PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

O GOLPE BOLSONARISTA - PARTE 3

“o país sofreu uma série de assédios em sua História recente”

Walter Braga Netto foi preso no sábado dia 14/12 pela Polícia Federal (PF). O general da reserva, ex-Ministro da Casa Civil e da Defesa, e que foi candidato à vice-presidência na chapa derrotada com Jair Bolsonaro acabou preso por obstruir a Justiça. Braga Netto fazia parte da organização que planejou o golpe no final de 2022.

Tal organização se dividia em seis núcleos e teve, segundo a PF, participação efetiva de Braga Netto, sendo que no relatório de 884 páginas da Operação Contragolpe ele é citado 98 vezes. O chamado gabinete de crise, que seria instaurado após o golpe, por exemplo, com o fito de realizar novas eleições, seria chefiado por ele e pelo general Augusto Heleno. Braga Netto participou na elaboração dos planos golpistas, e em sua casa, no dia 12 de novembro de 2022, se realizou a reunião em que se aprovou o planejamento operacional do golpe.

O decreto golpista, por sua vez, seria implementado após a realização do golpe, por Jair Bolsonaro, com o apoio deste gabinete de crise chefiado por Braga Netto e por Augusto Heleno, ligado diretamente à Presidência da República. Uma das tarefas do gabinete, também, seria a de traçar estratégias de comunicação em busca de apoio nacional e internacional e a articulação de redes de inteligência. 

Tal intento era ambicioso, mas tanto, que não entrava no cálculo o risco de o Brasil virar um pária diplomático, tomado por um golpe à moda antiga, com o país virando mais uma versão de republiqueta bananeira do que qualquer outra coisa. Por sua vez, a rede de inteligência, quando muito, teria um apoio nacional bem relativo, repleto daqueles mesmos idiotas guiados por mentores da ação bandoleira e vândala nos Três Poderes, em Brasília, do dia 8 de janeiro de 2023, um capítulo de demência política inaudita na História do Brasil.

Braga Netto também participou da famigerada e mal sucedida ofensiva para pressionar os então comandantes da Aeronáutica e do Exército para que aderissem ao golpe, quando ocorre o fato determinante nesta história toda, pois eles foram voto vencido, tendo apenas a adesão do então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier. Os golpistas foram derrotados como num placar de futebol por dois a um. 

A prisão preventiva do general Braga Netto foi determinada por decisão do ministro Alexandre de Moraes do STF, pois o ex-ministro teria tentado obter dados sigilosos dos depoimentos prestados à Polícia Federal, na tentativa de obstruir as investigações.

A divisão em seis núcleos do grupo golpista, por sua vez, servia como forma de distribuição de tarefas, na individualização das condutas. O grupo foi indiciado por três crimes, que foram a abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. A divisão relatada é baseada na Operação Tempus Veritatis, realizada em fevereiro deste ano.

O primeiro núcleo é o de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral, cuja função era produzir, divulgar e amplificar notícias falsas relacionadas à lisura das eleições presidenciais de 2022, estimulando bolsonaristas a ficarem em frente a quartéis e instalações militares para criar uma atmosfera para o Golpe de Estado. Dentre os integrantes deste núcleo estavam o tenente-coronel do Exército, e então ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, além do então Ministro da Justiça Anderson Torres.

O Núcleo de Incitação Militar, por sua vez, tinha a função de eleger alvos para amplificação de ataques contra militares em posição de comando que estavam resistentes e contra os planos golpistas. Neste núcleo estavam, por exemplo, Braga Netto, o jornalista Paulo Figueiredo, neto do ex-presidente militar João Figueiredo, e Mauro Cid.

O Núcleo Jurídico, por sua vez, elaborava minutas de decretos com fundamentação pseudo-legal para atender os interesses do grupo golpista. Foi deste núcleo que saiu a famigerada “minuta do golpe”, documento cujo rascunho foi encontrado na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que previa a decretação de medidas de exceção como o Estado de Sítio, para evitar a transferência de poder para o então presidente eleito Lula. 

