A vida não é para
principiantes, definitivamente. E quem acha que pode passar incólume se enganou
feio. Os perigos estão aí, e que sejam bem vindos todos os perigos, pois eles
nos fazem fortes, nos jogam no circuito vivo de que nem tudo se controla,
planejamos coisas, mas nem sempre elas dão certo, ou ainda não deram certo. O
erro é o instrumento da sabedoria da vida para nos ensinar a sermos mais
tolerantes, mais moderados, mas isso, meu caro, vem com a experiência. Vejo muita
gente madura de pouca idade e muita gente infantil de muita idade. O tempo de
vida biológico não credencia ninguém à adaptação ao mundo, não que tenhamos que
nos adaptar para agradar os outros ou que seja o caso de adaptar-se, a questão
é mais profunda, que queiramos crescer e
tomar as rédeas da própria vida, o que não é tarefa fácil, adaptar-se ou não é
questão de escolha, e aceitar o mundo e enfrentar os “perrengues”, aprender com
as porradas que, vira e mexe, a vida nos dá, é um bom exercício de
fortalecimento do tônus vivencial. O conhecimento, a vivência e a experiência,
é esta tríade que diferencia os fortes e corajosos das crianças que sonham sem
sair do lugar, “deitadas eternamente em berço esplêndido”.
Se alguém lhe nega
algo porque não pode lhe dar este algo, até por que este alguém não tem o que
você quer, a criança sonhadora, que vive na lua, demora a acordar, mas o
despertar é necessário. Não estamos no mundo para passear no jardim das
delícias, não estamos, nesta vida, num jardim de lazer. É preciso estar atento
e forte, não temos tempo para este culto da mediocridade, da vida superficial,
da zona de conforto que nos torna uns bundões e que, à primeira desdita, culpa
o céu e a terra e, pior, os outros, pois esta pessoa não reconhece o próprio
fracasso, os próprios erros, e acha que o outro, que não lhe deu a felicidade
plena, quanta audácia, é culpada de todo infortúnio de que ela é vítima. Não
temos tempo para príncipes encantados ou princesas encantadas, não temos tempo
para dar a troco de nada, não somos a tábua de salvação de gente que não quer
crescer.
Muitas vezes a
criança sonhadora demora a entender, culpa os outros, acha que está certa em
seu desatino, mas um dia, depois de muita porrada, a criança passa a entender
que é ela e não os outros é que tem que tomar conta de si, não é fácil, mas
temos que tentar, e saber que a vida não é vivida na zona de conforto, de que
querer no outro o seu sentido, do querer viver a vida do outro, numa obsessão
que não tem fim, não é o caminho do que chamam de sábio, então é hora de mudar,
mudar a conduta, mudar o pensamento, e mudar, sobretudo, as atitudes. Ninguém
quer uma pessoa que não quer nada com a hora do Brasil por perto, a virtude da
vida é ter com o que compartilhar, e não sugar a energia dos outros de forma
desleal. É, então, a hora da grande mudança, da grande revolução, de sorrir sim,
mas de ter postura séria quando o assunto é a própria vida, a construção de seu
próprio destino. Aí é a hora do primeiro
passo rumo à maturidade, bem vindo à vida adulta.
A sabedoria é um
exercício diário, o entender o espaço do outro, o respeito pela vida do outro,
o não confundir um gesto educado e gentil com disponibilidade a qualquer hora.
A vida é um caminho árduo, a vida é dura sim, muito dura, mas também é doce, e
sua doçura maior vem quando sabemos que estamos tentando, de que estamos no
caminho certo, caminho de crescimento, caminho de luz, libertação das velhas
ilusões e um bem viver que não é do bon vivant, mas do que luta, e que na luta
pela própria vida, de seu lugar no mundo para ser no mundo, no incremento de
seu ser, no leque cada vez maior das percepções, em ser agradável às pessoas
sem querer agradá-las, mas em ser agradável por estar crescendo, se
incrementando, buscando o entendimento da vida, é então a conquista da sabedoria de saber que a senda
universal do ser humano é dura, mas que a vida pode ser maravilhosa, como diz o
poeta.
30/04/2012 REFLEXÕES
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
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