“Golpe de Estado e abolição do Estado de Direito”
O líder que chamam de mito, acredite se quiser, Jair Bolsonaro, virou réu. Acredite se quiser que ele é ou foi mito e não que virou réu. E junto dele, temos mais sete réus. Os patetas que lhe acompanharam nesta tentativa de golpe e tragédia, e que teve momentos cômicos, mais uma vez, com a sorte do Brasil de ter uma extrema direita bem abaixo da média. Mas, ainda assim, foi por um triz, passou raspando. Senão, uma hora dessas, eu estaria tomando gás de pimenta, porrada, e gás lacrimogêneo nos olhos, na Cinelândia.
O mito virou um rato, e que está prestes a ser pego pela ratoeira ou pelo gato. Os outros ratos, são eles : Alexandre Ramagem, deputado federal e ex-diretor-geral da Abin; Almir Garnier, ex-comandante da Marinha do Brasil; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal; Augusto Heleno, general e ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); Mauro Cid, tenente-coronel do Exército e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro; Paulo Sérgio Nogueira, general e ex-ministro da Defesa; e Walter Braga Netto, general e ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, e que foi candidato a vice de Bolsonaro em 2022.
A organização criminosa, quadrilha, núcleo crucial do golpe, que planejava acabar com a democracia retomada pela Nova República desde a Constituição Federal de 1988, tinha um plano de golpe militar clássico. Ou seja, nada de aparelhamento autocrático, pois seria um golpe à antiga, de caráter militar, com características de terrorismo, com o assassinato de Lula, Alckmin e Moraes. Todavia, foi voto vencido, tendo apenas Almir Garnier, ex-comandante da Marinha do Brasil, dentre os comandos máximos das Três Forças Armadas, como adesista golpista e bovino de tal trama.
Tal terrorismo final que se iniciou com um tal capitão do Exército que foi expulso por ter usado bombas num ataque contra o próprio Exército. Foi o seu primeiro grito, seu putsch da Baviera. E foi assim, como um personagem histriônico e ruidoso, que Bolsonaro se tornou uma figura popular. Além disso, virou a principal e nova cara da extrema direita, que ganhou corpo com o bolsonarismo, e de popular, Jair Bolsonaro virou um populista de direita, um líder carismático no conceito weberiano.
Golpe de Estado e abolição do Estado de Direito também estava nos planos da massa de manobra, dos idiotas úteis de 8 de janeiro de 2023. Estes que foram insuflados pelo ardil de mentores e ideólogos desta aventura que começou com as eleições de 2018, uma aventura muito mais perigosa que a do então almofadinha Fernando Collor, no fim de 1989, o caçador de marajás. Era um flerte com o abismo, e um ovo da serpente já chocado, pronto para eclodir no que seria toda aquela legislatura medonha, negacionista e golpista.
O provincianismo tacanho, limítrofe, ganhou um representante, sempre uma versão renovada deste eterno flerte com o abismo que as democracias falhadas do Brasil sempre se deram, com udenismo, Arena, ditadura, integralismo, e com o Exército, invariavelmente, conspirando. No caso atual, a sensação de ter superado uma página infeliz da nossa História foi uma ilusão, pois não só o Brasil, como vários países, foram tomados por movimentos de teorias da conspiração, distorções da realidade etc, que fizeram com que a frase “o preço da liberdade é a eterna vigilância” tivesse sim seu sentido verdadeiro e perene.
E a nossa pátria mãe tão distraída, como se dormisse, não percebia que era subtraída em tenebrosas transações. E o que apareceu, não foi apenas as desastradas delações de Mauro Cid, um pobre coitado que se arrebentou delatando e/ou omitindo, tanto faz, mas um processo municiado e baseado na materialidade dos fatos, e que foi estarrecedor, pois era uma trama de gangsterismo, uma trama não somente golpista, como de assassinatos.
Mal posso esperar para ver bunda moles como Anderson Torres se borrando na cana dura. Um moleirão que já estava tendo ideações suicidas quando ficou detido por volta de dez dias, um pouco depois da tentativa mambembe e brancaleone de golpe em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023. Um sujeito mais borrador que um Garotinho com medo de traficante na prisão e que apanhou de madrugada.
Não fiquei temeroso em nenhum momento, confio na inteligência, por razões óbvias, e confio na burrice, por razões mais óbvias ainda. Tramas canhestras começaram desde o convescote dos embaixadores, declarações estapafúrdias sobre função sexual no bicentenário, piadas sem graça de caserna, guaraná Jesus, cloroquina, alienígenas, pneus sagrados, pupilos ridículos praticando desobediência civil, filhos mais ridículos ainda sendo mimados e cevados pelo poder público e, por fim, um táxi que passou fora do tempo calculado, abortando o plano dos patetas. É tudo muito ruim.
Jair Bolsonaro mente como um mitômano de hospício, sem a sutileza da teoria do louco de Donald Trump, de quem lambe as botas. Depois de virar réu, voltou à carga, mentindo, se vitimizando, se dizendo perseguido político, de mito, agora quer virar mártir simbólico, um líder injustiçado pelo sistema. E agora com uma guerra contra o sistema que começou em Balneário Camboriú. Ai que meda! O 04, Danoninho, quer dizer, Jair Renan, disse que a cobra vai fumar, e acho que ninguém se ligou, era algo caricato, um playboy garoteando, fazendo uma mimética abobalhada do que poderia ser uma bravata.
Bananinha, por sua vez, é um farsante. Jair Bolsonaro acompanhou o segundo e último dia de votação da Primeira Turma do STF, com cinco a zero por tornar o núcleo crucial inteiro réu, no gabinete do 01, Flávio Bolsonaro, que eu chamo de Marmeladinha. Ao passo que o Goiabinha, o 02, Carluxo, pseudo-sábio obscuro, uma mente confusa e abestalhada, pagou um mico, nos últimos dias, com declarações indiscretas do pai. A filha mais nova, a 05, que só nasceu porque Bolsonaro fraquejou, apesar de imbrochável, é a Florzinha. Esta última, provavelmente, tem um projeto pronto pela frente, um ovinho para eclodir no serpentário do bolsonarismo e do neofascismo.
Hoje a patota estava lá, os papagaios de pirata, em que se destaca Magno Malta, aquele que gosta de letras garrafais, e parece sempre estar soluçando, talvez por um problema gástrico ou muscular, algo incontrolável. Magno Malta é dominado por um tipo de alergia do soluço e que faz a pessoa fazer declarações alucinadas para figuras como o General Augusto Heleno, dizendo “eu te amo etc”, e todas essas coisas que pessoas em estado de soluço são capazes de dizer, pois o sujeito fica amoroso, como num festival de gente pelada.
O fim de Bolsonaro está próximo. E o apocalipse zumbi, felizmente, passou, e não virou um regime de exceção, com as Forças Armadas de volta ao poder, destruindo a democracia e o Estado de Direito. Toda esta onda provinciana é o núcleo duro do bolsonarismo, justamente o conjunto amorfo e anódino do bolsonarismo raiz, e que segue com o mito até o fim, um pessoal ignorante e que cheira a enxofre.
E, por fim, esta extrema direita populista não morre, pois Jair Bolsonaro pode virar Rei morto, mas candidatos a Rei posto não falta, pois idiota é o que não falta, pois a natureza é pródiga tanto em mulheres interessantes como em idiotas úteis e idiotas perigosos, os tais mentores e ideólogos destes movimentos aventureiros e destrambelhados que, volta e meia, tomam de assalto a política brasileira e de outros países.
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/cidades/bolsonaro-vira-reu/
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