A Peste de Atenas ocorreu pela primeira vez em 430 a.C.,
ficou também conhecida como a Praga de Atenas ou a Peste do Egito, foi uma
epidemia e seu primeiro registro foi dado por Tucídides em seu livro “História
da Guerra do Peloponeso”, no qual ele descreve a doença que atingiu a polis
Atenas, primeiro entre 430 a 429 a.C. e depois em 427 a.C., no cerco das tropas
espartanas. Com origem na Etiópia, alcançou o porto de Pireu em 430 a.C., se
espalhando rapidamente pela população de Atenas.
Por muito tempo se especulou sobre o que se tratava a peste,
Tucídides descreveu muitos dos sintomas da doença, e muitos patólogos tinham
dúvidas entre ser peste bubônica, tifo, varíola ou gripe, até que em janeiro de
2006, pesquisadores da Universidade de Atenas analisaram dentes recuperados de
uma sepultura coletiva debaixo da cidade e foi confirmada presença de bactérias
da febre tifoide.
A peste de Atenas ficou bem conhecida através da descrição de
Tucídides, e neste também ficamos sabendo da crise política pela qual passava
Atenas, que enfrentava o assédio dos lacedemônios durante a epidemia, esta que
está relacionada com a segunda investida peloponésia, e que provoca a acusação
sobre Péricles, governante de Atenas, pela guerra e pela doença, e a peste
contribui diretamente para as derrotas de Atenas nesta época.
A Organização Mundial de Saúde define uma pandemia como uma
determinada doença que rapidamente se espalhou por diversas partes de diversas
regiões (continental ou mundial) através de uma contaminação sustentada. Deste
modo, a gravidade da doença não é determinante e sim o seu poder de contágio e
sua proliferação geográfica. E o conceito de pandemia difere da endemia e da
epidemia. A endemia se caracteriza por ser uma doença que se encontra em uma
determinada zona de maneira permanente durante anos e anos, e a epidemia é uma
doença em que existe o aumento de casos até um máximo de infecções e depois uma
diminuição dos mesmos.
Depois do caso da epidemia que ficou conhecida como a Peste
de Atenas, temos a pandemia que ficou conhecida como a Peste de Justiniano, que
ocorreu por volta de 541 a.C., se iniciando no Egito e chegando na capital do
Império Bizantino, uma pandemia provocada por peste bubônica, transmitida por
pulgas de ratos contaminados, matando entre 500 mil e 1 milhão de pessoas
somente na Constantinopla, se espalhando pela Síria, pela Turquia, Pérsia
(atual Irã) e parte da Europa. Estima-se que esta pandemia durou mais de 200
anos.
Outra grande pandemia foi a Peste Negra, uma das mais
conhecidas e documentadas da História, e que aterrorizou o mundo medieval, com
características apocalípticas, pois se deu num contexto de extrema superstição.
Em 1343, a peste bubônica assolou os continentes asiático e europeu, tendo o
seu auge no ano de 1353, reaparecendo de forma intermitente no século XIX, e
que matou entre 75 e 200 milhões de pessoas, um terço ou mais da população
europeia medieval.
A Peste Negra teve a sua origem provável na Ásia Central ou
na Ásia Oriental, viajou pela Rota da Seda e chegou na Crimeia em 1343, e da
Crimeia foi provavelmente transportada por pulgas que viviam nos ratos que
vinham nos navios mercantes genoveses, de onde se espalhou pelo Mediterrâneo,
pela península italiana e daí para o resto da Europa.
Em 1580, houve a primeira pandemia de gripe, que se espalhou
pela Ásia, Europa, África e América, e séculos depois, a chamada Gripe Russa,
já em 1889, e foi a primeira a ser documentada em detalhes, e que é descrita
por sua proliferação inicial de duas semanas pelo Império Russo e que chega até
o Rio de Janeiro, e foi estipulado que, ao todo, morreram 1 milhão de pessoas
por conta de um subtipo da Influenza A.
Em 1918, por sua vez, a Gripe Espanhola chegou a causar a morte
de 20 a 50 milhões de pessoas, afetando desde idosos e pacientes com sistema
imunológico debilitado até jovens e adultos, e que se originou, provavelmente, nos
Estados Unidos, e que no Brasil quase dizimou as populações indígenas e levou a
óbito cerca de 35 mil brasileiros. Houve outras variáveis durante o século XX, que
ocasionou surtos pandêmicos nos anos de 1957 e 1968. Já em 2009, uma variação
da Gripe Suína – anteriormente evitada na década de 70 – assolou a América do
Norte, Europa, África e Ásia Oriental.
A gripe espanhola foi, então, uma vertente pandêmica do vírus
influenza, e que durou de janeiro de 1918 a dezembro de 1920, infectou 500
milhões de pessoas, e como dito, com cerca de 20 a 50 milhões de mortos, numa
das epidemias mais mortais da História. Houve uma censura durante a Primeira
Guerra Mundial, em que os primeiros relatos foram amenizados, em que a gripe já
se espalhava na Alemanha, Reino Unido, França e Estados Unidos, e a divulgação
na Espanha, que não estava na guerra, por outro lado, era livre, criando a
impressão de que a gripe se centralizava na Espanha, daí a alcunha “espanhola”
para esta doença que se espalhava pela Europa.
Os métodos de prevenção diante de pandemias tiveram uma
evolução, isto é, foi durante a Peste Negra que a cidade de Veneza adotou o
conceito de quarentena, copiando o isolamento bíblico do Velho Testamento, nos
surtos de hanseníase na Antiguidade. O que ocorre com a prevenção da Covid-19
tem meios semelhantes de prevenção, isolamento social e cuidados com a higiene.
O tema específico sobre a Covid-19 será exposto na segunda parte desta série.
(continua)
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/a-peste-parte-i
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