“o termo Simbolismo passou a ser
usado para definir este novo ambiente literário”
ESTILO
A poesia chamada de “decadente” foi a
do movimento que produziu a poesia francesa do chamado fin de siècle (fim de
século) que abrange o período que vai de 1880 até o começo da Primeira Guerra
Mundial. O termo "decadente" pode ser interpretado como o conteúdo
que tinha uma visão moral chocante, e que levou Verlaine a documentá-la com seu
livro Os Poetas Malditos, na qual popularizou a expressão poète maudit
("poeta maldito"), livro que em 1884 citava poetas como Stéphane
Mallarmé e Arthur Rimbaud, os quais enfrentaram uma luta contra convenções
poéticas, além de um embate contra censuras sociais, pelo fato de serem ignorados
pelos críticos.
Com a publicação do Manifesto
Simbolista de Jean Moréas em 1886, no entanto, o termo Simbolismo passou a ser usado
para definir este novo ambiente literário. Foi assim que Verlaine, Mallarmé,
Rimbaud, Paul Valéry, Albert Samain e muitos outros passaram a ganhar o epíteto
de poetas "Simbolistas". Tais poetas teriam como fonte filosófica o
pensamento de Schopenhauer, além de temas como o desejo, a fatalidade, a
eclosão de forças inconscientes, o sexo e a prostituição, a cidade, e ainda,
citando as forças do inconsciente, tais poemas envolveriam sonhos, delírios, o
álcool e os narcóticos em geral. Como estilo, o Simbolismo teria a prática de
sugerir temas numa linguagem evanescente, abolindo a forma retórica, portanto,
e então invocando estados de humor variados, além dos sentimentos como num jogo
mágico com o uso das palavras, também como repetição dos sons, uma musicalidade
intensa dos versos, que são muito bem conduzidos dando uma ideia de cadência
que chegava ao fim como inovação métrica.
POEMAS:
É O ÊXTASE LANGOROSO : Este poema de Verlaine vem com bastante estilo, já pelo
título me chama à curiosidade, e se abre, em floração: “É o êxtase langoroso,/É
o cansaço amoroso,/É todo o bosque a vibrar/Ao enlace das aragens,”. O êxtase
langoroso, que ecoa e vibra, no qual o poeta é quem sabe bem os versos que lhe
derramam, e é um poema refinado, de dimensão reduzida mas condensada, que
continua, em frescor, a descrever uma sensação: “Ó o fino e fresco cicio!/É
chilreio e murmúrio,/Parece esses doces ais/Que a relva móvel suspira ...”. A
natureza aparece, seja simbólica ou literal, não importa, aqui o poema é mais
importante que um sentido final, a apreciação máxima se dá quando a relva
suspira, aqui a vida da natureza ganha forma consciente, mas Verlaine tem uma
dor ainda, mesmo diante da glória natural que lhe oferece tudo ao seu coração
de poeta, e finaliza, como se de sua dor ele enxergasse a dor de tudo que é
humano, e diz: “Essa alma que se lamenta/Nessa queixa sonolenta/Não será a
nossa, ai de nós?”. Sua alma aqui é um nós que lamenta, e seu ai possui toda a
envergadura das demais dores do mundo, nisso ele se reconhece tanto como poeta
como um ser humano verdadeiro.
ARIETA : Este
poema abre com spleen clássico, num ato choroso, que o verso ainda consola ou
pode mais ainda aprofundar a dor: “Chora o meu coração/Como chove na rua;/Que
lânguida emoção/Me invade o coração?”. A emoção, lânguida, lhe invade o
coração, e o poeta Verlaine faz de seu estilo uma lamentação, mas que tem
resultado bem positivo, uma vez que se torna poema e versos na sua pena: “Para
um coração vazio,/Ó aquele murmúrio!/Chora não sei que mal/Meu coração cansado./Um
desengano? Qual!/É sem causa este mal./É a maior dor – dói tanto! –/Não se
saber por quê,”. Dor desconhecida, incógnita da tortura, mas que tem sua
verdade como poema, e isso resume um pouco de sua glória.
GREEN : Este
poema que se volta à natureza, abre em direção a uma fêmea, e o coração mole do
poeta não lhe resiste, e pede certa clemência, no seu pulsar atordoado, que vem
assim: “Aqui estão frutos, flores, folhas, que eu vos/trouxe,/E um coração que
só por vós sabe pulsar.” (...) “Que esta minha fadiga, a vossos pés prostrada,/Sonhe
os instantes bons que a reconfortarão./Deixai rolar no seio moço a fronte lenta/Em
que ainda ecoam vossos beijos musicais;/Deixai-a sossegar da bendita tormenta,/E
que eu durma um instante, enquanto repousais.”. O convite deste poema é um
verdadeiro sonífero, o poema vem de spleen e funciona ao fim como um narcótico
ao qual Verlaine tenta reconfortar-se e os beijos musicais sossegam a tormenta,
e o saber aqui enunciado é o do sono do amor, dorme bem quem tem peito ao qual
se deitar.
POEMAS:
DO LIVRO "ROMANCES SANS PAROLE"
É O ÊXTASE LANGOROSO
Le vent dans la plaint suspend son baleine
Favart
É o êxtase langoroso,
É o cansaço amoroso,
É todo o bosque a vibrar
Ao enlace das aragens,
São, nas grisalhas ramagens,
Mil vozes a cochichar.
Ó o fino e fresco cicio!
É chilreio e murmúrio,
Parece esses doces ais
Que a relva móvel suspira ...
Dirias, na água que gira,
Rolar de seixos casuais.
Essa alma que se lamenta
Nessa queixa sonolenta
Não será a nossa, ai de nós?
A minha à tua enlaçada,
Exalando a humilde toada
Nesta tarde, a meia-voz?
ARIETA
Il pleut doucement sur la ville
Arthur Rimbaud
Chora o meu coração
Como chove na rua;
Que lânguida emoção
Me invade o coração?
Ó frio murmúrio
Nas telhas e no chão!
Para um coração vazio,
Ó aquele murmúrio!
Chora não sei que mal
Meu coração cansado.
Um desengano? Qual!
É sem causa este mal.
É a maior dor – dói tanto! –
Não se saber por quê,
Sem ódio ou amor, no entanto
O coração dói tanto.
GREEN
Aqui estão frutos, flores, folhas,
que eu vos
trouxe,
E um coração que só por vós sabe
pulsar.
Não o despedaceis com vossa mão tão
doce,
E possa o humilde dom ser grato ao
vosso olhar.
Ainda tenho no rosto o orvalho que a
alvorada
Vem regelar em mim com sua viração.
Que esta minha fadiga, a vossos pés
prostrada,
Sonhe os instantes bons que a
reconfortarão.
Deixai rolar no seio moço a fronte
lenta
Em que ainda ecoam vossos beijos
musicais;
Deixai-a sossegar da bendita
tormenta,
E que eu durma um instante, enquanto
repousais.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário: http://seculodiario.com.br/31554/17/paul-verlaine-a-voz-dos-botequins-e-outros-poemas-parte-3
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