PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

quinta-feira, 20 de março de 2025

A FLOPADA DE BOLSONARO

 “menos de 20 mil pangarés”


Ai de ti, Copacabana! A avenida, o calçadão, a praia iluminada pelo sol, em mais uma manhã aparentemente comum. Foi mais um dia para eu fazer a minha caminhada. E já se via e ouvia os sinais de um fracasso. O que pela manhã eu chamava do que seria o stand-up comedy do “imbrochável”, antessala de sua condenação, foi nada e nada menos que uma ferida narcísica em um ego frágil, mau perdedor, golpista, que deprime com a desdita. 

O que rolou, de fato, foi uma flopada inesquecível, e que pode determinar uma trajetória descendente. Mais uma história incrível do homem que encolheu, assim como acontecera com Sergio Moro, uma redução de tamanho e de relevância progressiva, gerada pelos próprios atos.

Os sabujos ainda tentaram, em vão. Os mitômanos, no sentido de bolsonarismo raiz, e não do léxico do dicionário, repetiam “mito até o fim”, e estamos no fim, é o fim. O bolsonarismo, como movimento político, continuará como uma espécie de ser folclórico acéfalo, sem trocadilho, pois o mito, a cabeça do  monstro mitológico, está para ser decapitada.

Uma aposta canhestra num bananinha acovardado já virou choradeira de um lado, e piada de outro. O filho 02, o mais convicto dentre eles, já prepara uma farsa que pretende chamar de exílio político, tentando se refugiar nas barbas da alt-right norte-americana, mendigando atenção de Trump e do trumpismo, a saga vira-lata do bolsonarismo raiz, dos moradores de Orlando do culto do Lagoinha et caterva. 

A balbúrdia bolsonarista das eleições de 2018, por sua vez, foi uma versão bem pior de populismo demagogo de direita, em comparação ao que fora a febre em torno de Fernando Collor, o caçador de marajás. Eleição de Collor que pude ver com meus 7 anos de idade, como uma criança politizada tal um adulto, pois vivia numa família que respirava política, com meu avô, Rogério Medeiros, à época, como vice-prefeito de Vitória, no mandato do prefeito Vítor Buaiz, do PT (Partido dos Trabalhadores).

No caso de Fernando Collor a febre virou revolta e movimento de rua pelo seu impeachment, depois do escândalo do Fiat Elba, da Casa da Dinda, e de PC Farias. Collor teve uma queda radical de popularidade, agravando o que já vinha desde o congelamento da moeda e confisco da poupança, e culminando no movimento dos caras-pintadas, no período em que passava a série global Anos Rebeldes na TV, sobre o período da ditadura, retratando o movimento estudantil no contexto político da época, e depois a luta armada e a tortura.

No caso de Jair Bolsonaro, depois de uma CPI da Pandemia que terminou em pizza, de coisas escalafobéticas como receitar cloroquina, ser contra vacina, negar a ciência, fazendo uma  inversão de doppelganger da alt-right, que usa o mesmo léxico de democratas, mas com sinais trocados, pois seus discursos falam de “liberdade de expressão”, “ditadura judicial”, “defesa da democracia”, etc, não teve impeachment.

O bolsonarismo foi virando um movimento político que veio do personagem exótico de programas populares, com a pretensão de apresentar um bonachão que contava piadas sem graça de caserna, culminando depois na lacrada forçada que lançou a plataforma de Jair Bolsonaro para se eleger presidente, no voto para tirar Dilma do poder.

Foi com este voto barulhento e explanado do indigitado que os tambores do apocalipse zumbi, que viria, bateram suas baquetas clamando “Brilhante Ustra etc”. E a claque foi ao delírio, saindo às ruas, mais à frente, com cartazes de inglês de cursinho de internet de 100 reais, que dizia coisas como : “Militar Intervention Already!”. E depois maçadas históricas como os alienígenas de Porto Alegre e a fatídica oração ao pneu.

A sensação de fim de festa, em Copacabana, no entanto, depois daquela balbúrdia toda, me lembrou o início do poema de Carlos Drummond de Andrade, um mago da simplicidade universal, feitor de hits, que dizia : “E agora, José?/A festa acabou,/a luz apagou,/o povo sumiu”. E vimos um Jair Bolsonaro amedrontado, falando sobre a anistia do mini-exército brancaleone do 8 de janeiro, um conjunto de idiotas que não mediram as consequências dos próprios atos, massa de manobra de mentores que porfiavam sem parar.

