A casa mal amada dos olhos meus
está na neblina do olvido.
Quero ferir o coração
em tenebrosa nuvem escura,
e dardejar o pranto
com o eclipse do tempo
mal contado do relógio.
Sou o trigo desta terra bendita.
Caio num sopro pelo infinito
de navios e cais.
Tenho em minha varanda
o sol sempre sonoro
de uma lama vermelha
do crepúsculo final.
O ventre de uma vil fêmea
não me fez alegre e nem homem
viril.
Sou vítima do ardil suicida
da tempestade da bomba,
um serviçal do agouro
para a metafísica das sombras,
o exílio fumegante
da dor carnal esquartejada
pelo ódio dos soldados
ao pé da montanha negra
dos meus ares imaginários.
Cada queda fazia o meu poema,
e eu vivia de onde o mar era oceano.
Pelo canto fatal eu não dormia,
e era a manhã de um cinza pálido
que depois a aurora cobriria
de arrebol em todos os lares,
e as antenas e satélites
tomariam fôlego
para a imagem etérea do dia
e o fim funesto da noite.
Eu queria como queria deitar
na várzea sob um signo de espanto,
e matar os bois para um apetite
devorador e eterno.
Não terei que me fazer poeta
por estes estertores e devaneios,
sendo isto, a sombra transcendente,
o meu silêncio para o nada.
Desta casa e desta varanda,
sonho com um coração imenso
donde se tem uma visão da praia
em que posso beijar o mar,
e deste imenso da imensidão,
mergulhar para o profundo
do qual ninguém sabe voltar.
07/06/2010 Gustavo Bastos
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