Anderson Torres, por sua vez, passou um breve período preso, em que se revelou um moleirão, com ideações suicidas na cela. Ao passo que Lula passou mais de um ano em regime fechado, no auge do lavajatismo, com galhardia. Dentre os integrantes deste núcleo temos o ex-assessor para assuntos internacionais de Jair Bolsonaro, o racista Filipe Martins, além do choramingão do Anderson Torres e de Mauro Cid. 

O Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas, por sua vez, realizava reuniões para planejamento e execução de ações para manter as manifestações bolsonaristas em frente aos quartéis engajadas e ativas, com mobilização, organização logística e financiamento de militares das forças especiais em Brasília.

O Núcleo de Inteligência Paralela, por sua vez, era responsável por auxiliar a tomada de decisões do então presidente Jair Bolsonaro em relação ao plano de golpe de Estado. Uma das tarefas deste núcleo era monitorar o ministro do STF Alexandre de Moraes, então presidente do TSE, em seus deslocamentos, itinerários e localização, além de outras autoridades.

Este núcleo do grupo visava a captura de Alexandre de Moraes e de outras figuras políticas contrárias à ruptura democrática, tudo a partir do momento em que Jair Bolsonaro assinasse um decreto viabilizando o golpe de Estado. Os integrantes deste núcleo eram Augusto Heleno, Marcelo Câmara e Mauro Cid. Este núcleo desenvolveu diversas ações clandestinas, se utilizando de forma ilegal da estrutura de órgãos do Estado brasileiro, tudo no fito tanto de consumação do golpe de Estado como de manutenção de Jair Bolsonaro no poder após o golpe. 

Por fim, o Núcleo de Oficiais de Alta Patente e Apoio teria o objetivo incitar apoio aos outros núcleos ao endossar as ações para a consumação do golpe de Estado. Dentre os integrantes deste núcleo temos Braga Netto, o ex-comandante adesista da Marinha Almir Garnier, o general da reserva Mário Fernandes, o general Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, além do general da reserva Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. Caberia a este núcleo o sequestro do ministro Alexandre de Moraes, tarefa que seria executada por militares das Forças Especiais do Exército, os chamados “kids pretos”, que estavam então subordinados ao general Theophilo.

Tanto na derrota aritmética nos Altos Comandos das três Forças Armadas como, mais uma vez, com um capítulo mambembe de execução canhestra em que sobrou ambição e faltou o mínimo de inteligência, como a dependência de itinerários de táxis com sinalização manual à moda antiga, e na falta deste, cria-se um cenário de comédia pastelão, com todo um desdobramento patético, o Brasil teve sorte no azar. Em toda esta saga bolsonarista, o país sofreu uma série de assédios em sua História recente, contudo, misturando a tragédia iminente das intenções e ambições com a comédia indelével dos resultados e da descrição de cenas risíveis e ridículas destes convescotes e conspiratas.


(obs : Prezados (as) leitores (as), estarei de férias nos próximos dias, retornarei em fevereiro. Até a volta e boas festas!)


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/o-golpe-bolsonarista-parte-3/ 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

O GOLPE BOLSONARISTA - PARTE 2

“uma interpretação anômala do Artigo 142, para legitimar o golpe de Estado”


A organização golpista, segundo as investigações, foi separada por núcleos, e o indiciamento de Bolsonaro e de outras 36 pessoas por tentativa de golpe de Estado revelam um cenário no qual este golpe esteve muito próximo de se efetivar no final de 2022. Por fim, a Polícia Federal deu por encerrada as investigações do caso com a entrega do relatório à PGR (Procuradoria-Geral da República).

No relatório da Polícia Federal constam documentos à caneta que explicam como funcionaria a operação, incluindo um esboço intitulado Operação 142 encontrado na sede do Partido Liberal, na mesa do coronel Flávio Botelho Peregrino, que era o então assessor do general Braga Netto, candidato à vice-presidente da chapa de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.

O título deste documento se refere ao artigo 142 da Constituição Federal. E aqui cabe uma rápida recapitulação da polêmica que girou em torno deste artigo da Carta Magna da Nova República no governo anterior, que representou tanto um hiato no conceito de Nova República e redemocratização do país, como sobretudo um retrocesso nas conquistas democráticas e ameaça institucional que agora se confirmou com o que vem sendo devassado no que ocorria no fim de 2022.

