PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

ELON MUSK E O TWITTER - PARTE 7

 “O lítio é fundamental na produção dos carros elétricos da Tesla”

Elon Musk, em relação ao X (antigo Twitter), não tem como prática usual ficar arrumando problemas diplomáticos, e muitas vezes para acomodar interesses, e alcançar o ingresso de suas empresas em outros países, deixa de lado seu ativismo de extrema direita, ao se adaptar a marcos regulatórios de diversos destes países. 

Na Índia, mesmo com Elon Musk se posicionando contra decisões judiciais do país, este que é comandado pelo primeiro-ministro Narendra Modi, que é do partido de extrema direita Bharatiya Janata Party, há mais de uma década, teve que acatar tudo, pois existem interesses, por exemplo, de investimentos da ordem de US$ 3 bilhões em fábricas da Tesla, na luta contra a concorrência da chinesa BYD na região, envolvendo o mercado de carros elétricos.

No Brasil, a escalada de Elon Musk sobre o STF e seu confronto com o ministro Alexandre de Moraes teve, por conseguinte, também interesses de ordem empresarial, muito para além de seu extremismo político ou intransigência quanto a uma noção peculiar de liberdade de expressão, cultivada por um libertarianismo disruptivo e que atua por mecanismos infantilizados de cizânia memética e instrumentos de manipulação e desinformação completamente desabridos. Por sua vez, o interesse de Musk também passava por uma estratégia comercial de seu conglomerado, que inclui a SpaceX, a Starlink e a Tesla.  

Elon Musk tem interesse em comprar a Sigma Lithium, uma das maiores mineradoras de lítio do mundo. O lítio é fundamental na produção dos carros elétricos da Tesla. No Brasil, por sua vez, a principal fornecedora de lítio e níquel para a Tesla, por sua vez, é a Vale. 2022 foi um dos momentos mais estratégicos na produção de lítio brasileiro, e foi quando Elon Musk veio ao Brasil para lançar, oficialmente, a sua internet por satélite, a Starlink.

O lítio é o metal mais leve que existe e passou a ser chamado de “petróleo branco”, se tornando essencial na produção de baterias, carros elétricos, e na estrutura para a produção de energia solar e eólica. A América do Sul, contando somente Argentina, Bolívia e Chile, concentra 68% das reservas mundiais do metal.

O Serviço Geológico brasileiro, nos últimos tempos, descobriu várias reservas de lítio, se concentrando principalmente no Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais, região esta que se tornou objeto de exploração de três empresas, que são a Companhia Brasileira de Lítio, AMG Mineração e a canadense Sigma. 

A Companhia Brasileira de Lítio era a única nacional, cuja empresa parceira, a Oxys Energy, faliu em 2021, e o governo de Minas Gerais vendeu parte da estatal à britânica Ore Investimentos. E agora, segundo o Observatório da Mineração, empresas como a Latin Resources, Lithium Ionic e Atlas Lithium, estão sondando a região na busca de novas reservas de lítio. 

A Sigma, que foi fundada em 2011, anunciou em 2023 que estava negociando com potenciais compradores e, logo a seguir, as negociações com Elon Musk não foram adiante, ao passo que a chinesa BYD começou a negociar a compra da Sigma, com preço avaliado em R$14,3 bilhões. O Brasil, na guerra comercial entre Tesla e BYD, virou um centro da estratégia global de investimentos da empresa chinesa, chegando a comprar, recentemente, a fábrica da Ford, em Camaçari, na Bahia.

No cenário global, por sua vez, a Tesla vem perdendo terreno para a BYD, que a partir de 2023 ultrapassou as vendas da empresa de Elon Musk, fazendo com que o CEO da Tesla cobrasse do governo norte-americano a implementação de medidas protecionistas, com medidas como a criação de barreiras tarifárias para a chinesa BYD.

