“LaVey se tornou uma das figuras mais importantes da cultura popular satânica.”
Os temas que dominaram as bandas de black metal dos anos 1990
tiveram uma de suas origens no que já era tematizado pela banda de hard rock
setentista Led Zeppelin, este fascínio de Jimmy Page por Aleister Crowley e o
ocultismo terá eco em algumas destas bandas mais satânicas que surgiriam anos depois.
Eventos como a banda Led Zeppelin realizou em locais como
cavernas subterrâneas que haviam sediado ritos satânicos feitos perpetrados por
Sir Francis Dashwood, dois séculos antes, junto com o seu clube, o chamado
Hellfire Club, simulando uma Missa Negra, em um lançamento de álbum, seriam o
prenúncio da influência cada vez maior de ideias e temas ocultistas e satânicos
nas bandas que viriam a surgir.
Os temas de terror, por sua vez, viriam a dominar o início da
carreira da banda Black Sabbath, considerada pela maioria dos críticos e pelo
público, como a banda inaugural do heavy metal, indo além do hard rock,
desacelerando a base do rock baseado em blues, num andamento arrastado e
pesado.
O Black Sabbath rompe com a alegria florida de paraísos
artificiais da era hippie, uma banda de rapazes que vinham da cidade industrial
de Birmingham, dominada por uma espécie de niilismo cinza. Membros da banda
que, por sinal, estariam condenados para sempre a trabalhar nestas fábricas,
com pouco dinheiro, se não fosse o sucesso que atingiram com o Black Sabbath.
Tivemos outras duas bandas ocultistas e satânicas quase
contemporâneas do Black Sabbath, bandas mais obscuras como Black Widow e Coven.
A banda inglesa Black Widow lançou três álbuns de hard rock entre 1970 e 1972,
em shows que tinham a canção “Come To The Sabbath”, com um espetáculo de
sacrifício ritual de mentira.
A banda Coven, por sua vez, tinha um som semelhante a bandas
do fim dos anos 1960, como Jefferson Airplane. Coven que tinha a vocalista
Jinx, e um homem chamado Oz Osbourne, com a música de abertura de seu debut, o
álbum “Witchcraft : Destroys Minds And Reaps Souls”, chamada Black Sabbath,
levantando muitas coincidências com a banda fundadora do heavy metal, comandada
pelos riffs matadores e canônicos de Tommy Iommi, o Black Sabbath.
Este debut da banda Coven se encerra com uma Missa Negra de
treze minutos, e temos o alerta da capa interna que nos diz : “Do nosso
conhecimento, essa é a primeira Missa Negra a ser gravada, seja por escrito ou
em áudio. Ela é tão autêntica quanto centenas de horas de pesquisa em todas as
fontes conhecidas puderam fazê-la ser. Nós não recomendamos o seu uso por
ninguém que não estudou profundamente a magia negra e está ciente dos riscos e
perigos envolvidos”.
Em Lords Of Chaos, podemos ler : “Apesar de ser uma banda
obscura, o álbum Witchcraft foi marcante o bastante para ser descoberto por
alguns dos mais importantes músicos satânicos dos últimos anos, o que ilustra
mais um elo no continuum do rock demoníaco ao longo das décadas.
King Diamond, o vocalista e principal motor por detrás do
Mercyful Fate, uma das mais importantes bandas abertamente satânicas do metal
dos anos 1980, admite que sofreu influência dramática de um show do Black
Sabbath que ele assistiu quando criança no seu país, a Dinamarca, em 1971. Ele
também diz ter encontrado inspiração na vocalista do Coven, Jinx”.
Anton Szandor LaVey, por sua vez, fora do campo exclusivo da
música, foi o fundador da chamada Igreja de Satã, a primeira igreja satanista
oficial, fundada em Walpurgisnacht, em 30 de abril de 1966. LaVey, que foi
artista circense, fotógrafo policial, organista de burlesco e, finalmente,
ocultista. LaVey se tornou uma das figuras mais importantes da cultura popular
satânica.
Os fundamentos filosóficos desta igreja de LaVey não eram de
blasfêmias infantis, de um satanismo de desenho animado, mas ligado à uma ética
nietzschiana de um desenvolvimento anti-igualitário do homem como um deus na
terra, rompendo as barreiras impostas pela moral cristã. A mídia focou nesta
Igreja de Satã, e logo LaVey ganhou notoriedade. Em 1968, LaVey lançou o LP
“Satanic Mass”, que veiculava uma Missa Negra em seu vinil.
LaVey explica : “Eu não acho que ele foi lançado
originalmente como propaganda, mas sim para esclarecer as coisas a respeito do
que é uma Missa Satânica, a distinguindo de uma Missa Negra, esta que é, é
claro, apenas uma inversão do rito cristão. Era também uma oportunidade para
alcançar um certo elemento naquela época.
A gravação foi feita ao vivo com diferentes faixas – ela foi
gravada da forma que foi apresentada. Mas eu acho que você pode dizer que
acabou virando propaganda (...) ele foi posteriormente distribuído por Lyle
Stuart (o distribuidor) e Howard Hughes bancou parte dele. Ele era bastante
solidário com o que estávamos fazendo”.
Em Lords of Chaos, segue o tema LaVey : “Após a cerimônia da
“missa”, o lado B do álbum também tinha uma série de declarações satânicas de
LaVey, recitadas sobre Wagner e outras trilhas sonoras bombásticas. Esses
textos eram pedaços de ensaios de LaVey que posteriormente formariam o
esqueleto de seu infame livro “A Bíblia Satânica”, que apareceria em 1969.
Sendo o único manual de pensamento abertamente satânico a ser
amplamente distribuído entre as massas (...) o livro inevitavelmente
influenciou os mais proeminentes músicos de rock que estavam explorando temas
de demonismo e ocultismo nas suas personas, canções e shows ao vivo”.
Aqui temos um panorama da influência e desenvolvimento do
ocultismo e do satanismo no rock e na cultura, bandas seminais como Black
Sabbath, mais obscuras como a Coven, aparecem nos mesmos anos da pregação
filosófica de LaVey, e o que era um fetiche em torno de Aleister Crowley, se
expande, e a figura de LaVey cresce como um vetor contemporâneo do que fora
Crowley em outra época.
Link recomendado : Coven – Black Sabbath : https://www.youtube.com/watch?v=UA5HK-cfJ-M (imagens do filme dinamarquês Häxan
: A Feitiçaria Através dos Tempos, de 1922, do diretor Benjamin Christensen).
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/cultura/lords-of-chaos-a-sangrenta-historia-do-metal-satanico-underground-parte-iv
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