“O caso de George Floyd não é um caso isolado”
O relato sobre George Floyd começa com uma nota falsa de US$
20 em um supermercado, e que tem como resultado a morte de George por asfixia
por policiais brancos, como se sabe, George Floyd era negro, e isso despertou,
mais uma vez, a estrutura racial da nação norte-americana e o racismo policial.
George tinha 46 anos, preso pela polícia em Minneapolis, Minnesota, nos Estados
Unidos.
O azar da polícia de Minneapolis foi que o crime de morte por
asfixia foi filmado e o vídeo viralizou, pois neste vídeo aparece um policial
branco, Derek Chauvin, com o joelho sobre o pescoço de Floyd, enquanto ele está
algemado e de bruços no chão. Chauvin foi finalmente preso, acusado de
homicídio, e a morte de George Floyd foi o estopim de novos protestos e de uma
convulsão social nos Estados Unidos.
O caso começa quando um funcionário da Cup Foods, um
supermercado em Minneapolis, reportou uma nota falsa de US$ 20 à polícia, e o
funcionário acreditava que o dinheiro que George Floyd tinha usado para comprar
um maço de cigarros era falso. Na ligação para o 911, do serviço de emergência
dos EUA, o funcionário disse que George Floyd não queria devolver o maço de
cigarros, depois que o funcionário viu que a nota era falsa. Logo dois
policiais foram ao local, e um dos policiais ordenou que Floyd levantasse as
mãos. E Floyd estava sendo preso por usar dinheiro falso.
Floyd, segundo o relatório policial, ofereceu resistência à
prisão e foi imobilizado, e neste momento, Chauvin chegou ao local, e com
outros oficiais, tentou colocar Floyd na viatura, Chauvin puxou Floyd do banco
do passageiro, Floyd foi colocado por ele no chão, e ainda algemado, Floyd
começou a ser asfixiado e proferiu a frase que ficou conhecida no mundo inteiro
: "Não consigo respirar".
Chauvin colocou o joelho esquerdo entre a cabeça e o pescoço de
Floyd. "Não consigo respirar", dizia Floyd repetidamente. A cena
durou quase nove minutos. Em 6 minutos desta cena abominável, Floyd já se encontrava
desacordado. Depois, quando as testemunhas pedem que os policiais verifiquem
seu pulso, Floyd já não tinha batimentos cardíacos, e então ele é levado de
ambulância ao Centro Médico do Condado de Hennepin. Floyd é declarado morto
quase uma hora depois.
Os Estados Unidos passam por uma onda de protestos das mais
intensas desde as manifestações que ocorreram após o assassinato de Martin
Luther King Jr., o líder negro dos direitos civis, em 1968. As manifestações
provocadas pelo caso de George Floyd se estendeu por mais de 75 cidades dos
Estados Unidos, destas, em mais de 40 cidades, as autoridades decretaram o
toque de recolher.
O caso de George Floyd não é um caso isolado, pois nos
Estados Unidos as comunidades negras estão sob constante vigilância policial.
Os negros nos Estados Unidos têm 3,5 vezes mais chances de serem mortos por
policiais do que brancos em situações em que não há ataque ao policial ou porte
de armas.
Desde segunda-feira, dia 25 de maio, no dia em que George
Floyd foi assassinado, milhares de pessoas estão indo às ruas diariamente para
protestar contra a morte dele, e nos últimos dias a violência entre
manifestantes e policiais aumentou e, por sua vez, o presidente Donald Trump
reagiu muito mal aos protestos, dizendo sobre enviar as Forças Armadas às ruas
para conter os protestos. As manifestações que se espalharam pelos Estados
Unidos envolvem agora danos a edifícios públicos, saques de estabelecimentos
comerciais, além do toque de recolher já citado, e alguns governadores recorreram
à Guarda Nacional.
Trump pode evocar o uso das Forças Armadas para conter
protestos, devido a uma Lei de Insurreição criada em 1807, a qual prevê o
recurso ao Exército em casos de extrema gravidade e ameaça de ordem pública.
Esta é uma lei federal que, nos últimos 200 anos, passou por mudanças e
emendas. Esta lei, para ser evocada, depende de certos requisitos, e no caso do
governador de um Estado, a lei é ambígua, no caso de solicitação ou não por
parte deste de ajuda federal. Trump, no entanto, disse que se os governadores
não controlassem os protestos, recorreria ao Exército, contudo, não emitiu um ultimato.
Em Washington, na capital dos Estados Unidos, houve protestos
em frente à Casa Branca, no domingo se viu uma das noites mais violentas desta
onda de manifestações pelos Estados Unidos, milhares de manifestantes se
aproximaram da residência presidencial, e foram lançados gás lacrimogêneo
contra os manifestantes, e por volta de meia-noite se viram incêndios a pouca
quadras da Casa Branca.
Em Minneapolis (Minnesota), milhares de pessoas interrompiam
a rodovia interestadual 35, neste último domingo, quando um caminhão avançou sobre
as pessoas, causando tumulto e pânico. Derek Chauvin, o assassino de George
Floyd, acabou sendo transferido da prisão do condado de Hennepin para a
penitenciária estadual de Oak Park, pois havia um grande número de
manifestantes detidos que estão na prisão de Hennepin.
Los Angeles também teve distúrbios com desdobramentos que não
se viam lá desde a morte de Rodney King, em 1992, com cenas de violência e
saques. Na localidade de Santa Monica, enquanto havia protestos pacíficos, de
um lado, se via um grupo que invadiu lojas de um shopping dos arredores, o Santa
Monica Place, aonde se quebraram vitrines, e algumas pessoas saíam com
mercadorias. Houve a perseguição e a prisão dos manifestantes violentos e dos
saqueadores.
Na Prefeitura local havia uma barreira de blindados militares
da Guarda Nacional, numa cena histórica, e um grupo de 200 pessoas estava
protestando em frente à escadaria. Os agentes foram insultados, e Monica
Sinclair, de 29 anos, dizia junto ao cordão de isolamento policial que o grupo ficaria
ali por toda a noite. Em Birmingham (Alabama), os manifestantes derrubaram uma
estátua confederada.
Em Nova York, por sua vez, houve manifestações que passaram
pela ponte do Brooklyn, com confrontos que interromperam temporariamente as
pontes que dão acesso a Manhattan, houve um pequeno incêndio numa rua e
incidentes como saques nas lojas do bairro do Soho. Em Atlanta, por fim, aonde manifestantes
vandalizaram a entrada da sede da CNN, nova cenas ocorreram, com o lançamento
de gás lacrimogêneo, e com dois agentes demitidos por uso excessivo da força.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/racismo-e-antirracismo-parte-i
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