Minhas raivas tão naturais,
como o ódio e a sede,
são gestos
de poema,
minha garganta,
ritmo e enfado.
Na relva, ao pé do pórtico,
eis que havia o rei
e seu súdito
nas barbas do poder.
Sutil como uma pintura evanescente,
o poeta, reles doutor das palavras,
tinha em verso o magnânimo odor,
como tinha, dentro do poema,
a flecha botânica
de mares azuis.
Tinha-se o plano desbotado
das figuras de retórica,
os retumbantes fracassos
de obras vivissecadas,
toda a montanha abstrusa
de cortesias
que ao cair do pano
o teatro
regurgitou.
Raivas em relvas ao enlevo,
elã cromado das fundas cartas
de fogueiras,
e a poesia perdida no espanto,
e o corpo mordendo a faca,
e o pouso suave
do silêncio,
e o monstro do lagar
como o denso fragmento
de um magma,
que ressuscita
pelas mãos trêmulas
que a pena
contorce
como o fim da era
espúria
destes átomos
de fome,
a secura das glândulas
que a sequiosa obra
ratificou.
07/09/2014 Êxtase
(Gustavo Bastos)
segunda-feira, 8 de setembro de 2014
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