“uma pérola do psicodelismo e do pop barroco britânico”
O disco do The Zombies tem uma história sui generis no mundo
do rock, pois foi o canto do cisne de uma banda que não se firmou no fértil
cenário da música dos anos 1960. “Odessey and Oracle”, por sua vez, foi o segundo
e último disco da banda britânica The Zombies.
A banda começou como uma algo típico do início dos anos 1960,
com uma mistura de rhythm’n’blues e blues, da mesma cepa dos The Rolling Stones
e dos The Animals, por exemplo. No entanto, o grupo tinha uma herança musical
mais clássica, sem a pegada rascante de um The Rolling Stones, de um The Kinks
ou de um The Who, por exemplo, o que lhes dificultou o caminho para o sucesso.
A banda, na verdade, durante a sua atividade, não teve
singles muito comerciais, e nem, como se diz, “radio friendly”, operando sempre
num campo paralelo às bandas citadas, estas que tinham um som mais robusto.
Porém, em meio de tanta novidade musical, mesmo com o
relativo sucesso do single “She´s Not There”, a banda passou despercebida a
maior parte do tempo, e mesmo sendo uma banda de talento, com bons singles, e um
primeiro LP irrepreensível, a banda, digamos, “não aconteceu”.
No meio do ano de 1967 a banda resolve se separar, mas, por
exigência da CBS, eles teriam que gravar um segundo álbum, para cumprimento de
contrato. E a situação era totalmente inusitada, assim como a história
posterior que envolve este álbum.
Agora tínhamos os músicos Argent e White já ensaiando com sua
outra banda, Argent, com um registro mais Hard Rock, e o vocalista Blunstone já
planejando sua carreira solo. E, em meio destes outros projetos, Odessey and
Oracle viria à lume como um trabalho absolutamente livre de pressões
mercadológicas, uma vez que o interesse nele era zero, isto é, um álbum de uma
banda que já tinha acabado.
Então temos, logo mais, um exemplar bem acabado do que viria
a ser chamado de barroque pop, um trabalho musical em que a banda, sem a
supervisão da CBS, que já havia entregado os pontos, apenas exigindo o
cumprimento do contrato, faz virar um produto em que os músicos da banda
puderam ser honestos e sinceros, sem podas de quem quer que fosse, com parte
fundamental do álbum sendo feita no mítico estúdio do Abbey Road.
Este cenário anárquico só teve uma exceção, que foi a faixa
“A Rose For Emily”, que deveria ter sido acompanhada por um quarteto de cordas,
mas que não teve êxito por corte de orçamento da CBS, e então a banda gravou a
demo original, só com o piano, que manteve o charme da faixa e uma certa
simplicidade acessível.
Gravado em 1967, em pleno “Verão do Amor”, o disco foi
finalmente editado em 1968. O fato era que, ninguém ainda sabia, nem sequer
tinha notado, mas a banda The Zombies havia realizado uma verdadeira obra-prima
para as gerações vindouras.
“Odessey and Oracle” foi um disco feito na sombra, num
contexto obscuro. No entanto, já com a banda acabada de fato, aconteceu como
que uma luz inesperada, como vindo do nada, que foi a edição da última faixa do
disco, “Time of the Season”, em 1969, que vira um hit single que a banda nunca
alcançou quando estava em atividade, e o disco ressurge das trevas como uma
pérola do psicodelismo e do pop barroco britânico, evocando o melhor da música
daquela época como era Pet Sounds, Magical Mystery Tour ou a psicodelia do
primeiro Pink Floyd, de Syd Barrett.
O álbum “Odessey and Oracle” tem 12 faixas, abrindo com “Care
of Cell 44", com um piano pra cima e com trechos vocais que lembravam um
tanto os Beach Boys. Tal piano que continua como destaque em “A Rose for
Emily”, seguida de “Maybe After He's Gone", a hipnótica “Beechwood
Park", temos ainda "Brief Candles", também a "Hung Up on a
Dream", com instrumental mais variado, a estranha “Changes”, a mais pop “I
Want Her, She Wants Me", o belo piano em “This Will Be Our Year",
mais uma faixa estranha com “Butcher's Tale (Western Front 1914)", seguida
de "Friends of Mine", mais curta e também de pegada mais pop.
Por fim, temos a última faixa, que será o hit single tardio "Time
of the Season", que é mais um episódio inusitado da feitura e repercussão
de “Odessey and Oracle”, que hoje figura como um dos clássicos dos anos 1960 na
música.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : http://seculodiario.com.br/38500/14/odessey-and-oracle
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