“um fenômeno que envolve satanismo no rock e na música é a
prática de rodar os discos ao contrário”
Para falar da presença do Diabo no rock, precisamos recuar um
pouco no tempo e relatar uma das primeiras histórias (ou estória?) que envolve
pactos e afins, que é a lenda em torno de Robert Johnson, este que foi um dos
músicos mais influentes do chamado delta blues.
Tendo vivido no Mississippi, Johnson é um dos músicos mais
influentes tanto para o blues como para o rock. A lenda em questão, por sua
vez, é um mito popular que afirma que o músico teria vendido a sua alma ao
Diabo, isto na encruzilhada das rodovias 61 e 49 em Clarksdale, Mississippi, entidade
que teria, então, afinado o violão do músico um tom abaixo, e com isto
consagrando Robert Johnson como uma das figuras centrais do blues, mito que foi
propagado por outro mestre blueseiro, Son House, e que tinha supostas
evidências em letras de músicas de Robert Johnson como “Crossroads Blues",
"Me And The Devil Blues" e "Hellhound On My Trail", lenda
que ficou mais famosa ainda com o filme de 1986 Crossroads, o qual descreve tal
história ou estória.
No rock, por sua vez, temos fenômenos como a música dos
Rolling Stones, Sympathy for the Devil, faixa de abertura do sétimo álbum de
estúdio da banda, Beggar’s Banquet, de 1968, música que teria sido inspirada no
livro O Mestre e Margarida, do escritor soviético Mikhail Bulgakov, e também no
poeta francês Charles Baudelaire, e que também pode ter sido em seu
instrumental inspirada numa visita de Mick Jagger a um centro de candomblé na
Bahia. Tal música que logo causou polêmica e foi motivo de várias acusações de
satanismo contra a banda.
Uma das primeiras bandas a tematizar o ocultismo no rock, por
sua vez, foi a Coven, banda formada no final dos anos 1960, cujo primeiro álbum
“Witchcraft Destroys Minds And Reaps Souls", de 1969, apresenta a temática
ocultista, muito por influência da vocalista da banda Jinx, que estudava o
tema, e caindo por fim no satanismo.
Mas a banda de rock que ficou mais famosa tanto pelo som como
pelos temas satânicos foram os fundadores do heavy metal, Black Sabbath, banda
que começou como blues rock e logo após incorporou o nome Black Sabbath,
inspirado num filme que o baixista Geezer Butler havia visto, colocando tanto o
ocultismo como o terror como inspiração para as letras e músicas que fariam a
banda uma das maiores e mais influentes da História do rock, passando a usar guitarras
com baixa afinação.
No Brasil temos a letra de Rock do Diabo, composta por Raul
Seixas e Paulo Coelho, música que foi lançada por Raul Seixas no álbum Novo
Aeon, em 1975, como uma alusão bem humorada da presença do Diabo na História do
rock, e outra banda que fez polêmica em torno do tinhoso foi a inglesa Iron
Maiden, com a música e álbum “The Number of the Beast”, controvérsia que só
serviu para alavancar as vendas do disco do Maiden.
Mas a face mais extrema do satanismo no cenário rock ainda
estaria por vir, pois tivemos uma primeira geração do metal extremo ainda na
década de 1980, com bandas precursoras do que viria a ser a vertente black
metal, bandas influentes como Venom, Celtic Frost e Mercyful Fate, que dariam
na segunda geração do black metal na década de 1990, a chamada cena norueguesa
do Inner Circle, no que esta história inocente do flerte do rock com o Diabo
começou a ficar um tanto séria, até demais.
No início da década de 1990 temos uma série de eventos na
Noruega em torno deste grupo chamado Inner Circle, pois há uma sucessão de incêndios
terroristas que tinham como alvo antigas igrejas históricas e ainda temos casos
de homicídio envolvendo alguns músicos desta cena norueguesa do Black Metal Inner
Circle. E um dos idealizadores do movimento, com a sua loja Helvete (inferno em
norueguês) era o líder da banda Mayhem, Euronymous. Por conseguinte, o chamado
Inner Circle era composto por membros das primeiras bandas de black metal
norueguês como Mayhem, Burzum, Darkthrone, Immortal, Emperor e Enslaved.
A série de eventos do Inner Circle dá uma conta macabra de 52
igrejas incendiadas, com a cena atraindo atenção massiva da mídia quando descobriram
que seus membros eram os responsáveis por dois assassinatos e vários incêndios
de igrejas norueguesas. Com a atenção da mídia, logo se descobre que tal grupo se
intitulava "The Black Circle" ou "Black Metal Inner Circle",
com visões anticristãs, como satanistas que adotavam pseudônimos e que
apareciam em fotografias usando corpse paint (pintura facial).
Por fim, em agosto de 1993 tivemos a prisão de vários dos
integrantes do movimento Inner Circle, tendo a condenação em maio de 1994 por
crimes como incêndio, assassinato, assalto e posse de explosivos. E como fatos
que marcaram a trajetória do Inner Circle temos também que em 8 de Abril de
1991, o vocalista Dead da banda Mayhem comete suicídio, em 21 de agosto de
1992, Bård 'Faust' Eithun, da banda Emperor, esfaqueia até a morte um homem gay
em uma floresta nos arredores de Lillehammer, e em 10 de agosto de 1993 o fato
que mais marcou a cena norueguesa, que foi quando Varg Vikernes, único membro
da banda Burzum, e Snorre Ruch viajaram de Bergen até o apartamento de Euronymous
em Tøyengata, no que houve uma discussão que resultou na morte de Euronymous a
facadas pelas mãos de Varg, que se autointitulava Count Grishnackh, no que Varg
Vikernes foi preso em 19 de agosto de 1993 em Bergen, que foi quando o
movimento enfraqueceu.
Para citar outro músico cuja presença satânica também é
garantida, temos Marilyn Manson, com seu álbum de 1996 intitulado Antichrist
Superstar, por exemplo. E um fenômeno que envolve satanismo no rock e na música
é a prática de rodar os discos ao contrário para ver mensagens diabólicas
escondidas nas músicas originais, que rodadas ao contrário, as revelariam, no
que temos Stairway to Heaven do Led Zeppelin, e músicas dos Menudos e da Xuxa
figurando na tal lenda, o que é uma junção de sugestão psicológica com
divertimento mórbido e mistificação.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : http://seculodiario.com.br/35826/14/o-diabo-e-o-pai-do-rock
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