"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo."
(Fernando Pessoa)
Serjão estraçalha os corações, pega todas, se tivesse um segundo pau comeria a si mesmo. Ontem disse que comeu dez, cinco queriam se vingar, olhou outros em volta e foi logo classificando-os por espécimes, pois ele era esperto e perfeito, nada do que existia lhe era demais, posto que ele era o maior.
Como aquele (a) da família que nem passou dos 32 anos e dizem que é solteirão (ona), ou o nerd ou o geek (e olha que agora tá na moda), a virgenzinha, a songa-monga, o tio mala, o bêbado, o drogado, o maconheiro, o pseudo-intelectual, o "CDF", a patricinha, a baranga, o idiota (Serjão) queria que tudo fosse rebaixado a seu bel-prazer, pois, vivemos no país mais "smart" do universo, tem um malandro em cada metro quadrado, um disputando com o outro pra ver quem passa a perna em mais gente, o mal do malandro é achar que o mundo é bobo, como se dizia desde o tempo do onça ...
Serjão era o rotulador-mor, seu espelho era a sua fuga, nunca amou ninguém, uma vez que seu ego nunca permitiu essa coisa de maricas que é o romantismo, pois no mundo da malandragem tudo é fake, todos são fortes, todos são invulneráveis, nunca se perdoa a falha, ali ninguém é humano, não existe amor em SP, RJ ... talvez os folhetins sejam o último refúgio de nós, os pobre-coitados e iludidos.
Bom, a vida foi passando, Serjão encontrou uma mulher espetacular, aquela seria a sua maior "tiração de onda do século", passou duas semanas e ela lhe deu um toco, para desilusão de Serjão, a mulher de seus sonhos era casada com um gordinho, baixinho e assalariado. Ele disse a ela que faria qualquer coisa para tê-la, que ele era o "coisa e tal", que tinha muito dinheiro, que seu pai tinha casa em Angra e essas coisas todas que chovem na noite das "altas". Mas a mulherona disse que era fiel, que o gordinho era o homem de seus sonhos, que não trocaria ele por nenhum outro homem. Então, Serjão ficou indignado, quase tentou puxá-la para si, mas, de súbito, a mulherona de seus sonhos começou a ter uma crise de risos, e então, Serjão saiu dali, e foi para a boate e pegou duas loiras normaizinhas e, de manhã, de porre, guardou aquele mico para si mesmo, seus amigos nunca souberam dessa "falha". E então, Serjão continuou com a sua vidinha de xingar os outros e se divertir com os espécimes criados de sua cabeça, e o rótulo de ter perdido um mulherão para o gordinho nem passava pela sua cabeça, ele nunca entendeu aquela mulher, para ele não passava de uma louca.
A vida burguesa continuou, inabalável, todos os perfeitos desfilavam com seus carrões, o teatro de quem tinha a pica mais grossa virou um campeonato praticado pelos melhores, e enquanto isso o gordinho comia sua mulherona e nunca disse isso para ninguém.
04/09/2013 Crônica
(Gustavo Bastos)
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