“Outra teoria é a de que o 5G aumenta a velocidade do
contágio do coronavírus”
Após o surto do coronavírus se iniciar, também começaram a
ser produzidas as teorias da conspiração tanto sobre a origem do vírus, como
supostos tratamentos e curas. Circularam na internet diversas teorias, das mais
estapafúrdias às mais criativas, e muitos incautos acreditaram nelas. A ideia
falsa que circulou com mais força foi a de que o vírus era uma arma biológica
criada em laboratório. Também vieram ideias sobre o vírus ter sido feito para
controle populacional ou que seria o resultado de operações de espionagem.
Redes sociais como Facebook, Google e Twitter tomaram medidas
para coibir a disseminação de desinformação. Em 2 de fevereiro, a Organização
Mundial de Saúde (OMS) afirmou existir uma epidemia massiva de desinformação
sobre o surto, com informações excessivas, entre verdade e mentira, com difícil
identificação de quais fontes poderiam ser fidedignas. A OMS afirmou que pela
alta procura de informação atualizada, criou uma linha de apoio para
desmistificar mitos.
As autoridades de Taiwan disseram que o grupo de trols da
internet do Partido dos 50 Centavos estava espalhando notícias falsas para
fazer medo na população taiwanesa, e na China circulou teorias de que o vírus
teria sido criação da CIA para atingir a China, uma criação artificial dos
Estados Unidos.
Por sua vez, Zhao Lijian, porta-voz do Ministério dos
Negócios Estrangeiros da China, publicou um tweet em março dizendo que o vírus
tinha chegado em Wuhan, sendo introduzido por membros do exército
norte-americano que visitaram a cidade em outubro de 2019. E o investigador
iraniano Ali Akbar Raefipour disse que o coronavírus era parte de uma guerra híbrida
dos Estados Unidos contra o Irã e a China. A Press TV iraniana disse que
elementos sionistas tinham desenvolvido uma estirpe mais mortífera de
coronavírus contra o Irã.
A disputa de poder entre a China e os Estados Unidos fez com
que os países usassem seus laboratórios para criar patógenos para a criação do
coronavírus. Esta ideia conspiratória também envolveu o Reino Unido, que
produzia drogas radioativas, e levantavam suspeitas de parceria entre
americanos e israelenses. A ciência, contudo, indica a origem natural do vírus,
devido ao trabalho de seu mapeamento genético que deu esta sinalização.
Outra teoria é a de que o 5G aumenta a velocidade do contágio
do coronavírus, uma vez que o 5G opera na frequência de 30 a 300 gigahertz, que
não tem energia suficiente para quebrar ligações químicas ou remover elétrons
em contato com o tecido humano, o que difere do 4G e do 3G, que utilizam
frequências de rádio abaixo de 6 gigahertz.
O intervalo do 5G é chamado de radiação eletromagnética
"não ionizante" e pode entrar em contato com a pele. Contudo, esta
exposição não é capaz de nos fazer mal, pois a radiação do 5G não penetra a
pele ou permite que um vírus faça isso. Portanto, não há evidências de que as
radiofrequências 5G causem ou aumentem a disseminação do novo coronavírus.
Em fevereiro deste ano, o consultor de marketing nigeriano
Bizzle Osikoya postou um tweet que dizia que a cocaína tinha propriedades
curativas, e que poderia curar a pessoa do coronavírus, pois assim como a
cocaína afeta a respiração, o batimento cardíaco e também a personalidade e a
autoestima, a droga também poderia eliminar o vírus do corpo humano, e aí
vieram também teorias de cura que incluíam desde álcool até água sanitária.
O cientista Chandra Wickramasinghe, do ramo da astrobiologia,
por sua vez, disse que "é muito provável que o surto repentino do novo
coronavírus tenha uma conexão espacial, e a forte localização do vírus na China
é o aspecto mais notável disso". Ele ligou a queda de um fragmento de um
meteoro no nordeste chinês, em outubro do ano passado, a "uma monocultura
de partículas infecciosas do vírus SARS-CoV-2, que teriam sobrevivido no
interior do fragmento". Tal teoria não passa de pseudociência.
Segundo a Yonder, uma empresa de inteligência artificial que
monitora conversas online, incluindo fake news, as teorias de conspiração
saíram de sua área de grupos específicos e restritos e passaram a ficar mais
acessíveis e disseminadas no caso do surto de coronavírus, com o mainstream
aceitando facilmente teorias da conspiração sobre o vírus. Uma fake news ou
teoria da conspiração que levava de seis a oito meses para sair das margens da
web para chegar ao centro das comunicações, agora demora apenas de três a 14
dias.
Algumas dessas notícias falsas têm consequências perigosas,
como um vídeo do YouTube que descartava as medidas de distanciamento social, e
que foi visto mais de 1,9 milhão de vezes, prejudicando medidas de confinamento
no combate do contágio do coronavírus. No caso da teoria da conspiração do 5G,
por exemplo, na Grã-Bretanha, recentemente houve uma série de ataques a torres
de celular.
Em janeiro, o site Russia Today divulgou que o vírus da
Covid-19 veio do consumo de sopa de morcego por humanos, mas cientistas não
viram a ligação da prática à disseminação do vírus. Outra teoria da
conspiração, por sua vez, coloca o coronavírus como uma vacina patenteada em
2015, teoria divulgada pelos apoiadores do movimento QAnon (a favor de Trump) e
do movimento antivacinação.
A patente é do instituto Pirbright, do Reino Unido, e a
Fundação Bill e Melinda Gates financia o Pirbright Institute, o que levou à
criação de outra teoria dizendo que Bill Gates, fundador da Microsoft, financia
o coronavírus. Contudo, os fundos que o instituto recebe não se destinam às
suas patentes, e a Fundação Gates não financia totalmente o Pirbright.
Dean Koontz é o autor de um livro publicado em 1981 chamado
The Eyes of Darkness, uma obra de ficção científica que relata a história de
uma mãe que quer saber se o filho morreu mesmo há um ano, ou se está vivo. O
livro fala de uma arma biológica chamada Wuhan-400 e Wuhan é o nome da cidade
chinesa na qual começou o surto de coronavírus. Em 1981, na edição do livro, o
vírus não se chamava Wuhan, mas Gorki-400, numa referência a uma cidade russa.
A mudança de nome veio em 2008, sem motivo aparente. Mas não podemos considerar
que o livro fez uma previsão, mas se trata de uma coincidência.
Outro livro que prevê o surto de coronavírus se chama End of
Days: Predictions and Prophecies about the End of the World (Fim dos Dias:
Previsões e profecias sobre o fim do mundo, em tradução livre) e foi co-escrito
pela "professora psíquica e espiritual" Sylvia Browne. Publicado em
2008, se pode ler : "Em torno de 2020 uma doença grave semelhante a uma
pneumonia vai espalhar-se pelo globo, atacando os pulmões e os brônquios e
resistindo a todos os tratamentos conhecidos".
(continua)
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/a-peste-parte-iv
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