PEDRA FILOSOFAL

"Em vez de pensar que cada dia que passa é menos um dia na sua vida, pense que foi mais um dia vivido." (Gustavo Bastos)

terça-feira, 26 de outubro de 2010

HÓSPEDE DA TERRA E DO SANGUE

O que lembrar das orquestras malditas,

Dos sonhos fingidos,

Tão lindos e fortes,

Que não sei que firmamento mora neles?



O que olhar? Se o meu olhar foge?

O que pensar? Se tudo escapa aos sentidos e à razão?

Não. Não esquecerei esta noite dos morcegos,

E as teias das aranhas que grudam no meu corpo.

Não. Não beberei um copo de sangue como se fosse vinho.

Esse tal Cristo de que tanto falam.



Passarei pelo tempo, como armamento da fúria.

Rezarei os terços debaixo de tiros.

Mas é o vil delírio o sonho fraco?

Não. O tenho como força! E a força é que move o mundo.

As almas? Estas passam, tais como os corpos,

Que deles não se separam, e vibram dentro ...

Que para fora vazam.



O que lembrar? Se tais orquestras malditas

Tocam sinfonias tão irritantes

Aos olhos pouco acostumados à beleza?

O que fumar? O que comer? O que beber?

Somente o sangue.

Digo: O meu sangue.

O infante que mora em mim é uma água doce.

Não queiram que eu fale novamente das amarguras,

Ó saudade! Ó campo da miragem!

Venho a esta noite saudar as estrelas!



Meus cansaços não descansam na miragem.

Ó finitude! Poderia ser infinito o teu passo?

Não sei. Vos digo: Deixais no túmulo a fadiga.

O que lembrar? A memória não ajuda a alma,

E nem cura o corpo, que é alma irritada.

Os filhos? Quem saberia educá-los?

A morte e a vida são companheiras no inverno.

O frio da dor é a liberdade exausta.

Para onde fugir?

Não. Não tenho rotas de fuga,

Não tenho trilhas que nos levem ao paraíso.



O que lembrar? As mentiras nos anulam.

O meu ser está rasgado.

Não tenho a lhes dar ... nada?

A tábua de salvação é outra falácia.

Ó mortos! Vivos que estão a me indagar!



Lembrar o quê? Meu sangue eu não o queria!

Como não quero a infância.

Como não quero nascer.

Como não quero viver.

Como não quero morrer.

Lembrar? Não. Não é certo.

Somente resta uma dor,

Esta que é de querer libertar-se,

Sem poder chorar de amor,

Qual rima pobre que insiste,

E que derrama sangue no horror.

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