XI – DOS CAMINHOS POR SE FAZER
É como num raro silêncio que adormece a alma,
Que a pele translúcida dos sentidos vagueia,
Sob luzes da lamparina afogando certezas
Antes úteis à erudição, questões de suma importância
Como que defronte aos cadeados da cegueira.
Estive no Alto Plano do Criador.
E uma densa nuvem de concertos me livraram
Por um tempo da maldição kármica – o existir -,
Tal ponto grotesco e ermo no qual o rio passa,
E como ele eu queria passar,
Desaguando no mar como que libertando-me,
E as tarefas cotidianas que eu havia feito
E que não supriram o meu coração,
Estando como cadáveres deslizando
Entre masmorras, e eu deixando-os vagos e mortos,
Cadáveres de um cego fantasma uivante
Que não olhou à Luz Infinita,
Por estar cego e com medo de cegar-se,
Por estar trancado no ermo encontro
Dos que jamais se encontram.
Pois esquivei-me um dia do amor pelas criaturas,
Se estas são criaturas divinas,
Por tê-las tido como empecilhos
Ao meu náufrago silêncio
De noite sem aroma,
E com a alma desinteressada
Sob a noite sem aroma.
Estive a esquivar-me dos sóis
Que hei de vê-los em caridade,
E a formosa candura tive de perdê-la
Em momentos vagos, caminhando por aí,
Como um sujo insultando o mundo,
Que da missão de Deus esquivou-se.
(Ele, que a mim confiou todo o amor).
Me vi entre os murmúrios e as súplicas
Dos infernos em que moram os excomungados,
E os admirava, e me envaidecia de minha
Tão desumana condição de submisso
Ao baixo gosto das trevas.
Eu, tão baixo e mesquinho, que nem num pranto
Me forjaria um novo homem,
Não tive à minha oferta uma bondade.
E que sei eu de bondade?
Que sei eu do amor?
Não sei. Na verdade, pouco posso intuir
De bondade e de amor, ao que devo dizer
Serem ações radicais,
E dito assim se medem pela coragem
De fazer-se bom e amante.
Jamais soube que o fim da longa noite
Se doura no sol da aurora,
E que imagina um tempo sem atrasos,
Como se minha alma não quisesse
Mais esquivar-se, das outras vezes
Do que me esquivei.
A Luz Infinita provocando o sol
Que há no coração do destemido,
Pronto estou no silêncio pleno
De um Absoluto que jamais se deu
O nome ou o rosto,
Que do filho ilustre um dia fez o sacrifício,
E que por ocultar-se de mim e de todos,
Fez do dever de servo
O meu simples sorriso
De querer-me Nele,
Tal o firmamento que eu procurava.
A Luz Infinita, o Eterno, o Uno,
Seja qual for o que se é como Absoluto,
Seja o Pai ou seja um sem nome que for,
E de quais nomes que for,
Este Transcendente ou Ser-de-si-para-o-mundo,
Dará a mim, pobre alma,
Um retorno ao olho certo do Destino,
No qual já não sou o cego, mas o que vê.
Quem sou eu?
Há 2 semanas
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