Tal porfia, coisa de poltrões que vivem na moita, conspirando na surdina, como pusilânimes e mofinos que são, à caça de um pretexto, para se manifestarem como gênios que saem da lâmpada, evoluía desde o voto vencido diante das Forças Armadas, no plano de golpe militar e assasinato de Lula, Alckmin e Moraes. 

Tal trama falhou na partida, ao não se achar um táxi para começar o tal plano, repleto do ardil e azáfama golpista, que teve como um início evidente o convescote montado dos embaixadores, subvertendo qualquer cartilha fundamentada de diplomacia. Um circo dos horrores, uma farsa feita por uma direção canastrona.

O fim da festa do José da vez foi melancólico. 18 mil gatos pingados, em que o governador gaguinho do Rio de Janeiro, com sua fala ininteligível em que voam trezentos perdigotos por segundo, tentou forçar a barra com uma estatística retirada do cólon retal e disse que havia 500 mil pessoas.

Quer dizer, foi uma flopada lotada, delirante, só que ninguém viu. No caso, a matrix deu pau e revelou vazios existenciais fundamentais, aporias entre as gentes, totalizando menos de 20 mil pangarés de verde e amarelo, pois puseram um Cavalo de Troia na apuração, diria Bolsonaro em outro tempo, e pediria a recontagem, batendo na mesa. 

E a real é que quem sabotou Jair Bolsonaro foi ele mesmo, seu erro fatal foi ter feito pouco, e pior, piada de uma pandemia que matou quase um milhão de pessoas somente no Brasil, se contarmos o que as estatísticas não captaram na época. Simular asfixia e morte como piada foi algo estarrecedor, e que superou a sua lacrada forçada sobre Brilhante Ustra no voto para derrubar Dilma Rousseff. Foi o fim da picada que agora virou um fim de festa, e na minha caminhada, antes da flopada, bem cedinho, em que ouvi “Mito até o fim”, parece que este fim chegou.


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário : https://www.seculodiario.com.br/colunas/a-flopada-de-bolsonaro/



quarta-feira, 19 de março de 2025

CANTORIA LADINA

Nos contrafortes se choca o mar. 

O feudo freme, as cantorias 

dos ébrios, na servidão das máscaras

que fazem o velho jogo social.


Vemos os convescotes pobres

de free base e morfina, 

bebendo vinho na poesia.


Uma febre opiácea dos nenúfares, 

das lótus iluminadas, ao sol místico 

que deitava seu arrebol.


O poema iridescente, 

no arco do triunfo,

tem este cabedal, 

este frontispício.


Vem uma água benta alucinada,

blasonando seu florilégio,

seu vício de Pantagruel.


É o canto dos analectos,

as ladainhas de pascácios,

e os panegíricos e pantomimas

dos saraus enfumaçados.


Ali na vernissage dos

artistas depravados,

circulava, aos magotes,

o festival mambembe

dos canapés mordidos

com fúria famélica.


19/03/2025 Gustavo Bastos - Monster 

POETA VIVO

Ventos elísios, no canto do sol, a vida presente.

Veio o poema escarlate, na indômita selva

dos ares, da liberdade plena, com os vinhos

e a sede mortífera do deserto, com os pavios

curtos das explosões de uma bomba telúrica.


Treme a base dos exangues, os dizeres entre

as moitas, na ninhada de cobra de altares

que foram destruídos pelo tempo,

as arcas vazias, os tesouros não

estão lá, os navios estão tombados,

a carranca espanta uma alma triste

do umbral, e as penas capitais

soçobram, na anarquia de rum,

na vodka penhorada dos cossacos.


Vertente dos cantos de vitória,

os poemas desta estética nova,

com os vincos e frisos retos,

são como colunatas, e que

não envergam ao desastre

e ao infortúnio, e nem 

mesmo sob o jugo

da morte estará

os cantos imortais

do poeta vivo.


