PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

VIAGEM PARA O FUNDO

A casa mal amada dos olhos meus

está na neblina do olvido.

Quero ferir o coração

em tenebrosa nuvem escura,

e dardejar o pranto

com o eclipse do tempo

mal contado do relógio.



Sou o trigo desta terra bendita.

Caio num sopro pelo infinito

de navios e cais.

Tenho em minha varanda

o sol sempre sonoro

de uma lama vermelha

do crepúsculo final.



O ventre de uma vil fêmea

não me fez alegre e nem homem

viril.

Sou vítima do ardil suicida

da tempestade da bomba,

um serviçal do agouro

para a metafísica das sombras,

o exílio fumegante

da dor carnal esquartejada

pelo ódio dos soldados

ao pé da montanha negra

dos meus ares imaginários.



Cada queda fazia o meu poema,

e eu vivia de onde o mar era oceano.

Pelo canto fatal eu não dormia,

e era a manhã de um cinza pálido

que depois a aurora cobriria

de arrebol em todos os lares,

e as antenas e satélites

tomariam fôlego

para a imagem etérea do dia

e o fim funesto da noite.



Eu queria como queria deitar

na várzea sob um signo de espanto,

e matar os bois para um apetite

devorador e eterno.



Não terei que me fazer poeta

por estes estertores e devaneios,

sendo isto, a sombra transcendente,

o meu silêncio para o nada.



Desta casa e desta varanda,

sonho com um coração imenso

donde se tem uma visão da praia

em que posso beijar o mar,

e deste imenso da imensidão,

mergulhar para o profundo

do qual ninguém sabe voltar.



07/06/2010 Gustavo Bastos

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