A Constituição Federal de 1988 submeteu as Forças Armadas aos poderes constitucionais e construiu uma relação de neutralidade entre estas e a política. Por conseguinte, sob a nova ordem constitucional tivemos a incorporação dos três comandos das forças (Exército, Marinha e Aeronáutica) à estrutura do Ministério da Defesa, sob a direção de um Ministro civil.

O amadurecimento institucional da redemocratização passou, portanto, pela mudança das relações civis-militares, com o afastamento dos militares da política e de orientações de governo e obedecendo à ordem constitucional, isto é, com as Forças Armadas como um aparelho de Estado e não de governo. A democracia liberal criava, então, uma nova cultura de atuação estritamente profissional e constitucional por parte dos oficiais das três forças.

Com a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, logo que seu governo começou, tivemos um retrocesso nesta profissionalização das Forças Armadas, pois alguns dos órgãos ministeriais do novo governo passaram a ter a presença de militares, com o Ministério da Defesa deixando de ser ocupado por civis e voltando ao comando de generais, e com influência importante nos rumos do governo Bolsonaro, tanto em políticas públicas como na dinâmica institucional entre os Três Poderes, isto é, Executivo, Legislativo e Judiciário.

No ano de 2020, com a pandemia da Covid-19, tivemos o aumento da tensão institucional entre a Presidência da República, apoiada pelo Ministério da Defesa, e o Supremo Tribunal Federal (STF). Com o agravamento dos conflitos entre o governo e a Suprema Corte, por sua vez, foi quando o então presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores políticos, incluindo alguns militares, passaram a defender publicamente que as Forças Armadas poderiam exercer um poder moderador.

Tal ideia estapafúrdia, se não fosse, contudo, canalha e conspiratória, do poder moderador, tomava como base uma tese levantada pelo jurista Ives Gandra Martins, em que o Artigo 142 da Constituição Federal autorizaria qualquer dos poderes, ao se sentir violado por outro poder, de reivindicar a “garantia da lei e da ordem” pelas Forças Armadas. Segundo Ives Gandra, entretanto, se trataria de uma intervenção pontual, para repor a lei e a ordem, e não para abrir precedente para a ruptura e a ascensão de um poder moderador.

O lado estapafúrdio, para não dizer que faltaria uma comicidade quando se trata de bolsonarismo, é que esta ideia de poder moderador não é nem da ditadura dos anos 1970 e nem do Estado Novo Getulista, é algo que só foi usado no Império, em que este era um poder do monarca que visava harmonizar os outros poderes e garantir a estabilidade do Estado. Portanto, este Poder Moderador era um quarto poder do Estado, e que durou de 1824 até 1889, sendo exercido pelos imperadores Dom Pedro I e Dom Pedro II. 

Por sua vez, a reaparição da tese de Ives Gandra em um momento de crise institucional grave da redemocratização causou uma reação imediata da comunidade jurídica, e começou um trabalho por parte de juristas para a reafirmação da defesa da interpretação correta do Artigo 142 da Constituição Federal.

Foi então realizada a reafirmação de que as Forças Armadas, enquanto instituições de caráter permanente e com função essencial ao Estado Democrático de Direito, devem exercer suas atribuições constitucionais segundo uma conduta de neutralidade política, sob a distinção e separação civil-militar exigida pelo regime democrático. Portanto, não está previsto na Constituição Federal, por fim, a autorização de qualquer “poder moderador” para dirimir conflitos entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

A alusão ao Artigo 142 da Constituição Federal no título do documento indicava, portanto, o caráter golpista e de ruptura institucional da conspiração urdida após a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro. A Polícia Federal acredita que a elaboração deste documento se deu entre novembro e dezembro de 2022, se utilizando de uma interpretação anômala do Artigo 142, para legitimar o golpe de Estado. 

O documento Operação 142 traça um passo a passo da instauração do golpe, sendo os principais : Enquadramento jurídico do decreto 142 (Advocacia Geral da União e Ministério da Justiça), convocação do Conselho da República e da Defesa, discurso em cadeia nacional de TV e rádio, preparação da tropa para as ações diretas, anulação de atos arbitrários do STF, anulação das eleições, prorrogação dos mandatos, substituição de todo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), preparação de novas eleições. Tais fins se encerram no fatídico documento com resultados estratégicos como : “Estado final desejado político” e, por fim, “Lula não sobe a rampa”.