Gustavo Bastos - Vibe - 19/03/2025

quarta-feira, 12 de março de 2025

O INFERNO DE TRUMP (FINAL)

“O inferno de Trump é o caos diplomático como política de hegemonia”


Trump tanto é a voz como joga para esta América branca, racista, xenófoba, e que ainda tem o fetiche do Destino Manifesto, e do ineditismo norte-americano, como um lugar especial, do país mais poderoso do mundo, de uma hegemonia perene. 

E no caso da Europa ocidental, a ruptura é grave, tendo no centro do problema a questão ucraniana, com hipócritas como o presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, que pede a renúncia de Zelensky, presidente ucraniano que a esta altura já acusou o golpe e admitiu a proposta trumpista, após a suspensão da ajuda militar norte-americana.

Este acordo de paz de fancaria, uma “pax americana”, é na verdade um arrego do governo de Zelensky, que tem tudo para retalhar a Ucrânia para os interesses dos Estados Unidos, na exploração dos metais de terras raras, para a produção de material tecnológico, ligas, chips etc. Mais uma vez, é a América grande de novo, e a América em primeiro lugar.

O rompimento com a Europa ocidental, por sua vez, representa o aspecto mais profundo e impactante desta guinada geopolítica norte-americana, trumpista, encerrando um paradigma que surgiu após o fim da Segunda Guerra Mundial, e que é um mergulho no escuro, pois os efeitos do fim da Otan, do racha do Ocidente ao meio, produz uma instabilidade política, comercial, econômica, que pode ter reflexos até em acordos ambientais e climáticos, dificultando o diálogo entre as nações, num mundo novo e pior, depois de ter almejado um mercado globalizado, de trocas comerciais racionais e de crescimento econômico mundial.

Donald Trump move as peças do jogo geopolítico segundo determinações e interesses próprios, privativos aos Estados Unidos. Ao menos é o que Trump acredita, que é o de estar impondo, a ferro e fogo, a hegemonia do Tio Sam. É o Big Stick na versão de tarifaços e gestos surreais contra o Canadá, em anúncios de anexação inauditas.

No caso de Trump, tais anúncios não são bravatas, mas uma carta de intenções, pois é tudo real no discurso mão dura trumpista. Os casos citados ainda se somam à ideia de um resort em Gaza, que é nada mais que a proposta de uma limpeza étnica, criando um balneário de ricaços, que pode virar um parque de criminalidade financeira e sexual.

A aliança com Benjamin Netanyahu, por sua vez, tem como objetivo a reafirmação da guinada sionista de extrema direita em Israel, que é um dos poucos países do mundo com bombas nucleares, e que representa um eixo norte-americano dentro do mundo árabe. 

E esta ideia de invasão de Gaza, portanto, é o clímax de uma postura segregacionista, que é uma pré-disposição trumpista e de seus eleitores supremacistas e racistas, podendo gerar uma nova geração de jovens malucos influenciados no ódio por organizações como o Estado Islâmico e outros, numa revolta renovada contra o Ocidente e os Estados Unidos.

Por sua vez, as investidas agônicas de um governo feito de miríades de decretos sem passar pelo Congresso, numa tática de estresse constante, pois é uma sucessão de movimentos sempre marcados pela dureza irracional, sob protestos de grupos de congressistas democratas, foram renovados agora com o primeiro discurso de Trump diante do Congresso norte-americano. Que foi mais um episódio desta tragédia mundial do trumpismo.

Lá no Congresso dos Estados Unidos, por sua vez, Trump teceu suas ideias e medidas governamentais sobre imigração, combate a transgêneros, além de planos como a intervenção no Canal do Panamá, na Groenlândia, passando por anúncios de tarifas amalucadas.

A coisa toda continuou, por conseguinte, com gestos estereotipados de ufanismos e chauvinismos baratos, patrocinando imposturas ridículas e sem legitimação internacional como a suposta mudança do nome do Golfo do México para Golfo da América etc. O que se viu no púlpito era o delírio de grandeza de um presidente, e que pode ser sintetizada no cartaz de uma deputada democrata, que traduzido para o português, dizia : Isso não é normal.

