“o mitomaníaco mente mal e o dissimulado mente bem”
Por que as pessoas mentem? Para quê as pessoas mentem? O que
significa uma pessoa mitomaníaca? E não adianta ser hipócrita e mentir que
nunca mentiu! Seria um paradoxo trágico, tal como o clássico “Epimênides, o
cretense, diz que todos os cretenses são mentirosos.”
E o contrário, quando um diz só a verdade, devemos acreditar?
Ora, a propaganda pode trabalhar só com a verdade e passar uma mensagem
mentirosa, tal como a filosofia nazista de Goebbels da repetição de uma mentira
à exaustão até que tal mentira se torne uma verdade, não é perigoso isso?
O contrário, dizer a verdade para afirmar uma mentira também
tem sua eficácia e é terrível quando não sabemos realizar a distinção cartesiana
de separar o verdadeiro do falso. Mais terrível ainda é quando a mentira vem
sob a forma indecente da dissimulação. A dissimulação é um fingimento que tem
eficácia para seus fins, ou seja, a mentira mais eficaz é aquela que vem junto
com a dissimulação. Pois a dissimulação é um disfarce da hipocrisia que tem uma
má intenção visando somente o benefício próprio ou um meio de evitar
constrangimentos que a mentira da dissimulação oculta.
Portanto, temos dois tipos principais de mentira, a mentira
do dissimulado e a mentira do mitomaníaco, a primeira com má intenção e a
segunda constituindo uma patologia. Quando falo da diferença do dissimulado e
do mitomaníaco, falo que o dissimulado é um psicopata e o mitomaníaco um
psicótico. A diferença é que o dissimulado mente com má intenção e que o
mitomaníaco mente por impulso fantasista, o dissimulado mente para obter
vantagens e o mitomaníaco mente para preencher seu vazio existencial.
Ou seja, a mentira do dissimulado possui uma maldade
pragmática que o mitomaníaco desconhece, o mitomaníaco mente mal e o
dissimulado mente bem, o mitomaníaco é ó único que acredita na própria mentira,
portanto, ele não mente deliberadamente, mas de forma inocente e inconsciente,
enquanto que o dissimulado mente de forma persuasiva, já que todo psicopata é
inteligente e consegue ludibriar as melhores cabeças, o dissimulado é um
psicopata perigoso, ao passo que o mitomaníaco é objeto de compaixão por viver
iludido, o dissimulado ilude os outros, o mitomaníaco ilude a si mesmo.
Mas, voltando à pergunta inicial: Por que as pessoas mentem?
Para quê as pessoas mentem? Muitos mentem para fugir da dor, outros mentem para
impressionar, nem todos são, então, dissimulados ou mitomaníacos, existem
muitos que mentem que não são nem uma coisa e nem outra, essas duas categorias
principais de mentirosos são apenas as mais evidentes. “O buraco é mais
embaixo”.
Muitos dizem: Os políticos mentem! Ora, mas o fato é que todo
mundo sem exceção já mentiu, é tipo o cara falando da sua primeira vez na cama,
todo homem na sua primeira vez é um furor, já viu? Enfim, mentiras e boatos, o
boato é uma mentira pública. E agora? O boato é a forma política da mentira, a
mentira pública do boato pulula em épocas de eleição, é o fulano pego de calças
curtas, é o desmentido do direito de resposta, e quem está com a verdade? Quem
é honesto nesse jogo todo? Vamos pedir piedade dessa gente careta e covarde?
O conluio da política com a mentira e com a sua forma popular
do boato impera na mídia, o vermelho diz que o azul é pilantra e vice-versa,
pergunta-se: A favor de quem? Para beneficiar quem? Voltando agora novamente às
duas categorias: O boato é objeto da dissimulação, a mitomania não tem eficácia
persuasiva, a mentira do político é a mentira do dissimulado, a política é um
meio de gente digna entre alguns ou muitos psicopatas, tenham cuidado ao votar,
o sistema é foda e não perdoa!
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : http://seculodiario.com.br/38975/14/sobre-mentira-e-politica
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