“Bannon viu grande perspectiva nas comunidades de jogos online”
Em relação a Stephen Bannon, o fundador do Breitbart, Andrew Breitbart, se referia a ele como a “Leni Riefenstahl do movimento Tea Party”. Este movimento político, de direita e conservador, atuou junto ao parasitismo de Bannon na democracia norte-americana, em que o dito cujo assumiu a direção do Breitbart, depois da morte por infarto de Andrew em 2012. Neste contexto, o ex-editor do Breitbart, Ben Shapiro, chamou Bannon de valentão, e que pegou o legado de Andrew e transformou em apoio político a outro valentão de ginásio, Donald Trump.
Antes de Bannon se aproximar de Trump, ele investiu nas lideranças mais tradicionais do Partido Republicano, apoiando figuras como Ted Cruz, Ben Carson e Rand Paul. Bannon foi financiado por Robert Mercer, um bilionário que tinha relações com a Rússia, e que tinha investido no Breitbart e na Cambridge Analytica, e entrou com um financiamento de guerra de informação para atacar Hillary Clinton.
Trump entrou para o programa de propaganda do Breitbart. Bannon, por sua vez, recebeu apoio de Mercer para se tornar o CEO da campanha de Trump em agosto de 2016 para a presidência dos Estados Unidos pelo Partido Republicano, que acabou sendo tomado por uma candidatura fora da curva, um outsider, que cresceu nas prévias do partido, e deixou lideranças bem cotadas como Ted Cruz, para trás.
Bannon ocupou um cargo inventado para ele no governo Trump, e depois rompeu com o mesmo, depois de comentários feitos por Trump no livro de Michael Wolff, Fogo e Fúria. “Sloppy Steve” passou a ser a alcunha dada por Trump para Bannon depois de eles romperem.
Stephen Bannon, depois de passar quatro anos na Marinha, recebeu um MBA em Harvard, teve passagens pelo Goldman Sachs, na mídia de entretenimento, auxiliando na produção da série Seinfeld, e depois seguiu produzindo documentários que faziam propaganda do Tea Party e de Sarah Palin. Depois de sua passagem pelo entretenimento, Bannon viu grande perspectiva nas comunidades de jogos online.
Bannon percebeu que lá havia membros de homens brancos que poderiam possibilitar a criação de um exército de sociopatas, que agora são chamados de incels, os celibatários involuntários, que remete a um ressentimento social e sexual, de homens tíbios e frustrados, que acabam indo para caminhos de misoginia, ofensas a minorias e com todo tipo de perversões, incluindo pedofilia e demais crimes virtuais. Isso, segundo Bannon, poderia favorecer a política conservadora outsider, que tinha na figura de Trump a sua versão carismática e populista, o objeto do culto de personalidade que este tipo de movimento necessita.
O Gamergate foi uma das consequências do estímulo para tais comunidades de jogos online, uma vez que resultou do fato da desenvolvedora de jogos de nome Brianna Wu ter sido vítima de ódio por parte de grupos de jogadores, com ameaças de estupro e de morte. Brianna Wu caracteriza o Gamergate como uma guerra total que se torna o 8 chan, e que, por conseguinte, chega até o surgimento do movimento QAnon, que vive de teorias conspiratórias e fake news para distorção dos fatos e da realidade e alienação de incautos.
Bannon, já depois de sua ruptura e saída do governo Trump, funda o “The Movement”, que passa a atuar na Europa, fomentando grupos de extrema direita no continente, e reunindo interesses e figuras de proa de ideologias reacionárias de direita para juntar forças e organizar a extrema direita num nível internacional.
Bannon, por sua vez, realizou viagens pela Europa, para fortalecer laços com lideranças de orientação extremista de direita e para expandir suas redes pelo continente europeu. Conexões novas surgiram, o que pode ser exemplificado no surgimento de Giorgia Meloni, chefe do Partido neofascista Irmãos da Itália, que veio como uma candidata outsider, e que se elegeu na Itália, desbancando lideranças de partidos mais tradicionais do país.
A parte de operações de inteligência na Europa para tais candidaturas populistas e outsiders de extrema direita passava por apoio logístico em tarefas como pesquisas, análises de big data, orientações de gestão política, dentre outras técnicas e know how, parte devido a experiência de Bannon que tinha ocorrido na agora invalidada e extinta Cambridge Analytica, da qual fora o co fundador.
Outro meio, e que foi efetivo para a eleição de Meloni na Itália, por exemplo, foi o intenso e massivo uso das redes sociais, algo que a extrema direita saiu na frente da esquerda tradicional, que ainda ficou apegada a jargões e palavras de ordem que eram mais cacoetes e tiques do que algo que ainda tinha efeito na política real do terceiro milênio e da internet.
Meloni afastou, de modo sutil, a sua imagem do neo fascismo, saindo do isolacionismo e voltando-se para valores da União Europeia, e com isso sacando a candidatura de Matteo Salvini, que se viu abandonado pela mídia italiana, ainda tomado por sua associação a figura de Putin e sua guerra expansionista nostálgica.
Meloni, já como governo, manteve, por exemplo, um ultratradicionalismo, como política interna, se comparando a setores radicais do Partido Vox da Espanha e do Partido Republicano norte-americano, por exemplo. E isso tudo sendo efeito da influência de Bannon na ascensão de Meloni.
Tal dianteira da extrema direita na técnica de política eleitoral, por sua vez, se deu mundialmente, e também aqui no Brasil, sobretudo na eleição de Jair Bolsonaro em 2018. O uso hipnótico do termo “mito”, somada às hostes das redes sociais, teve um efeito avassalador, enquanto outras candidaturas dormiam no sono analógico dos lugares comuns de uma campanha em moldes tradicionais.
(continua)
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/stephen-bannon-e-o-neofascismo-ii
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