Logo após as afrontas de Elon Musk contra o ministro Alexandre de Moraes, o CEO começou a seguir Nicolai Tangen, um poderoso investidor norueguês, sendo este CEO do Norges Bank Investment, que se trata de um fundo de investimentos que tem negócios em várias partes do planeta, dando prioridade à área de mineração. Elon Musk chegou a ter uma live no X com Nicolai Tangen. 

Para se ter uma ideia, o Norges Bank Investment, em 2023, tinha investimentos em mais de 8 mil empresas, abrangendo 72 países, sendo dono de pouco mais de 1 % da Petrobras, 3 % da Cosan e 5 % da construtora Tenda, dentre outras empresas brasileiras, com investimentos na canadense Sigma, na anglo-australiana Rio Tinto e na metalúrgica holandesa AMG. Foi quando os interesses de Elon Musk e do CEO do Norges Bank confluíram.

(continua)

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Blog : https://www.seculodiario.com.br/colunas/elon-musk-e-o-twitter-parte-7/ 


POEMA REVERENCIAL

Te dedico meus textículos, meu tesão e meu orgasmo.

Nestes versos maltrapilhos, em cartas esparsas,

vertida toda clitóris de vestal, no vendaval,

e o magma que expande seu enigma.


Pois, ao sol, no meio da praia,

sou o clímax que revira os olhos,

neste navio de carranca

que espanta o

mau olhado.


14/11/2024 Monster

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

ELON MUSK E O TWITTER - PARTE 6

“o Twitter Files se tratou de um relatório para manipular a opinião pública”


O Twitter Files representou uma forma midiática de divulgação de material enviesado, em que a justiça brasileira passou a ser colocada em dúvida, na pretensão de tais arquivos apresentá-la como uma instituição de poder autoritária do país. E o que tivemos foi um vale tudo em que se recorria até à defesa de grupos neonazistas, golpistas, tendo grupos organizados atuando, tal como o Era Fascista, que foi um dos canais no Telegram suspensos pelo ministro Alexandre de Moraes. 

Tomando como alvo decisões judiciais, o Twitter Files se tratou de um relatório para manipular a opinião pública. As primeiras oito páginas do relatório, por exemplo, funcionam como um panfleto confeccionado por um comitê de maioria republicana. É pretensamente revelado um cenário de censura no Brasil, em que este viés do Twitter Files teria como fito o de atacar Joe Biden, que ainda era concorrente à reeleição como presidente dos Estados Unidos, numa disputa contra Donald Trump, que tentava voltar ao poder.

O título do relatório, resultado da entrega de documentos pela rede social X, de Elon Musk, é o seguinte : “O ataque à liberdade de expressão no exterior e o silêncio da administração Biden: o caso do Brasil”. Um dos objetivos relatados, por sua vez, é o de retorno dos deputados trumpistas ao poder. “O Congresso deve levar a sério os alertas do Brasil e de outros países que buscam suprimir a liberdade de expressão online. Nunca devemos pensar que isso não pode acontecer aqui”. O comitê tem como presidente o republicano Jim Jordan, um dos maiores expoentes da extrema direita nos Estados Unidos.

O texto de Jim Jordan, contudo, é uma distorção dos documentos já enviesados vazados por Elon Musk. O que se lê não possui uma metodologia, e as conclusões, portanto, são forçadas. Existe uma total ignorância das bases legais e constitucionais que orientam as medidas adotadas tanto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no combate contra a desinformação e pela proteção do regime democrático, sobretudo no período de iminência da tentativa de golpe que se daria após as eleições de Lula no Brasil.

O Twitter Files é uma versão compilada e enviesada em que são tomadas 88 decisões da Justiça brasileira em forma compacta e simplista, criando um relatório que faz entender que todas estas medidas foram tomadas pelo ministro Alexandre de Moraes, e que todas, igualmente, foram medidas tomadas de modo autoritário, com o fito de censura injustificada, ignorando os contextos dos casos. 

