Aqui no mundo reluz a fábrica temporal, declaro guerra aos imbecis que vociferam suas astúcias, aos cavalheiros mascarados que não seduzem mulheres, aos capatazes que incitam o suadouro, aos gentis de toda ordem que se dizem filhos de família, aos ladrões de gravata com seus banquetes, aos homens da lei que disfarçam toda a pilhagem da ética tão rara para os que vivem deste poder, às indústrias de modinhas óbvias, ao consumo dos ídolos, e de perto, bem de perto, declaro a revolta com a arma em punho, desenrolando o novelo que descarrila a falsa nobreza dos políticos aspirantes. Eu sinto nojo da glória destes descampados, dos cantos de vitória dos bestiais, alegres bêbados que são a fonte da corrupção.
Nas altivas construções, estamos repletos do sabor amargo da cisão social – o esnobe flácido horror da fome – a serpente solta pela rua da violência. Eu estou em todos os lugares, observo as cordiais hipocrisias de antecâmaras, o jantar servido com iguarias estúpidas, para encher o bolso dos quer vivem de bandalhas. E a entoar um cântico desesperado, sinto que não nasci para este mundo.
O belo campo, ora, não nasceu ainda, e ainda ou jamais, não verei um perfeito ser humano, posto que a quimera reinante é a jogatina desenfreada, o desejo do despautério, a calamidade da desonra, o execramento moral. Estive já destinado ao ridículo, e a vergonha toda destas porcarias mexeram os vermes das almas, as insípidas almas mesquinhas. É de se revoltar, existe o vício da mentira, o vício da tortura, o vício do sadismo, as deformidades infinitas dos que bailam na noite, que comem excretas servidas em potes de ouro, que bebem a morte em taças douradas banhadas de ouro, que compram toda sorte de quinquilharias chiques, e que se regozijam de terem um leito macio ao amanhecer de uma ressaca alcoólica.
Já está determinado, de antemão, o fim da poesia. Vamos destituir-lhe o título de beleza, pois a beleza se divorciou do mundo, e o mundo que há para o poeta – pode ser trágico e conflituoso – há no manifesto. Toda a honra da negociata ignora um bom honesto. Declaro guerra aos olhos da maldade, à baixeza que reina nos costumes degenerados, aos defensores da estirpe, não somos cachorros! Que barbárie é o tempo do mundo inteiro. Vou andar com a nudez de uma sinceridade rara, vou andar longe da estupidez dos falsos, longe dos pregadores de peças. As vitrines cravejadas de diamantes explodirão, quando tudo o que foi ignorado – os que pedem misericórdia – já estarão aflitos. Venham todos os mendigos da plebe desprovida, ganhar o coração que se perdeu.
É o manifesto, aí está! Sem amor e sem virtude. Sem coragem e sem simpatia. Tudo é nefasto como o sangue do fanatismo. Tudo neste mundo seria representado no irmão de dor, com o rancor fervendo na barriga, eu estarei pronto – depois de feita a última canção desiludida – e o ataque poético morrerá no tédio crônico desta sujeira farta e doce dos que se comprazem no absurdo, o melhor é se calar. Já está feita a caricatura do guerreiro que derramou seu pranto, sabendo que é o mais inútil dos homens. A inocência está morta.
Quem sou eu?
Há 2 semanas
Nenhum comentário:
Postar um comentário