Por fim, o inferno de Trump é o caos diplomático como política de hegemonia, cevado por um discurso mão dura, e que ainda pode culminar em intervenções e invasões inauditas que, de tão fora da curva, parecem se tratar de bravatas, algo comum na política, mas que no caso de Trump é tudo muito sério e real. A carta de intenções está na mesa, e não se trata de uma teoria da conspiração da alt-right, pois esta é só a sua fonte ideológica de contraste e confusão. O que vemos agora, no entanto, é um ensaio geral do Big Stick, com todas as suas afetações.


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

Link da Século Diário :

https://www.seculodiario.com.br/colunas/o-inferno-de-trump-final/

quinta-feira, 6 de março de 2025

O INFERNO DE TRUMP - PARTE 1

“Trump e Putin pensam e usam táticas imperialistas do século XIX”


Uma cena inusitada, bem bizarra, se desenhou no Salão Oval da Casa Branca. Era a encenação de uma humilhação. Nunca se viu um diálogo tão agressivo, ao vivo, para o mundo inteiro, entre governantes de países, em encontro pretensamente diplomático, mas que virou uma saraivada da hipocrisia e arrogância norte-americana, condensada em Trump.

Tal cena ganhou ares mais obscuros com J.D.Vance, em cima de um acuado Zelensky, representando o elo mais fraco, de mãos atadas, reagindo, pela última vez, a uma investida desmoralizante. E não se sabe se o desastre foi ensaiado, ou um verde jogado por um ardil trumpista, com a linha auxiliar de J.D. Vance, ou se a reação de Zelensky foi o que despertou os instintos narcisistas do atual governo norte-americano.

Da propalada e conhecida arrogância diplomática dos Estados Unidos, de seu imperialismo narcisista, tal cena é uma epítome do que se vê, historicamente, da conhecida hipocrisia da real politik deste imperialismo dos Estados Unidos, cuja única preocupação não se dá com valores caros como a paz, a comunhão das nações, ou coisa que o valha, mas o maior benefício, em sentido utilitarista, do próprio Estados Unidos.

A cena constrangedora e humilhante, num didatismo que parecia de inspetores escolares diante de um adolescente ou criança que se comportara mal, foi surreal. Era uma caricatura dantesca, e que representa agora uma virada do paradigma geopolítico mundial, que culmina com o derretimento da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). E o patético da cena toda era o de um presidente de uma nação de joelhos, num tipo de diplomacia de psicopatas, de uma presa acuada, que estava sendo estraçalhada por lobos, rapinas ou raposas políticas.

Esta virada diplomática trumpista representa a quebra do pacto da Otan, que é a coluna vertebral do edifício erguido nos acordos do pós-guerra, organização surgida depois da derrota do Eixo e do estabelecimento de um mundo bipolar da Guerra Fria. Esta criação da Otan, por sua vez, produziria uma reação do bloco socialista da época, com o chamado Pacto de Varsóvia, pacto este que foi extinto com a queda do Muro de Berlim, o desmantelamento da Cortina de Ferro e a dissolução da União Soviética.

A ruptura com antigos aliados, por parte da política trumpista, por sua vez, dá um sacode na ordem geopolítica mundial, cuja aliança se fecha em torno de Putin e de sua autocracia de gângster, com assassinatos de oligarcas e envenenamento de presidentes opositores. 

Putin é o líder russo mais longevo da História, ultrapassando Pedro, o grande, e Stalin, o ditador do totalitarismo soviético, este que fez um expurgo de inimigos, na tradição da KGB, que também operava nos bastidores, com técnicas escusas de gângster e quetais, com eventos criminais como a morte de Trotsky, que se encontrava exilado no México quando foi assassinado, por exemplo.

A partir do pós-guerra, em 1945, a chamada ordem mundial liberal passou a se fundar em órgãos internacionais, que regulavam tanto o direito internacional como os regramentos das relações internacionais, com a ONU (Nações Unidas), com sua Assembleia Geral e Conselho de Segurança, fortalecendo compromissos, normas e princípios, em que se estabeleciam o respeito à soberania, à integridade territorial, além da resolução pacífica de disputas e a rejeição do uso da força e a defesa dos direitos humanos.

Tal ordenamento internacional foi subvertido pelas invasões russas na Ucrânia, o que não foi um ineditismo, pois na História recente também tivemos a Guerra contra o Terror, do governo norte-americano de George W. Bush, contra o chamado Eixo do Mal, projeto que terminou na metade, sem as intervenções na Síria e no Irã, e com países como Iraque e Afeganistão virando verdadeiros atoleiros para as Forças Armadas dos Estados Unidos. 

