LIVE INSTAGRAM DE : 08/11/2020
Os eventos que levaram à declaração de independência dos
Estados Unidos da América, em 1776, e à elaboração da sua Constituição, em
1787, a chamada Revolução Americana, se configurou como um movimento de revolta
contra o domínio britânico e de resistência contra a exploração colonial. Tal
resistência se deu, sobretudo, no período que se seguiu à Guerra dos Sete Anos,
que terminou em 1763, quando o império britânico tentou exercer maior domínio
sobre as colônias norte-americanas.
Em 1775, por sua vez, começam os conflitos que serão o da
guerra da independência destas colônias, que instituiu um processo de
emancipação política e de autodeterminação contra o domínio colonial britânico.
Foi então um evento militar, de guerra, que culminou numa revolução política
que instaurou um novo tipo de governo e de modelo político, que se consolidou
com a Constituição de 1787.
Como dito, o domínio britânico se aprofunda sobre as colônias
norte-americanas depois da Guerra dos Sete Anos, pois esta representou o triunfo
britânico sobre os franceses, que tiveram, então, a sua presença no continente
americano quase anulada, pois a França foi obrigada, pelo Tratado de Paris de
1763, a ceder vastas porções dos territórios que controlava nesse continente à
Inglaterra, como o Canadá e toda a região do vale do Rio Ohio, e os britânicos
também adquiriram a Flórida, que pertencia à Espanha.
Veio, por conseguinte, como consequência do resultado da
Guerra dos Sete Anos, fenômenos de crescimento demográfico, com a instalação de
mais britânicos na faixa oriental que compunham as colônias, uma expansão
territorial e o desenvolvimento econômico. O aumento da população de colonos
foi grande, entre 1750 e 1770 os habitantes das colônias britânicas duplicaram,
de um para dois milhões, tornando-se um elemento importante do império
britânico. Após a guerra dos sete anos, tivemos uma emigração de protestantes
irlandeses e escoceses, que já tinha começado no início do século XVIII.
Também começou, após a vitória sobre os franceses, a expansão
territorial para o Oeste, depois de mais de um século em que os colonos britânicos
tinham estado confinados a uma estreita faixa de terreno ao longo da costa
atlântica do continente americano. Tal movimento teve correspondência na
expansão econômica anglo-americana da segunda metade do século XVIII, pois na
Grã-Bretanha, já havia sinais do que viria a ser a Revolução Industrial, e os
americanos também prosperavam neste influxo.
Os americanos, na expansão econômica, exportavam cada vez
mais cereais para a Grã-Bretanha, com o crescimento da procura e dos preços das
exportações americanas, com os americanos aumentando a sua aposta nos produtos
agrícolas para o mercado europeu. Na década de 1760, cidades comerciais
relativamente distantes da costa, tais como Staunton, na Virgínia e Salisbury,
na Carolina do Norte, já enviavam grandes quantidades de tabaco e de cereais na
direção leste para portos como os de Baltimore, Norfolk e de Alexandria.
Mesmo com a prioridade dos produtos agrícolas, o aumento dos níveis de consumo nas colônias também levaram a uma atividade manufatureira, como na produção têxtil e de sapatos, com os transportes e as comunicações melhorando com rapidez, e em 1750, o Post Office, sob a liderança de Benjamin Franklin, instituiu correio semanal entre Filadélfia e Boston, reduzindo para metade o tempo gasto nas entregas.
Contudo, a preferência dos produtos britânicos por parte dos
americanos, ainda deixava a balança comercial desfavorável para as colônias, e
ainda havia o investimento considerável de capital no solo americano por
ingleses e escoceses. Em 1760, as dívidas coloniais para com a Grã-Bretanha
totalizavam já 2 milhões de libras; em 1772 tinham saltado para 4 milhões.
Devido às demandas financeiras advindas da Paz de Paris, de
1763, que pôs um fim na Guerra dos Sete Anos, que envolveu a questão da reforma
do império britânico no sentido de reorganizar o território tomado da França e
da Espanha no continente americano, houve demandas estas que passavam por
necessidades como o de estabelecimento de novas autoridades, delimitação de
fronteiras, regulação do comércio com as tribos nativas, e evitar disputas
entre estas tribos e os colonizadores americanos, para não ocorrer uma guerra.
Portanto, o dispêndio foi grande, e então, no final da Guerra
dos Sete Anos, a dívida de guerra da coroa britânica era de 137 milhões de
libras, com um juro anual de 5 milhões, uma quantia imensa quando comparada com
o orçamento médio em tempo de paz de 8 milhões de libras. E o império britânico
viu a necessidade, também, de uma força permanente de 10 mil soldados para conseguir
manter a paz com os franceses e os índios, e também para lidar com as
populações locais, que desafiavam cada vez mais as autoridades coloniais. Por
conseguinte, nesta década de 1760, o império britânico decidiu por manter um
exército permanente em solo americano.
Na busca de recursos financeiros para dar conta destas
despesas, a Grã-Bretanha enfrentou a dificuldade de que a população britânica
estava se recusando a pagar o chamado “cider tax” de 1763, e mais impostos,
fazendo com que este império olhasse para as colônias americanas como solução
para o problema, levando a uma profunda transformação no sistema imperial
britânico.
Houve, então, a “Proclamation of 1763”, que criou três novas
instâncias governamentais na América, Flórida, Flórida Ocidental e Quebec, e
alargou a província da Nova Escócia. Também foi proibida aos colonos a compra
de terras índias, com a Grã-Bretanha transformando a área para além dos Montes
Apalaches numa reserva índia, com o objetivo de manter a paz no Oeste e
centralizar a migração da população ao norte e ao sul.