É algo estarrecedor colocar todas estas medidas como censura, uma vez que muito do que foi debelado pela Justiça, nestes casos, envolvia o contexto de incitação a golpe de Estado, e que é crime penal na Constituição Federal. O relatório, além de acusar toda e qualquer medida como censura, mais uma vez sob a égide de uma versão alucinada de liberdade de expressão com paralelo, quando muito, somente nos Estados Unidos, tenta naturalizar as ações realizadas no dia 8 de janeiro, e minimiza a tentativa de golpe de Estado.

Além desta completa desconexão com a realidade política e jurídica do Brasil, o comitê republicano se alinha com o que há de pior na extrema direita aqui do país, e que resulta num relatório que ignora outras questões graves enfrentadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) como o neonazismo, em que um dos bloqueios determinados pelo ministro Alexandre de Moraes incluiu o já citado acima Era Fascista, no Telegram.

No caso de grupos neonazistas e outros grupos extremistas que foram monitorados, tivemos planejamentos de ações de doxxing, por exemplo, contra o ministro Alexandre de Moraes, o que se traduz como uma ação coletiva coordenada de assédio online direcionada contra uma única pessoa ou perfil, o que é crime. As ordens sob sigilo, que são objeto de questionamento por parte de bolsonaristas, por sua vez, são medidas comuns no cotidiano da justiça criminal tanto no Brasil como em outros países de regime democrático, o que nos Estados Unidos é conhecido como “law enforcement”.

Isto revela, portanto, o aspecto grotesco deste relatório, que se trata de um documento enviesado, só que de modo mal ajambrado, sem fundamentação, um compilado grosseiro de teses pré-fabricadas, e que tem como fonte principal links do perfil no twitter de Jim Jordan, numa tentativa descarada, embora anódina, de manipulação política. 

Para resumir um pouco as ações em torno do Twitter Files, tal se tratou de uma ação coordenada em que o relatório divulgado mostra advogados da empresa reclamando de ordens judiciais de Alexandre de Moraes, em que se determinava o bloqueio de contas envolvidas nas manifestações golpistas de 8 de janeiro, o que foi seguido de um apito de cachorro de Elon Musk, em que um tuíte dele mobilizava bolsonaristas contra as tais medidas de censura.

Logo se armou um circo em que se reuniram lideranças bolsonaristas como Jair Bolsonaro, seu filho Eduardo Bolsonaro, o Bananinha, que fizeram uma live, ao passo que em outra live tivemos a presença de Nikolas Ferreira, o Chupetinha, além de Paulo Figueiredo e o famigerado Allan dos Santos, um dos confessores do Pateta em Orlando, e que se encontrava banido. 

E então se iniciou o conflito entre Elon Musk e Alexandre de Moraes, em que o CEO usou a sua rede para contrariar uma ordem judicial do Supremo Tribunal Federal (STF), o que é ilegal, pedindo o impeachment do ministro. Com isso, a extrema direita se mobilizou, e o ministro Alexandre de Moraes acabou incluindo Elon Musk no extenso inquérito das milícias digitais. 

(continua)


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário :

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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

ELON MUSK E O TWITTER - PARTE 5

“Elon Musk começou a exercer uma tensão do X/Twitter contra o STF e o TSE”


O embate de Elon Musk com as instituições brasileiras teve como principal motivador a história que ficou conhecida como a do “Twitter Files Brazil”. O fato se deu quando um grupo de deputados federais de extrema-direita nos Estados Unidos  publicou um relatório em que estavam descritas várias decisões judiciais sigilosas, e isto envolvendo o STF (Supremo Tribunal Federal) e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), tudo relacionado com plataformas digitais, englobando o período que ia de 2020 até 2024, e que se referiam a punições e suspensões de perfis.

Este relatório foi publicado pelo comitê da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, com a liderança de Jim Jordan, junto a maioria republicana, um extremista que apoiou o discurso trumpista de fraude eleitoral no país, e que nunca foi provado. Como era previsível, novamente se discutia a liberdade de expressão e supostas ações de censura jurídica contra o X/Twitter por autoridades do Brasil.

As penalidades contidas no relatório se referem, sobretudo, a contas que apoiaram ou estimularam  a insurreição de 8 de janeiro de 2023, em Brasília, responsável pelo vandalismo e depredação contra os Três Poderes, isto é, Congresso, Supremo e a sede da Presidência da República. 

