“jazzman, bluesman, guitar hero, brio todo em fera”
De olhos bem abertos, ao parque risonho em que os dentes
correm com a mente tal uma boca, o mundo ao dispor, a fome dos sóis como um
amarelo borrado em espanto, tal a hora que antes havia nos tempos de ouro, sem
dor e morte, e bate no relógio todos os dias o contorno dos corpos diante dos
faróis.
O horror de Manson, fico de frente à espada, Los Angeles, e o
Verão do Amor em San Francisco, a Swinging London, eu o mártir, estes outros
tantos, meus carrascos, a dominação do espírito, e os sinos que habitam o
tilintar dos frascos de veneno, do Bordeaux embriagado com vinhos de eternos
cantores da fábrica de Jazz.
Buda em escarlate, as damas sucintas com mentiras iluminadas,
versos que batem de frente, gritos que fogem de hospícios, que batem de frente,
que gritam odeio vocês todos, que pulam o poema com tanta febre e terror. O
rock, de dentro do coração, não sabe de todos estes esquemas que vivem de um
padrão arrotado como canções de tédio. Jesus encarna a música que habitava
Fender, luta renhida com sete chamas azuis na bruta lâmpada de Alladin. Insano!
De olhos bem abertos, ao parque das lágrimas, fantasmas de
roupa preta batem à porta, atendo um mendicante, me torno um renunciante,
flechas do torpor caem como bom soporífero, Morfeu ganha um miasma e um
hematoma, eu ganho músculos como um doutor de poesia em banho de sal, mar de
Mármara, reto e dançante, nadando para o sol tal o sonho de Ícaro. Vingue-se!
Mas, como um plácido verso, donde a pura flor emana,
detenho-me em fúria com calma, viro-me ao tempo lasso da temperatura do corpo
perfurado em tatuagens, Krishna subindo em árvores, OM transando no Mahabarata,
lento o vinho com cidades estouradas de violência, bento o dia, vertendo a
noite. Mate-me!
Eu quero a sedução da morte, a queda do véu, o desvelar de
olho com sério pensamento, que corre em fadas e vinhas tal o sonho puro de
diamante, eu quero a mortal intuição de todos os símbolos na carne, os miasmas
terríveis da dor, as cores estupefatas do amor, os linhos e as malhas de
túnicas com sabores de vento, os labores de prazer tal tear como rios de
guitarras batendo em meus órgãos, nas tripas coração de elencos de teatro, a
queda do Tártaro, o mistério dos surtos bíblicos, o Nirvana como derrota do
corpo, o fim da História como o nada místico da aniquilação, a dor remendada
com notas de dólares, Hollywood com sementes de riso na stand-up de um pendor
básico de poema roto, os mestres do universo vindos de Órion, a estrela azul da
imaginação como bom conto de prata embotada de ferrugem, aço marmóreo de toda a
força, Dismaland devastada. Verta meu sangue negro!
Prenhe de loucos a nota fria da canção, os devedores pagam
suas mulas de coca, passo à Cordilheira, jazzman, bluesman, guitar hero, brio
todo em fera, animal interno que eclode ao sucesso, prenhe a nave veneno e rumo
sem norte, o frio de escalas em harmonia, o poema que ruge com máquina de Tupã,
sempre vivo Osíris, e Tamuz, Marduc babilônio na queda dos anjos de Tiamat,
mito vertendo navegação em astrolábio, tem tudo na rigorosa moral, no sangue
puro dos éticos de dores regidas por fracassos, nas dores sentidas do palácio,
na política de títeres sem dedos, as estrelas correm em seus epiciclos, a
hipnose varia com Wundt, eu detenho-me diante da morte, caio em choro por toda
a alameda, não tenho tempo misterioso, arranco as vestes com tenazes de pecado,
com broto de bambu como último almoço antes da guilhotina, tal é vinho depois
quando estou já no céu, com meu anjinho da guarda a dar risadas de uma espoleta
de olhos vermelhos, dentro da canção está a dor profunda da vontade morte vida
que estoura os tímpanos, que morre vive com a conta paga na hora do suicídio em
vão. Música!
Leve-me ao parque, vamos brincar, cavalos coloridos,
crocodilos, elefantes, leões, o globo da morte, venha em toda a súcia de
politiquentos artistas, Demônios, Deuses, gente estropiada, a entrada é
gratuita, o céu está in love, a terra está arrasada, não há mistério, toda a
cor de vivência humilha os detentores do saber, a verdade ultrapassa todo rigor
de pensamento, o poema só estoura o que já vem bem explodido, e a vida implode
por hipocrisia, não temos nada a fazer no parque, a roda gigante é um eterno
retorno de ciclo entre fogo e água, vivo períodos de placidez e outros de suicídio,
caio em mim e saio de si, tem um Outro na vida dos loucos, a fama só resgata um
mártir depois que este já morreu. Dismaland!
O parque tem carrinhos, bebês verdes, moças amarelas, homens
de preto, carroças de algodão doce, ó leãozinho, morde meu peito! Ó girafinha,
estique o pescoço para ver, está diante do Homem, este animal feroz que habita
teu parquinho, besta-fera é esta que arma a guerra, que tem visto para o
inferno, e o céu nostálgico aparece nos sonhos de religião destes miseráveis.
Pois sim, reto o drama, existência falida, espírito inteiro, no entanto. Veja,
não há mistério, Buda sorri de uma piada infame, o poema sorri por pura
inspiração. Legalize!
Erva santa, me salve! Vou à Jamaica, passo pelo Haiti,
Dismaland é o No man`s land, Eliot sabia de Dismaland, Banksy não mostra-se
assim inteiro, venha ao parquinho comer doces de sonhos bobos, palhaços com
caras pintadas de vermelho, o inferno de Dante, a comédia de erros com idiotia
de propaganda, muita miséria de mentira, muita verdade escondida, venha ao
parquinho, andem com seus patins, deem milho aos patinhos de feira, comam a
fartar os sanduíches de carne assassinada, festa tem, bem ao gosto do público,
distinto e brilhante, o poema só dá sol a este calor de astúcia, venha à
Dismaland, olha a fera diante do carrasco, não há escape, sonhar com tudo isso
só vira poesia se o sonho não morre de inanição, a fome deste mundo é
Dismaland, bruxas de preto, feiticeiras de branco, mulheres fatais de vermelho,
e os homens azuis de desejo, os cortes de cicatrizes em seus gritos, vindos de
rinhas de macho, e com lâmpadas acesas na cabeça quando fazem a Ideia dar
errado. Venham!
(Nota: Dismaland é o centro do universo velho diante do novo
que virá, se torna futuramente a utopia da Era de Aquário, com escusas, não
entro em detalhes desta visão do futuro, pois a pena só indica que Dismaland é
a fase negra antes de uma nova fase brilhante de ciência e espírito.)
Ao coração do mundo dedico estas flores humildes.
(POEMA EM PROSA)
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : http://seculodiario.com.br/39235/14/dismaland
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