O plano de golpe só não foi efetivado pela falta de adesão dos comandantes do Exército e da Aeronáutica, uma vez que o almirante Almir Garnier, então comandante da Marinha, aderiu à conspiração golpista, colocando as tropas à disposição do então presidente Jair Bolsonaro.

Como dito, o inquérito do golpe foi enviado à Procuradoria-Geral da República (PGR). Portanto, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, é quem vai decidir se o ex-presidente e os demais acusados serão denunciados ao STF pelos crimes imputados pela Polícia Federal.

No inquérito, além do atentado do dia 13 de novembro deste ano, do homem em sofrimento psíquico que morreu ao tentar explodir o STF, temos os atos de invasão e vandalismo dos Três Poderes de 8 de janeiro de 2023, a tentativa de invasão da sede da Polícia Federal, ocorrida em Brasília, no dia 12 de dezembro de 2022, e ainda a tentativa de explosão de um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília no dia 24 de dezembro do mesmo ano. 

Por fim, uma das principais conclusões das investigações da Polícia Federal é a de que Jair Bolsonaro atuou de forma direta e efetiva nos atos executórios para a tentativa de golpe de Estado, após a sua derrota nas eleições, no final de 2022. Mas, no momento, judicialmente, o ex-presidente está na condição de indiciado, além de inelegível.

(continua)


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.


Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/o-golpe-bolsonarista-2/

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

O GOLPE BOLSONARISTA - PARTE 1

“tentativa de golpe que incluía um plano de assassinato do presidente Lula”


No dia 19 de novembro foi deflagrada a operação da Polícia Federal que cumpriu mandados de prisão e de busca e apreensão contra suspeitos de uma organização criminosa que planejava um golpe de Estado no Brasil em 2022, e que tinha como objetivo principal impedir a posse do presidente Lula. 

O plano golpista foi batizado de “Punhal Verde e Amarelo”, o que remete à “Noite dos Longos Punhais” ou “Nacht der Langen Messer”, na radicalização do Nazismo na Alemanha. A Polícia Federal, com a operação, investiga uma tentativa de golpe que incluía um plano de assassinato do presidente Lula, de seu vice Geraldo Alckmin e do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, no final de 2022, já com Lula vitorioso nas urnas.

Com a operação da Polícia Federal, por sua vez, cinco pessoas foram presas com autorização do STF, o que incluiu quatro militares do Exército, todos eles ligados às forças especiais e denominados como “kids pretos”, além de um policial federal. São eles o general de brigada da reserva Mário Fernandes, o tenente-coronel Helio Ferreira Lima, o major Rodrigo Bezerra Azevedo, o major Rafael Martins Oliveira e o policial federal Wladimir Matos Soares.

“Kids pretos” é uma gíria usada para denominar militares que atuam em missões especiais. Esta operação da PF foi batizada de “Contragolpe”, e faz parte de um inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado e as ações contra a democracia que envolvem o período eleitoral de 2022 e que teve como ápice a invasão dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023.

O plano “Punhal Verde e Amarelo”, por sua vez, de acordo com a Polícia Federal, previa um ataque no dia 15 de dezembro de 2022. Foi encontrado nos arquivos de Mário Fernandes, por conseguinte, um documento que tinha como plano instituir um “gabinete de gestão de crise”, que entraria em operação no dia 16 de dezembro de 2022, no dia seguinte ao ataque. Esse gabinete seria chefiado pelo general Augusto Heleno, tendo o general Braga Netto como coordenador-geral.

Mauro Cid prestou novo depoimento à PF, em consequência desta operação, e negou que soubesse do plano. A PF, por sua vez, apontou inconsistências no depoimento, cabendo agora ao ministro do STF Alexandre de Moraes avaliar se haverá a anulação dos benefícios concedidos a Mauro Cid após o acordo de delação.

De acordo com a petição enviada ao STF, a PF encetou uma investigação que juntou aspectos de um plano de tentativa de golpe de Estado, violação do Estado Democrático de Direito, incluindo ataques ao sistema eleitoral, aos opositores e às instituições. O objetivo era o de impedir a posse de Lula, além de restringir o livre exercício da Democracia e do Poder Judiciário no Brasil.  

A articulação golpista teve seu auge a partir de novembro de 2022, avançando até dezembro, e que era parte de um plano de consumação de golpe de Estado denominada “Copa 2022”, que reunía elementos típicos de uma ação militar, contudo, neste caso, de caráter clandestino, criminoso e antidemocrático.

No dia 15 de novembro de 2022, por sua vez, Mauro Cid recebeu do major Rafael Martins de Oliveira, pelo WhatsApp, um documento protegido por senha com o nome de “Copa 2022”. Tal documento se tratava de uma estimativa de gastos que iriam subsidiar as ações criminosas que deveriam ser executadas durante novembro e dezembro de 2022.

O nome “Copa 2022” também foi usado para denominar um grupo criado num aplicativo de mensagens de nome Signal, composto por seis usuários, cada um com um codinome, eram eles : Alemanha, Áustria, Brasil, Argentina, Japão e Gana. 

Tal documento revelava um plano terrorista, envolvendo a execução de uma operação de alto risco, pois considerava a possibilidade de ocorrência de diversas mortes, com um arsenal que incluía pistolas e armas usadas por policiais e militares, além de armamentos de guerra mais pesados, como lança-granadas e metralhadoras.

Lula, em tal documento, recebe o codinome de “Jeca”, e para a execução do presidente eleito, Lula, devido às suas condições de saúde, foi aventada a possibilidade de envenenamento ou de uso de produtos químicos para que provocasse nele um colapso orgânico. 


(continua)


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.


Link da Século Diário :

https://www.seculodiario.com.br/colunas/o-golpe-bolsonarista/

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

A HIPOCRISIA E A INVEJA

Tais fábricas de sonho, na alma do negócio,

vira a fantasia do capital, a arte, já rejeitada

de viés e como pressuposto, surpreende.


É massa ver a cara da mendacidade tomando tenência,

ocultando na voz o despeito que transborda no gesto

e no olhar, da súcia medíocre, que ao ver a obra

de um espírito livre, deu de costas, ofereceu esterco,

como se o incômodo se disfarçasse de afetação laboral.


Quais os eunucos existenciais que sempre foram,

repetindo a fórmula dos que se conformaram,

e no alvorecer de arte nova, ainda são os mesmos

de sempre, na cartilha anódina da vida plana

diante das escolhas da vida plena. 


Monster - 29/11/2024 

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

JANJISMO

“do tatibitate à falta de decoro, temos agora um caminho de ajustes de comportamento”


Janja conseguiu se superar neste último G20, realizado agora no Rio de Janeiro, mas tanto, que até o presidente Lula teve que dar uma reprimenda em defesa das negociações diplomáticas que estavam sendo acordadas entre as autoridades no encontro de chefes de Estado e/ou seus representantes. No linguajar popular, Lula teve que apagar um incêndio, um fogo amigo, provocado pela primeira dama.

O grau de deslumbramento com os holofotes, ao paroxismo da caricatura e da afetação, sobretudo em redes sociais, já conhecida de Janja desde que começou o governo, está diretamente ligada à sua irrelevância como quadro do PT (Partido dos Trabalhadores), isso antes de se tornar esposa de Lula. Janja até então era uma existência pálida e sem brilho, dentro da burocracia do partido, nunca teve tônus de ter criado uma biografia relevante antes de se associar ao nome de Lula.

Certo que ela está ao lado do presidente desde os tempos bicudos de sua prisão, em que muitos dos aliados abandonaram o barco, ficando apenas os mais leais, tais como Fernando Haddad e Gleisi Hoffmann. Este pode ser o ponto positivo, pois ninguém fazia uma aposta da volta de Lula à presidência naqueles anos. Contudo, o comportamento de Janja, repetidas vezes, desde que os holofotes se voltaram ao casal presidencial, tem sido o de uma jeca com um ego suscetível, até infantil, o que se viu na epítome de afetação que culminou no fatídico “fuck you Elon Musk”.

A própria intromissão de Janja no governo, objeto de reclamação por parte de ministros, é algo mal visto dentro da gravidade dos assuntos políticos, sendo que agora, no G20, isso ocorreu diretamente. O mal estar dentro do governo com alguns comportamentos da primeira dama vem, portanto, desde o começo deste, pois Janja está dando o seu showzinho, registrando a sua “saga”, desde que Lula tomou posse como presidente em seu terceiro mandato.

A primeira dama, que já está há muito tempo neste modo de lidar com seu posto como se fosse uma celebridade de reality show, fazendo posts superficiais, com bobagens de penduricalhos de rede social, não interessa a ninguém que esteja se informando sobre política no Brasil, somente a uma claque tão deslumbrada quanto a primeira dama, que amam e odeiam ícones na internet, uma súcia parva afeita à perda de tempo algorítmica.

Da inconveniência da figura, do tatibitate à falta de decoro, temos agora um caminho de ajustes de comportamento para que o governo possa caminhar com maturidade nas questões complexas, como a geopolítica, a economia e o meio ambiente, por exemplo, sendo tocada por pessoas ponderadas e sérias, o que desde que o governo começou, faz este contraste com Janja e seu deslumbramento kitsch, mais para boba da corte do que para primeira dama.

A sala sendo ocupada por adultos nunca é demais, ainda mais depois de uma tentativa de golpe, e o que o governo Lula menos precisa, neste momento, é dar munição para a extrema direita, ainda mais por conta própria, com fogo amigo. Portanto, tem que se cortar este barato de colocações desnecessárias que não ornam e nem agregam já na raiz, no seu nascedouro.  

Não se pode vacilar, ainda mais por infantilismo ou desatenção, neste combate duro que tem sido a do Brasil democrático contra vivandeiras ressurretas através do bolsonarismo, o código atual de tradução do que foi o golpe de 1964, das conspirações, pós-república velha, que vinham desde o suicídio de Getúlio etc, e que têm como atual signo e catalisador o bolsonarismo.

O deslumbramento e a afetação têm a característica de serem postiças, isto é, anti-naturais. O que se percebe, mesmo sem ser psicólogo de comportamento, com a simples prática do bom senso, é que a primeira dama anda tão embriagada, encantada, que talvez a ficha caia com a palavra do presidente. Quando isso começa a interferir nas mesas de negociação, acabou o recreio, acabou a babilônia, o chamado à maturidade política se torna imperativo.

Pode ser que Janja até então não tenha atinado, pois dentro de sua bolha, de sua claque, ouvimos risos e aplausos, e Janja ouvindo aquilo como o eco de sua voz e um bálsamo em sua vaidade, que de suscetível que é, nos dá cenas caricatas, na fascinação jeca da fama barata, pega de carona.

Em essência, tal deslumbramento e afetação são reflexos diretos de uma velha inconsistência biográfica, de uma pequena e pálida burocrata, dentro do Partido dos Trabalhadores, sem brilho próprio, e que agora dá suas cambalhotas com os trejeitos de uma xucra empolgada. 

O fato é que tudo isso não é recreio, pois envolve assuntos de governo e de Estado. Portanto, precisamos de decoro, de contenção e de objetividade, para não cairmos na mesma grosseria que vivemos durante o governo Bolsonaro, em meio à uma carnificina pandêmica.


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário :

https://www.seculodiario.com.br/colunas/janjismo/

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

ELON MUSK E O TWITTER - PARTE 7

 “O lítio é fundamental na produção dos carros elétricos da Tesla”

Elon Musk, em relação ao X (antigo Twitter), não tem como prática usual ficar arrumando problemas diplomáticos, e muitas vezes para acomodar interesses, e alcançar o ingresso de suas empresas em outros países, deixa de lado seu ativismo de extrema direita, ao se adaptar a marcos regulatórios de diversos destes países. 

Na Índia, mesmo com Elon Musk se posicionando contra decisões judiciais do país, este que é comandado pelo primeiro-ministro Narendra Modi, que é do partido de extrema direita Bharatiya Janata Party, há mais de uma década, teve que acatar tudo, pois existem interesses, por exemplo, de investimentos da ordem de US$ 3 bilhões em fábricas da Tesla, na luta contra a concorrência da chinesa BYD na região, envolvendo o mercado de carros elétricos.

