O claro nu da paisagem
é a minha metamorfose.
Eu vi crianças no pátio
com as janelas do salão,
vi cidades desconhecidas
no meu plano concreto
de arquiteturas,
sonhei uma arte barroca
revestida do neon
da pós-modernidade.
A voz rouca depois
de uma bebedeira,
um choro desesperado
de saudade,
um grito incontido
no escuro,
eram os meus poemas
naquela noite
da cidade alta,
era a noite
da minha alvorada.
Cobri o espaço determinado
pelos meus poemas
com neve,
resisti ao sol inconteste
de um verso
pedindo socorro,
resolvi amar
sem saber de nada,
amei os porcos, os assassinos
e os poetas,
amei a porta de saída
e a claustrofobia,
amei os rios e os mares,
amei a loucura e o álcool.
Nas trevas de um sonho malsão,
o vinho pagão
era de boa safra,
a comida era quente
e alimentava
mais a minha verdade.
Num dia completamente
absurdo,
andei pelas ruas ocas
depauperado,
sujo,
com andrajos
de uma derrota
severa,
com o pouco de esperança
que ali agonizava
num canto escuro
de uma câmara.
Andei por todos os lados
até encontrar o meu corpo
no silêncio,
e vi a chuva torrencial
apagar os meus olhos.
06/03/2012 A Lírica do Caos
(Gustavo Bastos)
Adélia Prado Lá em Casa: Gísila Couto
Há 5 semanas
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