“o fim da fronteira entre virtual e real”
Mesmo com uma expansão ainda incipiente da nova tecnologia
5G, que vem para instalar a internet das coisas em muitos lugares do mundo, já
existe uma pesquisa que avança na direção do 6G, que deve ser ativada em torno
de 2030.
Temos iniciativas como a da Apple, que já faz estudos com
engenheiros contratados, nas áreas de sistemas sem fio, rumo a uma
independência tecnológica da empresa, que hoje possui modens 5G projetados pela
Qualcomm.
A Samsung, uma das concorrentes da Apple, divulgou em julho
de 2020 um documento detalhando estratégias para o 6G, uma rede que poderia
atingir velocidades bem maiores que a do 5G, pois a empresa sul-coreana espera
ter uma rede cuja latência seja de 100 microssegundos.
Tal velocidade de conexão causará uma transformação completa
em tecnologias de realidade estendida, como as de realidade virtual, aumentada
ou mista, inteligência artificial, hologramas, também com avanços na medicina,
na educação, na indústria cultural e na indústria produtiva. A Samsung espera
concluir este projeto até 2028, quando se tornará comercial.
Pesquisas também são feitas pela Huawei e Xiaomi, e na China
os resultados dos estudos apontam para uma rede 6G que poderá atingir uma
velocidade 8 mil vezes mais rápida que a do 5G. O Japão também entrou nesta
corrida, anunciando um investimento de U$2 bilhões, numa parceria com a Toshiba
e a operadora NTT Docomo.
Um dos objetivos dos japoneses é o registro de patentes
quando as empresas começarem a desenvolver softwares e hardwares conectadas ao
6G. A LG também já iniciou as pesquisas em 6G, enquanto a FCC, equivalente
norte-americana da Anatel, abriu as frequências entre 95 GHz e 3 THz para fins
experimentais.
Na Europa, por sua vez, temos um projeto comandado pela
finlandesa Nokia, o programa Hexa-X, iniciado em janeiro deste ano, com o
objetivo de realizar pesquisas para viabilizar as bases de criação desta
tecnologia e os fundamentos para a implementação do 6G. O plano de velocidade
da Nokia, contudo, é menos ambicioso, em comparação à meta chinesa de atingir
uma tecnologia 6G de 1TB (terabyte) por segundo.
Em virtude desta previsão de uma velocidade de conexão sem
precedentes, tal instalação do 6G terá um desafio de lidar com uma estrutura
física com a expansão de uma rede com frequência altíssima na faixa dos
terahertz (THz), um grande desafio para os engenheiros, pois implicaria em
instalações mais numerosas de antenas com alta frequência e menor capacidade de
cobertura, pois um sinal na casa dos terahertz cobrirá apenas um raio de 10
metros.
Será necessária a criação de uma nova tecnologia de
amplificação de sinal, então, para evitar esta grande concentração de antenas.
O consumo de energia também terá que ser solucionado, relacionado a novas
tecnologias de materiais e de chips para viabilizar comercialmente e
ambientalmente o 6G, pois as empresas terão que pesquisar muito para poder
produzir novas tecnologias de processadores, componentes, fornecedores de
energia, antenas e retransmissores, criando esta infraestrutura para o 6G.
Ainda não há uma previsibilidade exata das aplicações e
consequências do 6G, dando azo à imaginação digna de ficções científicas, as
comparações possíveis no momento são com as perspectivas já apresentadas e
palpáveis do que se espera da internet das coisas com o 5G.
No caso do 5G sua instalação generalizada irá produzir
dispositivos instalados em carros, drones, eletrodomésticos, equipamentos
urbanos, projetando cidades inteligentes, com auxílio da inteligência
artificial em sua aliança à rede sem fio, servidores remotos, edifícios,
relógios, sensores nas roupas, casas inteligentes, trânsito e segurança. Toda
uma gama de aplicações que já são visualizadas pela internet das coisas do 5G.
O 6G, se é possível fazer uma boa previsão, seria a
radicalização do que seria uma cidade inteligente, ficando ainda no campo da
fabulação as implicações que virão sobre a realidade estendida. Tudo o que
ainda podemos tentar imaginar sobre um 6G em ação, vem das perspectivas que
começarão a acontecer com a instalação generalizada do 5G.
Uma das implicações possíveis do 6G, ainda sem uma previsão
factível, seria a da produção do que chamam de metaverso, que é um universo
digital imersivo, interativo, com alto grau de realidade, com aplicações de
realidade aumentada, virtual e da inteligência artificial.
O metaverso, então, seria a produção de um universo digital
imersivo que implicaria em um espaço compartilhado coletivamente na web, com
experiências físicas recriadas no ambiente digital, com relações offline e
online ao mesmo tempo, provocando, enfim, o fim da fronteira entre virtual e
real, eis o metaverso.
Portanto, podemos imaginar, guardadas as proporções, o
metaverso como um tipo de “matrix”, um ambiente em que distâncias geográficas
desapareceriam, criando novas relações de trabalho e de vida social, rompendo
com a lógica binária das atuais videoconferências, que se intensificaram com a
pandemia, pois nestas há dois momentos, primeiro, a duração da transmissão, segundo,
a vida fora dela, offline.
No caso do metaverso esta interação entre virtual e real
seria permanente, um mundo em que tudo estaria tomado por realidade aumentada,
virtual e inteligência artificial, em meio ao mundo físico e natural. As
interações romperiam com a lógica binária ainda vigente entre online e offline.
O metaverso é uma manifestação em crescimento da internet 3.0,
esta que sucederá a atual internet, e a definição deste metaverso dependerá
desta nova tecnologia web e seu desenvolvimento concomitante com a expansão e
aplicações do 5G e da nova tecnologia do blockchain.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/metaverso
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