Um dos alvos nesta divulgação é o ministro do STF Alexandre de Moraes, pois o relatório contém 51 decisões judiciais, muitas destas marcadas como sigilosas, que foram emitidas pelo ministro, e que citam X/Twitter, Meta (dona do Facebook e do Instagram), YouTube, TikTok, Telegram, Discord, LinkedIn, além das redes conservadoras Rumble e Gettr. E ainda temos, no mesmo relatório, mais 37 decisões do Tribunal Superior Eleitoral, que à época ainda tinha Alexandre de Moraes como presidente.

A partir da publicação dos chamados Twitter Files Brazil, Elon Musk começou a exercer uma tensão do X/Twitter contra o STF e o TSE. O jornalista ativista norte-americano Michael Shellenberger publicou tuítes com a versão brasileira do Twitter Files. 

O material recente, por exemplo, já mostra comunicações do ex-diretor jurídico do X/Twitter no Brasil, Rafael Batista, desde 2020, em que ele discutia a respeito de solicitações sobre dados pessoais de usuários vindas de autoridades do judiciário, do legislativo e do Ministério Público, enquadrando, entre estes, políticos bolsonaristas e apoiadores, com possíveis consequências em caso de descumprimento de ordens judiciais.

O elenco predominante de perfis notificados era de bolsonaristas que se engajaram nas campanhas de calúnias contra o sistema eleitoral brasileiro, culminando em atos como a tentativa de explodir o aeroporto de Brasília. 

Além disso, militantes se mobilizaram em torno de quartéis, em rodovias, com atos anti-democráticos, em que o clímax foi a invasão e vandalismo dos edifícios públicos dos Três Poderes. Por sua vez, o que se tentava questionar, partindo do Twitter Files, era o excesso de solicitações judiciais sem respaldo legal. 

O Twitter Files, por sua vez, mobilizou bolsonaristas e a extrema-direita, ainda com a mal digerida derrota de Jair Bolsonaro nas urnas. Em seguida, Elon Musk afirmou que removeria todas as restrições feitas sobre perfis que receberam ordem judicial, o que fez com que Elon Musk entrasse em choque com o ministro Alexandre de Moraes. 

Shellenberger, um agitador, mais ativista que jornalista, disse que Musk, ao retirar as restrições de perfis com ordens judiciais, poderia provocar a retirada do ar do X/Twitter no Brasil a qualquer momento. O ministro Alexandre de Moraes, por sua vez, incluiu Musk no inquérito das milícias digitais, alegando que o CEO fez campanhas de desinformação sobre as ações do STF e do TSE e instigou ações de desobediência e obstrução à Justiça.

A reação institucional brasileira, por sua vez, partiu do princípio de soberania, ou seja, de que o país jamais seria tutelado pelas plataformas digitais e por big techs, sendo um país democrático, com uma Constituição Federal e um sistema de Justiça independente, com imprensa livre, instituições autônomas e liberdade de expressão, demandou uma ação forte e efetiva em relação a intromissões de poderes financeiros irresponsáveis e prepotentes. Com isto, entrou na pauta a necessidade de uma nova regulamentação para as redes sociais, diferente do Marco Civil da Internet.

Por fim, o Estado de Direito não pode ser violado por redes sociais comandadas por bilionários com domicílio no exterior, com descumprimento de ordens judiciais e ameaças a autoridades. Portanto, houve reação, que começou com pedidos de informações à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) sobre qual procedimento adotar para retirar o X/Twitter do ar no país. A partir daí, a Anatel deixou as operadoras de telefonias de prontidão para a retirada do X do ar.

O ministro do STF Barroso, por sua vez, levantou o fato da instrumentalização das redes sociais durante os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, afirmando que todas as empresas que operam no Brasil  estão sujeitas à Constituição Federal. 