Tais quebras de regras também já tinham ocorrido, também, na Guerra dos Bálcãs, com crimes de guerra do ditador sérvio Slobodan Milosevic, em Srebrenica, na Bósnia-Herzegovina, com flagrantes violações aos direitos humanos. Ordem mundial liberal esta que também se funda em valores como o do livre comércio, defendido por instituições como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. 

Contudo, os Acordos de Helsinque, de 1975, que foram tratados assinados entre os Estados Unidos, a então União Soviética e as nações da Europa, para reforço da integridade territorial, inviolabilidade das fronteiras e a não interferência nos assuntos internos de cada país, estão sendo destruídos pelas tratativas entre Trump e Putin.

O que ocorre na restauração dos laços econômicos entre Washington e Moscou é algo semelhante a um novo Acordo de Munique, ou um novo Pacto Molotov-Ribbentrop, uma revolução diplomática que dissolve todos os princípios acordados e assinados nos Acordos de Helsinque. 

Trump e Putin pensam e usam táticas imperialistas do século XIX, podendo ter um paralelo com o que ocorreu na Conferência de Yalta de 1945, em que os Estados Unidos, a União Soviética e o Reino Unido dividiram a Europa em esferas de influência após o fim da Segunda Guerra Mundial.

Por sua vez, Trump coloca em prática o tarifaço, já com a reação do Canadá, do México e da China, numa tática que faz anúncios mão dura, podendo alternar com pequenos alívios, num jogo complexo que atua de modo disruptivo e que planta o caos diplomático numa dinâmica que pode, se tiver mesmo uma radicalização, ser autodestrutiva, desagregadora, muito mais para criar um mercado inflacionado, tenso, do que para um esperada vitória hegemônica dos Estados Unidos, como Trump acredita.

O viés econômico destes tarifaços de Trump é irracional, baseado no discurso mão dura, feito por emoções tóxicas, e que produz ruído, caos, mal estar, com um líder mundial de maus bofes, sofrendo de mal secreto, bufão, tarado, e que mantém esta imagem populista dentro de seu país, que é cultivada pelos mais idiotas da nação, como disse em coluna anterior.

(continua)


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.

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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

O XERIFE DO MUNDO

 “a China irá passar os Estados Unidos em tamanho de PIB”


A volta de Donald Trump ao poder norte-americano traz uma versão mais perigosa do que se teve em seu primeiro mandato. Após escapar de um atentado por um triz, Trump garantiu todo um desdobramento histórico, pois um atentado daquele seria uma divisão de rumos caso se concluísse tragicamente. 

Um rápido movimento de pescoço definiu, portanto, o que acontece agora e como os Estados Unidos chegaram até 2025. Temos o início do segundo mandato desta figura que, além de ter escapado da morte, é um presidente que sofreu processos diversos, e é mais um desses priápicos clássicos do poder, só não mais patético que Dominique Strauss-Khan.

A ideia dos Estados Unidos como xerife do mundo, consolidada no pós-guerra, no anticomunismo, na guerra fria e no macarthismo, ganha nova configuração com o segundo mandato de Donald Trump, trocando a iminência de consequências atômicas, por controversas batidas do big stick com tarifaços que, a médio prazo, podem fazer o feitiço voltar contra o feiticeiro.

A moeda política, para Trump, portanto, é mais valiosa que as consequências econômicas de sua guerra comercial. O seu capital político cevado pelo “drill, baby, drill”, da insana exploração do fracking, vem somada a uma retomada de prioridade para a exploração petrolífera, num renovado negacionismo ambiental e climático, com retiradas do Acordo de Paris e quetais, misturando bravatas e medidas efetivas, pois Trump só não peca por falta de clareza, deixando tudo à luz do dia.

A nova investida contra imigrantes ilegais que, até certo ponto, poderiam ser justificadas, acaba sendo distorcida por uma generalização xenófoba que termina com deportações de pessoas que não cometeram crimes, a não ser a ilegalidade da entrada no país, sendo tratadas como gado e até algemadas, chegando aqui no Brasil, por exemplo, com estes relatos de um tratamento violento, como se todos os deportados fossem bandidos e pessoas perigosas.