No Brasil, a escalada de Elon Musk sobre o STF e seu confronto com o ministro Alexandre de Moraes teve, por conseguinte, também interesses de ordem empresarial, muito para além de seu extremismo político ou intransigência quanto a uma noção peculiar de liberdade de expressão, cultivada por um libertarianismo disruptivo e que atua por mecanismos infantilizados de cizânia memética e instrumentos de manipulação e desinformação completamente desabridos. Por sua vez, o interesse de Musk também passava por uma estratégia comercial de seu conglomerado, que inclui a SpaceX, a Starlink e a Tesla.  

Elon Musk tem interesse em comprar a Sigma Lithium, uma das maiores mineradoras de lítio do mundo. O lítio é fundamental na produção dos carros elétricos da Tesla. No Brasil, por sua vez, a principal fornecedora de lítio e níquel para a Tesla, por sua vez, é a Vale. 2022 foi um dos momentos mais estratégicos na produção de lítio brasileiro, e foi quando Elon Musk veio ao Brasil para lançar, oficialmente, a sua internet por satélite, a Starlink.

O lítio é o metal mais leve que existe e passou a ser chamado de “petróleo branco”, se tornando essencial na produção de baterias, carros elétricos, e na estrutura para a produção de energia solar e eólica. A América do Sul, contando somente Argentina, Bolívia e Chile, concentra 68% das reservas mundiais do metal.

O Serviço Geológico brasileiro, nos últimos tempos, descobriu várias reservas de lítio, se concentrando principalmente no Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais, região esta que se tornou objeto de exploração de três empresas, que são a Companhia Brasileira de Lítio, AMG Mineração e a canadense Sigma. 

A Companhia Brasileira de Lítio era a única nacional, cuja empresa parceira, a Oxys Energy, faliu em 2021, e o governo de Minas Gerais vendeu parte da estatal à britânica Ore Investimentos. E agora, segundo o Observatório da Mineração, empresas como a Latin Resources, Lithium Ionic e Atlas Lithium, estão sondando a região na busca de novas reservas de lítio. 

A Sigma, que foi fundada em 2011, anunciou em 2023 que estava negociando com potenciais compradores e, logo a seguir, as negociações com Elon Musk não foram adiante, ao passo que a chinesa BYD começou a negociar a compra da Sigma, com preço avaliado em R$14,3 bilhões. O Brasil, na guerra comercial entre Tesla e BYD, virou um centro da estratégia global de investimentos da empresa chinesa, chegando a comprar, recentemente, a fábrica da Ford, em Camaçari, na Bahia.

No cenário global, por sua vez, a Tesla vem perdendo terreno para a BYD, que a partir de 2023 ultrapassou as vendas da empresa de Elon Musk, fazendo com que o CEO da Tesla cobrasse do governo norte-americano a implementação de medidas protecionistas, com medidas como a criação de barreiras tarifárias para a chinesa BYD.

Logo após as afrontas de Elon Musk contra o ministro Alexandre de Moraes, o CEO começou a seguir Nicolai Tangen, um poderoso investidor norueguês, sendo este CEO do Norges Bank Investment, que se trata de um fundo de investimentos que tem negócios em várias partes do planeta, dando prioridade à área de mineração. Elon Musk chegou a ter uma live no X com Nicolai Tangen. 

Para se ter uma ideia, o Norges Bank Investment, em 2023, tinha investimentos em mais de 8 mil empresas, abrangendo 72 países, sendo dono de pouco mais de 1 % da Petrobras, 3 % da Cosan e 5 % da construtora Tenda, dentre outras empresas brasileiras, com investimentos na canadense Sigma, na anglo-australiana Rio Tinto e na metalúrgica holandesa AMG. Foi quando os interesses de Elon Musk e do CEO do Norges Bank confluíram.

(continua)

Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Blog : https://www.seculodiario.com.br/colunas/elon-musk-e-o-twitter-parte-7/ 


POEMA REVERENCIAL

Te dedico meus textículos, meu tesão e meu orgasmo.

Nestes versos maltrapilhos, em cartas esparsas,

vertida toda clitóris de vestal, no vendaval,

e o magma que expande seu enigma.


Pois, ao sol, no meio da praia,

sou o clímax que revira os olhos,

neste navio de carranca

que espanta o

mau olhado.


14/11/2024 Monster