“o país sofreu uma série de assédios em sua História recente”
Walter Braga Netto foi preso no sábado dia 14/12 pela Polícia Federal (PF). O general da reserva, ex-Ministro da Casa Civil e da Defesa, e que foi candidato à vice-presidência na chapa derrotada com Jair Bolsonaro acabou preso por obstruir a Justiça. Braga Netto fazia parte da organização que planejou o golpe no final de 2022.
Tal organização se dividia em seis núcleos e teve, segundo a PF, participação efetiva de Braga Netto, sendo que no relatório de 884 páginas da Operação Contragolpe ele é citado 98 vezes. O chamado gabinete de crise, que seria instaurado após o golpe, por exemplo, com o fito de realizar novas eleições, seria chefiado por ele e pelo general Augusto Heleno. Braga Netto participou na elaboração dos planos golpistas, e em sua casa, no dia 12 de novembro de 2022, se realizou a reunião em que se aprovou o planejamento operacional do golpe.
O decreto golpista, por sua vez, seria implementado após a realização do golpe, por Jair Bolsonaro, com o apoio deste gabinete de crise chefiado por Braga Netto e por Augusto Heleno, ligado diretamente à Presidência da República. Uma das tarefas do gabinete, também, seria a de traçar estratégias de comunicação em busca de apoio nacional e internacional e a articulação de redes de inteligência.
Tal intento era ambicioso, mas tanto, que não entrava no cálculo o risco de o Brasil virar um pária diplomático, tomado por um golpe à moda antiga, com o país virando mais uma versão de republiqueta bananeira do que qualquer outra coisa. Por sua vez, a rede de inteligência, quando muito, teria um apoio nacional bem relativo, repleto daqueles mesmos idiotas guiados por mentores da ação bandoleira e vândala nos Três Poderes, em Brasília, do dia 8 de janeiro de 2023, um capítulo de demência política inaudita na História do Brasil.
Braga Netto também participou da famigerada e mal sucedida ofensiva para pressionar os então comandantes da Aeronáutica e do Exército para que aderissem ao golpe, quando ocorre o fato determinante nesta história toda, pois eles foram voto vencido, tendo apenas a adesão do então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier. Os golpistas foram derrotados como num placar de futebol por dois a um.
A prisão preventiva do general Braga Netto foi determinada por decisão do ministro Alexandre de Moraes do STF, pois o ex-ministro teria tentado obter dados sigilosos dos depoimentos prestados à Polícia Federal, na tentativa de obstruir as investigações.
A divisão em seis núcleos do grupo golpista, por sua vez, servia como forma de distribuição de tarefas, na individualização das condutas. O grupo foi indiciado por três crimes, que foram a abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. A divisão relatada é baseada na Operação Tempus Veritatis, realizada em fevereiro deste ano.
O primeiro núcleo é o de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral, cuja função era produzir, divulgar e amplificar notícias falsas relacionadas à lisura das eleições presidenciais de 2022, estimulando bolsonaristas a ficarem em frente a quartéis e instalações militares para criar uma atmosfera para o Golpe de Estado. Dentre os integrantes deste núcleo estavam o tenente-coronel do Exército, e então ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, além do então Ministro da Justiça Anderson Torres.
O Núcleo de Incitação Militar, por sua vez, tinha a função de eleger alvos para amplificação de ataques contra militares em posição de comando que estavam resistentes e contra os planos golpistas. Neste núcleo estavam, por exemplo, Braga Netto, o jornalista Paulo Figueiredo, neto do ex-presidente militar João Figueiredo, e Mauro Cid.
O Núcleo Jurídico, por sua vez, elaborava minutas de decretos com fundamentação pseudo-legal para atender os interesses do grupo golpista. Foi deste núcleo que saiu a famigerada “minuta do golpe”, documento cujo rascunho foi encontrado na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que previa a decretação de medidas de exceção como o Estado de Sítio, para evitar a transferência de poder para o então presidente eleito Lula.
Anderson Torres, por sua vez, passou um breve período preso, em que se revelou um moleirão, com ideações suicidas na cela. Ao passo que Lula passou mais de um ano em regime fechado, no auge do lavajatismo, com galhardia. Dentre os integrantes deste núcleo temos o ex-assessor para assuntos internacionais de Jair Bolsonaro, o racista Filipe Martins, além do choramingão do Anderson Torres e de Mauro Cid.
O Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas, por sua vez, realizava reuniões para planejamento e execução de ações para manter as manifestações bolsonaristas em frente aos quartéis engajadas e ativas, com mobilização, organização logística e financiamento de militares das forças especiais em Brasília.
O Núcleo de Inteligência Paralela, por sua vez, era responsável por auxiliar a tomada de decisões do então presidente Jair Bolsonaro em relação ao plano de golpe de Estado. Uma das tarefas deste núcleo era monitorar o ministro do STF Alexandre de Moraes, então presidente do TSE, em seus deslocamentos, itinerários e localização, além de outras autoridades.
Este núcleo do grupo visava a captura de Alexandre de Moraes e de outras figuras políticas contrárias à ruptura democrática, tudo a partir do momento em que Jair Bolsonaro assinasse um decreto viabilizando o golpe de Estado. Os integrantes deste núcleo eram Augusto Heleno, Marcelo Câmara e Mauro Cid. Este núcleo desenvolveu diversas ações clandestinas, se utilizando de forma ilegal da estrutura de órgãos do Estado brasileiro, tudo no fito tanto de consumação do golpe de Estado como de manutenção de Jair Bolsonaro no poder após o golpe.
Por fim, o Núcleo de Oficiais de Alta Patente e Apoio teria o objetivo incitar apoio aos outros núcleos ao endossar as ações para a consumação do golpe de Estado. Dentre os integrantes deste núcleo temos Braga Netto, o ex-comandante adesista da Marinha Almir Garnier, o general da reserva Mário Fernandes, o general Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, além do general da reserva Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. Caberia a este núcleo o sequestro do ministro Alexandre de Moraes, tarefa que seria executada por militares das Forças Especiais do Exército, os chamados “kids pretos”, que estavam então subordinados ao general Theophilo.
Tanto na derrota aritmética nos Altos Comandos das três Forças Armadas como, mais uma vez, com um capítulo mambembe de execução canhestra em que sobrou ambição e faltou o mínimo de inteligência, como a dependência de itinerários de táxis com sinalização manual à moda antiga, e na falta deste, cria-se um cenário de comédia pastelão, com todo um desdobramento patético, o Brasil teve sorte no azar. Em toda esta saga bolsonarista, o país sofreu uma série de assédios em sua História recente, contudo, misturando a tragédia iminente das intenções e ambições com a comédia indelével dos resultados e da descrição de cenas risíveis e ridículas destes convescotes e conspiratas.
(obs : Prezados (as) leitores (as), estarei de férias nos próximos dias, retornarei em fevereiro. Até a volta e boas festas!)
Gustavo Bastos, filósofo e escritor.
Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/o-golpe-bolsonarista-parte-3/