Contudo, houve a revolta dos Índios liderados por Pontiac em
1763, no vale do Ohio, que fez com que a Proclamação de 1763 fosse implementada
de forma açodada, com a linha de demarcação ao longo dos Apalaches sendo traçada
com pouco rigor, fazendo com que alguns colonos, de súbito, se encontrassem em
reservas índias. Também houve confusão nas novas regulamentações do comércio
com as tribos nativas, e houve pressão dos americanos para a expansão a Oeste,
pois estes estavam interessados nestas terras, fazendo com que a Grã-Bretanha
fosse pressionada a conversar com os índios.
Por sua vez, com a promulgação do “Quebec Act” de 1774, houve
protestos, pois esta lei transferia para a província do Quebec o território
compreendido entre os Rios Ohio e Mississippi, bem como o controle do comércio
com os Índios na região. Esta nova medida prejudicou os americanos, por
exemplo, os especuladores imobiliários, os colonizadores e os comerciantes.
As mudanças feitas pelos britânicos no comércio colonial
também prejudicaram os colonos americanos, como foi o “Sugar Act” de 1764, com
maior controle britânico sobre o comércio colonial, com medidas como novos
poderes aos funcionários aduaneiros e a inspeção de navios americanos por parte
da marinha britânica, e à lista de produtos coloniais que tinham de ser exportados
diretamente para a Grã-Bretanha, como o tabaco e o açúcar, foram acrescentados
o ferro, a madeira e outros.
Por fim, os comerciantes e navegadores americanos ficaram
presos numa burocracia imensa sobre autorizações de navegações, licenças de
comércio, etc. O mais grave, contudo, foi a imposição de novos direitos
alfandegários, estes que aumentaram as despesas dos importadores americanos. O
“Sugar Act”, então, colocava novos tributos sobre o açúcar, o café, as roupas e
o vinho importados pelas colônias.
Depois, em 1765, o governo britânico promulgou o "Stamp
Act", impondo o uso do papel selado e novos impostos sobre os jornais
americanos bem como sobre o correio. Em 1766, através do "Declaratory
Act", o parlamento britânico reafirmou o seu poder e a sua autoridade
sobre as colônias americanas em "todas as matérias". No ano seguinte,
foi a vez dos "Townshend Acts", um conjunto de três leis francamente
desagradáveis para as colônias americanas. Uma delas obrigava as autoridades
coloniais de Nova Iorque a não desenvolverem qualquer tipo de atividade
comercial até abastecerem os soldados britânicos estacionados naquela colônia.
Outra criava um corpo de oficiais britânicos no porto de Boston para
supervisionar a aplicação e o cumprimento das leis britânicas. Finalmente uma
terceira lei criava novos impostos sobre produtos importados pelas colônias, nomeadamente
vidro, chumbo, tinta, papel e chá.
Em suma, as colônias norte-americanas estavam agora sujeitas
a uma ocupação militar permanente, a mais impostos e a limitações na sua
liberdade de comércio e também na sua expansão territorial. Foi neste contexto
que se iniciou o movimento de resistência e de revolta contra a política
britânica. Em 1770 ocorre, em Boston, uma primeira revolta contra os soldados
ingleses estacionados na cidade. Três anos depois a situação tornar-se-ia
explosiva, sobretudo quando o governo britânico decidiu atribuir o monopólio do
comércio de chá na América do Norte à Companhia Inglesa das Índias Orientais.
Os colonos americanos revoltam-se contra este "Tea Act" de 1773, no
movimento que ficou conhecido como a "Boston Tea-Party". Colonos americanos
disfarçados de índios, liderados por Samuel Adams, lançaram ao mar a carga de
três navios ingleses. Os ingleses, por seu turno, responderam com os
"Intolerable Acts" (assim chamados pelos próprios colonos) de 1774.
Isto é, em vez de cederem às pretensões coloniais e
negociarem com os americanos, os britânicos vão: ordenar que as autoridades
coloniais e as suas assembleias legislativas sejam fechadas e que não se
processem mais reuniões até os representantes da Coroa darem permissão;
implementar o "Boston Port Act" que determinou o encerramento daquele
porto a qualquer navio mercante, cortando assim todo o seu comércio marítimo;
proibir o povo da colônia de Massachusetts de organizar reuniões sem o
consentimento do governador da colônia.
A resposta dos americanos a estas medidas britânicas foi a
realização em setembro de 1774 do primeiro Congresso Continental, em Filadélfia,
com representantes de todas as colônias americanas, à exceção da Geórgia. O Congresso
aprovou uma declaração dos direitos dos colonos e dos abusos de que eles tinham
vindo a ser vítimas por parte dos ingleses.
Esta declaração anunciava já que apenas os colonos e as suas
instâncias governativas locais tinham poder para estabelecer impostos sobre si
próprios e para fazer leis para o seu próprio governo. Os colonos deviam ter o
direito de se reunir pacificamente, o direito de enviar petições e protestos ao
governo inglês, o direito de viverem sem a presença de um exército inglês
permanente em tempo de paz. Mais ainda, os delegados decidiram impor um boicote
aos produtos ingleses e não importar ou consumir bens e produtos ingleses até que
os "Intolerable Acts" fossem revogados.
REVOLUÇÃO AMERICANA - PARTE I
LIVE DO INSTAGRAM – IGTV
https://www.instagram.com/p/CHWikg7AAZn/
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário