PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 1 de abril de 2021

AS LEIS EUROPEIAS ANTITRUSTE

“a Lei de Mercados Digitais (Digital Markets Act) incide sobre os chamados gatekeepers”

No combate contra o domínio econômico das big techs, temos a iniciativa da Comissão Europeia, que apresentou duas propostas que tratam de serviços e mercados digitais, que envolvem punições pecuniárias que pode ir até bilhões, e ainda, num caso extremo, o desmembramento dos negócios.

A Lei de Serviços Digitais (Digital Services Act) terá o papel de criar regras que terão que ser cumpridas pelas plataformas de modo que haja uma conexão entre consumidores e os bens, serviços e conteúdos.

Tais regras estão, também, relacionadas com a obrigação de remoção de conteúdos considerados ilegais, e também de bens e serviços com esta mesma ilegalidade. Ainda haverá uma salvaguarda para a supressão de conteúdos de usuários, uma transparência em relação ao funcionamento dos algoritmos, e a facilitação para a ação de investigadores para estes terem acesso à rastreabilidade de ofertas de bens e serviços ilegais, e aos dados em geral.

A supervisão direta da Comissão Europeia incidirá sobre as plataformas chamadas de sistêmicas, ou seja, aquelas que cobrem mais de 10% da população da União Europeia (UE), estas plataformas poderão sofrer sanções, multas, podendo estas atingir até 6% do faturamento global em casos mais extremos de infrações.

Por sua vez, a Lei de Mercados Digitais (Digital Markets Act) incide sobre os chamados gatekeepers, estas que são plataformas digitais que realizam uma ponte entre os consumidores e as empresas.

Por exemplo, neste escopo se inclui lojas de aplicativos da Apple e do Google, aonde se encontram produtos feitos por desenvolvedores que são oferecidos aos donos de smartphones iOS e Android. Também temos neste meio a lei enquadrando redes sociais, serviços de buscas e apps de mensagens e marketplaces.

Outras normas envolvem a proibição de impedimento de remoção de softwares pré-instalados e de criar barreiras a produtos de concorrentes, e as sanções desta Lei de Mercados Digitais são mais graves, pois neste caso as multas podem chegar a 10% do faturamento global das empresas.

Nos casos de infrações sistemáticas, podem ocorrer soluções estruturais que obrigam um gatekeeper a vender uma empresa ou uma parte desta. Os debates em torno das duas propostas são intensos e geram atritos entre as empresas, ainda se terá a necessidade de aprovação pelo Parlamento Europeu e pelos Estados-membros.

No início de novembro de 2020, a Comissão Europeia anunciou as conclusões preliminares de seu relatório sobre a ação antitruste contra a Amazon, acusada de violar leis de concorrência.

O comunicado de Margrethe Vestager, a comissária de concorrência do bloco, afirmou que há suspeitas de que a Amazon favoreceu a venda de seus próprios produtos com dados de fornecedores externos que usam a sua plataforma. A multa da investigação, que começou em julho de 2020, pode chegar a US$ 19 bilhões, caso a Amazon seja condenada.

Na Austrália, por sua vez, em fevereiro de 2021 temos uma medida nova antitruste que obriga Google e Facebook a pagarem por notícias exibidas em suas páginas. As gigantes de tecnologia e os produtores de conteúdo deverão acordar entre si a remuneração pela veiculação de notícias. O Facebook reagiu mal, retirou notícias de sua plataforma por uma semana, para recuar logo em seguida, e o Google ameaçou deixar o país.

O movimento de acordos com veículos de comunicação, por parte do Google e do Facebook, não foi espontâneo, mas fruto da pressão que se inicia com a lei australiana, e que pode se estender a outros países, pois estes podem se espelhar na ação legiferante australiana.

O Google, por exemplo, criou o programa Google News Showcase, como um meio para fazer seus acordos com os veículos de mídia, numa pretensa boa vizinhança para justificar o uso de notícias no seu buscador.

Este programa do Google foi anunciado em 2020, primeiro com foco na Austrália, Alemanha e Brasil. Aqui no nosso país tivemos a Lei das Fake News e também um inquérito aberto pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que envolve o não pagamento aos produtores de conteúdos por parte do Google na exibição destes conteúdos em seu buscador.

Em relação ao alcance do News Showcase da Google, temos a adesão da NewsCorp, que inclui o jornal “The Wall Street Journal” e o inglês “The Times”, propriedades do empresário australiano Rudolph Murdoch.

Os planos de expansão deste programa do Google agora prevê investimento de US$ 1 bilhão nos próximos três anos e o Google afirma que já aderiram mais de 450 publicações em uma dúzia de países, que inclui tanto o Brasil e a Alemanha, como Reino Unido, Canadá, Japão e Argentina.

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário :  https://www.seculodiario.com.br/colunas/as-leis-europeias-antitruste 

 

 

 

 

 

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