sobre o sacrifício,
sobre a morte
lenta, e o consumo
dos ossos e da carne
nas astúcias, com ardis
diabólicos, tocando
uma canção de trítono
no verso final,
de um dante
psicopata,
infernal,
cheio de veneno
até a medula.
Pois, no frio
e gelo das
quedas, e tais
quedas foram
tão rápidas,
que o medo
se esqueceu
de si, diante
do abismo.
Eu ouvi
este chamado
pálido, exangue,
tíbio, em que
a chuva caía
aos cântaros.
O raio e os trovões
anunciavam,
sob os sons
das guitarras,
e vocais vampirescos,
a caminhada
dentro de uma
lufada de futuro.
30/11/2023 Gustavo Bastos
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