(continua)


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

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quarta-feira, 23 de outubro de 2024

ELON MUSK E O TWITTER - PARTE 4

“na questão da guerra da Ucrânia, Elon Musk se interpôs na discussão de modo histriônico e imaturo”


As polêmicas de Elon Musk, além desta recente no Brasil, tivemos o embate com a União Europeia, a qual anunciou, em 2023, uma investigação sobre disseminação de conteúdo terrorista e violento na rede X do CEO problemático, além de propagar discursos de ódio, sobretudo após o ataque do Hamas a Israel. 

Em dezembro de 2023, por fim, a União Europeia formaliza a sua suspeita de violação de suas regras pela rede X através de conteúdos ilegais e de desinformação que circularam sem serem derrubados ou combatidos.

Dentre as acusações estava a do comissário digital da União Europeia, Thierry Breton, em que o X era colocado como suspeito de violação de regras de transparência. A rede social X respondeu que estava cooperando com o processo regulatório. 

Contudo, em outro episódio, a rede X realiza o banimento de contas de jornalistas, fazendo com que Elon Musk receba uma saraivada de críticas vindas de governos, das Nações Unidas e, por fim, da União Europeia, quando a comissária Vera Jourova, baseada na nova Lei Europeia de Serviços Digitais, ameaçou a rede X com sanções, pois esta nova lei foi elaborada para afirmação de direitos fundamentais e pelo respeito à liberdade de imprensa.

Por sua vez, na questão da guerra da Ucrânia, Elon Musk se interpôs na discussão de modo histriônico e imaturo, chegando ao ponto de, em outubro de 2022, usar o ainda Twitter para sugerir um “plano de paz”, sob a forma de enquete, deixando as autoridades ucranianas indignadas. Os detalhes da enquete exalam pretensão e prepotência, parecendo a proposta de um chefe de Estado, sendo este apoiado por uma coalizão.

Mas, na verdade, se tratava de um pastiche modorrento e de mau gosto, com opções como “refazer eleições de regiões anexadas sob supervisão da ONU; a Rússia sai se essa for a vontade do povo”, ou ainda esta outra pérola de auto paródia involuntária do CEO infantilizado como “Crimeia formalmente parte da Rússia, como tendo sido desde 1783 (até o erro de Khrushchev)”, além de outras baboseiras onipotentes. 

Por sua vez, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, criou uma enquete no Twitter, na qual se perguntava qual Elon Musk os seguidores do presidente gostavam mais. E as opções eram uma ironia em que uma era “Aquele que apoia a Ucrânia” e outra era “Aquele que apoia a Rússia”. 

Outro conflito se deu entre Elon Musk e o Estado americano de Delaware, quando no dia 30 de janeiro Musk escreveu no X : “Nunca registre sua empresa no Estado de Delaware”. Foi quando duas empresas de Musk, a Neuralink e a SpaceX anunciaram que não teriam mais sede fiscal em Delaware. Por sua vez, em fevereiro veio a notícia de que a Neuralink registraria seu endereço legal em Nevada, mesmo Estado em que a X tem sede, ao passo que a SpaceX se registraria no Texas.

A Tesla, por sua vez, ainda está em situação indefinida, enquanto Musk empreende uma campanha para que outras empresas não estabeleçam domicílio legal em Delaware, ao mesmo tempo em que o CEO tenta se livrar de qualquer vínculo com este Estado. Toda esta batalha é bem dura, pois Delaware é considerada atraente pelo setor empresarial há décadas.

Uma das causas do embate de Musk com o Estado de Delaware partiu da anulação de um pacote salarial de US$56 bilhões, que era o maior pagamento concedido a um CEO de uma empresa de capital aberto na História, e que foi barrada por uma juíza de Delaware, no fim de janeiro, decisão advinda de ação judicial movida por acionistas, julgando o pagamento excessivo, e que teve concordância da juíza.

O Estado de Delaware não é qualquer região do empreendedorismo norte-americano e mundial, longe disso, pois a coisa vai muito mais longe, uma vez que estamos lidando com um Estado que concentra mais de 60% das empresas que compõem o índice Fortune 500, este que inclui as 500 maiores empresas norte-americanas. 