Ideias tresloucadas como anexações da Groenlândia e do Canadá, por sua vez, inauguram um imperialismo norte-americano movido a alucinações à moda Q-Anon, um dos braços de mistificações, fake news e teorias da conspiração que se associam à alt-right de Steve Bannon e sua tática do que Naomi Klein coloca como um espelho invertido da realidade, como um espantalho, mais bem traduzido por doppelganger.

Contudo, não estamos mais no auge da globalização e do mundo unipolar, nem diante da competência fiscal de um governo como foi o de Bill Clinton, o que ocorre agora é um caminho já traçado em que a China irá passar os Estados Unidos em tamanho de PIB (Produto Interno Bruto) e que vence a guerra tecnológica mundial, ao passo que os Estados Unidos tentam fazer acordos bilionários de investimentos na corrida pela inteligência artificial geral, a AGI, na sigla em inglês.

O imperialismo norte-americano, neste caso, se nutre agora do ego frágil de Donald Trump, numa tentativa de recuperar protagonismos que talvez não tenham volta, e toda a nostalgia do Destino Manifesto, por conseguinte, se tornará o produto cultural de uma nação autocentrada, e que um dia acreditou ser a convergência mundial para todas as coisas, uma espécie de eixo de tudo e colocando os parâmetros para todos os outros países, que é exatamente este tique de xerife do mundo, de que Trump agora padece, numa História que não se repete, mas rima, como dizia o escritor Mark Twain.

Por sua vez, ao lado da figura de Donald Trump, temos a persona histriônica de Elon Musk, que coloca mais um fator de disrupção delirante em campo, pois apesar dos progressos da Space X, um sucesso, contrabalançada com a crise da Tesla, temos esta figura que comprou o Twitter, mudou o nome para X, e se voltou para a extrema direita, com ecos de nazismo e apitos de cachorro, repetidos agora por Steve Bannon, o mentor intelectual da alt-right.

O papel de xerife do mundo, do big stick, parece agora ser uma miríade de medidas tarifárias, e internamente com o governo emitindo medidas para inundar a burocracia do país, tendo como alvos preferenciais a desconstrução das políticas woke e para o aumento das deportações de imigrantes ilegais. 

Esta ideação tipicamente norte-americana de xerife do mundo, um dos produtos do Destino Manifesto, só que ao nível global, que se configurou sobretudo no pós-guerra, por fim, nos dá a impressão de que agora se está ouvindo as últimas batidas de um big stick que pode, a qualquer momento, ser roído pelos chineses.

A China, por sua vez, com a disciplina confuciana e uma sutileza taoísta, já coloca o capitalismo liberal e a democracia representativa ocidental cambaleando diante de um capitalismo de Estado comandado por uma burocracia partidária comunista, uma cabeça de Jano que devora o sonho americano e que desafia paradigmas iluministas consagrados.


Gustavo Bastos, filósofo e escritor.


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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

CANÇÃO DO CASTELO

A sorte ao chão se curvou,

no traçado, no rastro da serpente, 

toda enroscada em meu labor,

frutífera, lacônica espada do sol,

luciferiana chama que não se apaga.


Eis o poema, este febril canto,

na sétima centúria o plasma

se modifica, e os versos entremeiam

rios, e este sangue de rio, que é 

um mar castanho claro e escuro, 

que sangra no estuário 

de meu literário sono, 

eis o tempo.


Na ordem templária, 

descortinada toda alquimia, 

nascia a vinha de enxofre,

de cada castelo se tinha

a areia do fim.


Eu vi o rito esfarelado antigo,

bebendo vinho na noite astuta, 

na bem vivida litania.


Querem matar os asnos,

matar os camelos,

atirar nos pássaros.


As leoas pariram

Cérbero, e a tigresa,

mordendo os molares,

cruzou o gelo da Sibéria,

em busca de uma arraia

no Baikal.


Pois, não me surpreendo, estou chapado.

Lá no limo das estepes da Mongólia,

com a cara enfiada no ópio,

estava o novo escritor

destas fábulas azinhavres,

o tradutor fiel e profundo

deste tempo vil da vileza.


Gustavo Bastos, 26/02/2025 - SUBLIME