Ou seja, todas estas empresas que estão dentro desses mais de 60% têm seu registro legal de sede em Delaware. Tais empresas incluem, dentre várias, gigantes como Facebook, Amazon, Google, Walmart, MasterCard, Visa, LinkedIn etc. Contando as empresas do mundo, por fim, Delaware possui mais de 1,6 milhões destas empresas com sede legal por lá.

Em relação à Bolívia, por fim, em 2020, a confusão se deu através de postagens, que começaram com uma crítica de Elon Musk a uma iniciativa do governo dos Estados Unidos que visava um pacote de estímulo, e isso durante a pandemia da Covid-19. Na postagem de Elon  Musk se dizia que tal pacote “não atendia aos melhores interesses do povo”.

Esta postagem gerou uma resposta que afirmava não se tratar dos melhores interesses do povo o fato do governo dos Estados Unidos terem organizado um golpe contra Evo Morales para que Elon Musk tivesse acesso ao lítio da Bolívia. O lítio que, por sua vez, é um mineral usado para a fabricação de baterias na Tesla, por exemplo.

O fato era que em 2019 o então presidente da Bolívia, Evo Morales, havia renunciado, depois de uma mobilização popular e de um motim da maioria dos policiais bolivianos, mais o pedido de renúncia feito pelas Forças Armadas. A resposta de Elon Musk, em pleno ano eleitoral na Bolívia, foi categórica, para não dizer irresponsável : “Nós daremos golpe em quem quisermos. Lide com isso”.  


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

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sexta-feira, 18 de outubro de 2024

ABRACADABRA

Eu bebo o vinho do fastígio, em verso nacarado,

ao aroma de almíscar, nas flores do campo

que sorriem aos girassois, e na mestra alma

do mundo, sonhadora, que em sândalo repete

o seu mantra AUM, no ruído de fundo

da escala maior, um rosa em chama violeta,

bruxuleando diante da sarça, no oráculo

de absinto das glórias da carne e do espírito,

através de um congraçamento após a conflagração,

e os poemas anarquistas, com os ases ctônicos

da nova terra desta promessa granítica

dos dias das alvíssaras, aos loas

desta sempiterna paralaxe

no horizonte de uma cornucópia

labiríntica, do aleph ou Mefisto,

do diabo azul ou de um Deus Totêmico.


18/10/2024 Monster  

quarta-feira, 16 de outubro de 2024

ELON MUSK E O TWITTER - PARTE 3

 “Elon Musk veste uma persona histriônica de agitador e influencer”


Elon Musk faz parte de uma concepção de Estado privado que se utiliza de um viés libertário para testar os limites da soberania dos Estados modernos constituídos. Portanto, o que ocorreu aqui no Brasil, nas últimas semanas, com a suspensão do X (ex-Twitter) não configura uma novidade no histórico conturbado de Musk na sua relação com a soberania dos países pelo mundo. 

Elon Musk veste uma persona histriônica de agitador e influencer, misturando neofascismo com um libertarianismo de cepa anarcocapitalista e que se confronta com valores da Modernidade histórica como os do Iluminismo e do Humanismo, bases axiais do que se conhece do que temos como produções de laicidade, liberdade religiosa e política, evoluindo para as democracias liberais.

Tivemos também reações, ainda dentro dos limites da modernidade, como o pensamento socialista, e também presenciamos distorções surgidas de dentro do liberalismo em crise, como um ovo da serpente, que foi o fascismo corporativista italiano e depois o nazismo alemão. Tais concepções totalitaristas surgiram já com valorações nostálgicas que se confrontavam com valores consagrados da Modernidade iluminista.

Com uma concepção política feita de oratória radiofônica e estética, estas ideias totalitaristas  seduziram corações naqueles anos que duraram até o fim da Segunda Guerra Mundial, e que desde o pós-guerra até hoje ganham versões celulares em diversos países e/ou partidos que rezam a cartilha, mas tentam dissimular o discurso, compondo o cenário atual da extrema direita.

Por sua vez, com o advento da internet, hoje lidamos com um tipo de histrionismo que reproduz valores distorcidos originados desta extrema direita, com uma nova lógica de memes, trollagem, piadas de gosto duvidoso, e que com Elon Musk ganharam um representante com poder financeiro e midiático que atua, exatamente, através deste modelo de provocações histriônicas contra seus adversários, que podem ser governos, justiça, figuras públicas etc. 

A performance monetizante é o uso do algoritmo que só reconhece engajamento cego, e o pior que tem na praça é o que ganha destaque na internet, pois este algoritmo mostra o que engaja e viraliza. Elon Musk sabe que a lógica de algoritmo é viciada em memes e trollagens, e isto favorece a inconsequência do discurso dominante desta extrema direita atualizada em negacionismo científico, noções reacionárias diversas, somada a uma série de inversões de valores que erguem um verdadeiro guia anti-iluminista e de demolição dos valores humanistas.

Elon Musk representa este Estado privado que se confronta em poder com o Estado Moderno, o que, em lógica, pode ser entendido como um embate entre estes “estados-fluxo” das big techs, com uma dinâmica onívora capitalista, e os regramentos e estatutos de países, criando um desnível de interesses e modos de operação, sistemas e organizações que, quando chega ao ápice, os Estados constituídos reagem e, sim, ainda detêm mais poder e contundência que as big techs, por incrível que pareça.

Embora o sonho dourado de CEOs como Elon Musk fosse passar como um rolo compressor sobre as normas de poder do Estado de Direito, num novo estado total privado, seu histórico de embates pode se resumir a tentativas histriônicas de sabotagem e, depois, a adaptação às regras de cada Estado, sem grande sucesso em retorcer os limites institucionais, levando a respostas duras, no espírito da lei e segundo a defesa de soberania, conceitos tão consagrados, que uma persona histriônica, por mais poder financeiro que tenha, acaba sendo coagido a ceder e obedecer, pateticamente.

Além do caso recente de Elon Musk contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, aqui no Brasil, que irei tematizar em breve, o CEO gracioso também se meteu com a soberania de outros países, tais como Austrália e Ucrânia, além do estado de Delaware, nos Estados Unidos, e um conjunto de países, com confrontos com a UE (União Europeia), por exemplo. Como dono do X, antigo Twitter, Elon Musk arranjou diversos problemas, sempre tentando se escudar numa concepção distorcida de liberdade de expressão.

Na Austrália, o primeiro-ministro do país, Anthony Albanese, chamou Elon Musk de bilionário arrogante diante da relutância do X de retirar do ar as imagens de esfaqueamento dentro de uma igreja em Sydney, e o X dizendo que cumpriria a decisão ordenada por um tribunal, Musk, no entanto, faz um meme acusando o governo australiano de censura. Albanese chegou a dizer à emissora ABC News que Musk pensa que está acima da lei, “mas também acima da decência comum”.

A ofensiva de Elon Musk com o governo australiano, por sua vez, foi retomada recentemente com a apresentação de um projeto de lei que visa coibir a disseminação de desinformação por parte das redes sociais. Elon Musk chama o governo australiano de fascista e autoridades australianas se manifestam diante de uma concepção distorcida, ou melhor, enviesada, sobre liberdade de expressão, do CEO problemático. 

Ou seja, temos o exemplo da colocação do ministro das Finanças da Austrália, Stephen Jones, como uma forma de sintetizar o confronto deles com Musk por lá. Quando o ministro disse à emissora ABC o seguinte : "Não consigo entender como Elon Musk ou qualquer outra pessoa, em nome da liberdade de expressão, achar que está tudo bem ter plataformas de mídia social publicando conteúdo fraudulento, que está roubando bilhões de dólares dos australianos todos os anos. Publicação de material deepfake, publicação de pornografia infantil. Transmissão ao vivo de cenas de assassinato. É para isso que ele acha que serve a liberdade de expressão?", disse o ministro.

(continua)


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

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